quinta-feira, 31 de outubro de 2013


Ladainha de todos os Santos

Católicas

Ladainha de Todos Os Santos

Senhor tende piedade de nós! (bis) 

Jesus Cristo tende piedade de nós! (bis)
1. Maria Mãe de Deus, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Ó Virgem Imaculada, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Senhora Aparecida, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Das Dores, Mãe amada, ROGAI A DEUS POR NÓS!
ROGAI POR NÓS! / ROGAI POR NÓS! (bis)
2. Ó Anjos do Senhor, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Miguel e Rafael, ROGAI A DEUS POR NÓS!
De Deus os Mensageiros, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Arcanjo Gabriel, ROGAI A DEUS POR NÓS!
3. Sant'Ana e São Joaquim, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Isabel e Zacarias, ROGAI A DEUS POR NÓS!
João, o Precursor, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Esposo de Maria, ROGAI A DEUS POR NÓS!
4. São Pedro e São Paulo, ROGAI A DEUS POR NÓS!
São João e São Mateus, ROGAI A DEUS POR NÓS!
São Marcos e São Lucas, ROGAI A DEUS POR NÓS!
São Judas Tadeu, ROGAI A DEUS POR NÓS!
5. Estevão e Lourenço, ROGAI A DEUS POR NÓS!
São Cosme e Damião, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Inácio de Antioquia, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Mártir Sebastião, ROGAI A DEUS POR NÓS!
6. Maria Madalena, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Inês e Luzia, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Santa Felicidade, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Perpétua e Cecília, ROGAI A DEUS POR NÓS!
7. Gregória e Atanásio, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Basílio e Agostinho, ROGAI A DEUS POR NÓS!
São Bento e Santo Amaro, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Ambrósio e São Martinho, ROGAI A DEUS POR NÓS!
8. Franscisco e Domingos, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Antônio e Gonçalo, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Vianney e Benedito, ROGAI A DEUS POR NÓS!
São Raimundo Nonato, ROGAI A DEUS POR NÓS!
9. Teresa e Teresinha, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Santa Rosa de Lima, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Margarida Maria, ROGAI A DEUS POR NÓS!
De Sena Catarina, ROGAI A DEUS POR NÓS!
10. Ó Santa Paulina, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Santo Antônio Galvão, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Beato Anchieta, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Frederico Ozanan, ROGAI A DEUS POR NÓS!
Ó Senhor, sede nossa proteção, OUVI-NOS SENHOR!
Para que nos livreis de todo o mal, OUVI-NOS SENHOR!
Para que nos livreis da morte eterna, OUVI-NOS SENHOR!
Vos pedimos, por vossa Encarnação, OUVI-NOS SENHOR!
Pela vossa Paixão, Ressurreição e Ascensão, OUVI-NOS SENHOR!
Pelo envio do Espírito de Amor, OUVI-NOS SENHOR!
Apesar de nós sermos pecadores, OUVI-NOS SENHOR!
Jesus Cristo ouvi-nos, (bis)
Jesus Cristo atendei-nos! (bis)

Cabaré do IPU.




Cabaré do IPU.
A luz da turbina instalada ao pé da serra, onde as serranias se mesclam com o verde maravilhoso da nossa Ibiapaba, uma luz branca que não atendia mais a demanda do consumo da cidade ofuscava logo as primeiras horas da noite. Os transeuntes justamente às nove da noite eram pouquíssimos na cidade, salvo alguns “Guardas Noturnos”, o “Zé Brasilino e o Zé Torres” de cacete na mão com um casaco de lã para se protegerem do frio e umas boas doses de pinga para aguentar a virada da noite. E por mais que fôssemos como dizemos, solteiríssimos, tinha-nos a preocupação para não sermos vistos indo para o Cabaré. Os temíveis preconceitos, o conceito de cada um que estava em pauta para não manchar o seu nome perante suas namoradas e a sociedade como homens que frequentavam os Cabarés ou o Cabaré da cidade. Que sociedade? Hipócrita por excelência sempre com a precípua preocupação com a vida do outro.
Nos, ou no Cabaré muitas mulheres sempre aguardando os seus pretendentes ou qualquer um que aparecesse ou aquele que (pintasse no pedaço). No período das festas religiosas o número de mulheres crescia e o fluxo aumentava de forma considerável, dados os festejos que moti- vavam a vinda de muitos ipuenses distantes e das circunvizinhanças. Existiam aquelas que não frequentavam o “Borel”, ou seja, a “Vila Nova”. Eram as perambulantes da noite. Ressalto nestes escritos a famosa “Suçuarana”. Nome de batismo: Maria. Era filha de um vendedor de frutas, homem muito alto e fino, apelidado de Lenheiro, não ficava zangado com a alcunha que recebera, pois o seu nome oficial era José. Suçuarana teve as suas primeiras experiências sexuais com um Juiz que efemeramente estava na Comarca de Ipu. Depois de parida passou a andejar pegando um e outro. Não usava calcinhas, salvo naqueles dias. As suas características eram: mulher alta, corpo bem feito, mas de rosto feioso. Era caridosa a todos que a procuravam ela atendia visando o faturamento do coito. Desapareceu há muitos anos, não sabemos o seu paradeiro ou até mesmo se está viva ou morta, isso era nos anos 1960, a rascoeira Suçuarana talvez tivesse a idade de 15/16 anos. Outra viandante da noite era a Vassoura. Uma mulherzinha baixa e muito e feia. Sensual, atendia apenas por uma olhada de qualquer homem. Era a doméstica da casa do Sr. Luiz Belém que ficava no Quadro, onde hoje é a casa do seu filho Antônio Belém. Foi outra piturisca que desapareceu misteriosamente. Outra “andarilha de nome “Biscuit” ou Diacuí”, não me recordo bem a sua antonomásia, mas era mais ou menos assim. Era baixinha e muito feia e já com alguns anos pesando em seus ombros ou na sua vida, mas estava sempre a procurar os homens que lhe aparecessem. “Tinha os ‘olhos cheios de’ Sapiranga” ou cientificamente  “O Tracoma”, mas mesmo assim fazia as suas peripécias. Outras que percorriam as noites era a mulher do Sebastião Galo, um exótico que apesar de meio tresloucado, era também um bicho de chifre. A Socorro Coco também compunha o quadro das volantinas da noite, carregando os seus candidatos para o “Chatô” ou “Chateau” da velha “Maria Maga”, no início do Alto das Pedrinhas.
A IUTE era uma tronga mais requintada, pertencia aos mais oirudos e na falta destes a garotada tomava conta. O festival do bacanal era na Ponte do Trem, que não era a Ponte Seca e sim a Ponte Molhada, por onde corre o Riacho Ipuçaba; na areia fina, fria e branca por onde corria a límpida água da Bica. Era mais ou menos assim o movimento das marafonas em nossa Ipu nos fins dos anos 1950 e início dos anos 60. Era um perigo, pois, na época ainda não existia o anticoncepcional e a camisinha era coisa rara, mas, mesmo assim acontecia de tudo. As doenças venéreas eram pertinentemente visíveis, e a gravidez era evidente, um risco a cada encontro amoroso. Para quem contraía as tais doenças a medicação indicada era o BISMUTO, muitas das vezes sem nenhuma resposta ao tratamento e o resultado final era o ato cirúrgico. Não queremos esquecer duas Biscaias de uma forte expressão, que marcaram de verdade uma época de ouro dos nossos cabarés, refiro-me a “Boloza” e a “Bezerra de Ouro” duas mulheres da preferência da maior parte dos homens (abastados, funcionários públicos) que frequentavam o Cabaré do Ipu, ou seja, a Vila Nova. Citamos ainda: Ana Paula, Ana Pires, Teresa Sena, Maria Tamboril, Chica e Teresa Bival. Além da Vila Nova, Maria Maga, existia ainda a Rua da Mangueira, o Gato Preto, e o Xenxém, todos, lugares de prostitutas.
Se foram! Hoje a fuampada corre frouxa nas esquinas e beira de calçadas de qualquer rua para qualquer um. Os Cabarés se acabaram. 
P.S. Cancão, figura que se identificava com sua profissão, era um pincho se prestava ao papel de dar recados das mulheres de vida fácil daquele tempo aos homens preferidos por elas. Carregava bilhetes e cartas da mulherada dos cabarés nos tempos idos. Assim fazia mandados e compras para todos e todas que lhe solicitasse. O rúfio Cancão. Morreu em idade avançada sem deixar a profissão.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013



Reminiscências e Saudades.
A recordação é um relicário do passado, onde guardamos com requinte e zelo as preciosidades do nosso afeto, a qual conservou com grande estima e veneração, merecendo por seu valor inestimável o nosso enternecido amor.
Ao revisarmos o arquivo do passado descobrimos reminiscências tão vivas, que decantam a nossa saudade, embriagando, a nossa voz, embevecendo a nossa imaginação, num revolver de suprema felicidade.
Saudade é a vontade de ver e reviver de novo as páginas de ouro que ilustram a nossa vida.
É embevecida por esta magia de sentimentos afetivos, que quero sentir o prazer de focalizar os tempos idos e vividos nesta Ipu tão querida, cantada e decantada pelos seus filhos.
Meu Ipu, nesta noite bonita em que a música enche os corações de reminiscências e saudades. Eu lembro com emoção o catecismo na residência do senhor Plácido Passos, com toda a dedicação nos ensinava amar a Deus...
Nas tardes de maio, que na misticidade de seu encanto, convidava-nos a prece; na nave principal da Igrejinha estávamos nós crianças a espera do ensaio da coroação que encerrava o mês de Maria. Todas as crianças felizes cantavam “saudemos Maria, cantemos louvores”...
Quantas saudades!... Lá na Igrejinha símbolo principal de nossa terra, nos consagrávamos como soldados de Cristo, onde diariamente íamos rezar ao Cristo sacramentado a visitinha...” Meu amiguinho Jesus aqui presente no sacramento do Vosso amor,eu vos adoro”.
Na Casa D’Aula realizávamos os nossos festivais com cançonetas e peças teatrais e logo após os ensaios Valderez, Urânia, Glaura Soares, Assunção Martins, Zulene Paiva e Auri cantavam “Tenho no morro um barracão de zinco, muito velhinho e de minha estimação”... A Lua passeava no céu e derramava sobre nós a sua luz argêntea.
Reminiscências e saudades dos desfiles da Cruzadinha pelas ruas da cidade, as fotos batidas no patamar da Igrejinha, em que a criançada buliçosa se preparava para tirar os retratos.
Saudades dos piqueniques que realizávamos no Gangão criançada alegre e feliz se dirigiam para aquele recanto acolhedor e bonito. Cruzadinha, marcaste nossa vida com o sinete da fe e d amor a Deus.
Saudades doces recordações do colégio do Dr. Targino que nas datas cívicas apresentava ao som da Banda local, belas ginasticas na Praça Abílio Martins, avivando em nós o amor cívico.
Saudades do Damiao Pezão, que nas caladas da noites  passava na rua da Goela conduzindo sua cadelinha a latir e um violão. Cantava a doce Lua, voz bonita a bela voz: “Meu amor por que pensas ainda em mi, não choremos a vida passada, por que todo romance tem fim”.
Saudades e doces recordações do grande seresteiro Alberto Aragão que dedilhava com perfeição o velho pinho e percorria as ruas da cidade com os amigos nas noites serenas e claras de lua, cantando “A Deusa da minha Rua” “Velho Realejo”, Amarguras”,” Deusa da minha Rua”., e etc. e sua voz enchia o silencio das noites acordando o Ipuense.
Alberto Aragão, com sua energia moça e vibrante, robustecido pelo entusiasmo, ora apaixonado pelo bem e pelo belo.
Ipu!...Pequenina, bonita... Hoje venho extravasar os meus sentimentos de afeto, perfumados como o aroma da saudade.
Valdemira Coelho
Ipu: 29/10/89

domingo, 27 de outubro de 2013



"Sem Papas da lingua" : Memorialista Prof. Francisco Mello, ele é "O Cara"

"Sem papas na língua" a frase reflete a maneira sincera do nosso professor "Mello" ver a vida, dizer o que pensa e defender sua origem, em suas páginas na internet, ele desenvolve um grande trabalho de divulgação da nossa cultura, nossa raça, nossa memória, meu professor é um pouco de tudo, sua simbologia está escrita em cada página tecida pela caneta de sua cultura incontestável. Segundo ele, o memorialista Francisco de Assis Martins, mas conhecido por Professor Melo disponibiliza de um riquíssimo arquivo pessoal situado em sua própria residência no município da cidade Ipu. 
Professor  Melo muito respeitado por todos, pois é quem mais contribui com a História da cidade a qual ele dedica seu precioso tempo escrevendo livros que retrata de maneira clara e objetiva os fatos ocorridos desde a fundação da cidade, conhecedor esplendido de quase todos os acontecimentos que marcaram a nossa História, maior exemplo de Historiador ipuense. Com a visita ao seu arquivo percebe que é muito bem organizado tudo catalogado por data e ordem alfabética, vale ressaltar que é o próprio Francisco Melo que faz esse trabalho minucioso sem ajuda de demais pessoas, já possui aproximadamente 95% de seus documentos armazenados em pastas em seu computador facilitando assim o seu acesso. A qual ele divide em pastas documentais e pastas de fotos. E continua trabalhando para tê-lo finalmente todos seus documentos arquivados em seu computador. Em seu acervo existem documentos desde o ano de 1800, sem dúvidas, valiosos para os historiadores, são mais de 400 itens de documentos que retratam momentos históricos, mas o que é mais impressionante é a quantidade de fotos mais de 7.000 fotos originais registradas em cartório. Mesmo com todos esses cuidados Professor Melo é vitima de pessoas sem educação que postam suas fotos, principalmente em redes sociais como se fosse donos, uma verdadeira falta de respeito com quem se dedica ao um trabalho que beneficia toda uma sociedade, pois como já dizia o historiador Boris Fausto “Quanto mais o passado é trabalhado mais a sociedade se beneficia: Não há cidadania sem o conhecimento da História.”. Enfim o documento mais antigo que ele possui é do ano de 1800 e a foto mais antiga é a da Estação Ferroviária de Ipu no ano de 1901. Percebe-se que isso vem de geração, pois o Professor possui também o acervo de seu pai João Anastácio Martins e de sua tia Maria Valdemira Coelho Melo essa família contribuiu muito e ainda contribui na pessoa de Francisco Melo para que a História de Ipu não seja apagada pelo tempo. 
O dono do acervo disponibiliza fotos e documentos para quem vem ao seu auxilio principalmente historiadores ao qual ele fala que tem o maior prazer em ajuda-los recebe todos em sua própria casa com muita simpatia, mais vale lembrar quem for desonesto com o professor tipo como não devolvendo documentos emprestados ele além de ficar muito chateado não ajuda mais esses tipos de pessoas que desconhecem o significado da palavra ética, e fica assim difícil a realização de qualquer trabalho histórico realizado por essas pessoas, pois ninguém no Ipu disponibiliza de tantos documentos. Enfim além de documentos e fotos o professor possui também diversos CDs que relembram as músicas que marcaram a nossa História muito delas suas letras são uma verdadeira poesia dedicada à cidade e que ele é o autor de muitas dessas músicas, tens também jornais como o Ipu Jornal, Correio do Norte, Jornal dos Tabajaras, O Futrico e o mais recente Jornal Ipu Grande que circula na cidade desde 2005. Composto pelos historiadores locais e também Francisco Melo. Todos os documentos de seu acervo apesar da grande maioria ser bem antigos estão em ótima conservação. Esse trabalho proporcionou um melhor conhecimento dessas ferramentas de trabalho do historiador e a importância que eles têm para a sociedade em geral.



Estação

Inaugurado em 10 de outubro de 1894, o prédio da estação de Ipu é um dos mais belos em toda a malha ferroviária do Brasil segundo os especialistas no assunto.

Não quero, aqui, me deter sobre a importância da estrada de ferro para o Ipu no que concerne aos aspectos econômico, social, urbano, arquitetônico e cultural, pois dessa parte se encarregarão os historiadores da terra, cuja safra, hoje, é muito promissora. E, também, para que, ninguém, com razão, me venham a dizer: Ne sutor supra crepitam, ou seja, “Sapateiro, não subas além da sandália”, como disse o pintor Apeles a um sapateiro que criticara uma parte de uma pintura sua que não a sandália.

Quero apenas me restringir ao lado nostálgico deste belo monumento histórico. Com efeito, a Estação é um dos ícones de Ipu, ao lado da Bica, da Igrejinha, do Jardim Iracema e do prédio da Prefeitura, dentre outros. E foi parte integrante da minha infância e da minha juventude, pois, como disse a nossa escritora maior Rachel de Queiroz, “Menino criado em beira de linha fica com o trem no sangue”.

Era a estação o ponto de encontro diário de grande parte da população da cidade. Ao toque da sineta, anunciando a chegada próxima do trem, as pessoas se dirigiam em correria para lá.

A estação presenciou, sem dúvida, grandes momentos e episódios marcantes. Eram partidas e chegadas de entes queridos, encontros e desencontros, alegrias e tristezas, boas-vindas e despedidas, sorrisos e lágrimas, beijos e tapas, juras de amor e chiliques de ciúme, início e término de flertes e namoros. Enfim, as alegrias e as vicissitudes que povoam os fundos arcanos da misteriosa e insondável alma humana.

E não é que, por pouco, íamos perdendo esse ícone quando, e 2001, fora adquirido por um comerciante de fora, que vencera licitação da RFFSA, para ser transformado numa revenda de motos.

Em face de uma forte campanha desenvolvida pela Associação dos Filhos e Amigos de Ipu - Afai, que mobilizou toda a população com vistas à integração da Estação ao patrimônio da cidade, a Prefeitura de Ipu se viu obrigada a considerar aquele prédio como de utilidade pública, adquirindo-o, em tempo hábil, do proprietário.

Para registro nos Anais da História, cabe ressaltar que a Estação de Ipu serviu de Quartel General da Coluna Prestes que, em 13 de janeiro de 1926, aos primeiros raios da aurora, chegou à cidade sob o comando do Coronel João Alberto. Havia na Estação uma composição ferroviária e o maquinista da locomotiva 17 foi obrigado, na tarde daquele dia, a deslocá-la a uma distância de 5 km, onde a mesma foi abandonada.

A Estação de Ipu já foi tombada pelo Iphan e o projeto de sua recuperação foi feito, conjuntamente, pelo Iphan-der-Secult, e nela será instalada uma biblioteca pública. Para a recuperação da Estação foram decisivos os apoios de nossos legítimos representantes na Assembleia Legislativa do Ceará, os deputados Sávio Pontes e Gomes Farias, e a Sra. Maria do Socorro Pereira Torres, prefeita municipal de Ipu. O povo, com certeza, lhes será grato, e toda vez que o trem apitar nos Pereiros e nas Pedrinhas ecoará, em conjunto, o apito da locomotiva e as palavras de louvor e gratidão aos seus grandes benfeitores.

Os trabalhos de recuperação estão prestes a começar e a nossa Estação vai ser devolvida à população em todo o seu esplendor do passado. Permito-me sugerir às autoridades do Estado e do Município que, quando da reinauguração, seja feita uma placa de bronze com os nomes de todos os agentes da Estação que moraram no Ipu. Foram eles figuras importantes que muito contribuíram para o desenvolvimento de nosso torrão natal. Lembro-me, ainda, de alguns deles, como os senhores Craveiro Carlito e Isaías. O último agente ainda mora em Ipu. Está aposentado, e é o senhor José Maria Pereira da Silva.

Deveriam ser convidados para esse inolvidável evento os agentes ainda vivos e os familiares de todos os agentes que não estão mais entre nós a fim de receberem as justas homenagens do povo ipuense pelo muito que fizeram em prol do nosso desenvolvimento.


Olívio Martins de Sousa Torres.

 
HONÓRIO BARBOSA
Estação de trem da cidade de Iguatu. A história da ferrovia começa com a implantação dos trilhos no Império, em 1870.

HONÓRIO BARBOSA
Antiga estação de trem do Município de Senador Pompeu, no Sertão Central. Na seca de 1932, muitas pessoas que queriam embarcar para a Capital, para fugir da morte, eram barradas no lugar
Sob o título sugestivo "O último apito", um documentário de 1h30 foi finalizado depois de seis anos de pesquisa

Iguatu. Depois de seis anos de pesquisa, entrevistas, fotos e filmagens, foi finalizada a edição do primeiro vídeo sobre a história da ferrovia no Estado do Ceará. Sob o título sugestivo "O último apito", o documentário de 1h30, com foco no relato emocionado de ex-ferroviários, resgata aspectos históricos, desde a implantação da estrada de ferro no fim do século XIX até a desativação do trem de passageiro na década de 1980. A direção é do memorialista Aderbal Nogueira, com produção de Maristela Mafuz. O apoio institucional para o trabalho foi do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

A ferrovia teve uma importância fundamental para o desenvolvimento do Estado. O trem de carga e de passageiros encurtou distância, facilitou as comunicações e ampliou em quantidade e velocidade o transporte da produção agrícola e pecuária do sertão para a Capital e de produtos industrializados no caminho inverso, de Fortaleza para o Interior do Ceará.

Implantação

O período retratado no vídeo compreende um pouco mais de um século. A história da ferrovia começa com a implantação dos trilhos ainda na época do Império, em 1870, para a construção do primeiro ramal entre Fortaleza e Parangaba. Em 1873, partia o primeiro trem, uma pequena composição puxada por uma máquina a vapor (Maria-Fumaça).

Depois os trilhos se estenderam até Baturité e foram avançando pelo sertão cearense até chegar à cidade do Crato, na região do Cariri, em 1927. A última viagem do trem de passageiro da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) foi feita em 1988. Narrar toda essa história exige determinação. E foi justamente o que não faltou ao diretor, Aderbal Nogueira.

Mesmo sem apoio, somente a participação do Senai na fase de conclusão do trabalho, uma equipe de dez técnicos realizou dezenas de viagens por várias cidades do interior. O objetivo era colher imagens das antigas estações de trem, gravar depoimentos de ex-ferroviários, de operários que trabalharam na construção da via férrea e de vendedores que aguardavam com expectativa a chegada de cada trem ao bater do sino e na plataforma disputavam espaço com centenas de moradores, bem vestidos. Afinal, a passagem do trem era um acontecimento social nas pequenas cidades do sertão.

Exibições

O documentário "O último apito", em formato digital, foi finalizado há um mês. Inicialmente, foram feitas duas exibições fechadas para ex-ferroviários, no auditório da Estação Ferroviária João Felipe, em Fortaleza. "Foram momentos marcados por emoções, choro na plateia", contou Nogueira. "Depois, muitos vieram me abraçar e me agradecer. Eu também fiquei emocionado e posso dizer que realizei um sonho com esse trabalho", disse.

O sonho do diretor Aderbal Nogueira em produzir um documentário sobre a história da ferrovia no Ceará tem origem na infância. O avô dele, João Nogueira de Freitas, que é homenageado com a dedicação do vídeo, era funcionário da antiga Rede Viação Cearense (RVC), condutor de trole puxado a motor, a serviço de agentes e diretores da companhia em trabalho de fiscalização e inspeção entre as estações. "As viagens de trem estão na minha memória, fazem parte da minha vida", contou. "Era preciso homenagear os ferroviários e contar um pouco dessa história".

O documentário reúne "um bom material", na avaliação do diretor, e traz depoimentos de uma dezena de ferroviários aposentados. São relatos emocionantes. "Todos os antigos funcionários têm orgulho do trabalho que realizaram", frisou. "Era a vida de cada um". Por isso, a maioria chora ao relembrar os tempos difíceis das viagens nos trens, nas antigas locomotivas a vapor, as marias-fumaças, e depois em modernas máquinas a motor diesel.

"Era um trabalho pesado, sofrido, mas todos carregam saudades", observa Aderbal Nogueira. Mas também havia charme. O uniforme era elegante, o maquinista usava gravata e era uma pessoa importante. "Muitos relembram do balanço do trem e da chegada nas estações onde existiam muitas pessoas aguardando parentes ou simplesmente iam ver o trem passar", contou.

Lembranças

O maquinista aposentado, Francisco Monte, dá um depoimento emocionante e de triste memória. "Na seca de 1932, vi muita gente morrendo de fome, na calçada da estação de Iguatu e de Afonso Pena (hoje Acopiara)". Em meio a lágrimas recorda: "Era uma cena triste, que doía na gente. Multidão querendo embarcar em direção à Capital para fugir da morte. Os flagelados eram barrados em Senador Pompeu, onde havia um campo de concentração de sertanejos famintos e doentes".

A última viagem de trem entre as cidades de Camocim e Sobral, na Zona Norte, é relatada no depoimento do ex-maquinista, José Rodrigues, o Zequinha. "O povo ficou no meio dos trilhos, chorando, sem querer deixar o trem partir", relembrou. "Eu também chorava muito. Foi triste".

O pesquisador de música e memorialista, Christiano Câmara, apresenta um desabafo contra a extinção do trem de passageiro, da valorização do transporte rodoviário em detrimento do ferroviário. "Na Europa, o trem é exemplo de luxo e progresso, mas no Brasil é de pobreza e retrocesso".

O transporte ferroviário de passageiros atendia a necessidade das famílias de baixa renda. A sua extinção provoca ainda hoje revolta no pesquisador Câmara e no diretor do documentário. "Foi um crime o que fizeram", disse Nogueira.

A ferrovia impulsionou o desenvolvimento do Ceará. "Quando o trem chegava do Interior, as mercadorias eram transportadas em lombo de animais em Fortaleza porque naquela época não havia carro", observa o engenheiro aposentado da RFFSA, Hamilton Pereira. Os produtos seguiam para os mercados, casas comerciais e para as indústrias. "Esse documentário tem importância fundamental para o resgate da história da ferrovia", destacou.

A produção do documentário "O último apito" não tem fins comerciais. O produtor Aderbal Nogueira pretende exibir o vídeo nas cidades do interior onde há ferrovia. "Esse é o meu sonho", disse. "É um resgate da memória da ferrovia que dedico aos ferroviários, ao povo do meu Estado".