quinta-feira, 31 de março de 2016

Além,
Muito além
daquela serra que ainda azula
no horizonte, nasceu
Iracema.

Iracema,
a virgem
dos lábios de mel, que tinha os cabelos
mais negros
que a asa da graúna
e mais longos
que seu talhe de palmeira.

O favo do jati não era
doce como seu sorriso;
nem a baunilha recendia
no bosque como seu hálito
perfumado.

Mais rápida que a ema
selvagem, a morena virgem
corria o sertão e as matas
do Ipu, onde
campeava sua guerreira tribo,
da grande nação tabajara.
O pé, grácil e nu,
mal roçando,
alisava
apenas a verde pelúcia
que vestia terra com as primeiras águas.

Um dia, ao pino o sol,
ela repousava em um claro
da floresta.
Banhava-lhe
o corpo a sombra da oiticica,
mais fresca do que o orvalho da noite.

Os ramos da acácia silvestre
esparziam flores sobre
os úmidos cabelos.

Escondidos na folhagem
os pássaros
ameigavam o canto.

Iracema saiu do banho; o aljôfar
d'água ainda a rorejava,
como à doce mangaba que corou
em manhã de chuva.

Enquanto repousa, empluma
das penas do gará as flechas
de seu arco e concerta
com o sabiá
da mata
pousado no galho próximo,
o canto agreste.

A graciosa ará, sua companheira
e amiga, brinca
junto dela.

Às vezes sobe aos ramos
da árvore e de lá chama
a virgem
pelo nome;
outras, remexe o uru
de palha matizada,
onde traz a selvagem seus perfumes;
os alvos fios de crauás,
as agulhas de juçara com que tece
a renda,
e as tintas
de que matiza o algodão.

Rumor suspeito
quebra
a doce harmonia
da sesta.

Ergue a virgem os olhos,
que o sol não deslumbra;
sua vista perturba-se.

Diante dela
e todo
a contemplá-la,
está
um guerreiro estranho,
se é guerreiro e não
algum mau espírito
da floresta.

Tem nas faces o branco
das areias que bordam o mar,
nos olhos
o azul triste das águas
profundas.
Ignotas armas
e ignotos tecidos cobrem-lhe
o corpo.

Foi rápido, como o olhar,
o gesto
de Iracema.
A flecha
embebida no arco
partiu.
Gostas de sangue borbulham
na face
do desconhecido.

De primeiro ímpeto,
a mão lesta caiu
sobre
a cruz da espada.

O moço guerreiro aprendeu
na religião de sua mãe, onde
a mulher
é símbolo
de ternura e amor.
Sofreu mais
d'alma do que da ferida.

O sentimento que ele pôs
nos olhos e no rosto
não o sei eu.

Porém a virgem lançou
de si o arco e uiraçaba, e correu
para o guerreiro, sentida
da mágoa que causara.

A mão que rápida ferira,
estancou mais rápida
e compassiva
o sangue que gotejava.

Depois Iracema quebrou a flecha homicida;
deu a haste ao desconhecido,
guardando consigo
a ponta farpada.

O guerreiro falou:

— Quebras comigo a flecha da paz

— Quem te ensinou, guerreiro branco,
a linguagem
de meus irmãos?

Donde a estas matas,
que nunca viram
outro guerreiro como tu?

— Venho de bem longe,
filha das florestas.
Venho das terras
que teus irmãos já possuíram,
e hoje têm os meus.

— Bem vindo seja o estrangeiro
aos campos dos tabajaras,
senhores das aldeias, e à cabana
de Araquém, 
pai de  IRACEMA


O que é Balzaquiana:
Balzaquiana é um adjetivo que qualifica a mulher de trinta anos de idade. A expressão “mulher balzaquiana” teve origem após a publicação do romance “A Mulher de Trinta Anos”, do escritor francês Honoré de Balzac.
A expressão “mulher balzaquiana” passou a fazer referência ao universo feminino da mulher de trinta anos de idade.
O termo balzaquiano entrou para o dicionário da língua portuguesa e identifica tudo que é relativo ou pertencente ao escritor Honoré de Balzac, é um substantivo que nomeia aquele que admira ou é profundo conhecedor da obra de Balzac.
Origem da expressão “balzaquiana”
A expressão “balzaquiana” passou a fazer referência à mulher de trinta anos, após a publicação do romance “A Mulher de Trinta Anos” do escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850). Na obra, o autor sintetiza todas as angústias, sonhos e desejos da alma feminina.
O livro foi publicado na primeira metade do século XIX, época em que a França era governada por Napoleão Bonaparte. Balzac foi o primeiro escritor a descrever o drama da mulher mal casada, consciente da razão de seus sofrimentos e revoltada contra a instituição do casamento.  Foi o primeiro a retratar um romance onde a personagem feminina era uma mulher de trinta anos, idade considerada já madura para a época.
O tema central do romance é a vida de Julia d’Aiglemont, que casa com Vitor, oficial do exército de Napoleão, que após anos de infelicidade, ao completar trinta anos encontra o amor verdadeiro, nos braços de Carlos Vandenesse.
A obra foi motivo de escândalo em razão das convenções sociais da época, mas ao mesmo tempo, conseguiu conquistar a comoção do leitor. No texto que deu origem à expressão “balzaquiana”, o autor valoriza a beleza, a experiência, os pensamentos, desejos e angústias de uma mulher que reivindicava o direito de ser feliz e discutia as mazelas de um casamento fracassado e por fim encontra o amor nos braços de outro homem.
O significado de Balzaquiana está na categoria: Geral


O que é Cair nos Braços de Morfeu:
Cair nos braços de Morfeu é uma expressão popular que pode ser interpretada como o desejo por adormecer num sono profundo.
Esta expressão se originou a partir da figura mitológica do deus grego Morfeu, conhecido por ser a personificação dos sonhos.
Na realidade, o deus do sono é o pai de Morfeu – Hipnos – porém, após milênios e diversas interpretações diferentes, convencionou-se relacionar o deus dos sonhos com o ato de adormecer profundamente.
Uma particularidade de Morfeu é o seu dom de assumir diferentes formas humanas e as suas enormes asas, capazes de fazê-lo se locomover por todo o mundo com rapidez e silenciosamente.
Aliás, etimologicamente o nome Morfeu se originou a partir do gregomorphe, que pode ser traduzido como “moldador” ou “o construtor de formas”.
Os gregos acreditavam que uma pessoa somente teria uma boa noite de sono quando conseguia sonhar, ou seja, quando estavam na companhia de Morfeu.
A famosa expressão “cair nos braços de Morfeu” foi utilizada por vários autores e poetas ao longo dos séculos.
A morfina, um poderoso analgésico utilizado para aliviar intensas dores, recebeu este nome em homenagem ao deus Morfeu e, consequentemente, por referência à este famosa expressão popular.
Saiba mais sobre o significado de Morfeu.
O significado de Cair nos Braços de Morfeu está na categoria: Expressões Populares
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terça-feira, 29 de março de 2016

MARIA RITA
        Carol Cíntia
        Já era muito quando uma trovoada sacudiu o TALHADO da Ibiapaba. Ouviu-se um grande ruído como se uma tromba d'água tivesse tocado a ponta da serra. O medo tomou conta da pequena cidade e todos se recolheram, pois a tempestade já se anunciava. Maria Rita aconchegou-se a João Paulo que dormia ao seu lado na choupana bem perto do riacho. A chuva já se aproximava e o vento assobiava na copa dos coqueiros. O casal saiu correndo aproveitando o clarão dos relâmpagos para abrir passagem por entre o canavial. Perto da cerca que separava os dois sítios eles se despediram em silêncio. João Paulo pulou a janela da cozinha e encontrou Amelinha trêmula de medo ao lado dos seis filhos. Vestia um roupão de mangas compridas e rezava baixinho. João Paulo olhou para aquela figura angelical e mais uma vez constatou que ela era santa demais para o seu gosto de homem viril e selvagem.
        Depois de lavar os pés deitou-se na sua rede branca de varandas e começou a pensar no vazio de sua vida e na monotonia das suas noites ao lado de Amelinha, criatura tão boa, tão educada  mas desprovida de atrativos para sua sede de amor. Pensou em Maria Rita, tão tentadora e tão irreverente. Lá fora a chuva caía forte e torrencial. Mais tarde a “Bica do Ipu” gemia alto como um monstro vomitando troncos de madeira, galhos de árvores, animais sem vida, pedras enormes e tudo mais que tentasse impedir o curso do rio. João Paulo começou a lembrar de outras épocas quando Maria Rita era quase uma menina: bonita, morena, brejeira, olhos rasgados. Passeava a sua beleza pelas estradas floridas do Ipu, afrontando a pequenina cidade com os seus galopes atrevidos. Quantas vezes o provincianismo fazia as beatas torcerem o rosto com desdém. Maria Rita sorria do alto de sua superioridade.
        Um dia porém tiveram o seu primeiro encontro debaixo do Juazeiro. Maria Rita mostrou todo o seu poder de sedução. João Paulo apaixonou-se perdidamente pela morena de seus sonhos. A família do rapaz caiu em desespero pois não podia aceitar uma ligação com uma jovem tão avançada e de atitudes tão diferentes dos padrões impostos pela sociedade da época. João Paulo e Maria Rita viveram um amor intenso, desafiando o céu e a terra. A família apressou-se em mandar o rapaz para concluir os seus estudos em Fortaleza. Houve abraços, beijos e muitas lágrimas na despedida. Neste tempo as cidades do interior eram muito visitadas por caixeiros viajantes, representantes de várias firmas do sul do país. Maria Rita, cansada de esperar, depressa foi consolada por outros amores que surgiram em sua vida. Tempos depois João Paulo desembarca na cidade com uma bonita farda verde-oliva e foi logo recebendo informações sobre as peripécias de Maria Rita. A família arquitetou um plano, tinha que arranjar uma noiva para o rapaz.
        A eleita foi Amelinha, linda menina, filha de Oduvaldo Carvalho que morava na magnifica vivendo no bucólico quadro da Igrejinha. Amelinha era meiga, simpática, educada, simples e bela. Era a mulher ideal para ser a mãe de seus filhos. Meses depois houve o casamento com muita festa e muitos convidados. Foi o casamento do ano. Segundo as más línguas o casamento não deu certo desde a primeira noite devido ao puritanismo de Amelinha. João Paulo foi visto, muitas vezes, durante a noite passeando pelos sítios amenos onde tantas vezes fizera amor com a encantadora Maria Rita. A verdade é que Maria Rita também não foi feliz. A lembrança de João Paulo continuava muito viva no seu coração. João Paulo tornou-se frio e indiferente com Amelinha. Bebericava pelos botecos e só chegava em casa altas horas da noite cambaleando e com cara cheia a de conhaque. O seu relacionamento sexual era monótono e jamais satisfazia a sua volúpia de amor. Sonhava com Maria Rita e sentia saudades do seu cheiro, do seu jeito, do seu corpo moreno, enfim, ele via em cada mulher um pouco do feitiço de Maria Rita. Era uma vida triste e sem razão de ser. Por este tempo Maria Rita morava na terra do Padre Cícero, Juazeiro do Norte. Ninguém mais ouviu falar no seu nome.
        Um dia, porém chegou à notícia de que Maria Rita ficara viúva e estava de volta para a cidade natal. Foi demais para o coração de João Paulo. Lembrou-se das noites de luar, das serenatas, dos passeios de barco pelo açude do Bonito, dos banhos na cachoeira… O vulto de Maria Rita surgiu no meio da noite como uma obsessão. Maria Rita voltou, mas desde a morte trágica do marido ninguém via nem a sua sombra. Numa noite João Paulo resolveu fazer uma caçada de marrecos no açude do Bonito. Enquanto os homens retiravam do uru as marrecas gritadeiras. João Paulo deitou-se no estivado, acendeu um cigarro e viu nas espirais o vulto de Maria Rita despida e sensual a sorrir para ele.
        Pela madrugada uma barra tênue e indecisa anunciava a chegada de um novo dia. João Paulo olhava a placidez das águas e avistou ao longe uma canoa que vinha em sua direção. Ficou olhando para ver quem se arriscava a fazer tamanha travessia. O açude estava muito cheio e a aventura era por demais perigosa. Era uma mulher, pois os cabelos esvoaçavam ao sopro do vento. Remava com segurança e com determinação. De repente ele pensou: Seria Maria Rita? Não, seria demais para ele. Depois de alguns instantes não havia mais dúvida, era Maria Rita. A amada usava uma roupa amarela que lhe pareceu dourada pelos raios do amanhecer. Com os cabelos negros e soltos, pálida e bela mais parecia uma deusa grega. João Paulo estava estático e olhava incrédulo para aparição divina.
        Só tinha uma coisa a fazer e fez. Correu para ela, pegou-a nos braços musculosos e beijou seu rosto amado. Levou o fardo precioso para a tocaia e colocou sobre o colchão de palhas. Foi um ritual de lágrimas, de abraços, de beijos e de muito amor até o amanhecer. Foram momentos benditos e eternos. Ficaram quietos e agarrados até o meio dia. A vida devolvia para eles toda a felicidade que julgavam perdida. Marcaram um novo encontro na cabana perto do riacho. Foi justamente na noite da tempestade e que desabou também um temporal na vida de João Paulo. E no silêncio da cabana Maria Rita fizera o ultimato: ou ela ou Amelinha. João Paulo não precisava pensar para decidir. Não mais podia viver sem Maria Rita.
        Quando a noite caiu João Paulo entregou uma carta destinada a Amelinha e aos filhos. Colocou no alforje algumas roupas e muitos contos de réis. Montou rápido o seu cavalo branco e rumou para o Juazeiro onde uma amazona já o esperava. Seguiram os dois pela escuridão do caminho certos de que o amor tudo vence e tudo suporta.

        E foi a última vez que João Paulo e Maria Rita foram vistos no sopé da Ibiapaba, nas terras benditas do Ipu.
“O navio negreiro”:
(Tragédia no mar)
IV

Era um sonho dantesco… o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros… estalar de açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente…
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais …
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos… o chicote estala.
E voam mais e mais…
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

domingo, 27 de março de 2016

DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

Neste domingo somos chamados a lançar o nosso olhar para o sepulcro vazio e contemplar o radiante mistério da ressurreição do Senhor. Ouvimos mais uma vez ecoar o confortador anúncio: “Cristo ressuscitou!”.
Com o Domingo da Ressurreição iniciamos um novo período litúrgico, o tempo pascal. A palavra Páscoa vem do hebraico “pesah” que traduzida para o grego será “páscoa”, e significa passagem. No Antigo Testamento a Páscoa tem a finalidade de celebrar a passagem do Senhor Deus, que libertou o povo de Israel da escravidão do Egito (cf. Ex 12). Anteriormente, no âmbito agrícola, era a celebração do início da primavera, no primeiro mês da colheita da cevada, e que Israel adaptou, para a celebração da Páscoa, onde faziam pães sem fermento (cf. Dt 16,3). No aspecto pastoril era o sacrifício de um cordeiro cujo sangue era colocado na entrada das tendas dos pastores nômades, para a proteção dos rebanhos. Israel também usou este rito para lembrar o dia em que, no Egito, Israel precisou passar o sangue do cordeiro em suas portas para protegê-los da passagem do Senhor, como se encontra em (cf. Ex 12).
No Novo Testamento a Páscoa ganhou uma nova dimensão: é a passagem da morte para a vida, ou seja, é a Ressurreição de Jesus Cristo. Como a prisão de Jesus e sua posterior morte, ocorreram na época da celebração da Páscoa dos Judeus (cf. Mt 26,17-56; Mc 14,12-50; Lc 22,14-62 e Jo 13), a sua Ressurreição toma agora o significado de passagem da morte para a vida eterna, para uma nova vida com Deus.
E ao celebrarmos a Ressurreição do Senhor, a liturgia nos recorda as palavras dirigidas pelo anjo às mulheres que choravam ao lado do túmulo vazio. Elas, como nos fala o Evangelho, foram ainda pela manhã cedo ao sepulcro e receberam do anjo a notícia que modificou o decurso da história: “Não vos assusteis. Procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou! Não está aqui!” (Mc 16, 6). É precisamente um anjo que, do sepulcro vazio, dirige a primeira mensagem às mulheres que ali chegam para completar a inumação do corpo de Jesus.
O texto do Evangelho nos fala exatamente do primeiro impacto e das primeiras testemunhas: Maria Madalena, Pedro e João, o discípulo que Jesus amava. Maria Madalena, enquanto mulher, pertencia à categoria de pessoas discriminadas, sem credibilidade oficial para os seus testemunhos. No entanto, ela é a primeira personagem a entrar em cena. É a primeira a dirigir-se ao túmulo de Jesus, quando ainda o sol não tinha nascido, na manhã do primeiro dia da semana. Este “primeiro dia” nos faz lembrar o início de uma nova realidade, um novo tempo, o tempo do homem novo, que nasceu a partir da ação criadora e vivificadora de Jesus.
Maria Madalena foi a primeira pessoa que Deus escolheu para dar a notícia a Pedro e ao outro discípulo: “Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram” (Jo 20,2). Pedro e o outro discípulo, onde a tradição aponta como o evangelista João, dirigiram-se apressadamente ao sepulcro, mas João chegou primeiro. E nos diz o texto bíblico que ele “viu e acreditou” (Jo 20, 8).
Por diversas vezes vemos lado a lado nos evangelhos as figuras de Pedro e João. Eles aparecem juntos em várias circunstâncias. Na última ceia é o “discípulo amado” que está do lado de Jesus (cf. Jo 13,23-25); na paixão, é ele que consegue estar perto de Jesus no átrio do sumo sacerdote (cf. Jo 18,15-18); é ele que está junto da cruz quando Jesus morre (cf. Jo 19,25-27); e é também ele o primeiro a reconhecer Jesus ressuscitado na sua aparição aos discípulos no lago de Tiberíades (cf. Jo 21,7). Diz o evangelho que o “outro discípulo” correu mais e chegou ao túmulo primeiro que Pedro. O fato de se dizer que ele não entrou logo, pode significar a sua deferência para com Pedro.
Em geral, Pedro é apresentado nos Evangelhos como o discípulo obstinado, para quem a morte significa fracasso e que se recusa a aceitar que a vida nova passe pela humilhação da cruz (cf. Jo 13,6-8.36-38; 18,16.17.18.25-27; cf. Mc 8,32-33; Mt 16,22-23). Ele é, em várias situações, o discípulo que tem inúmeras dificuldades em entender os valores que Jesus propõe, que raciocina de acordo com a lógica do mundo e que não entende que a vida eterna e verdadeira possa brotar da cruz.
Ao contrário de João, apresentado no evangelho como o “outro discípulo”, é aquele que está sempre próximo de Jesus, que se identifica com Jesus, que adere incondicionalmente aos seus valores. Nessa sua comunhão e intimidade com Jesus, ele aprendeu e interiorizou a lógica de Jesus e percebeu que a doação e a entrega são caminhos de vida. Para ele, faz todo o sentido que Jesus tenha ressuscitado, por isto ele “viu e acreditou” (v. 8), pois a vitória sobre a morte é o resultado lógico do dom da vida, do amor até ao extremo.
O discípulo que Jesus amava viu o mesmo que Pedro: um túmulo vazio, com as ligaduras e o sudário, mas o texto não diz que ele acreditou, ao contrário de João: ele viu e acreditou. Por que esta diferença na atitude dos dois discípulos? A fé de João, conhecido como o discípulo amado, sofre um salto qualitativo. No lugar onde jazia morto seu mestre amado, os olhos de sua fé se abrem e ele consegue compreender que Jesus está vivo, Ressuscitou. O amor de Pedro por Jesus também era grande, mas necessitava de ser fortalecido pela ação do Espírito Santo.
Como de fato, posteriormente, repleto do Espírito Santo, dirá Pedro aos judeus, em sua pregação sobre Jesus: “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia… Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez… mataram-no… mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia… Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É dele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: Quem acredita nele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados” (At 10,34ss). E movidos pelo Espírito Santo, eles, Pedro e João, juntamente com os demais apóstolos, percorrerão os caminhos do mundo para fazer ressoar o jubiloso anúncio pascal.
Podemos ainda lembrar que evangelho deste domingo inicia-se com as palavras “no primeiro dia da semana”. Isso exprime a nova realidade que começa com a ressurreição de Jesus, a nova criação que principia. Com isto, podemos dizer também que a Páscoa é o começo de um novo tempo, a passagem de um modo de viver para outro. É sair da escravidão do pecado para chegar à terra prometida, onde a vida floresce. No evangelho de hoje, os verbos de movimento: ir, correr, sair e entrar, mostram essa ideia. A vida nova que brota da ressurreição é algo que devemos buscar e precisamos construir, iluminados e fortalecidos pela luz do Ressuscitado.
Que todos nós possamos fazer esta mesma experiência espiritual que fizeram Maria Madalena, João e Pedro, acolhendo no coração, nas nossas casas e nas nossas nossas famílias o feliz anúncio da Ressurreição: “Cristo ressuscitou e vive no nosso meio, Aleluia!”.
E, a partir da solene Vigília pascal, volta a ressoar o cântico do Aleluia, palavra hebraica universalmente conhecida, que significa “Louvai o Senhor”. O aleluia desabrochou nos corações dos primeiros discípulos de Jesus naquela manhã de Páscoa, em Jerusalém. Deixemos que o aleluia pascal se imprima profundamente também em nós, como expressão de uma vida de união com o Cristo Ressuscitado, a quem devemos louvar e agradecer pelas maravilhas que Ele operou em nós. Assim seja.
D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB

sábado, 26 de março de 2016

JUDAS ISCARIOTES=PMF
ATUAL 
(Pesquisa A Tribuna)
Malhar o Judas é uma prática ainda muito comum no Brasil, apesar de o costume praticamente ter sido banido das grandes cidades por falta de locais adequados e dos perigos que representa. No interior, entretanto, a tradição continua viva, e os bonecos de palha ou de pano, pendurados em postes de iluminação pública e galhos de árvores, são rasgados e queimados no sábado de Aleluia.

Tradição popularíssima na Península Ibérica, radicou-se em toda a América Latina desde os primeiros séculos da colonização européia. No Rio de Janeiro oitocentista, os judas - com fogo de artifício no ventre - apareciam conjugados com demônios, ardendo todos numa apoteose multicolorida que o povo aplaudia.
O Judas queimado é uma personalização das forças do mal e constitui vestígio de cultos agrários, em muitas partes do mundo. Vários historiadores registraram o uso, quase universal, de festas de alegria no início e fim das colheitas, para obter melhores resultados nos trabalhos do campo.

Queima-se um manequim representando o deus da vegetação. Pela magia simpática, o fogo é o sol e o processo se destina a garantir às árvores e plantações o calor e a luz indispensáveis, submetendo a figura ao poder das chamas. O sacrifício do mau apóstolo é, então, uma convergência de tradições vivas no trabalho agrícola.

No Brasil, é costume antigo fazer-se o julgamento de Judas, sua condenação e execução. Antes do suplício, alguém lê o "testamento" de Judas, em versos, colocado especialmente no bolso do boneco. O testamento é uma sátira das pessoas e coisas locais, com graça oportuna e humorística para quem pode identificar as figuras alvejadas.

Judas, apóstolo traidor, cognominado Iscariotes por ser oriundo de Carioth, cidade ao Sul de Judá, já um ano antes da Paixão de Jesus tinha perdido a fé no Mestre, mas continuava a acompanhá-lo por comodidade e para ir furtando do que ofereciam aos apóstolos.

Obcecado pelo dinheiro, antes de se afastar de Cristo, resolveu entender-se com os sinedritas - membros do Sinédrio, conselho supremo dos judeus -. Judas assistiu ainda à última ceia, em que Jesus revelou a sua traição, mas foi logo ao encontro dos inimigos de Cristo para cumprir o que tinha combinado e receber 30 dinheiros. Consumada a traição, arrependeu-se, quis restituir o dinheiro, mas, repelido pelos sacerdotes, enforcou-se numa corda.


http://www.novomilenio.inf.br/santos/lendas/h0116d.jpg
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Tradição de malhar o Judas continua viva, principalmente nos morros Foto: jornal A Tribuna de Santos, 26/3/1978
Significado do Sábado de Aleluia
O que é o Sábado de Aleluia:
Sábado de Aleluia é o Sábado da Semana Santa, o primeiro dia depois da crucificação e morte de Jesus Cristo e o dia anterior ao Domingo de Páscoa.
O Sábado de Aleluia ou Sábado Santo é uma data móvel, podendo cair entre os dias 21 de março e 24 de abril.
Durante o Sábado Santo é celebrada aVigília Pascal, ocasião em que os fiéis cristãos se reúnem em constantes orações durante toda a madrugada que antecede o Domingo de Páscoa.
O significado da Vigília Pascal está relacionado com a preparação para a ressurreição de Jesus Cristo que, segundo a bíblia, aconteceu três dias após a sua morte.
No Sábado de Aleluia também é o dia em que se acende o Círio Pascal, uma grande vela que simboliza a Luz de Cristo, que ilumina o mundo.
Na vela, estão gravadas as letras gregas Alfa e Ômega, que querem dizer"Deus é o princípio e o fim de tudo”.
Na tradição católica, os altares das igrejas são cobertos, pois assim como na Sexta-Feira Santa, não se celebra a Eucaristia. Além da Eucaristia, também é proibido celebrar qualquer outro sacramento, exceto o da confissão.
Saiba mais sobre o significado da Sexta-Feira da Paixão.
Originalmente, durante o Sábado de Aleluia os católicos romanos deveriam praticar um jejum limitado, como a abstinência no consumo de carne vermelha, que deveria ser substituída por peixes.
É também no Sábado de Aleluia que se faz a tradicional Malhação de Judas (ou Queima de Judas), representando a morte de Judas Iscariotes, discípulo que teria traído Jesus Cristo.
Nesta tradição popular, as pessoas costumam fazer bonecos de pano (ou de outros materiais) que simbolizam a figura de Judas. Depois, reúnem-se e “torturam” o boneco, simulando a sua morte das mais diferentes formas, seja enforcado em árvores ou queimado numa grande fogueira.


sexta-feira, 25 de março de 2016

Paixão de Cristo
Lembrai-vos, meu povo de mim!
Eu que fui crucificado em vosso lugar
Eu que agonizei para todos meu Pai perdoar
Com meu sangue lavei o chão
Onde vocês pisam.
Com a minha morte
Levei todos a mesa de meu Pai
Trouxe a vida ao homem
Ao ressuscitar.
Trouxe a salvação
E a chance de uma nova vida
Sem pecados.
E o que eu vejo hoje
O mundo está sujo
Meu Pai esta à mesa, sozinho.
Veja a discórdia entre os homens
As ruas manchadas não por meu sangue
Mas, pelo sangue de meu povo.
Queria os homens de joelhos
Muitos querem o meu lugar
Decidem sobre a vida e a morte
Em seus gabinetes se esquecem
Que a ira de meu Pai
É mais que qualquer bomba atônica
Crianças agonizam pedem comida
E os homens constroem foguetes
E acham que podem dominar o espaço
Antes deveriam se preocupar com a Terra
Que pede socorro através de seus rios
Através dos furações que devassam tudo
Meu Pai esta perdendo a paciência
Não queiram vê-lo nervoso
O mundo não passa de um grão de areia
Infinito é o amor de Deus
Vê tudo com olhos de Pai
E acredita que o ser humano tem conserto.
Sexta feira Santa
Paixão de Cristo
Eu só peço lembrem-se que existo
Lembrem-se das minhas ultimas palavras
Perdoe Pai eles não sabem o que fazem...
Aquela minha imagem na cruz
Com os braços abertos
Abraçando o mundo
Rogando, pedindo,
A salvação...
Sei que muitos de vós
Estão de joelhos, orando...
Mas, não apenas por eles eu peço...

Edson Satler
10/04/2006
Sexta-feira Santa
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Sexta-Feira Santa)

Cristo crucificado. A morte de Jesus é o principal evento relembrado na Sexta-feira Santa.
1632. Por Diego Velázquez, atualmente noMuseu do Prado, em Madri, na Espanha.
Sexta-feira Santa ou Sexta-Feira da Paixão é uma festa religiosa cristã que relembra a crucificação de Jesus Cristo e sua morte no Calvário. O feriado é observado sempre na sexta-feira que antecede o Domingo de Páscoa, o sexto dia da Semana Santa no cristianismo ocidental e o sétimo no cristianismo oriental (que conta também o Sábado de Lázaro, anterior ao Domingo de Ramos). É o primeiro dia (que começa na noite da celebração da Missa da Ceia do Senhor) do Tríduo Pascal e pode coincidir com a data da Páscoa judaica[1] [2] [3] .
Este dia é considerado um feriado nacional em muitos países pelo mundo todo e em grande parte do ocidente, especialmente as nações de maioria católica.
                                                
Narrativa bíblica[editar | editar código-fonte]
De acordo com os relatos nos evangelhos, os guardas do templo, guiados pelo apóstolo Judas Iscariotesprenderam Jesus no Getsêmani. Depois de beijar Jesus, o sinal combinado com os guardas para demonstrar que era o líder do grupo, Judas recebeu trinta moedas de prata (Mateus 26:14-16) como recompensa. Depois da prisão, Jesus foi levado à casa de Anás, o sogro do sumo-sacerdote dos judeus,Caifás. Sem revelar nada durante seu interrogatório, Jesus foi enviado para Caifás, que tinha consigo o Sinédrio reunido (João 18:1-24).

Pietà, uma imagem da Lamentação de Cristo.
Por Michelângelo, atualmente na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Muitas testemunhas apareceram para acusar Jesus, mas seus relatos conflitavam entre si e Jesus manteve-se em silêncio. Finalmente, o sumo-sacerdote desafiou Jesus dizendo: «Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus.» (Mateus 26:63) A resposta de Jesus foi: «Tu o disseste; contudo vos declaro que vereis mais tarde o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.» (Mateus 26:64) Por conta disto, Caifás condenou Jesus porblasfêmia e o Sinédrio concordou em sentenciá-lo à morte (Mateus 26:57-66). Pedro, que esperava no pátio, negou Jesus por três vezes enquanto o interrogatório se desenrolava, exatamente como Jesus havia previsto.
Na manhã seguinte, uma multidão seguiu com Jesus preso até o governador romano Pôncio Pilatos e o acusaram de subversão contra o Império Romano, de se opor aos impostos pagos ao césar e de autodenominar "rei" (Lucas 23:1-2). Pilatos autorizou os líderes judeus a julgarem Jesus de acordo com seus próprios costumes e passar-lhe a sentença, mas foi lembrado pelos líderes judeus que os romanos não lhes permitiam executar sentenças de morte (João 18:31).
Pilatos interrogou Jesus e afirmou para a multidão que não via fundamentos para uma pena de morte. Quando ele soube que Jesus era da Galileia, Pilatos delegou o caso para o tetrarca da região, Herodes Antipas, que, como Jesus, estava em Jerusalém para a celebração da Páscoa judaica. Herodes também interrogou Jesus, mas não conseguiu nenhuma resposta e enviou-o de volta a Pilatos, que disse para a multidão que nem ele e nem Herodes viam motivo para condenar Jesus. Ele então se decidiu por chicoteá-lo e soltá-lo, mas os sacerdotes incitaram a multidão a pedir que Barrabás, que havia sido preso por assassinato durante uma revolta, fosse solto no lugar dele. Quando Pilatos perguntou então o que deveria fazer com Jesus, a resposta foi: «Crucifica-o!» (Marcos 15:6-14). A esposa de Pôncio Pilatos havia sonhado com Jesus naquele mesmo dia e alertou Pilatos para que ele não se envolvesse «na questão deste justo» (Mateus 27:19) e, perplexo, o governador ordenou que ele fosse chicoteado ehumilhado. Os sumo-sacerdotes informaram então Pilatos de uma nova acusação e exigiram que ele fosse condenado à morte por "alegar ser o Filho de Deus". Esta possibilidade atemorizou Pilatos, que voltou a interrogar Jesus para descobrir de onde ele havia vindo (João 19:1-9).
Voltando à multidão novamente, Pilatos declarou que Jesus era inocente e lavou suas mãos para mostrar que não queria ter parte alguma em sua condenação, mas mesmo assim entregou Jesus para que fosse crucificado para evitar uma rebelião (Mateus 27:24-26). Jesus carregou sua cruz até o local de sua execução (com a ajuda de Simão Cireneu), um lugar chamado "da Caveira" (Gólgota em hebraico e Calvário emlatim). Lá foi crucificado entre dois ladrões (João 19:17-22).
Jesus agonizou na cruz por aproximadamente seis horas. Durante as últimas três, do meio-dia às três da tarde, uma escuridão cobriu "toda a terra" (Mateus 27:45Marcos 15:13 e Lucas 23:44).
Quando Jesus morreu, houve um terremoto, túmulos se abriram e a cortina do Templo rasgou-se cima até embaixo. José de Arimateia, um membro do Sinédrio e seguidor de Jesus em segredo, foi até Pilatos e pediu o corpo de Jesus para que fosse sepultado (Lucas 23:50-52). Outro seguidor de Jesus em segredo e também membro do Sinédrio, Nicodemos, foi com José de Arimateia para ajudar a retirar o corpo da cruz(João 19:39-40). Porém, Pilatos pediu que o centurião que estava de guarda confirmasse que Jesus estava morto (Marcos 15:44) e um soldado furou o flanco de Jesus com uma lança, o que provocou um fluxo de sangue e água do ferimento (João 19:34).
José de Arimateia então levou o corpo de Jesus, envolveu-o numa mortalha de linho e o colocou em um túmulo novo que havia sido escavado num rochedo (Mateus 27:59-60) que ficava num jardim perto do local da crucificação. Nicodemos trouxe mirra e aloé e ungiu o corpo de Jesus, como era o costume dos judeus (João 19:39-40). Para selar o túmulo, uma grande rocha foi rolada em frente à entrada (Mateus 27:60) e todos voltaram para casa para iniciar o repouso obrigatório do sabá, que começou ao pôr-do-sol (Lucas 23:54-56).
Cristianismo oriental[editar | editar código-fonte]

Procissão de Sexta-feira Santa emRiga, na Letônia.

Epitaphios na Catedral Ortodoxa Grega da Anunciação da Virgem Maria, em Toronto, no Canadá.
Igreja Ortodoxa e as Igrejas Católicas Orientais de rito bizantino chamam este dia de "Grande e Sagrada Sexta-feira" ou "Grande Sexta-feira".
Como o sacrifício de Jesus na cruz é relembrado neste dia, a Divina Liturgia (o sacrifício do pão e do vinho) jamais é celebrada na Grande Sexta-feira, exceto quando a data cai no mesmo dia da grande festa da Anunciação, celebrada na data fixa de 25 de março (para as igrejas que utilizam o calendário juliano, a data atualmente cai no dia 7 de abril do calendário gregoriano). Também neste dia, o clero deixa de vestir o roxo ou o vermelho, cores da Grande Quaresma e passa a usar o negro. Não se "limpa o altar" na Grande e Sagrada Quinta-feira como no ocidente; ao invés disso, todos as cortinas e tapeçarias da igreja são trocadas para panos negros e assim ficarão até a Divina Liturgia do Grande Sábado.
Os fieis revisitam os eventos do dia com leituras públicas de salmos específicos, dos evangelhos e do canto de hinos sobre a morte de Cristo. Neste dia é observado um jejum bastante estrito e se espera que todos os cristãos bizantinos adultos abdiquem de toda comida e bebida durante todo o dia, desde que não prejudiquem suas condições de saúde. Àqueles que, por idade ou enfermidade, for necessário comer, pão e água podem ser consumidos depois do pôr-do-sol[4] .
Leituras e liturgia[editar | editar código-fonte]
A observância da Grande e Sagrada Sexta-feira começa na noite da quinta-feira com doze leituras dos quatro evangelhos e que recontam os eventos da Paixão de Cristo, daÚltima Ceia até a crucificação e sepultamento de Jesus. Algumas igrejas utilizam um candelabro com doze velas e as vão apagando, uma por vez, após cada uma das leituras.
A primeira destas leituras é João 13:31 até João 18:1, a mais longa leitura do evangelho em toda a liturgia ortodoxa dentro do ano litúrgico. Imediatamente antes da sexta leitura, que reconta os eventos de Jesus sendo pregado na cruz, uma grande cruz é carregada para fora do presbitério pelo padre, acompanhado por incenso e velas, e colocada no centro da nave (onde estão os fieis); afixado nela está um ícone do corpo de cristo. Cânticos específicos são entoados durante este ritual.
Durante o serviço, todos os presentes beijam os pés de Cristo na cruz. Em seguida, um comovente hino chamado "O Sábio Ladrão" é entoado por cantores que ficam aos pés da cruz.
No dia seguinte, na manhã de sexta, todos se juntam novamente para as "Horas Reais", uma celebração expandida das Pequenas Horas (incluindo a primeira, terceira, sexta, nona e a típica) pela adição de leituras do Antigo TestamentoEpístolas e do Evangelho e hinos sobre a crucificação em cada uma das horas.
À tarde, por volta das três horas, todos se juntam para celebrar a Deposição da Cruz. A leitura é uma concatenação baseada nos quatro evangelhos. Durante o serviço, o corpo de cristo é removido da cruz e levado para o altar. Perto do fim do serviço, um epitaphios (um pano bordado com a imagem de Cristo preparado para ser sepultado) é levado em procissão até uma mesa baixa na nave, símbolo do túmulo de Cristo, geralmente decorado com muitas flores. O epitaphios representa o corpo de Cristo já envolvo na mortalha e tem aproximadamente o tamanho de um ícone escala real do corpo de Cristo. Alguns padres nesta hora fazem uma homilia e todos se aproximam para a veneração.
Ao cair da noite de sexta-feira, começa o período conhecido como matinas do Grande e Sagrado Sábado, e realiza-se um serviço único conhecido como "Lamentação no Túmulo" (Epitáphios Thrēnos) ou "Matinas de Jerusalém" em volta do epitaphios no centro da nave da igreja. Sua característica principal é canto das "lamentações" ou "glórias" (Enkōmia), que consiste em versos cantados pelo clero intercalados aos versos do Salmo 119 (que é, de longe, o mais longo salmo da Bíblia). As Enkōmia são os mais apreciados hinos bizantinos, por sua poesia e música, que se encaixam perfeitamente entre si e refletem a solenidade do dia. Não se conhece o nome do autor, mas o estilo sugere uma data por volta do século VI, provavelmente na época de São Romano, o Melodista.
No final da cerimônia, o epitaphios é levado em procissão para dar uma volta na igreja e de volta para o túmulo. Algumas igrejas praticam o costume de segurar o epitaphios na porta, pouco acima da linha da cintura, para que os fieis passem curvados por baixo quando reentram na igreja, simbolizando sua entrada na morte e ressurreição de Cristo. O epitaphios ficará no túmulo até o serviço de Páscoa no domingo de manhã.
Na Igreja Católica Romana[editar | editar código-fonte]

Procissão do Senhor Morto emBragaPortugal.
Dia de jejum[editar | editar código-fonte]
A Igreja Católica trata a Sexta-feira Santa como dia de jejum, o que, na Igreja Latina, é compreendido como sendo um dia em se faz apenas uma refeição (menor do que uma refeição normal) e duas colações (um pequeno repasto que, contados juntos, não perfazem uma refeição completa), todas sem carne. É por conta desta tradição que em muitos restaurantes em países católicos servem peixe neste dia. Nos países onde não é feriado, o serviço litúrgico das três da tarde é geralmente atrasado algumas horas.
Serviços litúrgicos[editar | editar código-fonte]
rito romano não prevê a celebração de missas entre a Missa da Ceia do Senhor na noite da Quinta-feira Santa e a Vigília Pascal, exceto por autorização especial da Santa Sé ou do bispo local. O único sacramento celebrado neste período é o batismo para os que estão à beira da morte, a confissão e a unção dos enfermos[5] . Durante este período, velas e toalhas são retiradas do altar, que fica completamente limpo[6] . Costuma-se também esvaziar todas as fontes de água benta, já como preparação para a benção da água durante a Vigília Pascal[7] . Tradicionalmente, nenhum sino é tocado na Sexta-feira Santa e no Sábado de Aleluia.
Celebração da Paixão do Senhor se realiza à tarde, idealmente às três da tarde, mas, por razões pastorais (dar tempo aos fieis chegarem em países em que não há feriado, por exemplo), é possível que seja mais tarde[8] . As vestes utilizadas são vermelhas ou, mais tradicionalmente, negras[9] . Até 1970, eram sempre negras, exceto para o ritual da comunhão, quando se usava o violeta[10] Antes de 1955, só se usava o preto[11] . Se um bispo ou abade estiver celebrando, ele deverá vestir uma mitra simples (mitra simplex)[12] .
A liturgia da Sexta-feira Santa está dividida em três partes: a Liturgia da Palavra, a Veneração da Cruz e a Sagrada Comunhão.
·         A "Liturgia da Palavra" é um ritual no qual o clero e os ministros ajudantes param de cantar e entram num silêncio completo. Sem nenhum ruído, prostram-se como sinal do "rebaixamento do 'homem terreno'[13]e também o pesar e tristeza da Igreja"[14] . Segue-se a oração da coleta e a leitura de Isaías 52:13-Isaías 53:12Hebreus 4:14-16Hebreus 5:7-9 e o relato da Paixão no Evangelho de João, tradicionalmente recitado por três diáconos[15] ou pelo padre, um ou dois leitores e a congregação, que lê a parte da "multidão". Esta parte do ritual termina com as orationes sollemnes, uma série de oração pela Igreja, o papa, o clero e os leigos da Igreja, os que estão se preparando para o batismo, a unidade dos cristãos, os judeus, os que não acreditam em Cristo, os que não acreditam em Deus, os que prestam serviço público e os que precisam de ajuda imediata[16] . Depois de cada uma destas intenções, o diácono conclama os fieis a se ajoelharem por um breve período de oração individual; o padre celebrante então encerra com uma oração conjunta.
·         A "Veneração da Cruz" apresenta um crucifixo, não necessariamente o que está normalmente no altar ou perto dele em situações normais, que é solenemente desembrulhado e mostrado para a congregação e venerado por ela, individualmente se possível, geralmente através de um beijo, enquanto se cantam hinos, a Improperia ("censuras") e o Trisagion[17] .
·         A "Sagrada Comunhão" é celebrada com base no rito do final da missa, começando com o Pai Nosso, mas omitindo a "Partilha do pão" e seu cântico, o "Agnus Dei". A Eucaristia, consagrada na Missa da Ceia do Senhor da Quinta-feira Santa, é distribuída neste momento[18] . Antes da reforma do papa Pio XII, apenas o sacerdote recebia a comunhão, um rito chamado de "Missa do Pré-santificado", que incluía as orações normais do ofertório, inclusive o vinho no cálice[11] . O padre e a congregação se despedem em silêncio e a toalha do altar é retirada, deixando o altar limpo, exceto pelo crucifixo e duas ou quatro velas[19] .
Estações da cruz[editar | editar código-fonte]

Décima-segunda estação ("Jesus morre na cruz") em Arco, na Itália.
Além das prescrições tradicionais do serviço litúrgico, as estações da cruz também são visitadas para orações, dentro ou fora da igreja, e um serviço específico é às vezes realizado entre meio-dia e três da tarde, conhecido como Três Horas de Agonia. Em países como MaltaItáliaFilipinasPorto Rico e Espanhaprocissões com estátuas representando variadas cenas da Paixão ocorrem neste período.
Em Roma, desde o papado de São João Paulo II, o ponto alto à frente do Templo de Vênus e Roma, em posição privilegiada à frente da entrada principal do Coliseu, tem sido utilizado como plataforma de discursos para a multidão. O papa, pessoalmente ou através de representantes, lidera os fieis numa jornada de meditações pelas estações da cruz acompanhando uma cruz que é carregada até o Coliseu.
Comunhão Anglicana[editar | editar código-fonte]
Livro de Oração Comum, de 1662, não especifica um ritual específico a ser observado na Sexta-feira Santa, mas os costumes locais geralmente incluem diversos serviços, incluindo as "Sete Frases de Jesus na Cruz" e um serviço de três horas. Mais recentemente, as edições revisadas do Livro de Oração Comum e da Liturgia Comum reintroduziram diversas observâncias anteriores à Reforma, que correspondem aos rituais da Igreja Católica Romana.
Outras tradições protestantes[editar | editar código-fonte]
Muitas comunidades protestantes celebram serviços litúrgicos específicos na Sexta-feira Santa também. Morávios realizam uma festa específica ("Festa do Amor") na sexta e comungam na quinta. Os metodistas comemoram a Sexta-feira Santa com um serviço de adoração, geralmente baseado nas sete frases de Jesus na cruz[20] . Não é raro também encontrar celebrações multi-denominacionais em algumas comunidades neste dia.
Alguns batistas dissidentes[21] , pentecostais e igrejas não-denominacionais são contrários à observância da Sexta-Feira Santa, considerando o feriado uma tradição papistae, ao invés disso, observam a crucificação na quarta-feira, de acordo com o que eles dizem ser a data do sacrifício judaico do cordeiro pascal (que os cristãos acreditam ser uma referência no Antigo Testamento à Jesus Cristo). A crucificação na Quarta-feira Santa permite ainda que se acomode à tradição de que Jesus teria passado "três dias e três noites" (Mateus 12:40) inteiros no túmulo,[22] enquanto a crucificação na Sexta-Feira Santa concorda melhor com a tradição da ressurreição de Jesus "no terceiro dia" ((I Coríntios 15:4Mateus 20:19Lucas 24:46).
Em muitos países com forte tradição cristã, como Austrália, Brasil, Canadá, as ilhas do Caribe, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Finlândia, Portugal, Alemanha, Malta, México, Nova Zelândia[23] [24] [25] , Peru, Filipinas, Cingapura, Espanha, Suécia, Reino Unido e Venezuela, a Sexta-feira Santa é um feriado nacional. Nos Estados Unidos, em doze estados é feriado.
Procissão do Senhor Morto[editar | editar código-fonte]
Em muitas cidades históricas ou interioranas do Brasil e Portugal, como Paraty (RJ)Ouro Preto (MG)São João del Rei (MG), Oliveira (MG), Pirenópolis (GO)Jaraguá (GO)Rio Tinto (Concelho de Gondomar em Portugal) e São Mateus, a "Celebração da Paixão e Morte do Senhor" é procedida da Procissão do Enterro, também conhecida como "Procissão do Senhor Morto", em que são cantados motetos em latim.
Num artigo online publicado na Agência de Notícias Católica por Alejandro Bermúdez em 31 de março de 2012, o presidente de Cuba Raúl Castro, o Partido Comunista e seus secretários decretaram que a Sexta-feira Santa naquele ano seria um feriado nacional. O ato era uma resposta de Castro a um pedido feito pessoalmente a ele pelo papa Bento XVI durante sua visita apostólica à ilha e à cidade de Leão, no México, naquele mês. Esta concessão seguiu o padrão de pequenas concessões de Cuba em relação ao Vaticano e espelha uma outra feita por Fidel Castro à pedido de São João Paulo II quando declarou que o Natalvoltaria a ser feriado em Cuba[26] . As duas datas são hoje feriados nacionais em Cuba.