sábado, 30 de maio de 2015
ABÍLIO MARTINS
Extraído de:
Poeta de grande
sensibilidade dedicava-se, principalmente, à poesia epigramática, em
cuja faina não poupava mesmo os seus mais afeiçoados companheiros.
O juiz de direito João Damasceno Fontenele, em
1913, teve séria desinteligência com o então presidente Franco Rabelo, porque este
o transferira da sua para outra comarca.
ABÍLIO que de tudo sabia, tripudiou:
_Foi em Viçosa que nasceu o João...
pra vida preguiçosa
Cara, pescoço e pernas, tudo fino
...
fui até bom morrer, assim menino,
O Franco o removeu,
e o João teimou ,
veiu os ossos deixar em Camocim...
o clero cearense, em 1923, desenvolveu - mas em
pura perda - forte campanha contra as festas dançantes, condenando
principalmente o tango, sob o fundamento de ser de importação dos cabarés
argentinos e, como tal, abominável aos espíritos de formação cristã.
ABÍLIO que em tudo metia o bedelho, saiu-se pela
prensa, com êste descante:
_Chega ao céu uma defunta,
São Pedro, grave, profundo,
coça a barba, se concentra,
_Dançaste tango no mundo?
_Dancei, São Pedro...
A população da capital cearense, em 1920, foi surpreendida
pela aparição sensacional de um galo com chifres.
Os jornais se ocuparam do fenômeno e o poeta lá
esteve para, de visu, observá-lo. Instantes depois, registrava as suas
impressões:
_ Eis um fato banal,
que nem merece a pena comentá-lo,
o que acontece ao galo...
Penso que o galo, como o cidadão,
ao mesmo preconceito,
que rege e orienta a vida conjugal.
Vê-se, portanto, positivamente,
de cédo ou tarde, assinalar o mal...
a cabeça do boi era fatal...
Muito cuidado, camaradas, tomem:
se a Natureza fez assim com o galo,
Cumprimentando, por seu aniversário,
ao virtuoso Monsenhor João Alfredo FURTADO, Cura da igreja da Sé, em
Fortaleza ABÍLIO mandou-lhe estes versos:
__ Parabéns pelos anos que ontem fez
Logo que o leia, rasgue-o duma vez,
ao Climério _ doutor
em Português _
Mas isso nada vale... O que
tortura
é ninguém dar-me explicação segura
sobre este paradoxo danado:
Você nunca foi médico, mas CURA...
E sempre honesto foi, mas tem FURTADO...
Extraído de:
TIGRE, Bastos; SOLDON,
Renato. Musa gaiata (Antologia da Poesia Cômica
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