terça-feira, 31 de março de 2015

Olívio Martins de Souza Torres

Sonho Azul era o nome de vagão dos trens da Rede Viação Cearense (R.V.C), bem confortável, com ar condicionado, usado pela R.V.C tanto na linha Norte (Fortaleza - Crateús) como na linha Sul (Fortaleza - Crato). Andar nele, nas minhas viagens a Ipu, só quando comecei a trabalhar, pois a passagem era mais cara. O trem era o transporte mais usado pela população do Estado, sendo desativado para dar lugar ao transporte rodoviário. Coisas do Brasil verde-amarelo!
Falando do Sonho Azul, ouvi dizer que muitas pessoas sonham em cores e em preto-e-branco. Não me lembro da cor dos meus sonhos. Às vezes, sonho com o Seminário Franciscano de Santo Antônio, em Ipuarana, Lagoa Seca (PB), com o banco em que trabalhei (Banco do Nordeste do Brasil – BNB) e com o centenário colégio Liceu do Ceará (fundado em 19.10.1845), onde concluí o 3.º Ano Clássico, após deixar o Seminário.
No Liceu do Ceará fui também professor durante seis lustros, ministrando aulas de Língua Portuguesa e de Literatura Brasileira e Portuguesa no turno da noite, haja vista que os expedientes diurnos eram no BNB.
 Outras vezes, em vez de sonhos dourados, tenho pesadelos. E o pior dos pesadelos é quando sonho que o Convento de Ipuarana foi alienado. Que não pertence mais à Província Franciscana de Santo Antônio, com sede em Recife (PE), como os Conventos de Tianguá e de São Cristóvão que foram alienados. Acordo aliviado, rogando a Deus que isto nunca aconteça.
Mas, ontem, em Fortaleza, antes da Missa da Ressurreição do colega Saraiva, conversava com o amigo Dário Sampaio, ipuaranense e colega de banco, dono da conceituada empresa SCOPA, especializada na construção de apartamentos e de prédios comerciais, sobre a possibilidade, remota talvez, de o Convento de Ipuarana ser exposto à venda pela Província Franciscana. E chegamos à conclusão de que se isto, um dia, viesse a ocorrer, a maioria dos ex-alunos do Seminário de Ipuarana, no Brasil e no exterior, se reuniriam e, num hercúleo esforço conjunto, conseguiriam alavancar  recursos para adquirir aquele território sagrado, mesmo que tivessem de se desfazer de alguns de seus bens.
 E iríamos todos morar lá, em Ipuarana, numa comunidade semelhante àquela dos primeiros cristãos na Terra Santa. E, acatando a orientação de Cícero, em De Senectute (Sobre a Velhice), iríamos nos dedicar à agricultura, cultivando hortifrutigranjeiros, sem agrotóxicos, como já faz o ex-seminarista franciscano Guimarães, o famoso João Cuscuz, meu colega de turma, em seu sítio próximo a Ipuarana.
Pelo menos, já contaríamos com o conhecimento e a experiência do João Cuscuz nessa área e, também, com a tecnologia dos colegas engenheiros agrônomos.  E iríamos levar uma vida saudável e tranquila como preconizava o poeta latino Horácio (Epodos):
Beatus ille qui procul negotíis,
ut prisca gens mortalium,
paterna  rura bubus exercet suis,
solutus omni foenore.
(Feliz quem está longe dos negócios como os antepassados, tocando os bois nos campos paternos, livre de todas as preocupações).
Meditando levemente, não como os budistas que são mestres nessa arte, fico, às vezes, pensando neste indecifrável enigma - tal qual o da Esfinge - da relação sentimental entre Ipuarana e seus ex-alunos. Não tenho a resposta. Talvez seja a SSF (Síndrome de São Francisco) ou, como alguns dos ex-alunos ligados ao campo já se expressaram, talvez seja porque fomos ferrados, a fogo, com a marca registrada do Homem do Milênio - São Francisco de Assis. O homo ipuaranensis parece ser uma espécie diferente - nem melhor nem pior que as outras -, mas que ainda não foi explicado devidamente.


         Cinta de Möebius

José Júlio Martins Torres

Cinta de Möebius: uma metáfora para o processo educativo numa visão fractal
 Em Educação, fala-se muito em ensino-aprendizagem, ficando a avaliação como um processo à parte, além de se deixar de fora um componente essencial que é o Desenvolvimento-do-Ser.
Isto acontece porque o cidadão é formado para o racional e para a tarefa, seguindo um processo educativo linear e dicotômico.
O objetivo deste texto é apresentar as lições que podemos tirar da Cinta de Möebius para o processo educativo numa Visão Fractal de Educação, preconizando a unicidade do processo educativo, tratando Ensino, Aprendizagem, Avaliação, e Desenvolvimento-do-Ser como um todo complexo (único, tecido junto).
A Cinta de Möebius, matematicamente falando, é um espaço topológico com uma estrutura que permite alguns conceitos inerentes ao Pensamento Complexo e à Teoria dos Fractais, como convergência, conexidade, continuidade, não separatividade, unicidade. Ela é construída a partir da colagem de uma fita que tem as suas extremidades coladas depois de se fazer um giro de 180º sobre si mesma (meia volta) formando uma cinta torcida.
Uma cinta comum (sem torção) é um objeto que tem dois lados: o lado de dentro e o lado de fora, e tem duas bordas: a borda direita e a borda esquerda. Ou seja, é um objeto que segue a lógica aristotélica que é binária, dicotômica e excludente.
A Cinta de Möebius segue uma lógica complexa, pois só tem um lado (o lado de dentro é o mesmo lado de fora) e só tem uma borda (a borda da direita é a mesma da esquerda).
Pegando-se uma tira de papel, colando-se as suas extremidades, depois de dar-lhe uma torção de 180º, teremos uma cinta de Möebius (Figura 1a).
 Figura 1. Cinta de Möebius
Fonte: Fotos de Júlio Tôrres
Se pegarmos a cinta de Möebius (Figura 1a) e a cortarmos longitudinalmente, bem ao meio (Figura 1b), não teremos duas cintas, como era de se esperar (o que aconteceria com uma cinta comum). Teremos somente uma nova cinta de Möebius (Figura 1c) com a metade da largura da cinta de Möebius original, porém, com mais uma torção sobre si mesma.
Se pegarmos a mesma cinta de Möebius (Figura 1a) e a cortarmos longitudinalmente, perto da borda (Figura 1d), teremos duas cintas de Möebius entrelaçadas (Figura 1e), sendo uma delas com duas torções.
A lição que podemos tirar desse fato é que não dá para separar o inseparável. Quando temos processos com características fractais (extensão infinita dos limites, permeabilidade dos limites, autossimilaridade), a unicidade se manifesta e a separatividade não tem lugar.
Entendemos que, a partir de uma epistemologia complexa (fractal), deve-se falar e praticar, concomitantemente, o Ensino, a Aprendizagem, a Avaliação e o Desenvolvimento-do-Ser para se ter um processo único complexo Ensino–Aprendizagem–Avaliação–Desenvolvimento-do-Ser, tudo acontecendo ao mesmo tempo.
Podemos associar as características da Cinta de Möebius às características dos Fractais e relacioná-las com o processo de Educação, permitindo criar um fractal para representar a Visão Fractal de Educação. Observar que a bolha maior que representa a Educação contém quatro bolhas que representam os quatro componentes: DS = Desenvolvimento-do-Ser; EN = Ensino; AP = Aprendizagem; AV = Avaliação. E que cada um dos quatro componentes contém os mesmos quatro componentes. Mesmo visto separadamente, cada componente não está separado, contém os demais. Como na Cinta de Möebius, é impossível a separação.
Figura 2. Visão Fractal de Educação
Fonte: Desenho de Júlio Tôrres
Numa Visão Fractal de Educação não dá para separar um componente dos demais. O ato de Ensinar é um ato de Ensinar e, ao mesmo tempo, um ato de Aprender, de Avaliar e de Desenvolver o Ser. O ato de Aprender é um ato de Aprender e, ao mesmo tempo, um ato de Ensinar, de Avaliar e de Desenvolver o Ser. De forma semelhante acontece com o ato de Avaliar e com o ato de Desenvolver o Ser. Se o Processo de Educação for um processo realmente fractal, não dá para separar Ensino, Aprendizagem, Avaliação e Desenvolvimento-do-Ser. Então, teremos cada vez mais fortalecida, a unicidade do Processo de Educação, que é transdimensional: Ensino–Aprendizagem–Avaliação–Desenvolvimento-do-Ser.
Concluindo, entendemos que cidadãos formados, a partir de uma Visão Fractal de Educação, poderão ter mais possibilidades de geração de valores e de significados para a prática profissional e para as suas vidas. Cidadãos formados, prioritariamente, não para o racional e para a execução de tarefas, mas para o Desenvolvimento do Ser, com possibilidade de ser felizes em qualquer tipo de atividade, seja de Trabalho, de Lazer e de Tempo Livre, sabendo vivenciar a verdadeira Experiência de Ócio em cada uma destas atividades, realizando o sonho grego da Scholé, palavra grega para ócio, de onde vem a palavra Escola.
REFERÊNCIAS
COLOM. Antoni. J. A (des)construção do conhecimento pedagógico: novas perspectivas para a educação. Porto Alegre: Artmed, 2004.
MANDELBROT, B. B. The fractal geometry of nature. New York: Freeman, 1983.
MATURANA, Humberto R. e VARELA, F. J., A árvore do conhecimento. Campinas: Psy, 1987.
MORIN. E. Os sete saberes necessários para a educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.
ZIMMERMAN, B. J.; HURST, D. K. Breaking the boundaries: the fractal organization. Journal of Management Inquiry, v. 2, n. 4. 1993, p. 334-355.

        

 Meu Primeiro Amor.

Abílio Lourenço Martins

 Na pracinha do Quadro, Bruno e seus amigos brincavam descontraidamente. Trisca e esconde-esconde eram as preferidas.
As meninas, indiferentes, se juntavam  para as mesmas brincadeiras.
Extasiados do corre-corre, sentavam-se em uma das calçadas e passavam a alternar as brincadeiras: “Meu lado esquerdo está desocupado”, “passar o anel” e outras mais.
Bruno ao ser indagado: teu lado esquerdo está desocupado. Quem chamas?
Respondia incontinenti. Fernanda. Lá vinha, quase correndo, aquela menina com a saia leve, olhar vivo e risonha, sentar-se ao seu lado.
Ao passar o anel, Bruno deixava-o, sempre, entre as mãos suaves de Fernanda.
Mais tarde percebeu que aquelas brincadeiras eram iniciação à paquera.
Decorridos dias, estava Bruno perdidamente apaixonado, sem conhecer, sequer, os sintomas do amor. Tinha ele entre 10 a 11 anos; Fernanda, alguns meses mais.
A partir daí os seus olhares se cruzavam apaixonadamente.
Seu coração foi sacudido quando certo dia foi surpreendido por Tereza que lhe trazia um recado: “Bruno: Fernanda mandou lembranças”.
Que dia maravilhoso!
Dia seguinte era Bruno quem retribuía. E foram dezenas de lembranças. Idas e vindas.
Fernanda, ao se dirigir ao Patronato, sua escola, ficava Bruno, sempre, a  contemplá-la. Na virada da esquina, o último olhar acontecia seguido de um meigo sorriso. Seus olhares se cruzavam tão apaixonados quanto um beijo demorado.
Cresceram. Fernanda tornou-se mais rapidamente moça que Bruno,  rapaz.
Trocou a saia por um vestido e, também, a paixão de Bruno por um rapaz mais velho, mais maduro.
Partiu no trem dos amores enquanto Bruno continuava na estaçãozinha chamada “saudade”.
Permanecia sua rotina entre a escola e o futebol. Mas, à noite, o seu lado esquerdo estava definitivamente desocupado. Sentia falta de Fernanda.
E, assim como ela, trocou o calção pela calça e sapatos e subiu, também, no trem dos amores.
Na primeira parada encontrou uma linda garota. Apaixonou-se. Mais à frente outra: Meiga, doce e amável, com a qual trocaram beijos até então não dados.
Foram várias as estações percorridas, e, em cada delas, um amor diferente. Inclusive aqueles encontrados em algumas estações vicinais com a placa de “Amores Proibidos”.
Chegou, por fim, à estação final. Olhou para trás e percebeu que em cada estação passada deixou um pouco de si e guardou, com carinho, a recordação de todas elas.
Trocou as calças e os sapatos, não pelo calção, mas pelos chinelos e o pijama do amor.
Abilio, 18 set 2014.

segunda-feira, 30 de março de 2015


Todo dia é dia de Natal
Já passei por alguns aeroportos deste mundo e, por isso, digo e repito que não há nada mais animado que uma rodoviária do Ceará na véspera do Natal. Tudo na vida tem seu lado bom e não adianta cara feia pelo calor e lotação. É melhor tentar chegar cedo e aproveitar o movimento do Terminal Rodoviário Engenheiro João Tomé, mais conhecido como “rodoviária grande”. É povo puxando mala, formando as filas em formato de caracol pra comprar passagem, correndo e puxando os meninos pelo braço rampa abaixo para chegar à plataforma na hora.
Antes a empresa era Horizonte, hoje é Princesa dos Inhamuns, mas a alegria é a mesma ao ver o transporte chegando no horário marcado no bilhete. Começa uma das partes mais animadas: guardar os pacotes no bagageiro. Televisão, boneca gigante, ventilador, peru congelado enrolado no jornal (técnica milenar de conservação certamente aprendida nas respectivas cidades de origem de cada passageiro) e muitas malas recheadas de presentes cuidadosamente embalados e que, por sinal, são um prato cheio para a nossa imaginação. O que teria ali? Quem rasgaria tal papel de presente colorido e estampado?
A viagem começa, os últimos passageiros embarcam na Rodoviária do Antônio Bezerra e já na saída de Fortaleza é possível ver alguns fazendo o “Sinal da Cruz” e ouvir as histórias de pais, mães, filhos que deixaram irmãos, tios, avós no interior e estão rumo ao reencontro. Alguns já colocam seus fones no ouvido, muitos ligam para os parentes, pedem “a bença” e avisam que já estão saindo da capital, outras já falam sobre o jantar na casa de um ou almoço do dia seguinte na casa de outro.
Em Caucaia, as pessoas já se acomodaram. Muitos já começam a tirar alguns lanches das bolsas e sacolas de plástico para matar a fome que já começa a bater ou, simplesmente, buscam algo para mastigar e passar o tempo. Começa o entra e sai do banheiro. Torcer pela integridade higiênica de um banheiro em uma viagem relativamente longa é sempre importante.
O velho cochilo começa a falar mais alto. Caridade é a hora de abrir o olho e esticar a cabeça para tentar ver o Santo Antônio na beira da estrada. Muitas vezes acordo exatamente na hora de ver a imagem e isso pra mim é sinal de que será uma viagem abençoada. É hora também de rezar pelos que ficaram e pedir uma volta em paz após as festas.
É só alegria avistar a estátua de São Francisco em Canindé e comprar uma broa ou rosquinha na rodoviária.  É hora também de esticar as pernas na parada obrigatória para enfrentar mais algumas horas de viagem. Não falta comida boa para quem gosta, principalmente, para os motoristas e cobradores que fazem uma merecida refeição com tanto gosto.
Em Santa Quitéria, o sono muitas vezes já está grande novamente, a alegria começa a bater só em pensar que, pelo menos pra quem vai descer na “Terra da Virgem dos Lábios de Mel”, já passamos da metade da viagem. As águas de Hidrolândia eu nunca vi, mas a pracinha da cidade é uma das mais fofas da região e sempre vale a pena olhar o movimento pela janela.
A realidade é que o estirão após Hidrolândia parece ser maior do que realmente é, com toda certeza,  virar à direita no “T” é uma alegria sem fim. Ver as primeiras luzes e enfeites natalinos nas casas e na Praça da Iracema significa sair do frio do ar condicionado e desembarcar no calor dos abraços e sorrisos que esperam na pequena rodoviária de Ipu. Descemos sempre dando graças a Deus e o ônibus segue levando saudades serra acima.
Lívia Xerez



Quinta-feira de Endoenças


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A Quinta-feira Santa ou Quinta-feira de Endoenças (dores e temores) é a quinta feira, imediatamente, anterior à Sexta-feira da Paixão, da Semana Santa. Este dia marca o fim da Quaresma e o início do Tríduo Pascal na celebração, que relembra a última ceia do Senhor Jesus, o Cristo, com os doze Apóstolos.
Dentro dos ofícios do dia, adquire uma especial relevância simbólica, o lava-pés, realizado pelo sacerdote e no qual relembra o gesto realizado por Cristo antes da última ceia com seus apóstolos.
A chamada “última ceia” de Jesus, com os seus “shaberim”, foi um “kidush”, que precedeu a “Pêssach”, sendo realizado na quinta-feira.
Os ofícios da Semana Santa chegam à sua máxima relevância litúrgica na Quinta-feira de Endoenças, quando começa o chamado tríduo pascal, culminante na vigília que celebra, na noite do Sábado de Aleluia, a ressurreição de Jesus Cristo no Domingo. Na Missa dos Santos Óleos ou Missa do Crisma, a Igreja celebra a instituição do Sacramento da Ordem e a bênção dos santos óleos usados nos sacramentos do Batismo, do Crisma e da Unção dos Enfermos, e os sacerdotes renovam as suas promessas.
Na Quinta-Feira de Endoenças, Cristo ceou com seus apóstolos, seguindo a tradição judaica do “Sêder de Pessach”, já que segundo esta deveria cear-se um cordeiro puro; com o seu sangue, deveria ser marcada a porta em sinal de purificação; caso contrário, o anjo exterminador entraria na casa e mataria o primogênito dessa família (décima praga), segundo o relatado no livro do Êxodo. Nesse livro, pode se ler que não houve uma única família de egípcios na qual não tenha morrido o primogênito, pelo que o faraó permitiu que os judeus abandonassem o Egito, e eles correram o mais rápido possível à sua liberdade; o faraó, rapidamente, arrependeu-se de tê-los deixado sair e mandou o seu exército em perseguição dos judeus, mas Deus não permitiu e, depois de os judeus terem passado o Mar Vermelho, fechou o canal que tinha criado, afogando os egípcios. Para os católicos, o cordeiro pascoal, de então, passou a ser o próprio Cristo, entregue em sacrifício pelos pecados da humanidade e dado como alimento por meio da hóstia.
Existem Altos Graus maçônicos, em que, ao final dos trabalhos, os presentes se reúnem em torno de uma mesa, onde o presidente, o principal dos convivas, distribui o pão e o vinho, de que todos se servem. Além disso, há um antigo costume, segundo o qual, em qualquer lugar do mundo em que se encontrem, esses obreiros, cavaleiros, devem se encontrar na quinta-feira de Endoenças (do latim: indulgentias), ou “quinta-feira santa”, ou “quinta-feira da Paixão”, que ocorre três dias antes da Páscoa. Esse hábito tem sua origem num rito tradicional judaico, incrementado pelos essênios: o kidush (da raiz kodesh = santo, sagrado), que, também, é a origem da eucaristia.
O kidush era realizado na véspera de uma festa religiosa, ou na véspera do shabbat (sábado, o dia santificado), para realçar a santificação do dia.
Por ocasião da “Pessach” (Passagem, Páscoa), lembrando a saída do Egito, todavia, como a sexta-feira era dia de preparar os alimentos, que seriam consumidos no “Sêder” (jantar da Páscoa) e de queimar hametz (alimentos impuros, proibidos durante a Páscoa), o kidush era recuado para a quinta-feira.
Num kidush, o principal dos convivas de uma confraria (em hebraico: shaburá) lançava as bênçãos sobre o pão e o vinho e os distribuía entre os demais (os shaberim, membros do shaburá).
A cerimônia celebrada na Quinta-Feira Santa é exclusiva para os iniciados no Grau 18° e acima.
Os Cavaleiros Rosa-Cruzes quando reunidos em Conclave, na “Quinta-Feira Santa”, Sessão de Endoenças, para a realização da Ceia do Grau 18º, devem ter em mente que a Ceia constitui um cerimonial, cuja origem é lembrada como sendo a realizada por Jesus com os seus doze Discípulos. Jesus, ao distribuir o pão e o vinho, esclareceu que simbolizava o seu próprio corpo e o seu sangue. Contudo, a Ceia Rosacruciana distribui a nutrição, que simboliza o sangue e o corpo de todos os Cavaleiros presentes, para que as forças da Vida sejam aumentadas; a inteligência seja sã e sincera, e que a Verdade seja discernida e as aspirações esclarecidas ante o Grande Arquiteto do Universo.
Fonte: Revista ASTRÉA, 

O que é a Semana Santa / Semana da Paixão?




Pergunta: "O que é a Semana Santa / Semana da Paixão?"

Resposta:
A Semana da Paixão (também conhecida como Semana Santa) é o tempo desde o Domingo de Ramos até o Domingo de Páscoa (domingo da Ressurreição). Semana Santa é assim chamada por causa da paixão com que Jesus voluntariamente foi à cruz para pagar pelos pecados de Seu povo. Semana Santa é descrita em Mateus capítulos 21-27; Marcos capítulos 11-15; Lucas capítulos 19-23 e João capítulos 12-19. A Semana Santa começa com a entrada triunfal de Jesus no Domingo de Ramos, montado em um jumento, assim como profetizado em Zacarias 9:9.

A Semana da Paixão continha vários eventos memoráveis. Jesus purificou o Templo pela segunda vez (Lucas 19:45-46), então disputou com os fariseus a respeito de Sua autoridade. Depois disso, Ele fez o Seu Discurso das Oliveiras sobre o fim dos tempos e ensinou muitas coisas, incluindo os sinais de Sua segunda vinda. Jesus comeu a sua Última Ceia com os discípulos no Cenáculo (Lucas 22:7-38), depois foi para o jardim de Getsêmani para orar enquanto esperava que a Sua hora chegasse. Foi aqui que Jesus, depois de ter sido traído por Judas, foi preso e levado para os julgamentos diante de vários sacerdotes, Pôncio Pilatos e Herodes (Lucas 22:54-23:25).

Após os julgamentos, Jesus foi açoitado nas mãos dos soldados romanos. Em seguida, foi forçado a carregar o Seu próprio instrumento de execução (Cruz) pelas ruas de Jerusalém, ao longo do que é conhecido como a Via Dolorosa (caminho das Dores). Jesus foi então crucificado no Gólgota no dia antes do sábado, foi sepultado e permaneceu no sepulcro até domingo, um dia depois do sábado, e, em seguida, gloriosamente ressuscitou.

Esse tempo é conhecido como Semana Santa porque foi quando Jesus Cristo realmente revelou a Sua paixão por nós através do sofrimento pelo qual voluntariamente passou a nosso favor. Qual deve ser a nossa atitude durante a Semana Santa? Devemos ser fervorosos em nossa adoração a Jesus e em nossa proclamação de Seu Evangelho! Assim como Ele sofreu por nós, igualmente devemos estar dispostos a sofrer para poder segui-Lo e proclamar a mensagem de Sua morte e ressurreição.



Leia mais:http://www.gotquestions.org/Portugues/Semana-da-Paixao.html#ixzz3Vs6nrlf7

domingo, 29 de março de 2015

Um Eremita Urbano

Manuel Evander Uchôa Lopes

Em minha juventude na florescente e bela cidade de Ipu, conheci um cidadão, que diziam ser louco; Eu não pensava assim, considerava-o, apenas, um homem de uma mente um pouco perturbada. 
Ele era uma figura típica; estatura mediana, maltrapilho e magro, talvez pela má alimentação de que se servia.
Andava pelas ruas e bairros da cidade aparentemente sem rumo, tendo por companhia uma cadelinha magra como ele próprio; Quem sabe, talvez, a procura de seu Cosme, pois todo Damião tem seu Cosme, um irmão.
A meninada, na sua maldade inclemente de criança, atirava-lhe pedras e gritava Pesão, o que o deixava excitado e, assim, ele corria atrás da molecada, mas sem lhe fazer mal.
Era um homem de certa forma espirituoso (filosófico) em algumas de suas respostas a indagações que lhe fazíamos. Conhecia-nos a todos pelos sobrenomes; Quando nos encontrava conversando ou bebericando em algum lugar da cidade, saia a gritar e espalhar pelas ruas Tavares, Lopes, Carneiro, Aragão e outros...
Damião, em sua inocência de “louco”, nos ensinou algumas lições de humildade, resignação e compreensão com suas respostas “filosóficas”, que certamente muitos de nós, até hoje, lembram.
O tempo passou; Um dia, estando de férias em Ipu, senti falta de alguma coisa; Veio-me à mente a imagem de Damião; Perguntei por ele e me disseram que falecera e estava enterrado no cemitério da cidade, próximo à entrada, ao lado da Capela. Disseram também, que seu túmulo era um dos mais visitados no dia de finados e, que até fazia milagres. Não sei... Damião, com certeza, não é um Santo cultuado por nossa Santa Igreja Católica; mas, certamente, foi um santo homem, que perambulava pelas ruas de Ipu aparentemente sem rumo, talvez a procura de seu Cosme...; ...” UM EREMITA URBANO ”.

PRAÇA DE IRACEMA OU JARDIM DE IRACEMA

Plantada entre o Banco do Brasil e a Telemar, ainda hoje existe o Jardim de Iracema depois de passar por várias modificações desde a sua formação primeira até hoje quando é portadora de uma arquitetura das mais esdrúxulentas já acontecida na história administrativa deste município.
A sua inauguração se deu no dia 07 de setembro de 1927, pelo primeiro Prefeito eleito de Ipu, Cel. Felix Martins de Sousa, que no ato inaugural pronunciou as palavras: “ESTÁ INAUGURADO O JARDIM DE IRACEMA”.

Na sua forma arquitetônica inicial foi arvorado um Coreto que servia para apresentações artísticas e outras mais.
Outras modificações aconteceram, sendo construído no local do Coreto um Lago feio e sujo com uma Garça bem no centro que servia para os vândalos exercitarem as suas pontarias.

Em seguida veio à terceira reforma, foi edificada com todas as pompas a Iracema, o nosso mito maior a única do mundo, foi destruída por um Prefeito que não sabe o que é crueldade e nem malvadeza e nem muito menos tem conhecimento de Cultura, é um estranho na terra de ninguém, um escatológico sem precedentes. Não sabe o que é Patrimônio Histórico, será um vândalo? Ou aquele produtor de cataclismo que aqui se instalou neste Ipu de todos nós.

E assim foi realizada pelo inópio Prefeito a quarta reforma, sem planejamento sem uma seqüência de passeios ou avenida ou até mesmo um local de lazer, mas está bem parecido com um local de esconderijo propiciando a marginalização e muito especialmente a prostituição.

Quinta Reforma. Sofreu mais uma vez toda descaracterização parecendo mais um calçadão para passeios outros. As duas estátuas de Iracema e do Guerreiro Branco é um destaque aparte. Os Bancos sem uma originalidade sem igual. O jardim está bonito.


Domingo de Ramos
 

O Domingo de Ramos abre solenemente a Semana Santa, com a lembrança das Palmas e da paixão, da entrada de Jesus em Jerusalém e a liturgia da palavra que evoca a Paixão do Senhor no Evangelho de São Lucas. 

Neste dia, entrecruzam as duas tradições litúrgicas que deram origem a esta celebração: a alegre, grandiosa , festiva litrugia da Igreja mãe da cidade santa, que se converte em mímesis, imitação do que Jesus fez em Jerusalém, e a austera memória - anamnese - da paixão que marcava a liturgia de Roma. Liturgia de Jerusalém e de Roma, juntas em nossa celebração. Com uma evocação que não pode deixar de ser atualizada.

Vamos com o pensamento a Jesuralém, subimos ao Monte das Oliveiras para recalar na capela de Betfagé, que nos lembra o gesto de Jesus, gesto profético, que entra como Rei pacífico, Messías aclamado primeiro e depois condenado, para cumprir em tudo as profecias.

Por um momento as pessoas reviveram a esperança de ter já consigo, de forma aberta e sem subterfúgios aquele que vinha em nome do Senhor. Ao menos assim o entenderam os mais simples, os discípulos e as pessoas que acompanharam ao Senhor Jesus, como um Rei.

São Lucas não falava de oliveiras nem de palmas, mas de pessoas que iam acarpetando o caminho com suas roupas, como se recebe a um Rei, gente que gritava: "Bendito o que vem como Rei em nome do Senhor. Paz no céu e glória nas alturas".

Palavras com uma estranha evocação das mesmas que anunciaram o nascimento do Senhor em Belém aos mais humildes. Jerusalém, desde o século IV, no esplendor de sua vida litúrgica celebrada neste momento com uma numerosa procissão. E isto agradou tanto aos peregrinos que o oriente deixou marcada nesta procissão de ramos como umas das mais belas celebrações da Semana Santa.

Com a litiurgia de Roma, ao contrário, entramos na Paixão e antecipamos a proclamação do mistério, com um grande contraste entre o caminho triunfante do Cristo do Domingo de Ramos e o "via crucis" dos dias santos.

Entretanto, são as últimas palavras de Jesus no madeiro a nova semente que deve empurrar o remo evangelizador da Igreja no mundo.

"Pai, em tuas mão eu entrego o meu espírito". Este é o evangelho, esta a nova notícia, o conteúdo da nova evangelização. Desde um paradoxo este mundo que parece tão autônomo, necessita que lhe seja anunciado o mistério da debilidade de nosso Deus em que se demonstra o cume de seu amor. Como o anunciaram os primeiros cristãos com estas narrações longas e detalhistas da paixão de Jesus.

Era o anúncio do amor de um Deus que desce conosco até o abismo do que não tem sentido, do pecado e da morte, do absurdo grito de Jesus em seu abandono e em sua confiança extrema. Era um anúncio ao mundo pagão tanto mais realista quanto mais com ele se poderia medir a força de sua Ressurreição.

A liturgia das palmas antecipa neste domingo, chamado de páscoa florida, o triunfo da ressurreição, enquanto que a leitura da Paixão nos convida a entrar conscientemente na Semana Santa da Paixão gloriosa e amorosa de Cristo o Senhor.

Significado do Domingo de Ramos - O que é e o que se comemora no domingo antes da páscoa

O que significa o Domingo de Ramos? O que é comemorado nesta data? O domingo de ramos significa a entrada de Jesus em Jerusalém e o início da Semana Santa.

O domingo de ramos é o ponto de início da semana santa, ele abre essa comemoração que culminará 7 dias depois no domingo de páscoa.
O grande significado do domingo de ramos  é a entrada de Jesus em Jerusalém, o início de seu processo de entrega total para a salvação da humanidade. Quando Cristo entra na cidade sentado sobre um jumento está simbolizando o domínio do homem sobre a mente, uma nova era que se inicia, todo esse processo atingi diretamente a sociedade moralista e radical da época que não aceita as palavras do salvador.
A partir daí começa a semana santa onde na sexta-feira haverá a crucificação e no domingo a ressurreição de Jesus.
Confira nessa mensagem tudo o que você sempre quis saber sobre a páscoa, suas festas, domingo de ramos e semana santa.

O que é e o que significa o Domingo de Ramos

o que é domingo de ramos?
O Domingo de Ramos  abre solenemente a Semana Santa, com a lembrança das Palmas e da paixão, da entrada de Jesus em Jerusalém e a liturgia da palavra que evoca a Paixão do Senhor no Evangelho de São Lucas.
Neste dia, entrecruzam as duas tradições litúrgicas que deram origem a esta celebração: a alegre, grandiosa , festiva litrugia da Igreja mãe da cidade santa, que se converte em mímesis, imitação do que Jesus fez em Jerusalém, e a austera memória - anamnese - da paixão que marcava a liturgia de Roma. Liturgia de Jerusalém e de Roma, juntas em nossa celebração. Com uma evocação que não pode deixar de ser atualizada.
Vamos com o pensamento a Jesuralém, subimos ao Monte das Oliveiras para recalar na capela de Betfagé, que nos lembra o gesto de Jesus, gesto profético, que entra como Rei pacífico, Messías aclamado primeiro e depois condenado, para cumprir em tudo as profecias.
Por um momento as pessoas reviveram a esperança de ter já consigo, de forma aberta e sem subterfúgios aquele que vinha em nome do Senhor. Ao menos assim o entenderam os mais simples, os discípulos e as pessoas que acompanharam ao Senhor Jesus, como um Rei.
São Lucas não falava de oliveiras nem de palmas, mas de pessoas que iam acarpetando o caminho com suas roupas, como se recebe a um Rei, gente que gritava: "Bendito o que vem como Rei em nome do Senhor. Paz no céu e glória nas alturas".
Palavras com uma estranha evocação das mesmas que anunciaram o nascimento do Senhor em Belém aos mais humildes. Jerusalém, desde o século IV, no esplendor de sua vida litúrgica celebrada neste momento com uma numerosa procissão. E isto agradou tanto aos peregrinos que o oriente deixou marcada nesta procissão de ramos como umas das mais belas celebrações da Semana Santa.
Com a litiurgia de Roma, ao contrário, entramos na Paixão e antecipamos a proclamação do mistério, com um grande contraste entre o caminho triunfante do Cristo do Domingo de Ramos e o "via crucis" dos dias santos.
Entretanto, são as últimas palavras de Jesus no madeiro a nova semente que deve empurrar o remo evangelizador da Igreja no mundo.
"Pai, em tuas mão eu entrego o meu espírito". Este é o evangelho, esta a nova notícia, o conteúdo da nova evangelização. Desde um paradoxo este mundo que parece tão autônomo, necessita que lhe seja anunciado o mistério da debilidade de nosso Deus em que se demonstra o cume de seu amor. Como o anunciaram os primeiros cristãos com estas narrações longas e detalhistas da paixão de Jesus.
Era o anúncio do amor de um Deus que desce conosco até o abismo do que não tem sentido, do pecado e da morte, do absurdo grito de Jesus em seu abandono e em sua confiança extrema. Era um anúncio ao mundo pagão tanto mais realista quanto mais com ele se poderia medir a força de sua Ressurreição.
A liturgia das palmas antecipa neste domingo, chamado de páscoa florida, o triunfo da ressurreição, enquanto que a leitura da Paixão nos convida a entrar conscientemente na Semana Santa da Paixão gloriosa e amorosa de Cristo o Senhor.
Visite nosso especial sobre Semana Santa e entenda a cronoligia dessas datas comemorativas, o que se comemora na sexta-feira santa, no sábado santo, no domingo de páscoa e muito mais, tudo que você precisa saber sobre a Páscoa.


sábado, 28 de março de 2015


Chuva de Gelo – IPU.
(Lívia Xerez).
Este é mais um daqueles textos sem delimitação cronológica, mas com detalhes guardados no coração.
Estávamos voltando do Centro, Vovó Tereza e eu. Não lembro exatamente o que fomos fazer, mas estávamos com os passos apressados para chegar em casa, afinal, o tempo estava fechando e parecia que estava vindo uma chuva daquelas de deixar a Bica marrom de tão barrenta.
Já estávamos na calçada da Dona Nilce, vizinha muito querida por sinal, quando senti uma coisa cair na minha cabeça. Logo pensei que fosse um tamarindo. Cocei o local da pancada pra tirar algum resto de casquinha e imediatamente olhei para o chão em busca do azedinho. O primeiro pensamento foi guardar a fruta na porta da geladeira. Minha garganta sempre foi ruim e comer tamarindo quente seria irritação na certa.
Mas não era fruta nenhuma. Era gelo. Gelo caindo do céu do Ipu. Já tinha visto cair muita neve na Suíça, um país da Europa muito frio boa parte do ano. Minha tia Almerinda sempre mandava fotos lindíssimas daquele monte de neve branca, mas cair gelo no Ipu eu não imaginava ver. Talvez por isso tenha sido tão legal e tão bonito.
Lembro muito da minha vó falando com alegria: “- Tá chovendo gelo, Meu Deus!”
Ficamos alguns segundos ali, com as mãos para cima, tentando pegar algum inusitado gelo. Eram pedrinhas pequenas, ovais e meio achatadas. Botei na boca (essa chance eu não poderia deixar passar) e era gelo mesmo.
 Passou uma senhora muito simpática e disse: “- Terezinha, cuidado! Pode cair uma pedra grande de granito na sua cabeça e é muito perigoso.” Na hora deu uma vontade de rir com as palavras trocadas, mas claro que não disse nada. Naquelas épocas eu já tinha aprendido que o mais importante é que a mensagem do emissor chegue ao receptor e, nesse contexto, nem sempre precisamos das palavras corretas ou eruditas. Muito além do granito ou do mármore, ficaram o carinho e a preocupação daquela senhora com a minha avó e isso bastou.
Bom, granito não iria cair, mas, de fato, poderia vir alguma pedrona de gelo. Na dúvida, entramos em casa. Vovó foi cuidar da vida e eu botei a cadeira de plástico na ponta da garagem e fiquei apoiada no portão vendo aquele gelo cair e derreter logo em seguida.
Nos outros dias até choveu, mas, para a minha tristeza, nem um cubinho de gelo apareceu pra recontar a história.
Cheguei no colégio e fui logo falando do granizo do Ipu. Os colegas não acreditaram muito e então fui contar ao professor na esperança de receber apoio. Ele falou não sei o que do clima, não sei o que lá do relevo e no final das contas deu a entender que não seria muito possível. Eu vi o gelo, caiu na minha cabeça tão certeiro que até coçou. Adorava aquele professor de geografia, mas fiquei meio chateada com ele um bom tempo.

Não sei quando aconteceu, mas aconteceu. Dia desses vi uma matéria de grande repercussão sobre a chuva de granizo em Ipueiras. Deu uma vontade enorme de dizer: “Eu não disse!”. Pois bem. Está dito.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Procissão da Passos no IPU=CE>


...papai não gostava de conversas que envolvessem pessoas especialmente aquelas do seu relacionamento, e para ser mais claro falar da vida alheia, ele sempre dizia quando queria acabar com as conversas: “Vamos falar da história do Bom Jesus”, é bem melhor, não acham?      
A criação do Bom Jesus se deu quando foi instituída a procissão do Bom Jesus dos Passos pelo Vigário da época Padre Aureliano Mota no ano de 1914, quando residia também em Ipu o Escultor Leo Martins, era um Francês que aqui se radicou. Foi solicitado pelo Vigário para esculpir uma imagem que representasse o sofrimento de Jesus nas 14 Estações da Via Sacra, e assim foi feito, e no dia 05 de março de 1914 a imagem foi benta em plena nave da Igrejinha que era a Matriz de Ipu.

A Via Sacra era feita em 14 residências da cidade das seguintes famílias:

Thomaz de Aquino Corrêa *
Odulfo Alves de Carvalho
Cel. Felix Aragão
Joaquim Medeiros
Francisco Romão
Joaquim Rocha
Rodolfo Rodrigues Leite
Antonio Quixadá
Adelaide Martins
José de Holanda Cavalcante
Luis Jácome de Melo
D.Madeirinha
Cel. José Aragão
Gonçalo Soares de Oliveira.

Eram Cruciferários: Francisco Cordeiro Coelho, Raimundo Heitor de Vasconcelos, e João de Andrade Cajão (O Cajão).

* Thomaz de Aquino Corrêa faleceu numa sesta-feira de Passos em 26 de março de 1942 aos 82 anos de idade. 


Domingo de Ramos da Paixão do Senhor Quaresma
altEstamos começando a maior semana do ano Católico – A Semana Santa. Esta é onde se encontra alguns dos grandes mistérios de nossa fé. Nós, que pelo pecado de nossos primeiros pais, estávamos impedidos de ir para a casa do Pai, inclusive nem podíamos chamá-lo assim – Pai, pois perdemos a filiação com o pecado. Recebemos do Criador a maior graça que Deus poderia dar – seu próprio Filho, essa graça foi tão imensa que por mais que meditemos jamais iremos compreender o que é Deus enviar seu filho único, que se esvaziou de sua divindade, para assumir nossa natureza humana, que estava decaída pelo pecado e mesmo assim se colocou em nosso meio como um de nós. Esse rebaixamento do Filho de Deus foi algo tão incomensurável que Santo Agostinho diz que a obra do Filho é maior que toda a criação. Penetrar neste mistério é tocar o Céu. Saborear esta obra, este presente, esta humanidade de Cristo é ser elevado ao mais alto Céu. Temos muito que meditar, mergulhar, viver, são momentos santo, pleno de divindade.
E tudo o que aconteceu com Jesus foi proclamado pelo Pai nas profecias do Antigo Testamento. Puxa! Como o coração dos homens estava fechado! Tudo estava se passando na frente deles e nem assim abriram o coração para acolher o Rei que se colocou em nosso meio. Mas, na predestinação, do projeto do Pai, essas coisas estavam por acontecer, não que o Pai queria assim, mas os homens pela maldade de seus corações iriam agir assim.
Temos que olhar em nosso coração, pois muitas vezes Deus está manifestando algo e, muitas vezes, estamos indiferentes ao Senhor. Podemos cair na falta, de achar que celebramos a Quaresma todos os anos e é sempre a mesma coisa. Isso seria uma displicência. Não podemos esquecer que a Palavra de Deus é insondável e que todo o ato de Jesus é de valor eterno. Então temos que mergulhar nestas verdades e buscar, com o Espírito Santo, aquilo que o Pai tem preparado para cada um de nós nestas celebrações. Fiquemos atentos e saiamos da superficialidade, mergulhemos nos mistérios, pois existem coisas guardadas para cada um de nós, Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou” (Is 64,4). Nosso Deus é um Deus de Amor e Misericórdia que perdoa os pecados de seus filhos e os ama de forma incondicional - “Mesmo que a mãe esqueça seu filho eu jamais te esquecerei”. (Is 59, 15).
No início deste evangelho vemos Jesus na casa de Simão, este era marido de Marta irmã de Lázaro e Maria, inclusive é Maria que está perfumando o Mestre neste relato. (Derramou perfume em meu corpo, preparando-o para a sepultura).Maria era uma prostituta que se converteu e chorava seus pecados. Neste episódio da vida de Jesus ela já espera o fim de sua missão. O perfume já é um sinal de seu sofrimento. Mas, como a Páscoa está chegando Jesus quer deixar um sinal de sua presença entre os homens: “Isto é o meu corpo. Isto é o meu sangue, o sangue da aliança”.
No Getsêmanicomeçou a sentir pavor e angústia. Neste momento mais que sentir o peso de sua missão, Jesus sente o que o pecado da humanidade causa no coração do Pai amoroso e misericordioso. A angústia de Jesus é a dor do amor não correspondido.
Na cruz um pagão reconhece que é Jesus -'Na verdade, este homem era Filho de Deus!' – o que o povo Judeu, pelo menos em sua maioria, não foi capaz de reconhecer.
“Jesus deu um forte grito e expirou”. Deus morre na cruz, o impossível acontece. Jesus verdadeiro Deus e verdadeiro homem morre para nos dar a possibilidade de entrarmos no Céu, na casa do Pai, contemplar a Deus face-a-face. Tudo o que estava perdido foi resgatado, nós cometemos o pecado querendo ser Deus. Deus quis ser homem para arrancar-nos do pecado.
O que podemos querer de Deus senão participar deste amor?
Santa Semana Santa
Via Sacra, qual a origem e o significado?
HISTÓRIA DO CRISTIANISMO
Peregrino (BH): “Qual a origem e qual o significado da devoção à Via Sacra do Senhor ?”

Por «Via Sacra» entende-se um exercício de piedade segundo o qual os fiéis percorrem mentalmente com Cristo o caminho que levou o Senhor do Pretório de Pilatos até o monte Calvário; compreende quatorze estações ou etapas, cada uma das quais apresenta uma cena da Paixão a ser meditada pelo discípulo de Cristo.

Embora semelhante exercício seja assaz antigo na história do Cristianismo, as modalidades que ele hoje em dia apresenta são recentes. Percorramos, portanto, rapidamente o histórico da «Via Sacra» para entendermos o significado dessa prática.

1. Peregrinação em miniatura

Há certas devoções do povo cristão que nada mais são do que a forma simplificada de formas anteriores tidas como próprias de uma elite ou como dependentes de circunstâncias históricas ultrapassadas.

Tal é o caso, por exemplo, do Santo Rosário. Na antiga Igreja os ascetas tendiam a rezar diariamente ou, ao menos, a intervalos regulares os 150 salmos da Escritura Sagrada. Com o tempo, porém, esta tarefa tornou-se impraticável, seja porque a vida cotidiana se complicou, seja porque os fiéis foram perdendo o entendimento dos salmos; daí a substituição destes por 150 «Ave Marias» distribuídas em dezenas, cada uma das quais representa um dos mistérios de nossa Redenção (por sua vez, os salmos nos falam dos mistérios do Redentor e do seu Reino na terra).

Tal é o caso também do hábito monástico. Esta veste significa consagração a Deus e pertinência a uma família religiosa cumulada de benefícios espirituais. O uso, porém, do hábito monástico não é permitido a cristãos que vivem no século, embora eles se anexem, dentro das suas possibilidades, à dita família religiosa. Daí a redução do hábito à forma de «escapulário», peça que pode facilmente (e com notáveis vantagens espirituais) ser usada pelos seculares.

As horas canônicas ou as preces oficiais da Igreja constituem uma forma de oração muito digna e rica de sentido, mas longa e difícil para o comum dos fiéis. Em consequência, compôs-se o «Oficio Parvo» ou «mariano», acessível aos leigos mais simples, que o recitam até de cor.

Pois bem; nesta série deve-se enumerar também a Via Sacra. Já que a peregrinação aos lugares santos da Palestina é um ideal para todo cristão, ideal, porém, que poucos conseguem realizar, a Santa Igreja consentiu em que os fiéis pratiquem uma peregrinação em espírito, enriquecida de graças semelhantes às que estão anexas a uma verdadeira peregrinação. É o que se dá justamente no exercício da Via Sacra.
A este vamos agora voltar nossa atenção, considerando esquemàticamente

2. O histórico da devoção à Via Sacra

2.1. Desde os primórdios do Cristianismo, os fiéis dedicaram profunda veneração aos lugares santificados pela vida, a morte e a glorificação do Senhor Jesus. De longínquas regiões afluíam à Palestina, a fim de lá orar, deixando-nos em consequência suas narrativas de viagem, das quais as mais importantes na antiguidade são a de Etéria e a do peregrino de Bordéus (séc. IV). Voltando às suas pátrias, esses peregrinos não raro procuravam reproduzir, por meio de quadros ou pequenos monumentos, os veneráveis locais que haviam visitado.

2.2. A tendência a «reproduzir» se acentuou por efeito das Cruzadas (séc. XI/XIII), que proporcionaram a muitos fiéis o ensejo de conhecer os lugares santos e de se nutrir da espiritualidade dos mesmos. Então, principalmente nos mosteiros, se foram erguendo capelas ou monumentos que recordavam os diversos santuários da Terra Santa e eram objeto de «peregrinação» espiritual dos monges e das monjas que não podiam viajar em demanda do Oriente.

Conta-se, por exemplo, que a bem-aventurada Eustochium (+1491), pobre Clarissa de Messina, construiu no interior da clausura um recintozinho que lembrava a Natividade do Senhor, outro que evocava a casa de sua Mãe Santíssima, e outros mais que significavam respectivamente o monte das Oliveiras, o Cenáculo, as casas de Ana e Caifás, o pretório de Pilatos, o monte Calvário e, por fim, o Santo Sepulcro. Visitava diariamente esses monumentos e, «como se houvera assistido às cenas que eles representavam, contemplava com lágrimas a bondade do Celeste Esposo e todos os feitos deste na sua respectiva sucessão» (Wadding, Annales Minorum, ad an. 1491).

Um dos casos mais expressivos da piedade fervorosa da Idade Média é o seguinte: no mosteiro cisterciense de Louvão (Portugal), havia, provavelmente no séc. XV, uma Religiosa conversa que, antes de se consagrar a Deus no claustro, levava vida muito mortificada; entre outros atos de piedade, emitira o voto de peregrinar à Terra Santa. Tendo, porém, entrado para o mosteiro, já não podia dispor de si para empreender tal viagem; achava-se, por conseguinte, continuamente preocupada com a lembrança da promessa feita ao Senhor; os escrúpulos a torturavam. Orava, porém, e mortificava-se ardentemente, na esperança de conseguir realizar seu desígnio. Foi então que o Santo Padre o Papa promulgou um jubileu solene, concedendo aos confessores faculdades extraordinárias, inclusive a de comutar votos. A irmã, feliz, resolveu então recorrer ao confessor, pedindo-lhe comutação (embora não precisasse disto, pois sua profissão religiosa solene anulara qualquer voto de devoção). O confessor, para dar-lhe a paz de alma, respondeu-lhe que ela poderia fazer no mosteiro mesmo uma peregrinação espiritual protraída por tanto tempo quanto duraria a viagem à Terra Santa. Diante disto, a Religiosa, tendo obtido o consentimento da sua Superiora, resolveu empreender o itinerário espiritual: um belo dia despediu-se das Irmãs e cessou o intercâmbio com elas; doravante pelo prazo de um ano pôs-se a peregrinar dentro da clausura de um altar ou de um oratório para outro, identificando-os com os lugares santos que os peregrinos da Palestina costumavam percorrer; tomava suas frugais refeições depois que a comunidade sala do refeitório, deixando para os pobres a mor parte dos alimentos que lhe eram destinados; à noite dormia no chão, no lugar mesmo em que se encontrava quando tocava o sino para o repouso.

Após doze meses de tal regime, na tarde em que devia encerrar a peregrinação espiritual, a Irmã foi para a igreja, onde entrou em oração diante do Santíssimo Sacramento, com as mãos erguidas; ficou nessa atitude até a manhã seguinte, quando a Irmã Sacristã, tendo aberto a igreja, resolveu avisá-la de que os fiéis iam entrar na igreja para assistir à Sta. Missa. Eis, porém, que a «peregrina» estava morta, de joelhos, irradiando do seu semblante uma luminosidade extraordinária...

O fato causou profunda impressão nos fiéis da localidade, que mais tarde disseram ter obtido graças milagrosas por intercessão da santa Religiosa... (cf. Frei Bernardo de Brito, Primeira Parte da Chronica de Cister, 1. VI c. XXXIV foi. 463, Lisboa 1602).
Fique o episódio aqui consignado, a título de ilustração!...

2.3. De acordo com a documentação que nos resta, parece que até o século XII só havia, para os peregrinos da Palestina, guias e roteiros que orientavam a visita dos lugares santos em geral, sem focalizar de maneira especial os que diziam respeito à Paixão do Senhor; em 1187, porém, apareceu o primeiro itinerário que visava a via percorrida pelo Senhor Jesus ao carregar a cruz: é o opúsculo francês «L’éstat de la Cltéz de Jhérusalem». Somente no fim do séc. XIII começaram os fiéis a distinguir nesse itinerário etapas ou estações, cada uma das quais dedicada a um episódio do carregamento da cruz e consagrada por uma oração especial. Por causa das restrições ditadas pelos maometanos que ocupavam a Palestina, foi-se registrando, entre os cristãos, a tendência a fixar cada vez mais um programa determinado e quase invariável para a visita dos lugares concernentes à Paixão de Cristo ; no fim do séc. XIV tal roteiro comum já existia : percorria em sentido inverso a Via Dolorosa de Cristo, partindo da igreja do Santo Sepulcro (monte Calvário) para ir terminar no monte das Oliveiras (donde se vê que não havia propriamente a intenção de acompanhar em espírito Nosso Senhor na sua caminhada dolorosa).

Eis aqui o itinerário que o peregrino inglês William Wey, tendo estado duas vezes na Terra Santa (1458 e 1462), propunha sob a forma de versos mnemotécnicos (Wey, aliás, é o primeiro autor a designar como «stationes», estações, as etapas da Via Dolorosa): «Lap strat di trivium flent sudar sincopizavit Por pis lapque schola domus her Symonis Pharlsey».

A explicação latina das abreviações seria a seguinte:
1.      Lápis cum crucibus super quem Christus cecidit cum cruce.
2.      Strata per quam Christus transivit ad suam passionem.
3.      Domus divitis negantis mi- cas dare Lazaro.
4.      Trivium ubi Christus cecidit cum cruce.
5.      Locus ubi mulieres flebant propter Christum.
6.      Locus ubi vidua sive Verônica posuit sudarium super fa- ciem Christi.
7.      Locus ubi beatíssima Maria sincopizavit.
8.      Porta per quam Christus transibat ad passionem.
9.      Piscina in qua aegroti sana- bantur tempore Christi.
10.    Lapides super quas stetit Christus quando iudicatus erat ad mortem.
11.    Locus ubi beata Maria transivit ad scolas.
12.    Domus Pilati.
13.    Domus Herodis.
14.    Domus Simonis Pharisey.

Em tradução portuguesa :
1- Pedra com cruzes sobre a qual Cristo caiu com a cruz.
2- A estrada pela qual Cristo passou para padecer.
3- A casa do ricaço que negava as migalhas a Lázaro.
4- A encruzilhada na qual Cristo caiu com a cruz.
5- O lugar onde as mulheres choravam por causa de Cristo.
6- O lugar em que a viúva ou Verônica colocou o véu sobre a face de Cristo.
7- O lugar em que a mui bem-aventurada Maria desmaiou.
8- A porta pela qual Cristo passou para padecer.
9- A piscina onde os doentes eram curados no tempo de Cristo.
10- As pedras sobre as quais Cristo esteve quando o condenaram à morte.
11- O lugar em que a bem-aventurada Maria frequentou a escola.
12- A casa de Pilatos.
13- A casa de Herodes.
14- A casa de Simão o Fariseu

Como se vê, as estações desse itinerário estão longe de coincidir com as do exercício da Via Sacra moderno; apenas quatro estações da lista de Wey são ainda em nossos dias observadas, a saber:
4.     Trivium ou o encontro com o Cireneu;
5.     Flent, ou o encontro com as santas mulheres que choravam;
6.     Siidariiun. ou o encontro com a Verônica;
7.     Sincopizavit ou o encontro com Maria Santíssima.

As outras estações do itinerário de Wey assim se explicam:

1.     «Pedra com cruzes...»: havia uma pedra assinalada por cruzes no pátio diante da igreja do Santo Sepulcro, pedra que designava o lugar em que Jesus, ao carregar a cruz, caíra pela última vez (esta estação do itinerário de Wey poderia ser identificada com a estação referente à terceira queda de Cristo no percurso hoje em dia usual).
2.     «Strata»: supunha-se estar pavimentada a estrada que levava ao Calvário.
3.     Alusão à parábola narrada em Lc 16,19-31.
8.      Trata-se da Porta do Julgamento da antiga cidade de Jerusalém.
9.     Referência à piscina probática mencionada em Jo 5,2.
10.   Alusão às duas pedras talhadas que constituíam o arco do «Ecce Homo».
11.    Referência à escola frequentada por Maria Santíssima.
12.    13 e 14. Alusão a casas que remotamente se prendem à história da Paixão do Senhor.

Alguns autores de fins do séc. XV, entre os quais Félix Fabri (1480), compraziam-se em afirmar que o itinerário então adotado, do Calvário ao monte das Oliveiras, era aquele mesmo que a Virgem Santíssima costumava percorrer, recordando outrora os episódios da Paixão de seu Divino Filho; tal asserção, porém, era sugerida apenas pela devoção, carecendo de fundamento na realidade histórica.

Note-se de passagem que os peregrinos da Terra Santa no fim da Idade Média davam certamente provas de extraordinário fervor, pois, para satisfazer à sua piedade, deviam submeter-se não sòmente aos perigos mortais da viagem marítima (piratas e peste), mas também a duras humilhações e dificuldades que os muçulmanos ocupantes da Palestina lhes impunham. Tal fervor não podia deixar de provocar imitadores cada vez mais numerosos entre os cristãos que estavam impedidos de empreender a viagem à Terra Santa; estes deviam experimentar o vivo desejo de substituir a peregrinação local ao Oriente por algum exercício de piedade que pudesse ser realizado nas igrejas ou nos mosteiros mesmos do Ocidente. É a esse desejo crescente que se deve o ulterior desenvolvimento do exercício do Caminho da Cruz.

2.4. O fervor levou, sim, os fiéis a querer percorrer o Caminho Doloroso do Senhor Jesus não na ordem inversa (do Calvário ao monte das Oliveiras), mas observando a sucessão mesma dos lugares e dos episódios que tecem a história da Paixão: uma narrativa de viagem devida ao sacerdote inglês Richard Torkington e datada de 1517 mostra que já nesta data os fiéis seguiam o Caminho da Cruz em demanda do Calvário, isto é, na direção mesma que Nosso Senhor tomara— o que lhes possibilitava reviver mais intensa e fervidamente as etapas dolorosas da Paixão. A partir de 1517, não se registra mais nenhum documento que refira as estações sagradas a partir do Calvário.

No Ocidente as reproduções, em pintura ou escultura, das estações da Via Dolorosa eram variadas. Algumas se contentavam com a enumeração de sete etapas, também ditas «Sete quedas de Jesus», porque em cada uma delas Cristo apareça ou prostrado por terra ou ao menos vacilante sob o pêso da cruz e desejoso de se reerguer.

Assim, por exemplo, em fins do séc. XV se enumeravam:
1)    o encontro de Jesus com sua Mãe Santíssima;
2)     o encontro de Jesus com o Cireneu;
3)    o encontro de Jesus com as mulheres de Jerusalém;
4)     o encontro de Jesus com Verônica;
5)     a queda de Jesus sob a cruz, a 780 passos da casa de Pila tos;
6)     a prostração do Senhor sob a cruz, a 1000 passos da casa de Pilatos;
7)    a deposição de Jesus nos braços da sua Mãe Santíssima.

Podiam-se enumerar na iconografia e na devoção dos Ocidentais oito estações assim concebidas:
1)    Jesus é condenado à morte;
2)     Jesus cai pela primeira vez;
3)    Simão o Cireneu ajuda o Senhor a carregar a cruz;
4)     a Verônica enxuga a face de Jesus;
5)     o Senhor cai pela segunda vez;
6)    Cristo encontra-se com as filhas de Jerusalém;
7)    Jesus cai pela terceira vez;
8)    Jesus é despojado das suas vestes.

(Série devida a Pedro Steckx ou Petrus Potens, de Lovaina, depois que voltou de Jerusalém em 1505).

Também no século XV alguns devotos tendiam a venerar, juntamente com as sete quedas de Jesus, as sete dores de Nossa Senhora, ou as tristezas da Virgem Santíssima por contemplar, de cada vez, o seu Filho prostrado ou padecente sob a cruz.

Alguns autores ocidentais de livros de piedade ou de obras de arte sacra enumeravam por vezes 19 ou 25 ou até 37 estações na Via Dolorosa de Jesus. Parece aqui merecer especial menção o fato de que foi na Alemanha e na Holanda que nos séc. XV/XVI mais floresceu a devoção para com a Via Sacra do Senhor, ocasionando naturalmente grande número de monumentos literários e artísticos dedicados a tal tema.

2.5. Finalmente, entrou em cena na literatura ocidental um livrinho que devia pôr remate à evolução do santo exercício do Caminho da Cruz: era o opúsculo do carmelita flamengo Jan Pascha (ou Jan van Paesschen), intitulado «A peregrinação espiritual» (1563).

A viagem espiritual ai descrita devia durar um ano, sendo assinalado para cada dia uma parte determinada do roteiro «Lovaina — Terra Santa»; essa parte cotidiana era acompanhada de um tema de meditação e de exercícios de piedade. No primeiro dia, por exemplo, o peregrino imaginava que ia viajar de Lovaina a Tirlemont, e devia meditar sobre o tema «Deus, último Fim de todas as criaturas»; no segundo dia, «viajava» de Tirlemont a Tongres, e meditava sobre a criação dos anjos. etc. No 188º dia, porém, estando o «peregrino» no horto das Oliveiras a contemplar a agonia de Jesus, advertia Jan Pascha:

«Aqui começa a primeira prece da longa caminhada da cruz. As preces deste caminho são em número de quinze...»
- a segunda estação fazia-se na casa de Ana. Ao 193º dia;
- a terceira estação, ao 196° dia, no lugar em que Jesus fôra encarcerado e submetido ao escárnio da soldadesca;
- a quarta estação, ao 206º dia, se fazia no tribunal de Pilatos, onde Jesus fôra condenado;
- a quinta estação se detinha no lugar em que Jesus tomara a cruz;
- a sexta estação considerava o encontro de Jesus com sua Mãe Santíssima, assim como a segunda queda do Salvador (a primeira queda, não explicitamente venerada, se dera logo após a tomada de cruz por parte do Senhor);
- a sétima estação se dava no lugar em que o Cireneu auxiliara Jesus a carregar a cruz, tendo o Divino Mestre aí caído mais uma vez;
- a oitava estação assinalava o encontro de Jesus com Verônica e a quarta queda do Senhor;
- a nona estação cultuava o encontro de Jesus com as filhas de Jerusalém;
- a décima estação venerava a última queda do Senhor; a undécima estação considerava o despojamento de Jesus; a duodécima estação, a crucifixão;
- a décima terceira estação, a morte de Jesus sobre a cruz;
- a décima quarta estação, a deposição da cruz;
- a décima quinta estação, por fim, venerava o sepultamento do Senhor.

Observe-se que as diversas etapas acima são acompanhadas de tantas minúcias topográficas e arqueológicas que certamente a obra de Jan Pascha deve ter causado a impressão de estar baseada em documentação sólida e abundante.

Em 1584 outro autor, Adrichomius, retomava o itinerário espiritual de Jan Pascha, e dava-lhe a forma que ele hoje tem: fez, sim, começar o Caminho da Cruz no pretório de Pilatos, onde Jesus foi condenado à morte, e, para atingir o número de quatorze estações, dedicou especial veneração a mais duas pressupostas quedas do Senhor. Por obra de Pascha e Adrichomius, portanto, o exercício do Caminho da Cruz recebeu no século XVI a sua configuração atual.

2.6. Uma verificação interessante se impõe agora ao estudioso : a escolha das etapas do Caminho da Cruz, hoje usual entre os cristãos, se deve à piedade dos autores de livros de devoção escritos no Ocidente, e não à prática observada na própria Cidade Santa, ou seja, em Jerusalém (Adrichomius mesmo nunca esteve na Palestina).

O curioso fenômeno explica-se muito bem: na cidade de Jerusalém dos séc. XV/XVI não se podia pensar em assinalar aos peregrinos estações ou paradas para cultuarem as diversas fases da Via Dolorosa de Jesus. Com efeito, os cronistas da época referem que o ânimo pouco amigo dos turcos ocupantes da Terra Santa não permitia que os fiéis cristãos se detivessem diante das localidades sagradas do interior da Cidade de Jerusalém; deviam transitar com a máxima sobriedade pela estrada que o Senhor percorrera com a cruz, contentando-se com uma prece ou meditação puramente interna. Sendo assim, entende-se que em Lovaina e Nürnberg, ou na Flândria e na Alemanha em geral, o exercício da Via Sacra fosse celebrado com muito mais aparato e minúcias do que na própria Cidade Santa; foi, pois, nestas regiões, e não no Oriente, que a referida devoção tomou sua forma hodierna.

Estas circunstâncias explicam outrossim que as cenas atualmente comemoradas nas estações do Caminho da Cruz em parte sejam conjeturais: principalmente o que se refere às quedas de Jesus fica sujeito a dúvidas (lembramo-nos de que a princípio se assinalavam sete quedas, quatro das quais estavam associadas aos encontros de Jesus respectivamente com Maria Santíssima, com o Cireneu, com as piedosas mulheres de Jerusalém, com Verônica). O próprio encontro de Jesus com Verônica não é atestado pelos documentos escritos senão a partir do séc. XV; também não se tem certeza de um encontro de Jesus com sua Mãe Santíssima. É preciso observar ainda que a série na qual se sucedem os diversos episódios do. Caminho da Cruz é, por sua vez, hipotética.

2.7. Tais afirmações talvez suscitem perplexidade em um ou outro dos fiéis cristãos. A perplexidade, porém, se dissipará sem demora após uma reflexão serena sobre o assunto.

O cenário do Caminho da Cruz é proposto aos fiéis não à guisa de ensinamento histórico, para que os cristãos, mediante esse documento, enriqueçam o seu cabedal de cultura e saber. Não; as estações da Via Sacra são propostas unicamente para mover a piedade, fomentar o amor a Deus e a chama da oração. Ora parece que, dentre todas as tentativas medievais de elevar as almas a Deus mediante a meditação da Via Dolorosa de Cristo, a que mais se prestou e presta a esta finalidade é a que prevaleceu e hoje está em uso. Esta série; embora não possa reivindicar para si fidelidade histórica apoiada numa documentação critica adequada, não implica em deturpação dos valores ou dos personagens postos em cena. Sendo assim, a autoridade da Igreja pôde aprová-la; do seu lado, o cristão do séc. XX pode perfeitamente aceitá-la, não para estudar história, mas para acender o seu amor na contemplação dos atributos do Redentor que os diversos quadros da Via Dolorosa põem, do seu modo, em realce ; por conseguinte, não queira o discípulo de Cristo deduzir conclusões de historiografia ao folhear o seu manual de Via Sacra (tais conclusões seriam precárias; além do que, um tal trabalho contradiria às intenções dos autores de tais manuais, assim como às da Santa Igreja); procure, antes, prorromper em atos de fé, esperança e caridade, mediante o percurso do Caminho da Cruz (tais atos serão certamente robustos, pois o alimento sugerido pelas estações é substancioso e comprovado pela experiência dos séculos). Assim fazendo, os fiéis já não terão motivo de inquietude e escrúpulo por causa do caráter conjetural desta ou daquela estação da Via Sacra.

Ademais note-se o seguinte: para se ganharem as indulgências anexas à Via Sacra (das quais falaremos pouco adiante), requer-se que os fiéis percorram as estações assinaladas por imagens ou cruzes devidamente bentas e instaladas. É necessário, outrossim, que meditem a Paixão do Senhor, sem, porém, estarem obrigados a seguir os quatorze episódios comemorados pelas respectivas estações (qualquer maneira de meditar os sofrimentos de Cristo satisfaz às exigências, no caso).

2.8. Por fim, merece ser realçado o papel importante dos RR.PP. Franciscanos na difusão do exercício da Via Sacra. Desde o séc. XTV os filhos de São Francisco são, sim, os guardas oficiais dos lugares santos da Palestina; entende-se, pois, que de modo especial se tenham dedicado à propagação da veneração à Via Dolorosa do Senhor; em suas igrejas e junto aos seus conventos, desde fins da Idade Média, tomaram o hábito de erguer as estações da Via Sacra; adotando a série sugerida por Jan Pascha e Adrichomius, fizeram que esta prevalecesse sobre todas as congêneres; foram também os filhos de S. Francisco que obtiveram dos Papas a concessão das numerosas indulgências anexas a tal exercício de piedade. — Grande benemérito da devoção à Via Sacra é São Leonardo de Porto Maurício O.F.M., que, por ocasião de sua atividade missionária em toda a Itália, de 1731 a 1751, conseguiu erguer 572 «Vias Sacras»; foi a pedido desse santo que o Papa Clemente XII, aos 3 de abril de 1731, baixou o decreto intitulado «Monita ad recte ordinandum devotum exercitium Viae Crucls», decreto cujas normas concernentes à ereção da Via Sacra e às respectivas indulgências foram, com poucas modificações, confirmadas pela Penitenciária Apostólica aos 13 de março de-1938.

Não hesitem, pois, os fiéis em usufruir dos benefícios da Paixão do Senhor tais como são propostos pela Via Sacra, Via Sacra que deve ser realizada segundo a mentalidade dos fervorosos peregrinos da Terra Santa !