RAÍZES
O que sustenta uma árvore, grande ou pequena, são suas
raízes. É através delas que a mesma se alimenta, tirando da terra água e outros
nutrientes essenciais para que ela viva.
Quando as raízes de uma árvore, que já cumpriu seu
ciclo, já fizeram os deveres que a natureza lhes incumbiu, apodrecem e ela
morre em conseqüência disso, imaginamos que ela tenha desaparecido, que ela
acabou-se.
Enganam-se, durante sua vida ela deu frutos e
sementes, nessas sementes, está armazenado todo seu código genético que darão
vida a uma nova árvore, mais forte e mais vigorosa.
Tudo na vida tem raiz, física ou não, palpáveis ou
imaginárias.
As fundações de um prédio são feitas para colocar as
pilastras que são suas raízes, são elas que a sustentam, sem elas ele não
existiria.
Você já imaginou a ponte Costa e Silva, “Rio–Niterói”,
sem suas gigantescas colunas?
Muito bem, os lugares também não são diferentes. E nos
Morrinhos também foi assim.
As raízes dos lugares são seus habitantes, seus
moradores. Foi do passado deles que se delinearam o que é hoje esse lugar e,
por extensão, o que somos.
Relendo de Casimiro de Abreu “Meus oito Anos”,
compreendi que oito anos não foi
privilégio somente de Casimiro de Abreu, pois grande parte dos causos
narrados nesse livro teve como fonte essa faixa etária, tão marcante em
nossas vidas.
Vou citar nomes
de alguns desses pioneiros que não foram os primeiros moradores, porém, foram
pessoas que eu conheci, e que foram raízes desse lugar e, por extensão, as
nossas. Também citarei as datas em que eles foram para o andar de cima, e
alguns fatos de suas histórias.
João Mendes, “o pavão”, rezava novenas nas casas de
famílias, porém, em
latim. Partiu em 4 de abril de 1948.
Antônio Lúcio Feitosa, tinha um slogan: “nunca passei
de Antônio Lúcio, porém, nunca deixei de ser Antônio Lúcio”. Era meu tio avô.
Partiu em 9 de março de 1961.
Evaristo Medeiros, político, homem inteligente, nos
deixou em 3 de outubro de 1986.
Pá-Neném, meu primo, morte precoce, tem nesse livro um
texto sobre ele. Subiu em 25 de fevereiro de 1949.
Vicente Lucinda, meu tio e amigo. Subiu em 20 de abril
de 1973.
Chico Casimiro, “um pardo decente” se autodizia quando
bebia a marvada. Partiu em 18 de
outubro de 1975.
João Cândido, meu padrinho, sempre que era informado
da morte de alguém, dizia: “mais um que deixou esse mundo das ilusões”. Subiu
em 23 de abril de 2001.
Antônio Lucinda, meu pai, um exemplo de homem,
de pai, de irmão, de tio e de amigo, era a honestidade personificada, um exemplo
a ser seguido. Difícil, não custa tentar. Foi para o andar de cima, em 5 de
agosto de 1974.
Emília Cândida, a melhor mãe do mundo,
desnecessário dizer que era a minha. Subiu em 28 de março de 1979 (aqui no Rio
de Janeiro, quando veio visitar os filhos que moravam aqui, nos quais me
incluo).
Leonísia Gonçalves, uma mulher rica para o lugar,
porém, de uma humildade dos grandes espíritos de luz, nunca teve orgulho, viveu
para os pobres, para a família e para seus amigos. Subiu em 19 de dezembro de
1977.
Arcelino Vaqueiro partiu em 12 de janeiro de 1960.
Rita de Freitas morreu em 12 de julho de 1959.
Chico Miúdo morreu em 5 de outubro de 1964.
Todos esses personagens deram sua contribuição com a
formação desse lugar, cada um de acordo com função social que lhe cabia na
época.
Do livro: “Histórias nos Morrinhos” de Amadeu Lucinda.
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