domingo, 3 de maio de 2015

PACIFISTA- Dom. Helder Câmara.
Igreja Católica inicia processo de canonização de Dom Hélder Câmara
O arcebispo de Olinda e Recife (PE), dom Antônio Fernando Saburido, vai dirigir domingo (3), a partir das 9h, na Igreja da Sé, em Olinda, celebração para marcar a abertura do processo de canonização de Dom Helder Câmara (1909-1999), que esteve à frente daquela Arquidiocese e foi um dos responsáveis pela criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Por sua bondade, senso de justiça, humildade e defesa da não violência ativa, foi indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Não ganhou, mas o pacifista Dom Helder, natural de Fortaleza, foi considerado, por muitos, muito mais: “um santo em vida”, como afirmou à ABN o pesquisador e colecionador de discos, filmes e fotos Christiano Câmara, sobrinho do religioso.
Christiano recorda do então “Padre Hélder” - como a família se habituou a chamar o Dom  - visitando sua casa e pedindo conselhos ao tio Gilberto Câmara, por volta de 1936. “Eu era pequeno, mas lembro. Ele sempre foi contra as injustiças. Perguntava a meu pai como devia se portar”, conta. E que conselho recebia? “Para moderar um pouco”, revela. Se para muitos a miséria causa violência, Christiano comenta que, para Dom Helder, “a miséria já é a própria violência”.

Caridoso e desapegado de bens materiais, o Dom, segundo Christiano, muitas vezes deixava as freirinhas do convento, onde ele morava em Recife, preocupadas. “Na hora do almoço, elas ficavam vigiando a porta porque se aparecesse algum pobre pedindo esmola, ele dava o prato que estava comendo”.

O espírito solidário e justo sempre moveu o religioso. No tempo em que viveu no Rio de Janeiro, sendo bispo auxiliar, esteve à frente de inúmeras iniciativas em favor dos pobres. Atos simples como distribuição de sopa e outros maiores como a criação do Banco da Providência, para ajudar os desvalidos e a Cruzada São Sebastião para dar casa a moradores de favelas. 

Quando foi Arcebispo de Olinda e Recife (1964-1985), Dom Helder quebrou protocolos. “Pobre tinha hora para ser atendido, mas ele dizia que a fome não tem hora”, relembra o sobrinho. Tanta abertura pôs a vida dele em risco, certa vez. “Atendeu um homem que tinha ido lá para matá-lo, mas diante dele caiu ajoelhado. A bondade de Dom Helder o desarmou”, relata Christiano.

Nos tempos difíceis da Ditadura Militar, quando o Dom se tornou um nome de referência mundial na defesa dos direitos humanos e contra o arbítrio, Christiano lembra o quanto o religioso sofreu com as perseguições. Se vinham dos militares vinham também da ala conservadora da Igreja Católica, que não via com bons olhos a atuação progressista do Dom. “Mas mesmo na Ditadura, uns generais tinham admiração pelo ‘Padre Helder’”, garante Christiano.

E como o sobrinho pesquisador se sente ao saber que o tio religioso é um possível Santo da Igreja Católica? “Me sinto todo aperreado. Agora não vou poder fazer mais nada, nenhuma sem-vergonhice, nem olhar passar um ‘avião’”, responde Christiano, brincando, ele que é casado há 58 anos com a Dona Douvina. 

DO PADRE PARA O DOM

Em Fortaleza, o Padre Geovane Saraiva, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e  Pároco de Santo Afonso, na Parquelândia, é grande conhecedor da vida e obra de Dom Helder. Em resposta a perguntas feitas pela ABN, ele enviou um belo artigo: "Apesar de não ter convivido com Dom Hélder, ao ingressar no seminário em 1974, comecei a admirá-lo. Tive a sorte de ficar com ele em três ocasiões. Sua vida foi um verdadeiro hino de louvor a Deus. Em 1948 como padre novo no Rio de Janeiro se expressou de modo muito profundo e em tom poético: 'Se eu pudesse sairia povoando de sono e de sonhos as noites mal dormidas dos desesperados'.

Clique e leia o artigo enviado pelo Padre Geovane: Processo de beatificação de Dom Helder Câmara

Na foto: Pe. Geovane Saraiva com Dom Helder, na Catedral de Brasília, em julho de 1980, aguardando o Papa João Paulo II.

ENTENDA O PROCESSO DE CANONIZAÇÃO

Foi no último dia 6 de abril que a Arquidiocese de Olinda e Recife recebeu do Vaticano a carta declarando  que  “nada obsta, da parte da Santa Sé, a que a Causa de Beatificação e Canonização do Servo Deus dom Helder Pessoa Câmara possa ser realizada”. Dois dias depois, a Arquidiocese lançou o edital convocando todos os fieis e interessados em fornecer quaisquer documentos pertencentes ou referentes a Dom Helder que sejam úteis ao processo.

Neste domingo, começa, então, a etapa diocesana do processo. Dom Saburido irá apresentar a comissão responsável por estudar os textos publicados em vida e analisar os testemunhos de pessoas que conheceram o Dom. O processo passará por outras comissões, como a teológica e a jurídica até o papa conceder ao religioso o título de venerável servo de Deus. Depois disso, o próximo passo é a beatificação e, posteriormente, caso se comprove um milagre dele, é que se dá a canonização.
Fonte: Agência da Boa Notícia, com informações da Arquidiocese de Olinda e Recife 




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