quinta-feira, 21 de maio de 2015

Sonho Azul
Olívio Martins de Souza Torres

Sonho Azul era o nome de vagão dos trens da Rede Viação Cearense (R.V.C), bem confortável, com ar condicionado, usado pela R.V.C tanto na linha Norte (Fortaleza - Crateús) como na linha Sul (Fortaleza - Crato). Andar nele, nas minhas viagens a Ipu, só quando comecei a trabalhar, pois a passagem era mais cara. O trem era o transporte mais usado pela população do Estado, sendo desativado para dar lugar ao transporte rodoviário. Coisas do Brasil verde-amarelo!
Falando do Sonho Azul, ouvi dizer que muitas pessoas sonham em cores e em preto-e-branco. Não me lembro da cor dos meus sonhos. Às vezes, sonho com o Seminário Franciscano de Santo Antônio, em Ipuarana, Lagoa Seca (PB), com o banco em que trabalhei (Banco do Nordeste do Brasil – BNB) e com o centenário colégio Liceu do Ceará (fundado em 19.10.1845), onde concluí o 3.º Ano Clássico, após deixar o Seminário.
No Liceu do Ceará fui também professor durante seis lustros, ministrando aulas de Língua Portuguesa e de Literatura Brasileira e Portuguesa no turno da noite, haja vista que os expedientes diurnos eram no BNB.
 Outras vezes, em vez de sonhos dourados, tenho pesadelos. E o pior dos pesadelos é quando sonho que o Convento de Ipuarana foi alienado. Que não pertence mais à Província Franciscana de Santo Antônio, com sede em Recife (PE), como os Conventos de Tianguá e de São Cristóvão que foram alienados. Acordo aliviado, rogando a Deus que isto nunca aconteça.
Mas, ontem, em Fortaleza, antes da Missa da Ressurreição do colega Saraiva, conversava com o amigo Dário Sampaio, ipuaranense e colega de banco, dono da conceituada empresa SCOPA, especializada na construção de apartamentos e de prédios comerciais, sobre a possibilidade, remota talvez, de o Convento de Ipuarana ser exposto à venda pela Província Franciscana. E chegamos à conclusão de que se isto, um dia, viesse a ocorrer, a maioria dos ex-alunos do Seminário de Ipuarana, no Brasil e no exterior, se reuniriam e, num hercúleo esforço conjunto, conseguiriam alavancar  recursos para adquirir aquele território sagrado, mesmo que tivessem de se desfazer de alguns de seus bens.
 E iríamos todos morar lá, em Ipuarana, numa comunidade semelhante àquela dos primeiros cristãos na Terra Santa. E, acatando a orientação de Cícero, em De Senectute (Sobre a Velhice), iríamos nos dedicar à agricultura, cultivando hortifrutigranjeiros, sem agrotóxicos, como já faz o ex-seminarista franciscano Guimarães, o famoso João Cuscuz, meu colega de turma, em seu sítio próximo a Ipuarana.
Pelo menos, já contaríamos com o conhecimento e a experiência do João Cuscuz nessa área e, também, com a tecnologia dos colegas engenheiros agrônomos.  E iríamos levar uma vida saudável e tranquila como preconizava o poeta latino Horácio (Epodos):
Beatus ille qui procul negotíis,
ut prisca gens mortalium,
paterna  rura bubus exercet suis,
solutus omni foenore.
(Feliz quem está longe dos negócios como os antepassados, tocando os bois nos campos paternos, livre de todas as preocupações).

Meditando levemente, não como os budistas que são mestres nessa arte, fico, às vezes, pensando neste indecifrável enigma - tal qual o da Esfinge - da relação sentimental entre Ipuarana e seus ex-alunos. Não tenho a resposta. Talvez seja a SSF (Síndrome de São Francisco) ou, como alguns dos ex-alunos ligados ao campo já se expressaram, talvez seja porque fomos ferrados, a fogo, com a marca registrada do Homem do Milênio - São Francisco de Assis. O homo ipuaranensis parece ser uma espécie diferente - nem melhor nem pior que as outras -, mas que ainda não foi explicado devidamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário