sexta-feira, 31 de julho de 2015

Caros amigos,

Uma cientista começou a chorar durante uma entrevista sobre poluição e gás carbônico enquantodescrevia um futuro sombrio no qual os oceanos estariam arruinados. Cabe a nós impedir que o pesadelo dela se torne realidade.

Daqui a quatro meses, o mundo será palco da maior Cúpula do Clima da década. E nela, os líderes mundiais poderão finalmente concordar com uma meta revolucionária para livrar o mundo dos combustíveis fósseis. É a luz no fim do túnel que nos guiará para longe da catástrofe climática, sinalizando o fim da era da energia suja para os políticos, empresas e bolsas de valores em todos os países. A vitória não será fácil, mas se fizermos com que os líderes sintam o poder deste movimento, venceremos.

No ano passado, nossa comunidade foi parte da maior mobilização climática da história: a Marcha do Clima. E no dia 29 de novembro deste ano, horas antes da chegada dos líderes na Cúpula do Clima de Paris, faremos uma mobilização ainda maior! Cliquem para confirmar sua participação na Marcha do Clima de 2015 e vocês serão os primeiros a saber o que vai acontecer em suas cidades e regiões:

https://secure.avaaz.org/po/save_the_date_loc/?bctyGhb&v=62561

Paris não é o destino final contra as mudanças climáticas, mas não faltam motivos para termos esperanças de que o impasse sobre o assunto acaba nessa Cúpula: o Papa Francisco pediu ações sérias contra a mudança do clima e os países do G7 se comprometeram a eliminar gradativamente os combustíveis fósseis de suas economias; enquanto isso, os custos de energia renovável ​​caem a cada dia. Em todo o mundo, o movimento do clima está vencendo, forçando a energia limpa na pauta de líderes nacionais e tirando milhões de dólares em subsídios dos combustíveis fósseis.

Já temos a tecnologia que precisamos para desencadear uma revolução e mudar o curso de nossa história para longe das mudanças climáticas. Mas durante décadas, houve incentivos públicos bilionários para poderosas empresas de combustíveis fósseis. A menos que nossos líderes se dêem conta que as pessoas em todas as partes do planeta vão lutar pelo seu futuro, há um risco real de que os políticos cedam à pressão das empresas novamente.

Nosso movimento com 42 milhões de pessoas foi construído para pôr um fim nisso! As marchas do clima em 2014 colocaram nossos líderes a par de um novo mundo que vem aí. Agora precisamos de uma marcha gigante em Paris, com ações coordenadas nas principais cidades globais e milhares de eventos menores em solidariedade organizados em todo o mundo para garantir que nossos governos saibam que não vamos deixar que os lucros de empresas de combustíveis fósseis sejam mais importantes que o futuro de nossa espécie. Clique abaixo e confirme sua participação:

https://secure.avaaz.org/po/save_the_date_loc/?bctyGhb&v=62561

Caso represente uma organização que esteja interessada em participar, clique aqui para nos avisar do interesse de uma parceria com a Avaaz para organizar essa grande mobilização:

https://secure.avaaz.org/po/pcm_2015_org_sign_on/?b
Com esperança e gratidão,



quinta-feira, 30 de julho de 2015

Delmiro Gouveia.

Em Coronel Delmiro Gouveia, história do industrial é contada a partir do ponto de vista de sua esposa, Carmela, do próprio Delmiro, de um de seus sócios e ainda de um de seus funcionários
Geraldo Sarno não sabia quem era Delmiro Gouveia. Foi em 1967, durante uma espécie de expedição pelo sertão nordestino, que o documentarista baiano entrou em contato, pela primeira vez, com a história do industrial cearense. "Estava com um projeto para fazer dez documentários sobre a cultura popular nordestina. Percorremos Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará", rememora o cineasta.
Das andanças pela região, Sarno conta que surgiram quatro filmes: Vitalino Lampião, Os Imaginários, Jornal Sertão e Eu Carrego o Sertão Dentro de Mim. Foi em meio a esse processo que, numa visita à Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), o cineasta se deparou com um busto em homenagem a Delmiro Gouveia. Curioso, perguntou ao vigia da hidrelétrica quem era o homem retratado na escultura.
"Tomei um susto quando soube de tudo aquilo", diz Sarno sobre as primeiras impressões que teve ao conhecer a trajetória de Delmiro. Em busca de mais histórias sobre o industrial, o cineasta também esteve na cidade alagoana de Delmiro Gouveia, onde encontrou em ruínas a Usina de Angiquinho, a casa na qual Delmiro havia morado e o que havia restado da Fábrica da Pedra.
Entre o primeiro contato com a história do industrial sertanejo e o início das filmagens de Coronel Delmiro Gouveia uma década se passou. Embora se firmando como documentarista Sarno preferiu retratar a trajetória de Delmiro por meio de um filme ficcional. "Resolvi fazer uma ficção porque a história era muito forte", rememora ele.
Delmiro e a reinvenção do Sertão
Nascido no Ceará, Delmiro Gouveia cresceu no Recife do século 19, então um dos mais importantes centros urbanos e comerciais do Brasil
Um ’incidente emocional’ motivou a fuga de Delmiro do Recife para Alagoas, em 1900
Modernizador do sertão. Rei das peles. Pioneiro de Paulo Afonso. Estas são apenas algumas das denominações recebidas por Delmiro Gouveia (1863-1917). Natural de Ipu, no Ceará, o industrial cresceu no Recife do século 19, um importante centro comercial e cultural não apenas para o Nordeste, mas também para todo o Brasil da época. E ainda que tenha ascendido socialmente na capital pernambucana, foi em Alagoas que Delmiro ergueu o mais ambicioso de seus projetos, a Usina de Angiquinho, a primeira hidrelétrica do país, localizada no município que hoje leva seu nome.
Garoto pobre, Delmiro Augusto da Cruz Gouveia ficou órfão do pai ainda menino. Ao lado da mãe e da irmã, mudou-se para o Recife, onde aos 15 anos - após a morte da mãe - começou a trabalhar. Aos 20, depois de ocupações como cobrador de bonde e despachante, torna-se comerciário e passa a atuar na área de compra e exportação dos chamados "courinhos", isto é, a pele da cabra e do bode.
Tendo apenas o curso primário, a instrução escolar limitada, no entanto, nunca foi um problema para Delmiro. Dotado de notável inteligência para os negócios, o industrial, legítimo representante do pensamento liberal no Brasil, cria em 1899 um centro de comércio, serviços e lazer no bairro recifense do Derby. Inédito para os padrões da época, o empreendimento reunia em um só lugar mercado, hotel, velódromo e um pavilhão de diversões.
 Homem conhecido pelas atitudes empresariais marcadamente à frente de seu tempo, Delmiro também teve uma vida amorosa pouco comum. Não à toa, em 1900 saiu literalmente fugido do Recife, aos ser acusado de rapto de menor, após se apaixonar por Carmela, de 16 anos, filha bastarda do governador de Pernambuco Sigismundo Gonçalves, seu inimigo político.
Foi em decorrência desse incidente sentimental, inclusive, que o industrial acabou vindo parar em território alagoano.
50 anos a mil
Delmiro Gouveia viveu exatos 54 anos. Nesse intervalo de pouco mais de meio século, deixou a infância pobre no interior do Ceará para entrar para a história como o homem responsável por levar a industrialização ao sertão nordestino. Personagem cuja trajetória se confunde com a própria formação do Nordeste moderno, seu legado é pouco ou nada conhecido no país. No ano do centenário da Usina de Angiquinho, seu mais ousado projeto, dois livros ganham reedição - a biografia Delmiro Gouveia - O Pioneiro de Paulo Afonso, de Tadeu Rocha, e o romance O Ninho da Águia - Saga de Delmiro Gouveia, de Adalberon Cavalcanti. Para saber mais sobre a vida e as conquistas do modernizador do sertão, a Gazeta conversou com o professor Edvaldo Francisco Nascimento, autor do prefácio da obra mais completa já escrita sobre o industrial cearense, e com o cineasta baiano Geraldo Sarno, que levou sua história para o cinema.
"O maior legado que Delmiro deixa é mostrar para o sertão e para o sertanejo que a nossa região é possível e o sertanejo é capaz", diz Edvaldo Francisco do Nascimento
Do Recife para Alagoas, na trilha dos desafios.
Gazeta. Delmiro Gouveia teve uma educação formal ou aprendeu fazendo?
 Edvaldo Francisco do Nascimento. Ele aprendeu fazendo. Delmiro teve acesso somente aos primeiros anos de escola.
Poderíamos dizer que Delmiro é um dos primeiros brasileiros a agir conforme os preceitos do pensamento liberal, segundo o qual o trabalho é o principal atributo moral do homem?
Sim, eu acho que é correta essa afirmação. Há um trabalho de doutorado da professora Telma de Barros Correia, no qual ela faz essa análise de Delmiro como o homem que antecipa o desenvolvimento do sistema capitalista no próprio Nordeste. E ele era sim liberal.
Delmiro saiu do Recife fugido depois de se apaixonar pela filha do governador da época ou ele sai da capital pernambucana falido?
Veja só: Delmiro, homem já rico, com seus 38, 39 anos, contrariava alguns interesses da oligarquia política e econômica do Recife. No Mercado do Derby, por exemplo, ele comprou um grande estoque de farinha, que era vendida a um preço mais em conta do que se vendia nos estabelecimentos do Recife. Isso gerou um protesto dos comerciantes, que foram cobrar dos aliados deles, do governador, Sigismundo Gonçalves, e do prefeito do Recife, Esmeraldino Bandeira, algumas providências. Essas providências, por sua vez, eram apreensão de mercadorias de Delmiro e insultos a Delmiro. Isso criou um clima de muita animosidade entre Delmiro, seus amigos, aliados, e os amigos e aliados do prefeito e do governador.
Inclusive há um episódio em que Delmiro agride o então vice-presidente da época...
 Numa dessas situações, Delmiro foi ao Rio de Janeiro, onde encontra Rosa e Silva, então chefe dessa oligarquia (recifense) e vice-presidente da República. Delmiro acaba dando umas bengaladas no vice-presidente na rua do Ouvidor. A situação piora ainda mais quando Delmiro volta para o Recife e os aliados de Rosa e Silva dão o troco e incendeiam o Mercado do Derby; além disso, Delmiro é preso junto com seu sócio, Napoleão Duarte, sob a acusação de terem tramado o incêndio para receber o seguro. O clima era desse nível. Ao ver os jornais da época, principalmente o Diário de Pernambuco, é possível ver os insultos trocados entre eles. O fato é que nesse período Delmiro entra em ruína econômica e, com problemas pessoais, brigando com a primeira esposa, vai passar um ano na Europa.
 Mas ele volta ao Recife?
 Os negócios vão de mal a pior e ele é chamado ao Recife para tomar algumas providências. Quando volta, não sei se por ironia do destino ou se por birra, ele vai se envolver com a filha bastarda do governador - que tinha um relacionamento extraconjugal com uma senhora apelidada no Recife de Doninha, que tinha uma filha muito bonita, Carmela, de 16 anos, com quem Delmiro se envolve. Bom, era tudo que o governador queria para decretar a prisão de Delmiro e abrir um processo por rapto e defloramento de menores, acusação que foi parar no Tribunal de Justiça Federal. O advogado de Delmiro foi coincidentemente seu padrasto, que conseguiu um habeas corpus a favor de Delmiro, que a essa altura já tinha fugido, porque a ordem da polícia era de matá-lo.
Em nota dpara Caramelão autor, Tadeu Rocha diz ter encontrado cartas de Delmiro . Ela então foi esposa de Delmiro até a morte do industrial?
 Ela veio para o sertão de Alagoas, é a mãe dos filhos de Delmiro, que teve três filhos aqui no sertão alagoano: a Noêmia, Noé e Maria Augusta Gouveia. Só que ela tinha um temperamento muito forte. E ela era uma moça com uma cabeça de alguém que vive numa cidade como o Recife. Imagina ela chegar no sertão de Alagoas. Ela não se habituou. Inclusive, ela deixa o (filho) mais novo com aproximadamente um ano de idade e vai embora deixando os filhos com Delmiro, que manda chamar a irmã, então separada, para tomar conta dos filhos dele.
E como Delmiro se ergue novamente nos negócios em uma região onde não havia praticamente nada?
 Ele chega ao sertão alagoano em 1902. E a grande atividade lucrativa desenvolvida por Delmiro era o comércio de couro de animais. E mesmo ele morando no Recife, ele ia buscar essas peças no interior, no sertão. Ao chegar aqui, Delmiro encontra uma posição estratégica no limite de três estados, onde ele comprava a matéria-prima de seus negócios. Então ele retoma a atividade comercial como exportador de pele. Em 1909 já refaz sua fortuna e retoma a liderança no negócio. É com o dinheiro das peles que ele empreende. Lógico que depois ele agrega posses, capital internacional, mas a base da sua fortuna vem do comércio de peles, porque ele tinha lucros exorbitantes; por estratégias que ele utilizava, pela manipulação das peles, criou um sistema de classificação - segurava mercadoria para poder vender mais caro.
E como Delmiro dá início à construção da Usina de Angiquinho?
Em 1909, Delmiro recebe no sertão um grupo de capitalistas americanos, que firmam contrato com ele - cujo grande projeto é produzir energia para vender para o Nordeste, principalmente para o Recife. Então esses capitalistas firmam contrato com Delmiro, mas para esse contrato ser realizado Delmiro tinha que conseguir concessões dos governos de Pernambuco, de Alagoas e da Bahia. Delmiro consegue as concessões de Alagoas e da Bahia, mas não consegue de Pernambuco. Outra grande decepção de Delmiro. À época, o governador de Pernambuco era o general Dantas Barreto, que foi eleito derrotando a oligarquia política de Rosa e Silva, que era inimigo de Delmiro. E o general Dantas Barreto teve o apoio de Delmiro para ser eleito, inclusive Delmiro ia para os comícios no sertão pernambucano a favor de Dantas Barreto. Então ele achava que teria apoio do governo de Pernambuco, mas ele recebeu um não. Então, os possíveis sócios americanos desistiram do negócio. E por isso Delmiro resolve por conta própria dar início a esse negócio. Ele readéqua o seu projeto no sentido de que a energia produzida pela usina será utilizada num projeto que ele vai construindo em paralelo, a fábrica de linhas.
Linha do tempo
* 1863 Nasce Delmiro Gouveia em Ipu, no Ceará
 * 1868 Após a morte do pai, transfere-se com a família para Goiana, em Pernambuco
 * 1872 Muda-se para o Recife
 * 1878 Após a morte da mãe, Delmiro, aos 15 anos, começa a trabalhar como cobrador na Brazilian Street Railways Company
 * 1881 Delmiro trabalha como despachante em um armazém e algodão. Dois anos depois, já era intermediário entre comerciantes do interior e firmas exportadoras de pele e algodão
 * 1891 Delmiro se torna sócio de um inglês num armazém de compra e exportação de couros de cabra e bode
 * 1899 Assume a direção da Usina Beltrão, uma fábrica de refino de açúcar. No mesmo ano inaugura no Derby, bairro do Recife, um centro de comércio, serviços e lazer, que incluía mercado, hotel, velódromo e pavilhão de diversões
 * 1900 Devido a conflitos políticos entre Delmiro e governantes pernambucanos, o Mercado do Derby é incendiado.
 * 1903 Delmiro torna-se proprietário da Fazenda da Pedra, no sertão de Alagoas
 * 1913 Constrói a Hidrelétrica de Angicos junto à Cachoeira de Paulo Afonso para fornecer energia para a fábrica de linhas de costura que inaugura no ano seguinte
 * 1917 Delmiro morre assassinado na varanda de sua casa, em Alagoas
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Mestre Hélder Câmara e o xadrez nas belas crônicas de “Caíssa”
“Acredito, amigo leitor, que estamos diante do melhor livro já escrito sobre xadrez no Brasil - ou, pelo menos, do mais fascinante”
Um sábado, há algumas semanas, o telefone soou e, do outro lado, estava o Mestre Internacional Hélder Câmara.
Hélder é uma lenda do xadrez brasileiro, duas vezes campeão brasileiro (1963 e 1968), três vezes vice-campeão (1964, 1966 e 1969), integrante da equipe brasileira nas Olimpíadas de Xadrez de Lugano (1968), Siegen (1970), Nice (1974), La Valletta (1980), Tessalônica (1984), e único teórico brasileiro a elaborar uma Defesa (as pretas, no xadrez, empreendem a “defesa”, enquanto as brancas, que iniciam o jogo, empreendem a “abertura”), a Defesa Câmara.
Porém, Hélder se distingue também por outras características: é capaz de comentar com propriedade um romance de Turgueniev ou de Graciliano, contar pitorescos casos que presenciou, fazer agudas observações sobre os mais variados assuntos e fulminar os opressores de nosso povo com a fúria dos justos. Em suma, é um humanista como poucos existiram neste país.
Naquele sábado, combinamos encontrar-nos no Centro Cultural São Paulo (“é o único lugar onde ainda se pode jogar xadrez de graça nessa cidade”, disse ele). Apareci com minha mulher, Sandra, e antes que o leitor se pergunte porque estou dizendo isso, notarei apenas que o ambiente entre os jogadores no Centro Cultural era fundamentalmente masculino – e a minha mulher não joga xadrez. Mas gostou muito – e não precisou entender de xadrez para conversar com o mestre.
Hélder presenteou-me com seu livro de crônicas, “Caíssa”. Eu não o conhecia. Nas três semanas seguintes, fiquei, sempre que pude, agarrado ao livro. Acredito, amigo leitor, que estamos diante do melhor livro já escrito sobre xadrez no Brasil - ou, pelo menos, do mais fascinante. Hélder tem um talento especial para resumir complicados problemas teóricos em frases lapidares. Como em Lenin – para citar outro enxadrista – este é um talento que só têm aqueles com generosidade para transmitir ao próximo o conhecimento que duramente conquistaram.
“Caíssa” é, antes de tudo, uma obra-prima literária. Hélder, como já mencionei, é um homem culto – e sua familiaridade com o tesouro cultural da Humanidade transparece luminosamente nas páginas de “Caíssa”, num estilo enxuto, avesso à prolixidade e aos rococós de linguagem.
O pior serviço já prestado ao xadrez - ou, melhor, contra o xadrez - é a imagem, hoje corriqueira, de que jogador de xadrez só pensa em xadrez. Há mesmo quem pense que o cérebro dos adeptos desse jogo tem um formato especial: quadrado e dividido em 64 outros quadrados, brancos e pretos alternadamente. E, honestamente, há quem justifique essa imagem.
No entanto, Lenin, Stalin e Che foram praticantes entusiasmados do xadrez, assim como, até hoje, Fidel – que até jogou, em parceria com o então campeão mundial Tigran Petrosian, uma partida contra Bobby Fischer (por sinal, Fischer perdeu a partida...).
Benjamin Franklin e o Cardeal Richelieu também eram jogadores de xadrez, assim como Diderot, Einstein, Goethe, Newton, Turgueniev, Cervantes, Rousseau, Tolstoy, Robespierre e Montaigne. No Brasil, Machado de Assis foi um dos participantes do primeiro torneio de xadrez acontecido no país, em 1880, e Guimarães Rosa era um aficionado desse nobre jogo.
As crônicas de “Caíssa” foram originalmente publicadas no “Diário Popular’, jornal que existia em São Paulo. Publicamos hoje a crônica de abertura do livro. Assim, o leitor terá uma amostra – e verá que não exageramos.
CARLOS LOPES
HÉLDER CÂMARA

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Esquerda que não se endireita x Direita Sinistra

João Martins de Souza Torres

ESQUERDA QUE NÃO SE ENDIREITA VERSUS DIREITA SINISTRA
ELEITOR versus ELEITO
Em 2005, quando do meu ingresso como membro titular
da Academia Cearense de Medicina, fiz no convencional
discurso de posse um pronunciamento referente à situação,
progressivamente deteriorante da política brasileira, centrado,
especialmente, no aspecto ético.
À época, confessei-me bastante apreensivo, dizendo
textualmente “ser o Brasil uma vítima fragilizada em
conseqüência de uma pérfida combinação política constituída
por uma ESQUERDA que não se endireita versus uma
DIREITA sinistra”.
No decorrer destes oito anos venho constantemente me
perguntando: Teria eu sido ingênuo nesta assertiva ou o Rei
Tempo (Chronos) da Mitologia grega me dera razão? A segunda
hipótese, infelizmente, me parece a verdadeira.
Faz-se necessário um breve retrospecto histórico para
melhor compreensão, especialmente dos mais jovens.
Ingressei na Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Ceará no início de março de 1964. Havia, até então
e por muito anos, apenas uma escola médica no Ceará. Hoje
são sete. Também em março do mesmo ano, no dia 31, deu-se
a Revolução Militar, assim cognominada por seus promotores
e simpatizantes, enquanto os opositores a chamavam de
Ditadura Militar.
Abolidos todos os partidos políticos, foram criados pelo
sistema apenas dois: ARENA e MDB. O primeiro - ALIANÇA
RENOVADORA NACIONAL - apoiava, irrestritamente, o
governo militar. Era a DIREITA civil e servil. O segundo partido
era o MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO, de
oposição, a chamada ESQUERDA. Seus componentes foram
os políticos que não aceitaram e combateram, como podiam, o
regime militar. Contavam com o apoio da maioria dos intelectuais,
dos artistas e da Igreja.
O regime militar durou vinte anos. Pela ordem foram
seus presidentes: Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco, Gal Artur da Costa e Silva, Gal Emílio Garrastazu
Médici, Gal Ernesto Beckmann Geisel e, por último, Gal João
Baptista de Oliveira Figueiredo.
Há de se reconhecer que coisas boas também foram
feitas, destacando-se a unificação dos Institutos de Pensão
e Aposentadoria na área da Previdência e da Saúde, o INPS
(Instituto Nacional da Previdência Social) que evoluiu para o
atual SUS e INSS.
Em 1964, foi criado também o Banco Central do Brasil,
entidade que desempenha o papel de autoridade monetária
no país.
Outro feito de grande alcance social foi a justíssima aposentadoria
rural do homem e também da mulher do campo até
então abandonados. Trouxe significante segurança e dignidade
ao trabalhador rural envelhecido. É, de longe, o principal
responsável pela sustentabilidade econômica das regiões mais
pobres do país a chamada aposentadoria dos idosos.
A economia do Brasil mostrou evidências de significativo
crescimento, dando espaço para ser denominada de “milagre
econômico”.
No campo político, a ditadura, toda poderosa, fez o
que quis. Cassou corruptos e, lastimavelmente, importantes
líderes políticos que lhes pudessem oferecer obstáculos.
Exemplo maior foi o caso do carismático Presidente Juscelino
Kubitschek que, além de cassado e exilado, quando de seu retorno
ao Brasil teve morte, ainda hoje, enigmática.
O maior dos benefícios do regime militar, embora totalmente
desnecessário, foi convencer que ditadura é coisa
deplorável. Não importa se de direita ou de esquerda, ela é
visceralmente danosa à democracia. À sociedade, lhe é execrado
o imprescindível exercício da cidadania. Todo sistema
que tolhe a liberdade, especialmente com o uso da força bruta,
da violência e/ou da tortura, deve ser banido sempre e para
sempre. Vale o antigo dizer: A ditadura é sempre má nem que
o ditador seja, eventualmente, bom.
Após incessantes e ferrenhas lutas da obstinada oposição
com crescente importante apoio da população, tendo a
decisiva participação da Igreja, dos artistas e intelectuais, em
sua nítida maioria, deu-se a custo alto, inclusive de muitas
vidas, a redemocratização, pondo fim a um logo período de
governo militar (vinte anos).
Embora com o fracasso inicial da majestosa e gigantesca
campanha das DIRETAS JÁ, Tancredo Neves se elegeu, por
via indireta, Presidente da República. Veio a falecer poucos
dias antes da posse, havendo forte comoção nacional.
Sob grande tensão política, José Sarney, seu vice, assumiu
a presidência. Foi um período conturbado e muito permissivo,
especialmente na questão ética. A direita reacendeu
seus vícios de modo insaciável.
A inflação perdeu o controle. Criou-se o PLANO
CRUZADO muito mal sucedido. Conseguindo mais um ano
de mandato à custa de inconfessáveis matreirices, Sarney,
mestre no assunto, governou por um quinquênio.
Fernando Collor de Melo, ex-governador das oligarquias
alagoanas, por via direta e num partido político desconhecido
e pequeno, se elege presidente da República, tendo
como vice o ex-governador de Minas Gerais, Itamar Franco
(PMDB), de grande respaldo ético. Sua principal bandeira da
eufórica campanha foi a apetitosa promessa de implacável
combate à corrupção, com sua emblemática caça aos marajás.
No final de 1992, o Congresso Nacional, com esmagadora
maioria, cassa Collor (impeachment), após a memorável
manifestação de rua dos “caras pintadas” de verde-amarelo.
Assume, constitucionalmente, seu vice, o honrado
Itamar Franco. Acontece o Plano Real, orquestrado pelo ministro
da Fazenda, o sociólogo e senador Fernando Henrique
Cardoso. A inflação é, realmente, controlada. Com o sucesso
do Plano Real, Fernando Henrique se elege, em primeiro
turno, presidente da República, em 1994. Por ter sido reeleito,
também em primeiro turno, governou por oito anos.
O instituto da reeleição, até então inédito no Brasil, custou
acordos políticos muito danosos ao país. Apesar de ter
controlado com eficiência a inflação e ter implantado reformas
por meio de questionáveis e nebulosos métodos de privatização,
o país esboçou progresso econômico e social, alcançando,
inclusive, visibilidade internacional.
Em 2002, na terceira tentativa, Luís Inácio Lula da Silva
vence as eleições. Usou como arma de campanha o combate
à corrupção da direita, ostentando, garbosamente, a sagrada
bandeira da ética, da qual o Partido dos Trabalhadores (PT)
muito se ufanava. Contou com o apoio predominante dos
intelectuais, dos artistas e da Igreja adepta da Teologia da
Libertação, tendo como alvo favorecer as classes menos privilegiadas
que se constituíam em esmagadora maioria.
Carismático e habilidoso no jogo político, Lula conseguiu
melhorar, visivelmente, as condições socioeconômicas
dos desvalidos, especialmente nas regiões mais pobres (Norte
e Nordeste). Seu principal plano midiático FOME ZERO foi
efetivo, projetando-o nacional e internacionalmente.
No campo da macroeconomia, elevou substancialmente
as reservas cambiais do país e retirou o Brasil da tutela do
Fundo Monetário Internacional (FMI), pretensão considerada
quase impossível.
Com o instrumento de utilização de vários tipos de
bolsa, buscando oferecer apoio financeiro às camadas mais
pobres, sem exigir delas nenhum trabalho, tal fato tem se
constituído, na minha visão pessoal, educativamente muito
deletério, viciando o cidadão que incorre no risco de perder o
respeito ao trabalho.
Muito mais que o PT foi o presidente Lula, por seu carisma
e capacidade no jogo político, o principal responsável pela
eleição de Dilma Rousseff à presidência do Brasil, a primeira
mulher brasileira a ocupar este posto.
Ainda no governo Lula, as crises econômicas internacionais
tiveram pouca repercussão na economia nacional.
Contudo, atualmente, já se fazem sentir os efeitos das crises
internacionais. O crescimento do país não tem atingido os índices
anuais previstos pelo próprio governo.
A corrupção no Brasil vem crescendo na freqüência e
no montante, porém detectada, sem dúvida, em decorrência
de um melhorado diagnóstico graças, principalmente, à ação
destacada do Ministério Público e da Polícia Federal. O mais
frustrante é isto ocorrer no governo do PT que sempre ostentou
a bandeira da ética como seu principal instrumento de
persuasão. Vide o emblemático MENSALÃO que, em nada, é
inédito no Brasil, apenas ocultado.
Em junho de 2013, o povo mais uma vez, especialmente
a juventude, decepcionado e indignado com tantos e vultosos
escândalos da mais descarada e diversificada corrupção, foi
às ruas das principais cidades brasileiras (Clamor das Ruas).
Protesta veementemente contra o “status quo”, usando as redes
sociais como principal instrumento de comunicação. Rejeita
firmemente a participação de todos os partidos políticos, negando-
lhes credibilidade e respeito.
Estes, os partidos políticos e o Poder Executivo, surpresos
e, aparentemente, apavorados, à semelhança de grandes
pecadores, esboçam superficiais e desacreditadas promessas e
votos de mudanças moralizadoras no tabuleiro político.
O povo está incrédulo, desamparado, inseguro, sentindo-
se enganado e desenganado. Não acredita nos governantes
executivos, do prefeito ao presidente. Desaprova, visceralmente,
o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. Este, com as
leis atuais vigentes, além dos vícios que porta, se sente limitado
na função primordial de fazer justiça. Este sistema não está
bem. Basta ver: as cadeias abrigam apenas a classe pobre; os
ricos escapam quase todos.
Como fica? A DIREITA é sinistra e a ESQUERDA não é
direita.
Resta-nos revisar o binômio ELEITOR versus ELEITO.
Cada um de nós, eleitor, tem que exercer com decência,
vigor e rigor a cidadania que significa cumprir o dever e exigir
o direito. Colocar a culpa de tudo só no eleito – o político,
representante de nós cidadãos – é pouco, incompleto e até injusto.
Cabe-nos escolher com seriedade os candidatos e deles
exigir. Nós temos o principal tribunal sob nossa responsabilidade:
O PODER DO VOTO.
A sociedade, como um todo, tem que participar. É isto
que ocorre em países democraticamente mais sólidos.
Resta-nos o óbvio convencimento de que tudo para melhorar
o nosso país passa pela EDUCAÇÃO.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Cheiros Antigos.




O cheiro da chuva, o cheiro do engenho, o cheiro do bagaceiro, o cheiro do vento do canavial, o cheiro dos estábulos, o cheiro do gado, das vacas no curral, cheiro da levada correndo, o cheiro da casa-de-farinha, o cheiro (de leite) das cabras e ovelhas, o cheiro de carimã, o cheiro das pitangueiras, o cheiro das romãs, o cheiro das jacas ao amadurecer, o cheiro do passarinho novo, o cheiro dos jenipapos maduros á beira da levada, o cheiro dos jasmins e frutos maduros no quintal da Vovó, o cheiro da noite, o cheiro da paçoca feita no pilão, o cheiro da coalhada escorrida, o cheiro do beiju quando está torrando, o cheiro de café torrado, o cheiro de tapiocas assando, o cheiro das comidas de minha sogra, o cheiro de mãe... cheiro de tudo...   (No Sítio São João). 

Raimundo Magalhães Júnior - Um Operário da Inteligência

Cláudio César Magalhães Martins

Acredito que poucos saibam quem foi Raimundo
Magalhães Júnior, um cearense brilhante e que nasceu em um
município muito próximo à cidade de Ipu.
Explico-me: o personagem objeto deste artigo veio ao
mundo na cidade de Ubajara, em 12 de fevereiro de 1907.
Seu pai, o jornalista Raimundo Magalhães, foi autor do
VOCABULÁRIO POPULAR, obra publicada em 1911. Aos 17
anos, transferiu-se para a cidade de Campos (RJ), onde fez os
estudos de Humanidades e se iniciou no jornalismo. Em 1930,
mudou-se para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e, já
no ano de 1934, lançou o seu primeiro livro de contos sob o
sugestivo título “Impróprio para Menores.”
Espírito irrequieto, foi um dos fundadores do Diário
de Notícias, secretário da revista “A Noite Ilustrada” e diretor
das revistas “Carioca”, “Vamos Ler” e “Revista da Semana.”
Em 1930, como redator de “A Noite”, foi enviado ao Paraguai
para cobrir a Guerra do Chaco, que aquele país travava contra
a Bolívia..
Em 1933, casou-se com Lúcia Benedett i, escritora e autora
de peças para o público infantil. Em 1938, escreve a peça
Mentirosa, a qual foi premiada pela Academia Brasileira de
Letras. Entre 1939 e 1942, seis peças de sua autoria entram em
cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo. São elas: O Testa de
Ferro, Carlota Joaquina, Um Judeu, a Família Lero-Lero, Casamento
no Uruguai e Trio em Lá Menor.
Fugindo à perseguição política da ditadura de Getúlio
Vargas, seguiu para os Estados Unidos em 1942, onde permaneceu
até 1945, passando a trabalhar no escritório de Nelson
Rockefeller, que, à época, era Coordenador de Assuntos
Interamericanos. Neste período, foi colaborador do The New York
Times, Pan-American Magazine, American Mercury e Theatre Arts.
Ao retornar ao Brasil, participou da redação da revista Brazilian-
American, que então era publicada em inglês no Brasil.
Como tradutor do escritor americano Tenessee Williams,
verteu para o português as peças Anjo de Pedra, A Rosa Tatuada
e Gato em Teto de Zinco Quente. Poliglota que era, traduziu
para a nossa língua inúmeras obras teatrais do inglês, francês,
italiano e espanhol, obras essas que eram representadas
no Teatro Maria Della Costa e Teatro Brasileiro de Comédia.
Embora suas traduções fossem elogiadas pela crítica por sua
fi delidade aos textos originais, o mesmo não ocorreu com as
adaptações que realizou.
Na década de 1950, adaptou para o cinema, sob o título
João Gangorra, a peça Essa Mulher é Minha, que vinha sendo
protagonizada no teatro por Procópio Ferreira. Na mesma década,
escreveu O Imperador Galante, biografi a dramática de D.
Pedro I, encenada no teatro pela Companhia Dulcina-Odilon.
Neste período, logrou eleger-se vereador do Distrito
Federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), exercendo dois
mandatos: 1951-55 e 1955-59. Em 1953, publicou a biografia de
Arthur Azevedo, primeira de uma série de biografias, entre
as quais se destacam Martins Pena e Sua Época e As Mil e Uma
Vidas de Leopoldo Fróes. Publicou também contos, antologias
poéticas, dicionários de citações, provérbios e frases feitas.
Em 9 de agosto de 1956, foi eleito para a cadeira nº 34
da Academia Brasileira de Letras, anteriormente ocupada por
João Manuel Pereira da Silva, pelo Barão do Rio Branco, pelo
Gal. Lauro Müller e por D. Francisco de Aquino Correia. Foi
o 5º cearense a chegar à Academia. Antes dele, lá estiveram
Araripe Júnior, Clóvis Bevilácqua, Heráclito Graça e Gustavo
Barroso. Como acadêmico, exerceu por muitos anos a função
de redator-chefe da revista Manchete. Teve atuação destacada
como autor de radionovelas, que eram apresentadas na Rádio
Nacional. Criou o programa Acredite se Quiser, o qual apresentava,
entre outras histórias, casos de aparições de fantasmas.
Participou, nos anos 50, do processo de implantação da televisão
no Brasil, sendo um dos diretores da TV Tupi. Indagado
sobre como arranjava tempo para suas múltiplas atividades,
respondeu: “O dia dura 36 horas, quando sabemos esticá-lo
por ambas as extremidades. Uma consiste em dormir tarde.
Outra consiste em acordar cedo.”
No ano de 1964, lançou sua obra mais polêmica: Rui: o
Homem e o Mito, onde procura desconstruir o mito criado em torno
de Rui Barbosa, apontando contradições e impropriedades
em suas ações políticas e em suas obras. O livro provocou a ira
dos admiradores de Rui, como se vê no texto abaixo, de Américo
Jacobina Lacombe, então diretor da Casa de Rui Barbosa:
 “Das páginas daquele cartapácio, quem sai realmente
arrasado não é Rui Barbosa; é o título de biógrafo pretendido
pelo organizador. Se ele tivesse ao menos realizado uma compilação
de velhos inimigos de Rui Barbosa: Laet, Moniz Sodré,
Barcelos, Seabra, Bagdócimo, fazendo uma antologia contra o
biografado, teria reeditado muita calúnia destruída, mas teria
fornecido ao público algumas páginas de boa literatura.
Querendo dizer coisa nova, não conseguiu ultrapassar o mau
panfleto. Do ponto em que colocou o estudo não é possível
partir para fazer a revisão de qualquer figura histórica a que
fazem referência os noticiaristas apressados”.
Sobre a personalidade de Raimundo Magalhães Jr., assim
se expressou Murillo Melo Filho, seu colega na ABL e na
revista Manchete:
“Tinha um apetite de escritor e pesquisador, simplesmente
insaciável, que não conhecia limites. Aí também pudemos
admirá-lo como um brasileiro honesto e honrado em
suas posições políticas e convicções ideológicas, um fanático
na disciplina e na pontualidade de entregar, nos prazos certos,
os seus projetos literários, de livros, peças teatrais e traduções,
um exemplo de correção e de lisura em suas atitudes de intelectual
digno e capaz, um companheiro leal e correto, generoso
e atencioso, e que por algum tempo esteve entre aqueles
poucos boêmios com os quais qualquer colega gostaria de fazer
uma grande farra” .
O mesmo colega o descreve, sob o ponto de vista físico,
como sendo baixo e atarracado, com apenas 1,60 m de estatura,
 “algo vesgo e estrábico, características que não o aproximavam
muito de um elegante Apolo. Mas era, ao mesmo tempo,
um homem encantador, de prosa culta e erudita, ajudado por
uma memória prodigiosa.”
Em certa ocasião, Adolpho Bloch, proprietário da
Manchete, mandou desligar a refrigeração do seu ambiente
de trabalho. Em sinal de protesto, Magalhães tirou a camisa,
revelando o seu busto assaz feio e ameaçando tirar o resto da
roupa, o que fez Adolpho Bloch retroagir de sua determinação.
Sua morte foi trágica e inesperada. Em 12 de dezembro
de 1981, ao descer de um ônibus no sinal da Rua Silveira
Martins com a Praia do Flamengo, no Rio, e tentar cruzar o
asfalto para chegar ao seu local de trabalho, na redação da
Manchete, foi atropelado por um carro em alta velocidade,
vindo a falecer. Tinha, então, 74 anos de idade.
Eis um breve perfil do ubajarense Raimundo Magalhães
Júnior, personagem que honrou a cidade onde nasceu e o
próprio Estado do Ceará. Ubajara prestou-lhe justa homenagem,
ao inaugurar, em 23 de dezembro de 2008, uma Casa de
Cultura que leva o seu nome, a qual abrigará o Memorial de
seu filho ilustre.
Por sua inteligência, produtividade e amor ao trabalho,
Murillo Melo Filho o cognominou de “um operário da inteligência”,
título que dá nome ao presente artigo.
Nota do autor:
As informações contidas neste trabalho foram obtidas
através do GOOGLE, mediante consulta aos títulos “RAIMUNDO
MAGALHÃES JR” e “RUI, O HOMEM E O MITO.”