domingo, 31 de maio de 2015

Repensando Reflexões

João Martins de Souza Torres
O ser humano, em sua longa evolução, chegou, a duras penas, ao estágio de HOMO SAPIENS (SAPIENS, do latim, quer dizer: que sabe, sábio, prudente, sensato). É, então, dotado de inteligência, pensa e tem a capacidade de evoluir.
Abstraindo-se de concepções religiosas, por não ser o escopo desta exposição, ele, o ser humano, dispõe de vários recursos para expressar seus sentimentos, pensamentos e desejos. Um dos mais importantes é a fala, daí a criação da palavra, evoluindo para a escrita da mesma.
Palavra, em latim VERBUM (verbo), vem do grego PARABOLÉ: faculdade de se expressar por meio de sons articulados; fala.
Verbo (palavra) é um conceito tão forte que é usado na Bíblia para significar o Filho, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
Sabe-se que grande parte das palavras tem um ciclo de vida: nascem, modificam-se e podem desaparecer. Umas são longevas, como amor, felicidade, tristeza, dor, alegria. Outras, contudo, são fugazes ou adormecem no desuso. Algumas assumem modifica- ções em seu significado original. Por exemplo: Mundo, do latim MUNDUS (limpo, oriundo do verbo MUNDARE=limpar), há muito tempo quer dizer Universo. Atualmente, o mundo não está limpo, está imundo em virtude dos maus-tratos. Outra palavra 56 para Universo vem do grego KÓSMOS (cosmo), cuja tradução é limpo, adornado. Daí o termo cosmético.
Voltando ao título REPENSANDO REFLEXÕES, pensar, etimologicamente, signifi ca pesar, considerar, ponderar. ‘Repetido’, é repensar. Já ‘reflexões’ vem de refletir (do latim REFLECTERE), fazer retroceder, desviando da direção inicial, meditar.
Busquei rever assertivas, provérbios e dizeres, todos consagrados pelo austero tempo, e passo a refletir sobre alguns.
Inicio pelo termo ESTUDO (STUDIUM, em latim). Hoje, como nunca, se fala em todo o Brasil e para todo o país sobre a inquestionável importância e necessidade do estudo, da escolaridade e, mais abrangentemente, da educação. É uma bandeira tratada, prometida e garantida com muito ardor e pouco pudor por todos os candidatos a cargos eletivos.
A palavra ESTUDAR deriva do latim STUDERE que, primeirissimamente, quer dizer: aplicar-se, ter cuidado, pretender alguma coisa com empenho, esforçar-se e, só por último, tem o significado de estudar, aplicar-se às letras. Atualmente, só permanece este último conceito. Então, não nos esqueçamos, estudar significa esforçar-se, ter determinação e persistência, motivação, garra. Assim agindo, o resultado é muito promissor na grande maioria dos casos.
É muito edificante e comovente o antigo dizer: “CADA UM POR SI E DEUS POR TODOS”. Não sou contra, mas acharia bem mais apropriada uma decisiva modificação: “Cada um por todos e Deus por cada um”. Isto livra a primeira assertiva de um profundo individualismo. É bem mais recomendável e ético que cada um lute por todos. Em assim fazendo, pouparíamos a intervenção divina e atenderíamos a sábia observação bem antiga e consistente: “O que não é bom para o enxame não é bom para a abelha”. É provado pela História que o individualismo exagera- 57 do e desrespeitoso prejudica o coletivo, que acaba inviabilizando com o tempo a pretensão individualista. Passou o tempo da “Independência ou Morte”, hoje vale “Interdependência ou Morte”. Com a modernidade e o estonteante progresso tecnológico cada vez mais dependemos uns dos outros. Que o solitário ceda lugar ao solidário!
O que dizer do HOMO SAPIENS? Tem sido sábio, prudente o animal humano ter se autocognominado SAPIENS, o único ser inteligente da escala biológica? Ele reina como o maior predador da Mãe Natureza (Gaia). Produziu armamentos capazes de destruir o planeta Terra e a si mesmo acima de cinquenta vezes. Diz-se que, por ser o maior predador, Deus o castigou severamente dando-lhe um terrível predador: o próprio homem. Daí o dito da antiga Grécia: “O homem é lobo do homem”. Vide as guerras, os genocídios, a miséria e a fome dos desfavorecidos em consequência de perversas políticas econômicas. Este é o HOMO SAPIENS ou o HOMO BURRIENS?
Sabe-se que os dois maiores orçamentos do mundo atual são, em primeiro lugar, o bélico, e, em segundo lugar, o do narcotráfico, este oficioso. Ambos destrutivos em essência e desnecessários se o homem fosse, de fato, SAPIENS, ético. Sobrariam recursos financeiros para a humanidade, com justiça e respeito, refazer o paraíso perdido na Terra. O mundo seria limpo (Mundus) e ornado (Kósmos) numa verdadeira e ampla visão ecológica.
Jesus Cristo, solicitado por seus discípulos, lhes ensinou a mais bela, concisa e consistente oração: O PAI NOSSO. A refletir, merece consideração o seguinte trecho: “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Então, nós homens estamos pedindo a Deus que nos perdoe da maneira com que nós perdoamos nossos semelhantes. Isto é muito comprometedor, pois é reconhecida a nossa pouca capacidade 58 em perdoar. Atentemos para o nosso crescimento na prática do perdão! Lembremo-nos que perdoar vem diretamente do latim PERDONARE (donare - dar; per – demais, antes). Busquemos pelo amor a Deus e ao próximo a virtude do perdão que é uma atribuição divina, exigida na Nova Lei introduzida por Cristo: o amor ao próximo, mas também até aos inimigos.
Se a fala (palavra) pode ser poderosa, o que dizer do silêncio? Ousaria propor que o silêncio é uma fala muda, em princípio prudente. Apesar de recomendável, nem sempre o silêncio é bom. Pode significar omissão. Em ambas as situações não deve haver prejuízo da verdade. “Um tolo que não diz palavra não se distingue de um sábio que se cala” (Molière, 1622-1673).
A favor do silêncio vale a assertiva de Carlos Afonso Schmitt: “Quando a palavra superar o poder do silêncio, use-a. E só então”.
Por conveniência de espaço, concluo estas poucas reflexões citando um pequeno grande texto do poeta chileno Juan Guzmán Cruchaga. Trata-se da arte de sentir e do saber. Chamarei de “Hino a Jó”:
“Dou por ganho tudo o que perdi.
E por recebido tudo o que esperei.
E por sonhado tudo o que vivi.
E por vivido tudo o que sonhei”.

Paz e Bem!

Casinhas (ligue o som)

    Francisca Ferreira do Nascimento

Aí estão fincadas
No chão.
Casinha,
Grande, pequena,
Torta, reta.
Aí estão fincadas,
Enfileiradas,
Lado a lado
Nas margens das estradas.
Casinha,
Tão bela, tão livre,
Tão calma,
De taipa, de palha, de sapé,
Colorida, ou não
Aí estão fincadas no chão.
Na porta estão,
Seus donos,
Tão simples, tão felizes,
Sorrindo, só sorrindo,
E, ao sorrir, chega a esperança.
Casinha.....casinhas......casinha.
Aí estão fincadas no chão,
Lado a lado,
Soltas ou não.
Ipu dos Tabajaras.


Enfim visite Ipu, veja a cidade como um todo. As suas Praças Ajardinadas, as suas ruas cheias de histórias que o tempo não consegue apagar.  Os seus casarões seculares o seu pé de tamarindo desaparecido depois de quase 200 anos e com outro em seu lugar com 26 anos, plantado solenemente no dia 26 de agosto de 1989.
Ipu é impar nas suas histórias, ponto de referencia por muito tempo em toda região Norte do Estado como um grande celeiro cultural. Continua fazendo história, fazendo o desenvolvimento cultural de uma cidade que não somente cresce em território residencial, mas na vastidão dos conhecimentos. Avança a passos gigantescos, os teus filhos jamais deixarão de ti fazer um canto de gloria pela tua história e pelo povo que és pelas tuas belezas.
Cresce Ipu, na majestosa cordilheira onde os raios do sol se escondem mais cedo, e amanhece mais radiante para cantar contigo através dos gorjeios das aves a plenitude da felicidade sonhada.
Não estais adormecido, mas a cantiga que ti faz ninar não é aquela cantada por quem  não ti quer bem, quem não ti ama, é a canção  que embala uma cidade que cresce, que evolui nos caminhos da cultura e do aperfeiçoamento.
No teu rochedo azulado parece haver sido talhado a capricho, pois a concavidade do mesmo oferece a formação de uma chuva constante ininterrupta dia e noite banhando a vegetação verdejante que fica no sopé da serra.
E é nestas paragens do sertão que a morena virgem dos lábios de mel, Iracema, cujo corpo lindo e deslumbrado se banhava no orvalho da noite. Foi plaga da grande nação Tabajara, tribo guerreira que perlustrou vales e socalcos vadeando rios e regatos, pelejando contra os invasores brancos até ao raiar da paz que Martim Soares Moreno, o bravo fidalgo, ofertou em troca do grande amor que a lenda registra com fervor e devoção. Povo feliz o ipuense, ainda guarda e com enlevo o lindo episódio ocorrido na cabana de Araquém, pai de Iracema, quando viu sua filha quebrar a flecha da paz guerreira e beijar a testa do forasteiro que aprendera amar a mulher como símbolo vivo de ternura e afeto.
Deixamos aqui o registro de tua trajetória histórica para perpetuação da memória, para os leitores ipuenses ou a quem interessar tão encantadora vida de lutas e bravuras. Ipu de vida social cativante, de uma sociedade distinta e elegante, Pátria de Abílio Martins, Thomaz de Aquino Corrêa de Milton Pereira e Marcelo Carlos estes últimos homens públicos inatacáveis, o Prefeito Marcelo que conduz a cidade a passos firmes para transformar Ipu, numa das melhores do Estado do Ceará.
Ipu está numa zona de uma fertilidade assombrosa com 39.145 habitantes que lhe assegura um futuro promissor, dias de paz e de bonança, já que o seu povo labora a terra com fervor e o carinho dos antigos romanos.







sábado, 30 de maio de 2015

ABÍLIO MARTINS 

Extraído de:

TIGRE, Bastos; SOLDON, Renato.  Musa gaiata (Antologia da Poesia Cômica Brasileira). Edição completa.  Rio de Janeiro: Editorial Unidade Limitada, 1949.            130 p   [CONSERVANDO A ORTOGRAFIA ORIGINAL] 

 Abílio MARTINS foi, sem dúvida, uma das mais formosas inteligências do Ceará. Espírito vivaz e faceto, boêmio por índole, viveu sempre alegre e sem inimigos.

Justiniano de Serpa, em 1925, quando governava aquele Estado, numa época de grande agitação política, convidou Abíllo para a Secretaria de Polícia. Ocupando o cargo, no qual, por circunstâncias várias, os seus antecessores se vinham incompatibilizando com a opinião pública, dera-se com ABLLIO justamente o contrário: cresceu-lhe o número de afeições e o Ceará se transformou num verdadeiro seio de Abraão.

     Poeta de grande sensibilidade dedicava-se, principalmente, à poesia epigramática, em cuja faina não poupava mesmo os seus mais afeiçoados companheiros.

 

O juiz de direito João Damasceno Fontenele, em 1913, teve séria desinteligência com o então presidente Franco Rabelo, porque este o transferira da sua para outra comarca.

ABÍLIO que de tudo sabia, tripudiou:

_Foi em Viçosa que nasceu o João...
E, quando o João nasceu lá em Viçosa,
já foi com vocação.

pra vida preguiçosa

de Juiz substituto no sertão.

   Cara, pescoço e pernas, tudo fino ...
    E FINO, em tudo mais,

fui até bom morrer, assim menino,
diabo dêsse rapaz...

Franco o removeu,
e o João virou,

e o João teimou ,
e o João mexeu,
até que, enfim,

veiu os ossos deixar em Camocim...

o clero cearense, em 1923, desenvolveu - mas em pura perda - forte campanha contra as festas dançantes, condenando principalmente o tango, sob o fundamento de ser de importação dos cabarés argentinos e, como tal, abominável aos espíritos de formação cristã.

ABÍLIO que em tudo metia o bedelho, saiu-se pela prensa, com êste descante:

_Chega ao céu uma defunta,
loura, franzina, catita...

São Pedro, grave, profundo,
vendo a defunta bonita,

coça a barba, se concentra,
se concentra e lhe pergunta:

_Dançaste tango no mundo?

_Dancei, São Pedro...
_ Pois entra...

 

A população da capital cearense, em 1920, foi surpreendida pela aparição sensacional de um galo com chifres.

 

Os jornais se ocuparam do fenômeno e o poeta lá esteve para, de visu, observá-lo. Instantes depois, registrava as suas impressões:

_ Eis um fato banal,

que nem merece a pena comentá-lo,
pois me parece muito natural

o que acontece ao galo...

Penso que o galo, como o cidadão,
tendo o seu lar...
 no fundo do quintal,
e, entre a família, nome e projeção,
está sujeito

ao mesmo preconceito,
de ordem social,

que rege e orienta a vida conjugal.

 

Vê-se, portanto, positivamente,
que a Natureza tinha,

de cédo ou tarde, assinalar o mal...
Pois se a mulher do galo, infelizmente,
foi sempre uma galinha,

a cabeça do boi era fatal...

Muito cuidado, camaradas, tomem:

se a Natureza fez assim com o galo,
pôde fazê-lo muito bem com o homem...

   Cumprimentando, por seu aniversário, ao virtuoso Monsenhor João Alfredo FURTADO, Cura da igreja da Sé, em Fortaleza ABÍLIO mandou-lhe estes versos:

 

__ Parabéns pelos anos que ontem fez
e pelos outros que há de festejar!
Mando-lhe este soneto que, talvez,
nem mesmo valha a pena conservar.

Logo que o leia, rasgue-o duma vez,
não caia na tolice de mostrá-lo.

ao Climério _ doutor em Português _
que muitos erros nele há de encontrar.

Mas isso nada vale... O que tortura
o meu já pobre cérebro cansado,

é ninguém dar-me explicação segura

sobre este paradoxo danado:

Você nunca foi médico, mas CURA...

E sempre honesto foi, mas tem FURTADO...

Extraído de:

TIGRE, Bastos; SOLDON, Renato.  Musa gaiata (Antologia da Poesia Cômica
          Brasileira). Edição completa.  Rio de Janeiro: Editorial Unidade Limitada, 1949. 
          130 p

 


 

A Natureza do Mal

Cláudio César Magalhães Martins

            O mistério do mal é algo que acompanha todo ser humano desde seus primórdios. Segundo a concepção cristã, o mal entrou no mundo devido à inveja do diabo (Gn 3, 1-5) e ao pecado de nossos primeiros pais (Gn 2, 17; 3, 17-19). O primeiro assassinato de que se tem notícia foi o de Abel, perpetrado pelo seu irmão Caim. Movido pela ira e pelo ciúme, em virtude de seu sacrifício haver sido rejeitado por Deus, quando o de Abel foi aceito, Caim convidou o irmão para ir ao campo e lá o matou.
            A punição do Senhor foi severa: “De hoje em diante, serás maldito sobre a terra que abriu a sua boca para beber da tua mão o sangue de teu irmão. Quando a cultivares, negar-te-á as suas riquezas. Serás errante e fugitivo sobre a terra (ver Gn 4, 11-12).
            Ao longo da História, mesmo após a vinda de Jesus Cristo com sua mensagem de amor e perdão, o mal parece ter tomado proporções gigantescas.
            Só para citar episódios mais recentes, gostaria de lembrar o extermínio de 6 milhões de judeus pelo regime nazista da Alemanha, o genocídio promovido por Stalin contra os camponeses russos e, no momento atual, a cruenta guerra civil na Síria, onde milhares de pessoas inocentes estão sendo sacrificadas tanto pelo governo ditatorial de Bashar Al-Assad como pelas facções rebeldes que tentam derrubá-lo.
            No Brasil, observamos a violência crescente nos grandes centros urbanos, onde aumentam, a cada dia, os assaltos, os sequestros, os assassinatos de encomenda e o desrespeito generalizado às pessoas, notadamente aos idosos.
No âmbito da política, tem-se notícia da corrupção generalizada que campeia entre governantes e parlamentares, os quais desviam recursos em proveito próprio, em detrimento de milhões de pessoas carentes que amargam, além de seus problemas financeiros, a falta de assistência à saúde e à educação. Acrescente-se a insegurança, que hoje atinge níveis insuportáveis não apenas nas capitais, mas também em pequenas cidades do interior do país.
A tradição teológica e metafísica classifica o mal em 3 segmentos:
1.      Malum physicum – o sofrimento, a dor e a tristeza;
2.      Malum morale – o pecado e a imoralidade; e
3.      Malum metaphysicum – a finitude humana, tanto no que diz respeito à   moralidade quanto no que tange à ignorância, também chamada de mal epistemológico.                  
Para o filósofo Platão, o mal não existe. Como o mal, por definição, é a não existência do bem, trata-se de algo ontologicamente inexistente, pois não se pode admitir a negação de alguma coisa como se ela existisse de fato.
Já o Maniqueísmo, doutrina criada por Mani, da Pérsia, no século II de nossa era, pregava o dualismo entre o bem e o mal, duas forças antagônicas em constante conflito, cabendo a cada homem vencer a força das trevas (o mal), optando pela força do bem.
Santo Agostinho, no século IV, após sua conversão ao Cristianismo, posto que anteriormente havia aderido ao Maniqueísmo, defendia a tese, ainda hoje aceita pela Igreja Católica, de que o mal no mundo resulta da liberdade humana.
O homem, criado por Deus em estado puro e sem pecado, mas com livre arbítrio, pecou por sua livre escolha, caindo na tentação da serpente (o demônio), conforme nos conta a Bíblia (Gn 3, 1-7).
Como castigo, ficou sujeito ao mal moral, ao mal físico e ao mal metafísico.
Em sua Encíclica Dominum et Vivificantem, o Papa João Paulo II faz alusão ao pecado contra o Espírito Santo, referido pelos 3 evangelistas sinóticos (Mt 12, 31-33,       Mc 3, 28-29 e Lc 12, 10), que Jesus afirma não ter perdão. Tal pecado consiste em o homem reivindicar seu pretenso “direito” de perseverar no mal, rejeitando a salvação que Deus lhe oferece mediante o Espírito Santo, que age em virtude do sacrifício da cruz.
É o caso do homicida impenitente, do caluniador consciente do mal que está fazendo sem dele se arrepender, ou do ladrão do dinheiro público, que tem consciência dos malefícios decorrentes de suas atitudes, mas que, apesar disso, persevera em seus atos perniciosos.         
Em síntese, o mal é algo que acompanha o homem desde sua criação. Não obstante todos nós sermos tentados a praticá-lo, cabe-nos resistir a seus múltiplos apelos. Somente assim estaremos contribuindo para um mundo melhor, repleto de paz e fraternidade.

E o Vento Não Levou (Ao cinquentenário de Ipuarana)

José Júlio Martins Torres

Ipuarana querida,
Pedaço da minha vida,
Teus alunos onde estão?
Um vento forte os levou,
Pelo mundo os espalhou,
Muitos não sei como vão.
Querida Ipuarana,
Foste então mãe cigana,
Filhos no mundo espalhaste?
Eu fui muito mais que isto,
Dei-lhes o amor de Cristo
Que espalham por toda parte
No Brasil e exterior
Já mostraram seu valor,
Em tudo se destacaram.
No meu jubileu de ouro
Ganhei um belo tesouro:
Muitos aqui retornaram.
Eu nem sei quantos vieram,
Mas sei que todos trouxeram
Muito amor no coração.
Felizes se abraçaram...
E muitos até choraram,
De tão grande a emoção.
Brincaram como crianças,
Desenterraram lembranças
Dos dias da mocidade.
Mocidade franciscana,
Vivida em Ipuarana,
Que em todos deixou saudade.
Saudade: das brincadeiras,
Dos pés de jambo e palmeiras,
Do majestoso Tambor;
Também dos ensinamentos
Ministrados com talento,
Dedicação e amor.
Vi que aprenderam a lição.
Em toda parte que estão,
Sei que ali também estou.
Vi que a parte franciscana,
Herdada de Ipuarana,
Esta o vento não levou...
José Júlio Martins Tôrres (1990)
(Tôrres: Ipuarana: 1964 a 1967)


"Fides omnium christianorum in Trinitate consistit” – “A fé de todos os cristãos consiste na Trindade.” (São Cesário de Arles).
Após a celebração de Pentecostes entramos na segunda parte do Tempo Comum em nossa liturgia e neste inicio celebramos a festa da Santíssima Trindade e logo após na Quinta Feira celebramos a festa da Corpus Christi. Este Tempo Comum é acompanhado de muitas festas dentro do santoral litúrgico onde celebramos muitos santos de nossa Igreja acompanhada dos meses dedicados e várias ações pastorais.
Mas, em nossa celebração, estamos refletindo sobre a Santíssima Trindade. Um dos Dogmas mais fundamentais de nossa Fé. O Pai em sua “Economia da Salvação” (Processo de Salvação) foi nos revelando paulatinamente às verdades que Ele queria que conhecêssemos. Assim escolheu e formou um povo tendo como Patriarca a pessoa de Abraão e a partir dele foi se revelando, dirigindo e atendendo em suas necessidades. O povo escolhido recebeu o inicio da revelação que se culminou em Jesus, Ele é a revelação do Pai e nos trouxe o conhecimento de tudo àquilo que o Pai nos queria presentear. Este povo que peregrinou pelo deserto, não só o deserto de areia, mas muito mais pelo deserto do processo da revelação onde recebia os ensinamentos de Deus de forma mitigada, pois Deus respeitava o processo de caminhada deste povo e com isso a revelação de um Deus Trino foi ocultada aos seus olhos. Conheceram o Deus todo Poderoso criador dos Céus e da Terra e neste conhecimento puderam experimentar o amor misericordioso e entre tantos intempéries e com muitos fracassos conseguiram caminhar sob a graça de um Deus que não falha.
Mas, a plenitude da revelação, se dá com Jesus que se revela como Deus, como o Pai, na mesma substância, natureza e essência. “Jesus revelou que Deus é "Pai" num sentido inaudito: não o é somente enquanto Criador, mas é eternamente Pai em relação a seu Filho único, que só é eternamente Filho em relação a seu Pai: "Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece O Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11,27). (CEC 240).“E também nos dá o conhecimento da Pessoa do Espírito Santo sendo da mesma Natureza. Antes de sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de ‘outro Paráclito’ (Defensor), o Espírito Santo. Em ação desde a criação, depois de ter outrora ‘falado pelos profetas ele está agora junto dos discípulos e neles, a fim de ensiná-los e conduzi-los a verdade inteira’ (Jo 16,13).O Espírito Santo é assim revelado como outra pessoa divina em relação a Jesus e ao Pai”. (CEC 243). Assim Jesus nos dá o conhecimento da Família Trinitária.
Deus não está só, por que o amor se dissipa, expande. O amor quer amar, o amor existe para amar e Deus se nos apresenta as três pessoas para vermos que quem ama quer amar outro ser de igual valor. Assim Deus Pai ama infinitamente o Filho, o Filho ama infinitamente o Pai e o Pai e o Filho ama infinitamente o Espírito Santo que os ama infinitamente. A Trindade é amor infinito compartilhado. Assim nasce o Dogma da Santíssima Trindade, não como uma imposição da Igreja ou de forma arbitrária, mas como fruto da Revelação dada por Jesus.
Assim é formado o dogma: A Trindade é Una. Não professamos três deuses, mas só Deus em três pessoas: "a Trindade consubstancial". As pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada uma delas é Deus por inteiro: "O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, O Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza". "Cada uma das três pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina". As pessoas divinas são realmente distintas entre si. "Deus é único, mas não solitário". "Pai", "Filho", "Espírito Santo” não são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois são realmente distintos entre si: "Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho". São distintos entre si por suas relações de origem: "E o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede". (CEC 253 - 254).
Certamente é um Mistério, mas mistério revelado como mistério, por que foi Jesus que nos revelou a Trindade e sabemos que é mistério. Temos que perceber que é algo ininteligível, mas não é absurdo. Percebemos o Mistério, tocamos no Mistério, sentimos, nos relacionamos com Eles – Pai, Filho e Espírito Santo – e diante desta grande muralha intransponível só temos uma coisa a fazer – ADORAR. Sim temos que Adorar em Espírito e Verdade. Para nós, deve ser um aprendizado, que a cada dia, em nossa oração pessoal, devemos fazer a experiência com cada pessoa da Trindade. Devemos orar ao Pai, adorar o Filho, Adorar o Espírito Santo e buscar uma intimidade com cada um. Não podemos esquecer que são PESSOAS e que nos chamaram a uma relação pessoal. A iniciativa foi deles e nós não podemos perder esta oportunidade de sermos amigos de Deus.
Adoremos a Trindade e seremos atraídos, por seu Amor, a viver em Seu Reino.
Antonio ComDeus

Solenidade da Santíssima Trindade
9ª Semana Tempo Comum
1ª Leitura – Dt 4,32-34.39-40
O Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e não há outro além dele.
Salmo - Sl 32,4-5.6.9.18-19.20.22 (R.12b)
R. Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança.
2ª Leitura - Rm 8,14-17
Recebestes um espírito de filhos, no qual todos nós clamamos: Abá - ó Pai!
Evangelho - Mt 28,16-20
Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra

sexta-feira, 29 de maio de 2015

A Oração de São Francisco (ligue o som)

Cláudio César Magalhães Martins
             A belíssima oração de São Francisco, uma das mais famosas e expressivas do mundo, na verdade não foi composta pelo santo de Assis.
            Pesquisadores atribuem sua autoria ao sacerdote e jornalista francês Esiher Suquerel, que a publicou na revista "La Clochette", em dezembro de 1912.
            Em 1913, Louis Boissey a publicou nos "Annales de Notre Dame de Paix". No mesmo ano, outro jornalista, Estanislau de la Rochethoulon Grente, a divulgou em sua revista, de nome "Le Souvenir Normand."
            Em 20 de janeiro de 1916, a citada oração foi publicada pelo jornal "L'Osservatore Romano", órgão oficioso do Vaticano, que a elogiou por sua comovente simplicidade.
            No mesmo ano, o frade capuchinho francês Etienne de Paris a fez imprimir no verso de um folheto em que aparecia a imagem de São Francisco, ressaltando, no rodapé, que aquela oração, retirada  do "Le Souvenir Normand", constituía uma síntese perfeita do ideal franciscano.
            A partir de 1925, a referida oração passou a ser difundida pelo mundo afora, a partir dos Estados Unidos e do Canadá. Somente em 1947 a mídia francesa passou a atribuí-la a São Francisco de Assis.
                Esta prece se tornou quase a oração oficial dos escoteiros e das famílias franciscanas; os anglicanos a consideram como a oração ecumênica por excelência; algumas igrejas e congregações protestantes a adotaram inclusive como texto litúrgico; ela foi pronunciada em uma das sessões da ONU; e, ultimamente, está tendo uma grande acolhida entre as religiões não-cristãs, sobretudo desde que Assis se tornou o centro mundial do ecumenismo e do diálogo inter-religioso.
            Tinha razão, de qualquer maneira, o Pe. Etienne de Paris quando encontrava nesta oração anônima certa concordância com o espírito e o estilo franciscanos. Para comprovar isso, é suficiente ler, por exemplo, a Admoestação 27 de São Francisco, escrita como uma estrofe:

            "Aonde há caridade e sabedoria, não há medo nem ignorância.
            Onde há paciência e humildade, não há ira nem perturbação.
            Onde à pobreza se une a alegria, não há cobiça nem avareza.
            Onde há paz e meditação, não há nervosismo nem dissipação.
            Onde o temor de Deus está guardando a casa (cf. Lc 11,21),
o inimigo não encontra porta para entrar."
Como vemos, mesmo não sendo da autoria de São Francisco, este, com certeza, não relutaria em assiná-la, dada a sua compatibilidade com seus princípios e seu exemplo de vida.
Abaixo, transcrevemos a referida oração, cuja profundidade e fidelidade aos princípios evangélicos são por demais evidentes:
Senhor: Fazei -me um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!
Ó Mestre,
fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna!
Amém.
                                               Fortaleza, 27 de fevereiro de 2015.