segunda-feira, 30 de junho de 2014



O Som Flébil.


Não gosto de falar de coisas tristes, coisas que machucam e às vezes trazem no seu íntimo um sabor amargamente ferido o que nos distancia dos momentos que chamamos muitas vezes de afáveis.
Mas, naquela manhã tudo estava turvo. O céu languidamente encarregou-se de abrir o seu leque de cores apagadas tingidas de forma indiferente ao substrato da vida.
Já não falamos mais nas coisas boas do bem viver, o ato depressivo se apodera e quase não podemos rebater os seus efeitos disfônicos que são por demais pesados.
Alguém exclama, é a Vida. Os murmúrios de é a vida não passa de um consolo para quem se motivou sempre, e muito, nas jornadas impetuosas do dia a dia.
O incomum acontece. Nostalgia, a opaquitude deixa quebrar o sentimento verdadeiro, ofuscando no “abajur lilás” á sombra mediavalesca que não conseguimos entender. Entender? Sim! Não entendemos o que está se passando em nós.
As visões caminham e a ótica visionaria, vislumbra imagens que se perdem folgadamente no espaço, como se fosse a fumaça, não sei, talvez de um cigarro banalizado pelo seu fumador de estranho paradeiro.
As cinzas da tarde aparecem e o langor da Ave Maria é anunciado pelo dobre dos sinos e o toque do flamejante órgão de tonalidade variável que mais parece à “extrema-unção” dos enfermos no momento derradeiro
No centro da Igreja as luzes mortiças dos candelabros dando um ar de lugubridade ardente aos que vivem tais momentos.
Os sacerdotes celebram os e cantam o “Canto Chão” e genuflexo rezamos piedosamente o salmo de aclamação ao soberano Deus criador de todas as coisas.
A claridade emitida dos castiçais parece até mesmo que estamos em tons de funerais soluçando aos acordes de músicas enegrecidas do espírito de outras vidas. 
Mas afastemos de nós o terror dos negrumes e procuremos viver a noite que mesmo escura nos traz mistérios que são agradáveis aos nossos sentimentos.
As constelações multicoloridas das estrelas nos alegram, e vez por outra a “estrela cadente” nos oferece o brilho de um renascer majestoso.
A lua sempre bela, baila no horizonte como se fosse à fada dos nossos sonhos que sempre e continuaram sendo encantados, até enquanto houver o romantismo talhado pelos enamorados das noites que não tem horizontes, mas que trazem um bálsamo perfumado pelas orquídeas que não deixam esmaecer de uma só vez os alcatifados sentimentos de amor, desfazendo o ódio que haverão de durar porcamente ou quase nada, pois a persuasão de tudo será indelevelmente a flor do esquecimento porque não temos aquela majestade de imposição de “Rei na Barriga”, pois a simplicidade durará por muito tempo, até que o coro dos anjos em total “Deo Gratias” entoar o louvor perene da felicidade sonhada.

domingo, 29 de junho de 2014

Discurso do Professor Francisco de Assis Martins (Professor Melo), por ocasião de sua posse na.
ACADEMIA MUNICIPAL DE LETRAS DO ESTADO DO CEARÁ
(ALMECE).                                          

Fortaleza (Ceará), 14 de setembro/2000.



Senhoras e senhores,


O homem como um ser em desenvolvimento, admite-se que tenha nascido de um ato espontâneo e natural da vida.

O homem das cavernas e do machado de pedra eram os mesmos que desde a metade do século XX. Mas sua cultura, os meios de vida, sua estrutura econômica, política e social, seus níveis religioso e moral, eram bem diferentes dos nossos.

Foi necessário que passassem centenas de milhares de anos para que o homem, superando as dificuldades postas quer pela natureza rudimentar quer por sua indigência, chegasse a que hoje se encontra.

A personalidade não está acabada; ela é imperfeita.

Devemos nos completar, devemos realizar tarefas, num processo que só desenvolvimento nos dá.

Entende-se, portanto, que o homem, está feito para crescer: “O Homem, como o mundo, é inacabado”.

E eu quero crescer... Quero me completar nesse sodalício para que me propus a minha auto realização não é imposta de fora; brota do mais íntimo do meu ser como uma exigência intrínseca e natural.

O Homem é pluridimensional. Capaz de desenvolver-se em todas as suas dimensões: cultural, econômica, social, psicológica, política, moral e religiosa.

A integração harmônica dessas dimensões, numa escala de valores, constituirá o crescimento ou desenvolvimento autenticamente humano, pois somos seres em crescimento e estamos em situações de “vir a ser”, portanto, somos seres em contínua transformação.

Estou neste momento realizando uma aspiração, uma esperança, um sonho que idealizei.

O orgulho de ocupar a partir de hoje a cadeira de número 14 nessa Academia, me é bastante gratificante.

Mas estou vindo da zona norte do Estado, do Ipu, representando a cidade de Ipueiras, cidade alcandorada, recebendo a influência do sertão, pé-de-serra, serra carrasco e macambira. Cada uma delas com clima e vegetação diferentes, deixando-nos bem à vontade à escolha de um local para habitar.

Represento a terra de Manoel Martins Chaves, pioneiro, desbravador da cidade de Ipueiras.

Do Dr. Aquiles Peres Mota, Deputado Estadual em várias legislaturas, Governador interino por várias vezes, fundador da Casa do Estudante, aqui em Fortaleza.

De José Costa Matos, escritor, poeta, pertencente à Academia Cearense de Letras.

De Gerardo Melo Mourão, poeta de estilo camoniano, com11 publicações. Vejam o que Carlos Drummond de Andrade disse sobre Gerardo: “Um poeta que não se pode medir a palmos, e conseguiu o máximo de expressão usando recursos artísticos que nenhum outro empregou em nossa língua”.

De Hugo Catunda. Criador do primeiro jornal de Ipueiras, “O Sertão”. Um autêntico promovente da cultura de Ipueiras. Foi membro da Academia Cearense de Letras, deixando um legado dos mais valiosos para seus descendentes.

Antônio Frota Neto. Foi porta-voz da presidência da República no governo do presidente José Sarney. Escreveu “Um Dia de Sábado em Macambira”, um livro relatando em grande estilo o comércio livre de Ipueiras.

De Jeremias Catunda, poeta e jornalista que canta sua terra através de versos, deixando extravasar o limite de sua verve.
O atual prefeito de Ipueiras é o senhor Francisco Souto de Vasconcelos, com destacada administração frente ao Município.

Ipueiras é uma cidade que cresce, mas que ainda respira o ar bucólico dos verdes canaviais que circundam suas ruelas centenárias. Cidade que até hoje é possível o canto do “canário-da-terra” aos arrolhos suaves das juritis.


Terra querida, onde encontramos a hospitalidade benfazeja a todas que visitam Ipueiras.
SÃO PEDRO E SÂO PAULO

Hoje estamos celebrando
Dois apóstolos de verdade
A São Pedro e a São Paulo
Que sofreram a maldade
O martírio foi o premio
Por viver fidelidade


Nosso Pedro pescador
Homem simples e radical
Professou a fé em Cristo
Da Igreja foi sinal
Jesus Cristo firmou nele
Seu projeto divinal


E São Paulo foi chamado
Pra assumir uma missão
Na estrada de Damasco
Perdeu a sua visão
Jesus Cristo o chamou
Eis que veio a conversão


São colunas da Igreja
Na evangelização
Seus exemplos imitados
Referencias do cristão
De São Pedro a autoridade
De São Paulo a missão


Por caminhos diferentes
Chegaram ao mesmo lugar
Abraçaram a Jesus Cristo
Seu projeto singular
Pois foram martirizados
Ao seguir seu caminhar

sábado, 28 de junho de 2014

A M Ú S I C A N O R D E S T I N A

A música é o alimento da alma. E não é por acaso; a música nascendo na alma, lhe retorna como forma de agradecimento e levando a alma á viajar por universos que somente ela tem poder para isso.
A música não é uma ciência igual as demais. A música é um grande alimento. É uma ciência diferenciada, e um alimento não do físico, mas, sim do espírito.
Por tudo isso, ela tem o poder de nos transportar no tempo e no espaço. Ela nos leva á lugares onde estivemos um dia e a ouvimos. Nos leva á tempo e á certa ocasião e que, estão abernando em nosso pensamento e a música nos faz acordar. Nos leva á assistir um filme e em companhia de alguém que fora muito importante em nossa vida naquele momento e que ela esteve presente. Também nos leva á dançar um baile que nunca esquecemos. Ela também serve para mandarmos um recado, desabafar e até ofender alguém. Também para pedirmos desculpas de erros cometidos em momentos impensados e fazermos as pazes depois da borrasca. Por fim, nos fazer entender.
A música é antes de tudo, comunicação. O ser humano tem muitas formas de se comunicar: expressões corporais, gestos, sinais e a mais conhecida forma que é fala. E que é a fala? É a simplificação da música em sua forma primitiva. É como ainda se comunicam os irracionais como são chamado nossos irmãozinhos ainda em desenvolvimento. A música sempre existiu, é língua universal. Os irracionais como não estudaram: geografia, matemática e essas outras parafernálias que inventaram se comunicam da forma primitiva, a música. Um cachorro polonês, inglês ou cearês, falam a mesma língua, o mesmo idioma, se entendem. 
Sendo a música comunicação, essa forma de comunicar-se é que tem mudado ao decorrer dos tempos. Antes do rádio e da televisão, a música chegava até nós dos quatro cantos do mundo através da Igreja. Era através dela que a música chegava até nós. – Desculpem-me, o mundo não tem canto. – 
Porém, o que me propõe, é falar da música nordestina. Foi essa a minha proposta. A música regional nordestina é muito forte e esteve sempre presente naquela gente. O baião, o côco, o chote, o xaxado; eram uma constância nos violeiros, nos repentistas, nos emboladores, nos cegos, nos cangaceiros, nas Igrejas e até mesmo nos funerais ela estava presente.
A música nordestina é muito bonita e alegre. Mas, apesar da alegria de seu ritmo, os seus versos são tristes. Seus versos são mais que uma oração, é uma súplica, são um lamento.
Os compositores nordestinos vêm mandando seus recados através de sua música há muito tempo. Os principais foram: Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Gordurinha, Patativa do Assaré, entre outros. Vou citar algumas que são verdadeiras preces: Súplica Cearense, Último Pau de Arara, Belém de Maria, Vendedor de Caranguejo, A Triste Partida, ABC do Sertão, Pau de Arara, Estrada de Canindé, Vozes da Seca, A Volta da Asa Branca e por fim como ninguém volta sem ter ido, A Asa Branca, hoje conhecida como hino do sertão. Ela é de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira; reproduz o sentimento do sertanejo durante uma grande seca. Vou deixar sua letra, não para ser cantada, - Não que esteja proibido, nada contra – mas sim, para ser analisado; o poeta retrata o desespero do sertanejo quando sua terra é assolada pela seca que nem mesmo essa ave que é símbolo do sertão resiste e foge. Também vou colocar aqui as letras de: Vozes da Seca e Súplica Cearense. Não porque sejam elas as mais autenticas da vida do sertanejo, pois temos entre outras, “A Triste Partida” de Patativa do Assaré. Poucas famílias do sertão nordestino não passaram por essa triste experiência de ver um, ou mais de seus membros passarem por essa experiência. Porém essas três mostram momentos daquela gente.
A Asa Branca mostra um momento crucial, quando nem mesmo aquela ave resistiu, teve que fugir. 
Vozes da Seca retrata a humilhação quando um homem com toda saúde tem que receber benesses como esmola.
Súplica Cearense retrata duas coisas: o desespero e a ignorância que se somam na hora do desespero.

ABERNANDO ou IBERNANDO – Dormindo durante todo o inverno.
Asa Branca – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João;
Eu perguntei á Deus do céu, porque tamanha judiação?


Que braseiro, que fornalha, nem um pé de plantação;
Por falta d’água perdi meu gado, morreu de sede meu alazão.


Inté mermo a Asa Branca, bateu asas do sertão;
Intonse eu dixe adeus Rosinha, guarda contigo meu coração.


Quando o verde nos teus óios, se espaiar na plantação;
Eu te asseguro, num chore não, viu, que eu vortarei viu,
Meu coração.

Vozes da Seca – de Luiz Gonzaga e Zé Dantas

Seu doutor o nordestino, tem muita gratidão:
Pelo auxílio dos sulistas, nessa seca do sertão.


Mas doutor uma esmola, á um homem que é são; 
Ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão.


É por isso que pidimo, proteção á vósmicê;
Ome por nós escuído, para as rédeas do pudê.


Pois doutor dos vinte estados, temos oito sem chover;
Veja bem, quase a metade do Brasil ta sem comer.


Dê serviço ao nosso povo, encha os rios de barragens;
Dê comida há preço bão, não esqueça a açudagem.


Livre assim nós da esmola, que no fim dessa estiagem; 
Lhe pagamos inté o juro, sem gastar nossa coragem.


Se o doutor fizer assim, salva o povo do sertão;
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação.


Nunca mais nós pensa em seca, vai dá tudo nesse chão; 
Como vê, nosso distino, micê tem na vossa mão.



- Súplica Cearense – de Gordurinha e Nélinho.


Oh! Deus, perdoe esse pobre coitado,
Que de joelho resou um bucado; 
Pedindo pra chuva cair sem parar.


Oh! Deus será que o senhor se zangou, 
E só por isso o sol retirou;
Fazendo cair toda chuva que há.


Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho,
Pedi pra chover, mas chover de mansinho;
Pra ver se nascia uma planta no chão.


Meu Deus, se eu não pedi direito, o senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi;
Desse pobre que nem sabe fazer oração.


Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água,
E ter lhe pedido cheinho de mágoa,
Pro sol inclemente se retirar.


Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno, 
Desculpe pra acabar com o inferno,
Que sempre queimou o meu Ceará.


Do Livro: “Fragmentos de Uma Oficina Acadêmica”
De Amadeu Lucinda.

sexta-feira, 27 de junho de 2014


A Cidade e a Saudade.

Os leitores podem pensar que o editor desta folha é uma sentimental, mas não. É a nossa cidade nas décadas de 20 a 60 vivia o seu mundo, isolado.
A saudosa Rede Viação Cearense era o seu único elo com Sobral e os portos de Camocim e Fortaleza. Nossas vidas eram suas ruas, suas praças, que todos se achavam responsáveis por elas. Quase todas as pessoas conheciam, era uma grande família. As margens do Ipuçaba margeadas de canaviais com seus engenhos de cana-de-açúcar, todos se sentiam num mundo de poesia. Hoje a cidade cresceu, tem cerca de 50 mil habitantes. Pessoas de todas as zonas, tanto da serra como do sertão vieram pra cá em busca de melhores condições de vida. Só que isto trouxe também muitos problemas que ainda precisam ser resolvidos. Imaginem que até favela já existe em nossa cidade. Favela no sentido não da residência humilde, mas sim, no aspecto sociológico com todas as mazelas das cidades grandes, as marginalidades, a promiscuidade sexual e a pobre absoluta. Por isso é que o editor desta folha enche sua memória dos tempos passados, com o trem de ferro, os engenhos que hoje estão de fogo morto, os seus tipos populares e as ruas que nas noites de luar enchiam-se de crianças a brincar de roda e de adultos a contar os “causos” nas cadeiras nas calçadas. Assim leitores desculpem-me se sou sentimental.
          (Publicado no Jornal dos Tabajaras – setembro de 1997).   

                                (Prof. Mello).

No Tempo das Tropas e Boiadas.

Na década de 20, a nossa cidade era o caminho natural das boiadas e tropas que vinham do Piauí. Elas se agrupavam na cidade de Pedro II e de lá partiam para em direção a Ipu, atravessando a Macambira e depois descendo as serranias da Ibiapaba. Aqui as boiada eram embarcadas nos trens da saudosa Rede Viação Cearenses, onde a Maria Fumaça partia rumo aos portos de Camocim e Fortaleza.
As tropas às vezes compostas de mais de 100 burros voltavam aos sertões do Piai carregadas de tecidos, louças e todos os utensílios domésticos. Hoje este caminho está esquecido, os caminhões saem hoje do Piauí rumo às capitais nordestinas por Tianguá. Os ipuenses devem lutar para a ligação rodovia Pedro II, São José dos Martins, Ipu seja restabelecida.
(Publicado no Jornal dos Tabajaras, julho de 1997).

(Prof. Melo)

O S   N O R D E S T I N O S   N O
       R I O   D E   J A N E I R O
É dito que, o maior reduto de nordestinos fora do nordeste, é São Paulo. Eu tenho minhas dúvidas. Com certeza quem afirma isso, não conhece com profundidade certos redutos de nordestinos no Rio de Janeiro, como Rocinha, Rio das Pedras onde segundo o senso de 2002, 61.6% são do Ceará. A grande população da Baixada Fluminense estimado em aproximado seis milhões de habitantes e que mais de 50% são nordestinos ou descendentes. Com certeza também ainda não foi comer uma buchada, carne de sol com jerimum, comprar queijo de coalho no Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestina; antiga Feira de São Cristóvão onde esse povo se encontra para dançar um forró e matar a saudade da terrinha. Não visitou a Praça Serzedelo Correia nos anos cinqüenta e sessenta aos domingos, onde a colônia do Ceará se reunia, era tão forte o contingente que a mesma passou há ser conhecida como praça dos cearenses.
Bom, mas isso são detalhes. O que precisa ser dito é que, cada nordestino aqui presente é um indivíduo único; com sua vida, com suas raízes e com motivos de ter vindo para cá, o porquê de não ter voltado já que nunca o esqueceu, já que a saudade lhe acompanha quase sempre por toda sua vida. Enfim, com sua saga, única e paralela há tantas outras. Cada um desses indivíduos que estão aqui vindos da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão e principalmente do Ceará e da Paraíba, pois foram desses dois estados que mais migrantes vieram para o sudeste na década de cinqüenta. Há duas pequenas cidades nesses dois estados: Reriutaba no Ceará  e Cabaceira na Paraíba que mandaram tanta gente aqui para Rio de Janeiro e principalmente sem nem uma qualificação profissional, vinham quase sempre para a construção civil.
De Reriutaba saía um caminhão lotado todos os meses, - um pau-de-arara – e por sair, também chegavam todas as semanas, isso em menos quantidade. Porém, quase todos os sábados o trem trazia os cariocas, eram assim que eles eram chamados, mesmo que somente tivesse ficado aqui por alguns meses.  A chegada desses heróis á sua terra natal era uma festa; quase sempre eles pagavam aos maquinistas das velhas marias-fumaça para anunciarem suas chegadas, começava as mesmas a apitarem logo depois que saiam de Sininbú, hoje Amanaiara, isso dependendo do din-din que lhe era dado.
Esses homens construíram os arranha-céu de Copacabana, Ipanema, Leblon e tantos outros bairros. Hoje eles ainda estão aqui, não mais na construção civil, mais sim, nos hotéis, restaurantes e etc. Acredito que, 80% dos garçons cariocas são cearenses.
Em todos os lugares do Rio de Janeiro você encontra nordestino morando, porém seus grandes redutos são a Rocinha, Rio das Pedras, São Gonçalo, Niterói e Baixada Fluminense.
Há nordestinos que se destacaram em todos os setores da sociedade: nas artes, letras, esportes, ciência e tecnologia. Porém, essa parcela é muito pequena se comparado a grande massa que vive as margens dos benefícios da sociedade que eles tanto contribuem, são pessoas que cumprem rigorosamente com seus deveres e pouco sabe de seus direitos.
 E é desses que quero contar um pouco de suas histórias. Eles têm histórias parecidas, vem do mesmo mundo e tiveram a mesma escola; são em geral honestos e trabalhadores. São pessoas super-inteligentes, conheço um garçom que nunca cursou um colégio, é autodidata e poliglota, comunica-se em vários idiomas aprendidos na prática de seu serviço.
Dificilmente eles fazem independência financeira, somente alguns poucos; e por motivos que até eles mesmos desconhecem: é que, eles não se mudaram para cá, vieram apenas ganhar dinheiro para realizar pequenos sonhos, para fazer o que imaginavam que nunca faria lá: comprar uma moto, construir uma casa para seus pais. Ele trabalha um ano inteiro, juntando dinheiro apenas para ir á festa da padroeira de sua cidade. Ficam nesse ir e vir sem fim, enriquecendo apenas as empresas de ônibus.
Há grande verdade, é que, esses homens de quem falei, nunca saíram do seu nordeste; mesmo vivendo aqui por muitos anos, apenas seu físico está aqui, sua alma nunca saiu de lá. Eu tenho um amigo que vive aqui a mais de cinqüenta anos, é comerciante e até bem sucedido financeiramente isso se comparado a vida que ele lavava lá, constituiu família, esposa, filhos, netos; mas ele me confidenciou que. Apesar deste mais de meio século por aqui, acontece sempre com ele uma coisa muito estranha; depois de um dia exaustivo de trabalho em sua loja e ao chegar a sua casa tomar banho, jantar, ler os jornais do dia, ver televisão, vai dormir. E é ai que acontece o incrível: ao pegar no sono, ele se transporta em sonho para seu Ceará. Começa seu devaneio pelos Morrinhos Novos, lugar onde ele nascera e vivera sua infância e adolescência; continuando seu sonho, viaja por: Inhuçu, Carnaubal, São Benedito, Guaraciaba do Norte e até mesmo pela Macambira lugar onde viveram seus antepassados. Disse-me ele que, nesse quase meio século vivendo no sudeste, nunca sonhou em São Paulo , Belo Horizonte, Rio de Janeiro e nem mesmo em Nova Iguaçu onde mora. Outra coisa também acontece nos sonhos desse meu amigo: ele vai aos grandes acontecimentos de sua terra, vai aos grandes bailes, as festas religiosas e sempre muito bem vestido: terno completo, calça, camisa social, palitó e as vezes até colete e gravata; porém, quando ele olha para os pés, está descalço.
Isso prova a dificuldade que ele teve em sua terra para comprar um par de sapatos.
Ainda bem que esse sonho maluco agora deixou de perseguir esse meu amigo. Ele continua a sonhar com a terrinha, hoje ele sonha com ela até mesmo acordado, mas, sempre de sapatos; até porque aquele sonho não tinha  mais razão de ser, pois a primeira coisa que o migrante nordestino fazia ao chegar à cidade maravilhosa naquela época era comprar um terno azul-marinho ou marrom e um bom par de sapatos: DNB, ou Polar.
Porém, essas pessoas em sua maioria aqui, não se ressocializam vivem como estrangeiros dentro de seu próprio País. Não sabem quem os governam e se tratando de governo local, não sabe quem é o prefeito, o bispo, o juiz, o delegado de polícia, ás vezes nem mesmo o padre de sua paróquia. Muitas vezes até sabem os nomes dessas personagens; entretanto, nunca os cumprimentou e nem foi por eles cumprimentados. Vivem a margem dessa sociedade. Não participa e nem toma conhecimento sequer da festa da padroeira da paróquia em que reside; quando no seu nordeste era toda a razão de sua vida, trabalhava o ano todo para poder comprar uma roupa nova para o dia da festa. Aqui eles não tomam conhecimento dos eventos sociais; até mesmo as três grandes paixões do carioca: praia, futebol e carnaval. Eles não tomam parte; até torcem por algum time, - quase sempre o flamengo, - no entanto nunca vão ao Maracanã. A praia quando podem, vão á uma do interior, de preferência longe de alguma cidade. No carnaval vão acampar no mato perto de alguma cachoeira onde não ouça o som dos tamborins e assim eles se acham um pouco dentro da caatinga de seu nordeste.
Moram quase sempre nas cidades da periferia, quando tem carro vai passear na Paraíba, RG do Norte, Ceará. Todavia não sabe dirigir no próprio Rio de Janeiro.   Quando tem algo á resolver no centro da cidade, vai de coletivo ou chama alguém para levá-lo, isso é maioria, porém, há exceções.
Isso me fez lembrar uma piada que me contou um comerciante de Bom Jesus do Itabapuana no extremo norte fluminense. (Isso em plena ditadura militar.) Ele contou que, houve um concurso no Kennel Club, de Petrópolis; o cão vencedor recusou medalha, ração nobre e tudo que tinha direito. Então lhe perguntaram o que ele queria, respondeu: quero uma viagem á Argentina. Mas, por quê? Lá eu posso latir.
Esse migrante, paga impostos, cumpre com suas obrigações mas, por mais que se esforce sente sempre as margens da sociedade. Por mais bem vestido que ele esteja, sente-se sempre sem sapatos. E vive sempre querendo voltar para sua terra nem que seja apenas para ter o direito de latir: e seu uivo seja ouvido.

Do Livro: “Fragmentos de Uma Oficina Acadêmica”

De Amadeu Lucinda.

Padre Reginaldo Manzotti e Obra Evangelizar é Preciso lamentam falecimento de Dom Moacyr José Vitti

Faleceu no início da tarde de hoje de infarto fulminante, o arcebispo metropolitano de Curitiba, Dom Moacyr José Vitti. O Padre Reginaldo Manzotti e a Obra Evangelizar é Preciso sentem e lamentam a perda desse grande sacerdote e incentivador da Obra.
Durante a noite do dia 26, seu corpo será velado na Catedral Basílica Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Missas serão celebradas a cada hora e às 8h do dia 27 de junho, sexta-feira, Padre Reginaldo Manzotti preside Santa Missa pelo falecimento do arcebispo, também na Catedral.
O corpo de Dom Moacyr será sepultado no dia 28 de junho, no jazigo da Catedral, após a missa de corpo presente, que tem início às 9h. 
A Rede Evangelizar de Comunicação estará prestando homenagens e trará todas as informações sobre o velório e sepultamento do arcebispo. A TV Evangelizar exibe na noite de hoje, dia 26 de junho, às 19h50, e no sábado, às 8h45, o documentário "Um Só Coração", que conta a história e a trajetória de Dom Moacyr.

Moradores de Curitiba e Região Metropolitana podem sintonizar a TV Evangelizar pelo canal 16 da tv aberta, pelo canal 13 da NET ou o 16 da VivoTV. Em Maringá e mais de 40 cidades vizinhas, a TV 3.º Milênio pode ser sintonizada pelo canal 31 da tv aberta e 22 NET. Em Sarandi, sintonize pelo canal 16 da VivoTV.

Para ouvir a Rádio Evangelizar em Curitiba e Região Metropolitana sintonize AM 1060. Na Lapa (PR) e norte do estado de Santa Catarina ouça pela FM 90.9.

Acompanhe também nossa programação de Rádio e TV pela internet.

 

Sobre o arcebispo

Dom Moacyr estava à frente da Arquidiocese de Curitiba desde 2004 e tinha como lema episcopal "Um só Coração". O arcebispo deixa um legado de amor e evangelização. Segundo o bispo auxiliar de Curitiba, Dom Rafael Biernaski, Dom Moacyr estava alinhado com indicativas do Papa Francisco, fazendo um trabalho missionário e levando a Igreja a quem precisa.  
 

Cancelamento de Santa Missa em Rio Branco do Sul

Em respeito ao falecimento de Dom Moacyr José Vitti, a Santa Missa em comemoração aos 70 anos da Paróquia Nossa Senhora do Amparo e ao aniversário do Colégio Maria da Luz Furquim, que estava programada para dia 27 de junho e seria presidida por Padre Reginaldo Manzotti, foi cancelada. 

 

quinta-feira, 26 de junho de 2014







O Canto do Pintassilgo.

Transportei-me para o ano de 1984, quando numa tarde de uma quarta-feira de trevas rumei com minha família para uma das fazendas da família do saudoso Valdemar Ferreira de Carvalho. Era Semana Santa, o inverno estava copioso e os açudes já sangravam.
Chegamos à noitinha naquele recanto de belezas raras. Ao por do sol o reflexo dos seus raios eram vistos maravilhosamente nas águas dos açudes. As Juritis entoam o seu arrolho doce anunciando o anoitecer.
Muita coalhada, aquela escorrida, tapiocas com queijo fresco e tudo mais. Era o nosso jantar
Do alpendrado da Casa Grande já podíamos contemplar uma Lua Chorosa vez por outra entre as nuvens e em outros momentos quase límpida no azul do firmamento.
Uma noite maravilhosa cheia de encantantamento e bondade.
Aos primeiros sinais do novo dia, levante-me, fui ao curral onde os nossos moradores faziam a ordenha. Leite mungido e mais e mais.
Ainda estava turvo quando o Rei dos Quintais anuncia o alvorecer. Um piado aqui outro acolá, era a passarada que despertava para mais um dia. Parei e escutei. Eram vários pássaros que anunciavam o amanhecer.
De repente os sons se misturam num processo de agridocilidade sem igual, muitos cantos, muita sonoridade naquela linda manhã.
Recostei-me em uma das estacas da cerca e ao contemplar um juazeiro pude ouvir a canção lírica de um passarinho de plumagem amarela com ponta de assas e cabeça preta; era um Pintassilgo. Passei a admirá-lo, pois o pequeno pássaro entoava uma sinfonia incrível com uma orquestração admirável e bela.
As notas eram de uma perfeição sem igual, tão pequeno e tão poderoso capaz de transmitir para o Universo uma canção linda a canção da beleza de um alvorecer de imorredouras saudades.
E a pequena ave continuava na sua a sua doce e suave cavatina deixando-nos cada vez mais embevecidos.
As notas musicais iam se formando nos ares e se mesclavam com os outros cantos de aves que ali aportavam. Uma singular orquestração de sons puros e reais que a natureza junto aos meus ouvidos me proporcionava naquele momento.
O Sol ainda tingido por algumas nuvens rompia o dia e sua claridade intensa naquele dia. A folhagem dos pés de marmeleiro dos com suas flores perfumadas, e os paus de sabias enverdecidos com a chegada das chuvas uma coisa própria do nosso sertão. Ainda estavam orvalhados recebia os raios do astro rei naquela manhã que ficou distante e eu não esqueci.

PASSARINHOS


Cantai, cantai e alegrai recantos.
Oh! Doces passarinhos meigos
De gorjeios lindos cheios de encanto
De manhãs de Sol e galanteios.

Em gaiolas douradas esbanjam
Uma linda plumagem multicolorida, rara.
De silvestres pipilos eles cantam
Quando a natureza anuncia nos ares.
                                                                       

A voz do mundo em arpejos naturais
Que ecoa em sons divinais
Aos ouvidos de menestréis solitários

Uma voz que escuta em harmonia,·.
Vibrante tão profunda melodia
Aos acordes perfeitos de uma elegia.
Ipu, 16 de novembro de 2011.