domingo, 31 de março de 2013


A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu calçamento. Cada casa que se ergue é feita de esforços exaustivos de muitos seres, e haveis de ter visto pedreiros e canteiros, ao erguer pedras para fronteiras, cantarem, cobertos de suor, uma melopeia tão triste que pelo ar parece um arquejante soluço. A rua sente nos nervos esta miséria de criação e por isso é mais igualitária a mais socialista, as mais niveladas das obras humanas.
A rua faz as celebridades e as revoltas, a rua criou o tipo universal, que se vive em cada aspecto urbano, em cada detalhe, em cada praça, tipo diabólico que tem os gomos e dos sítios das florestas. Tipo prateiforme feito de risos e de lagrimas... eu sou a rua, mulher eternamente verde jamais encontrei outra carreira aberta senão a de ser a rua e, por todo tempo; dede que este penoso mundo é mundo eu sou a rua. 

 

Revista Acadêmica de Nº 3
Acadêmico Francisco de Assis Martins – Cadeira Nº 15
(Prof. Mello)
Ao receber a incumbência de orelhar esta edição de nossa Revista da Academia Ipuense de Letras Ciências e Artes – AILCA, do nosso Presidente Abílio Lourenço Martins, fiquei deveras lisonjeado e muito feliz, em ter uma oportunidade de deixar para os nossos porvindouros os significativos assuntos nela contidos.
São matérias que devemos refletir, pois diz muito de nossa História. Ipu na sua vida passada e cotidiana.
No passado reviveremos muitos daqueles ou daquelas que contribuíram para formação educacional, cultural e religiosa do nosso Município.
Somos de uma grei onde predomina o saudosismo, as relembranças de nossas vidas na infância, na igreja quando na Cruzadinha Eucarística, nos bancos de nossas escolas, na nossa juventude quando de nossas primeiras ilusões, de nossas serenatas enfim até vivendo e vivenciando e escrevendo o que se passa nesta gleba desbravada por dona Joana Paula Vieira Mimosa.
Dos passeios nas avenidas e muito especialmente no Jardim de Iracema, das Amplificadoras com as músicas do nosso tempo especialmente dos anos 60, e por aí vamos que vamos e se formos aqui relatar outras e mais outras tantas histórias o espaço não comportaria, tenho certeza e experiência.
Sou um apaixonado por nossa história e registro diariamente os mais diferentes momentos que vivemos, mormente nos dias atuais onde uma nuvem negra ensombreou a nossa tão bela cidade.
Mas estamos aqui com muita firmeza e determinação para contar verdadeiramente os mais diversificados acontecimentos. Na história não podemos esconder nada, pois mais cedo ou mais tarde a verdade vem com mais evidencia.
Fico contagiado de muito orgulho, mas um orgulho de felicidade por ter a oportunidade de aqui postar para o nosso sodalício este apanágio que chamamos de orelha do livro.



Prelúdios de Sonata!
Sinfonia, música divina, prece musical 
Sinfonia, ritmo dolente e original 
Sinfonia, páginas da musa de um grande amor 
Sinfonia, mística orquestração do Criador 

Um concerto orquestral 
É belo e sentimental 
Deus, por que me fez poeta e um menestrel? 
As estrelas lá no céu são notas musicais 
Com harmonizações originais 

A Lua é um disco 
Em que o Criador gravou uma canção 
Tocada pelos anjos num conjunto 
Numa grande orquestração 
Há turbilhão de nuvens que errantes vivem 
Lá no firmamento 
São páginas de músicas, de melodia 
De uma sinfonia 

Prelúdios de sonata 
Fugas e acordes num grande tropel 
Vivem lá no espaço vagando 
E se transformam 
Num suntuoso vendaval 
De estrelas lá no céu.




José de Souza Procópio
Tipógrafo e autentico seresteiro, tocava com perfeição o violão, bandolim e o cavaquinho. Dono de um bar onde mantinha duas grandes sinucas e uma roleta com animais do jogo do bicho. Pessoa branda e amiga, possuía muitos pássaros em sua residência. Faleceu no dia 19 de dezembro de 1979.


Tomás Soares de Paiva
Comerciante, era proprietário de uma loja de tecidos. Seresteiro, tocava violão, compondo durante muito tempo o conjunto musical “Os Cometas” que pertencia ao Walter Bezerra, conjunto esse que marcou época em nossa cidade. No período momino, trajava-se de satanás, com direito a chifre e um enorme garfo, que desafiava as pessoas por onde passava. Tomás morreu no dia 22 de março de 1976.

Sebastião Soares
Outro destacado comerciante, juntamente com seu irmão Joaquim instalaram a loja “Os Armazéns dos Soares”. Vendia-se de tudo, desde cosméticos até gasolina e ocupava uma grande área, a metade do quarteirão, onde hoje ainda se conhece como a rua da Goela. Amante da música, tocava flauta transversal. Também gostava de carnaval e sua principal indumentária era um urso branco.

Joaquim Soares de Paiva
Sócio do seu irmão Sebastião, mantinha uma loja de variedades muito conhecida em sua época. Assim como seu irmão, gostava de música e tocava violão. Possuía uma grande e barulhenta motocicleta, que chamava muita atenção pelo estrondo por onde passava.

sábado, 30 de março de 2013


Integrantes da Coluna Prestes. Fonte: http://coisadecearense.blogspot.com.br

Ao amanhecer do dia 13 de janeiro de 1926 cerca de 100 homens, maltrapilhos, com cara de poucos amigos, porém, fortemente armados, entraram em Ipu, descendo a ladeira da Mina, vindos do Piauí. Essa centena de combatentes compunha o 2º destacamento da Coluna Prestes, comandada pelo tenente-coronel João Alberto. O que eles queriam e o que aconteceu naqueles anos 20 na então pacata Ipu? Bom, o que pretendo contar em três capítulos é apenas uma interpretação dos fatos ocorridos naqueles tempos longínquos, baseada, no entanto, em relatos e fontes históricas. Se você quiser ler, leia, portanto. Se não quiser, não leia “ora mais...”

Na madrugada do dia 13 de janeiro de 1926, a cidade de Ipu “dormia” o seu sono tranquilo. Às 5 horas da manhã, 100 homens montados e armados, vindos do Piauí, entravam na cidade de Ipu, descendo a ladeira da Mina. A Terra de Iracema acordava ao som de uma corneta, tocada por uma daquelas cem almas com “caras de poucos amigos”. À frente dele uma multidão de “revoltosos” emparelhados como que marchando em sintonia. Muitos traziam rifles apoiados em seus ombros parecendo estar “descansando” os braços do peso das armas. Os homens com rifles carregam também bandeiras encarnadas e traziam em seus pescoços lenços da mesma cor, que usavam, às vezes, para esconder os rostos.  
Muitos na cidade já estavam de pé após uma noite bem dormida, outros acordaram ao som da corneta e ainda um terceiro grupo, a dos beberrões, nem tinha dormido. Todos se admiraram com aquela cena. Uns ficaram com medo, mas outros se mostravam abismados, admirados do que viam.
            O bando desceu rumo ao centro por uma ladeira muito íngreme, seguiu por uma rua muito estreita, com poucas casas, atravessou uma ponte construída sobre o Riacho Ipuçaba, no hoje "Beco da Beinha" (ou Rua Manoel Vitor) e penetrou no coração da Cidade, na Praça de São Sebastião. Logo, aqueles homens armados se sobressaltaram ao avistar no alto da Igrejinha de nossa Senhora do Desterro, hasteada, uma bandeira vermelha. Todos se prepararam para o combate procurando ao redor, barricadas naturais, para se protegerem. Armados para o combate esperam o ataque inimigo, mas ele não vinha.
É preciso que se faça uma pausa na narrativa. Afinal, quem eram aqueles homens? O que queriam eles na Cidade de Ipu?
Aquelas cem almas compunham o 2º destacamento da Coluna Prestes, comandada pelo tenente-coronel João Alberto. Vinham do Piauí e seu destino inicial era a cidade de Ipu. Nesta cidade buscavam especificamente obter mapas geográficos detalhados dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba. No Piauí, souberam da notícia de que eles existiam e se encontravam no acervo do Gabinete de Leitura Ipuense, uma espécie de biblioteca com imenso patrimônio em livros, revistas, jornais e mapas.
Mas, por que tais mapas eram tão importantes para a Coluna Prestes? E o que essa Coluna?
Continua...

Postado por Antonio Vitorino às 17h04min
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Como surgiu a Coluna Prestes?

A Coluna Prestes é resultado do movimento Tenentista, surgido na década de 1920. Este movimento era composto por uma ala do Exército Brasileiro, principalmente de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, descontente com a política oligárquica adotada durante a República Velha (1889-1930). Desde a montagem da Política dos Governadores, pelo Paulista Campos Sales - que permitia que a República e o poder estivessem nas mãos dos cafeicultores paulista – que os militares foram afastados do poder. E isso gerou, ao longo da década de 1920, muitas insatisfações numa ala do exército brasileiro. Desde então, os tenentes passaram a querer derrubar a República Oligárquica sob o pretexto de moralizar a política e defender o desenvolvimento do Brasil.
Nas eleições de 1922, os tenentes se opuseram à candidatura à presidência do Paulista Artur Bernardes, malvisto por eles, e apoiaram um candidato opositor. A insatisfação e a rebeldia de um grupo significativo de jovens capitães e tenentes do exército (e também alguns da Marinha) contra Artur Bernardes foi tal que resultou numa ação mais radical. O fechamento, por ordem do governo, do Clube Militar e a prisão de seu presidente, o Marechal Hermes da Fonseca, acusado de interferir indevidamente na política pernambucana, fizeram explodir revoltas armadas. Um dos movimentos mais emblemáticos foi a revolta dos 18 do Forte, fazendo com que no dia 5 de junho de 1922, jovens oficiais do Forte de Copacabana se rebelassem, com o apoio das guarnições do Distrito Federal e Mato Grosso. O objetivo era impedir a posse de Artur Bernardes.
Embora a rebelião tenha fracassado, os jovens militares resolveram abandonar o forte e marchar pela praia de Copacabana para combater as forças do governo.  Desse episódio, conhecido como os 18 do forte, sobreviveram apenas os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes. Iniciou-se aí o longo episódio de rebeldia a que se chamou Tenentismo.
Seguiu-se revolta no Rio Grande do Sul, quando unidades do exército aquarteladas nas cidades gaúchas de São Borja, Uruguaiana e Santo Ângelo se sublevaram. Seus líderes eram o capitão Luís Carlos Prestes e o tenente Siqueira Campos. Depois de alguns dias de combate, os rebeldes se retiraram para Foz do Iguaçu.
Em São Paulo, no dia 5 de julho de 1924, unidades do exército e da Força Pública (PM), se rebelaram. Seus líderes eram o general Isidoro Dias Lopes, O Major Costa e o Capitão Joaquim Távora (morto na revolta). Os rebeldes ocuparam o palácio do governo, provocando a fuga do governador, e controlaram a cidade por 23 dias. Eles exigiam a renúncia do presidente Artur Bernardes e contavam com o apoio dos trabalhadores e de alguns grupos de populares. Para evitar o bombardeio da cidade por forças legalistas (do governo), os rebeldes se deslocaram para Foz do Iguaçu, Paraná, onde se encontrariam mais tarde com os oficiais rebeldes vindos do Rio Grande do Sul. Deste encontro surgiu a Coluna Prestes, que tinha como objetivo estender a campanha antigoverno a todo o país.
Entre abril de 1925 e fevereiro de 1927 (dois anos e três meses), os rebeldes com 800 a 1500 civis e militares percorreram cerca de 25 mil quilômetros através de treze estados, sem perder qualquer dos 53 combates contra as forças governistas e a “jagunçada” de muitos coronéis. Inutilmente procurou sublevar as populações do interior contra Bernardes e a oligarquia dominante. Com o fim do mandato de Artur Bernardes, em 1926, a Coluna entrou na Bolívia e, finalmente, se dissipou.
Continua...
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sexta-feira, 29 de março de 2013



Fotografia do acervo de Francisco Mello (Prof. Mello)

(Resumo de um dos trabalhos de pesquisa de minha autoria sobre o circulismo católico.)

Pe.Cauby Jardim Pontes,coadjutor nos anos de 1940 do Monsenhor Gonçalo de Oliveira Lima. Natural da cidade de São Benedito, Pe Cauby era um sacerdote de punho firme e enérgico, conhecido por sua postura conservadora no combate ao comunismo ateu. Restaurador do Círculo Operário Católico de Ipu e um ativo incentivador da Cruzada Eucarística. Em um de meus registros de pesquisa do livro de tombo da Igreja de Ipu Monsenhor Gonçalo de Oliveira Lima nos diz:

"Pe. Cauby Pontes, que trabalhou comigo de 1942 a 1947, o qual, além de muitos outros benefícios, restaurou o Círculo de Operários, incentivou o catecismo e (ilegível) a cidade de uma amplificadora que, adquerido por subscrição popular,é propriedade parochial."(1)

Como bem afirma nos escritos deixados por Monsenhor Gonçalo Lima no livro de Tombo da Igreja, Padre Cauby surge com a missão de “restaurar o Círculo Operário Católico”, vinculado ao corporativismo fascista e integralista do operariado cristão, além de contar com as diversas associações pias como a Congregação dos Moços Marianos e a Liga Feminina da Ação Católica.Entidades representativas e vigilantes no meio católico cearense.

Em entrevista realizada com a senhora Maria da Conceição Viana encontramos algo referente a memória de Padre Cauby. Em suas palavras é possível perceber algumas características relacionada a um homem de educação rígida e militar, praticante de educação física e que gostava de “raspar o rabo do seu cavalo” para sair desfilando pelas ruas da cidade.

...Ele era um rapaz muito alto, muito forte, musculoso, sabe?.. bonito, novo, sabe...Ele chegou aqui no Ipu para ajudar o Monsenhor Gonçalo Lima que estava velhinho, cansado...Ele tinha um cavalão alto, bonito e ele raspava (risos) o rabo do cavalo e deixava uma vassourinha na ponta [...] Ele fazia missa cinco horas da manhã e a Igreja ficava completamente cheia de gente e cantava todas as músicas. Tinha uma voz linda, forte sabe? Ele era um espírito avançado. Era, era (pausa) como se diz, tinha liderança....(2)


A figura do Assistente Eclesiástico constituía um dos importantes fatores de mobilização e propaganda ideológica do circulismo. De fato , agia como um dos mecanismos de controle social da Igreja, tendo um papel decisivo e doutrinário na vida cotidiana do “operariado” cristão. É o que diz Damião Duque de Farias em seu trabalho, “Em defesa da ordem” ao destacar o papel do Assistente Eclesiástico como figura de ação ofensiva no meio católico circulista.

[...] Na verdade, o Assistente Eclesiástico é o primeiro dirigente de qualquer das esferas do movimento circulista. Em última instância era ele quem definia a ação católica entre o operariado, o Estado e o patronato. Por isso mesmo era que seus nomes se sobressaíam entre os demais em todos os documentos e articulações realizadas...(3)

(1) Livro de Tombo da Igreja de Ipu. Ano de 1947.
(2)Entrevista concedida pela senhora Maria da Conceição Viana em 09/12/07. Ipu-Ce.
(3)Sobre a presença do Assistente Eclesiástico no circulismo ver FARIAS, Damião Duque de. Em defesa da Ordem. Aspecto da Práxis Conservadora católica no meio Operário em São Paulo (1930-1945)p.193

A Procissão do Fogaréu é uma tradicional procissão católica realizada anualmente na cidade de Goiás, na quarta-feira santa.
A procissão encena a prisão de Jesus Cristo e tem início às 0:00 da quarta-feira santa, com a iluminação pública apagada e ao som de tambores, à porta da Igreja da Boa Morte, na praça principal da cidade. Os penitentes, vestidos em indumentária especial e representando soldados romanos, seguem então para a escadaria da Igreja de N. S. do Rosário, onde encontram a mesa da última ceia já dispersa. Em seguida, avançam na direção da Igreja de São Francisco de Paula, que simboliza o Jardim das Oliveiras, onde se dará a prisão de Cristo. Este é representado por um estandarte de linho pintado em duas faces, obra do artista plástico oitocentista Veiga Valle.
A Procissão do Fogaréu foi introduzida em Goiás pelo padre espanhol Perestelo de Vasconcelos, em meados do século XVIII. A indumentária utilizada pelos penitentes caracteriza-se por uma túnica comprida e e por um longo capuz cônico e pontiagudo, guardando fortes semelhanças com as vestimentas que ainda hoje são comuns nas celebrações da semana santa na Espanha.[1]Trata-se, com efeito, de um traje de origem medieval, o qual era costumeiramente utilizado por penitentes que assim podiam expiar seus pecados sem ter que revelar publicamente sua identidade


MALHAÇÃO DE JUDAS

A “malhação de Judas” é uma brincadeira popular de raízes portuguesas e envolve crianças e adultos. Tem inicio com a confecção do Judas. Para tanto, são usadas roupas velhas, geralmente trajes masculino, que são cheios de velhos panos palha ou papel, também o capim.
A cabeça as mãos e os pés são confeccionados do mesmo material. Conforme decisão do grupo envolvido na confecção, o Judas pode receber um nome, inclusive com direitos a um pasquim que explicará em quadrinhas sacarticamente a escolha do nome e as razões da crítica que se faz ao indigitado.
Na madrugada de sábado de Aleluia, Judas é dependurado numa árvore ou poste da praça ou rua central da comunidade. Cedo, toda a rapaziada da redondeza se prepara para malhação. Sarrafos varapaus são caprichosamente preparados, buscando cada um ter mais resistente.

                                                                                        
PROCISSÃO DO SENHOR MORTO

Aqui no Ipu, a Procissão do Senhor Morto é tradicional logo após o Canto da Paixão, ou a liturgia da Sexta-feira Santa. A procissão sai da Igreja Matriz e percorre algumas artérias da cidade e Povo acompanha fazendo um cortejo fúnebre sempre com a participação solene da Banda de Música que entoa acordes de marchas fúnebres, graves.  Na frente vai o Padre e seus auxiliares, atrás a Imagem do Senhor Morto em um caixão simbolizando o enterro, ao seu lado a Imagem de Nossa Senhora das Dores. Depois do percurso executado a procissão se recolhe a Igreja.



DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

Madrugada de Domingo da Ressurreição, outra procissão, desta vez de Jesus Ressuscitado. Os sinos repicam, a Banda de Música entoa músicas alegres e festivas. Fogos estalam no ar, todos cantam, é a Ressurreição de Jesus que tomamos como exemplo para nossa vida.



quinta-feira, 28 de março de 2013


Maria Valdemira Coelho Mello

No silencio da uma noite bonita a cidade dormia tranqüilamente.
As árvores com sua pujança ocultavam com o verde matizado de amarelo-ouro, sob as densas nuvens, pejadas de tonalidades vivas, prateadas pela luz diáfana da LUA, refletiam paz serenidade.
A Bica sussurrava as águas cristalinas no topo da montanha.
Eram 23 horas. A estas horas precisamente, na cidade de Ipu, Ceará, num cantinho da Rua da Goela, na residência de uma família... ouviram choro... uma criança nascera.....
Todos os familiares estavam felizes. Vieram avisar: Era uma menina.
Nome?... que mais tarde na Pia Batismal recebera: - Maria.
28 de março de 1922 foi à data de sua chegada no mundo.
Foi registrada no Cartório que tinha como Tabelião o Sr. Adalberto Aragão por Maria Valdemira Coelho Mello.
Filiação:
Raimundo Nonato Mello e
Anna Coelho Mello.
A criança cresceu num clima de muito amor pelos seus familiares.
Aos nove anos fez a sua 1ª comunhão na Igrejinha de N. Senhora do Desterro.
Iniciou seus estudos em casa com sua Mãe. Estudou nas Escolas Reunidas, onde fez o 2°, 3° e 4º ano primário.
A sua infância foi muito feliz.
Pertenceu a Cruzada Eucarística onde formou muito bem o seu coração.
Quando jovem ingressou na Associação: Pia União das filhas de Maria, onde se conservou até a sua morte.
Vida Profissional:
Aos 17 anos de idade, começou a ensinar crianças nas Escolas Reunidas de Ipu, onde deu inicio sua vida no Magistério.
Em 1950/ (26/11), concluiu o curso de Professora Ruralista.
No dia 28 de abril de 1956 foi nomeada professora do Estado do Ceará.
Em 1971, concluiu o Curso Pedagógico na Escola Normal Pedagógica Sagrado Coração de Jesus.
Especializou-se em Fortaleza como professora em vários cursos:
Reciclagem para Professores de Metodologia e Prática de ensino.
De disciplinas especificas para Professores do Ensino Normal.
Encontro de Professores promovido pela Inspectoria Seccional de Fortaleza.
2º encontro de Professores Oficiais do Ceará.
Adqueriu o Registro 259 como Professora habilitada por Exame de Suficiência – Divisão do Ensino Normal – Secretaria de Educação.
Certificado de Registro de Professores – MEC – Registro nº D-29 350, Geografia Geral e do Brasil, Diretoria do Ensino Secundário.
Licenciou-se pela Faculdade de Filosofia D. José de Sobral, em Ciências no dia 08 de dezembro de 1976. Registro L nº 1541.
Publicou três Livros: Ipu em Três Épocas, Saga de uma Família e um Documentário do Patronato Sousa Carvalho por ocasião do seu Jubileu de Prata.
Celebrou com muita festa e entusiasmo os 50 anos de Magistério, no Patronato Sousa Carvalho e neste Estabelecimento de ensino, ministrou aulas durante 40 anos.
Participou de dois congressos Nacionais dos Estabelecimentos Particulares de ensino, sendo um em fortaleza e outro em Recife.
Toda sua vida foi dedicada ao magistério, a Igreja até os seus últimos dias de vida.
Biografada por: Francisco Mello (Prof.)

O CLÃ DE SANTA QUITÉRIA

Resumo de "O clã de Santa Quitéria".


MACÊDO, Nertan. O clã de Santa Quitéria. Rio de Janeiro: Editora Renes, 1967. (Deixei o computador fazer a correção gramatical da época da publicação).

Segundo o autor, do português João Pinto de Mesquita, unindo-se a indivíduos das Vilas de Sobral, Santa Quitéria e Granja etc. descendem as famílias Pompeu, Paula Pessoa, Catunda e mesmo Acioly (por adesão matrimonial).

O SARGENTO-MOR PINTO DE MESQUITA


A família Pinto de Mesquita fugiu à regra, na sociedade cearense, da tradição predatória e decadente, anunciada por João Brígido, para quem aos pais ricos sucedem sempre filhos nobres – e a estes, netos empobrecidos pela irresponsabilidade e incapacidade na gestão da riqueza acumulada. P. 17

Também foram os Pinto de Mesquita, ao longo da história da formação da sociedade pastoril cearense, uma outra exceção: o clã, numeroso, rico e fidalgo, não produziu, como seria de esperar, cangaceiros e valentões, vingadores do rifre e do punhal, a talar os sertões que habitavam com os seus cavalos relinchantes e bárbaros, afeito à fumaça dos combates e tropelias selvagens. P. 17.

Ao contrario dos Montes e Feitosas, dos Melos e dos Mourões, cujas prosápias de nobreza são duvidosas e obscuras, os Pinto de Mesquita eram de fato “homens bons” no exato conceito e quem a sociedade reinol e colonial traduzia essa expressão.

●Os “homens bons”:

Os “homens bons”, acrescenta Oliveira Viana, constituíam uma elite reduzidíssima, “uma minoria insignificante em face da massa numerosa de nossa população”: ... “tinham os seus nomes inscritos nos “Livros da Nobreza”, existentes nas Câmaras. Em conseqüência disso, só eles podiam ser eleitores. [...]. 18.

Sua presença na vila era obrigada, apenas, pelas solenidades do culto religioso ou pelas atividades da vereança, a coisa pública, “uma dignidade, um munis, uma honraria”, lembra o autor de “Instituições Políticas Brasileiras”. 18.

Os desses “homens bons” foi o patriarca dos Pinto de Mesquita, o Sargento-Mor João Pinto de Mesquita, varão sisudo, de sangue velho e limpo, que há mias de duzentos anos ostentava nos campos de Santa Quitéria os seus vastos e opulentos criatórios, além dessa prosápia de tradições milenárias (sic), oriundas da sua nobreza peninsular, bem própria da sua raça monarquista, feudal e católica. 19.

Chegou João Pinto de Mesquita ao Brasil em companhia de um irmão, Manoel Santiago Pinto, indo residir nas terras que adquirira por sesmaria no rio Jacurutu, situando a sua primeira fazenda de gados no curso médio desse rio, no local hoje denominado Jacurutu-Velho, não muito distante da povoação do Riacho dos Guimarães, que era, então, ao tempo, o único núcleo populoso de pequena importância e comércio na região. 21.

●Casamento de colono branco com mulher índia:

Esse irmão do Sargento-Mor, Manoel Santiago Pinto, foi, por sua vez, residir na Vila Viçosa Real da América, atual cidade de Viçosa do Ceará.
Naquela vila, casou Manoel com Dona Luiza Pereira de Santiago, de origem tabajara. Possuía muitas propriedades na serra da Ibiapaba e no sertão do Acaraú. [...] . p. 22

●Curiosidade: ia-se buscar parceiro matrimonial por paragens muito distantes:

Pouco tempo depois, em 1726, casou-se com Dona Tereza Rodrigues de Oliveira, filha do Capitão Luiz de Oliveira Magalhães, natural de Sergipe d’El Rei, e de Dona Isabel Rodrigues Magalhães, natural do Rio Grande do Norte e irmã do do Capitão-Mor Antonio Rodrigues Magalhães, dono de muitas fazendas de criação, entre as quais a Fazenda Caiçara, hoje cidade de Sobral, de cujas terras, por escritura pública, de 10 de dezembro de 1756, fez doação de duzentas braças para a constituição do patrimônio de Nossa Senhora da Conceição, e sob a invocação desta santa se erigiu a igreja que é hoje a Catedral do Bispado de Sobral. P. 22.

Nesse ano, João Pinto de Mesquita casa, na velha povoação do Riacho dos Guimarães, hoje cidade de Groairas.

Em 19 de setembro de 1733, o Capitão-Mor da Capitania do Ceará, Leonel de Abreu e Lima, concedia a João Pinto de Mesquita a data de sesmaria de “uma sorte de terras de três léguas, no riacho Maritipoã (hoje Sussuanha), sobre a serra da Ibiapaba”, mas antes já ele obtivera datas de sesmarias em quase todas as terras marginais ao rio Jacurutu, que tem um curso de 90 quilômetros, além de muitas outras adquiridas por compra nos rios Groairas e Jaibara. 23.

●Principais famílias colonizadoras da região norte do Ceará:

Daí a rapidez com que eles logo se entrelaçaram com outras famílias, no seio das quais imprimiram a sua marca racial, na formação de ramos unilaterais, nascidos de casamentos de seus descendentes com pessoas de outras linhagens e de outro sangue.
Os Magalhães, os Tôrres, os Vasconcelos, os Cavalcanti de Albuquerque, os Alves da Fonseca, os Paula Pessoa, os Sabóia, os Gomes parente, os Barbosa Cordeiro, os Frota, os Acioly, os Bezerra de Menezes, os Viriato de Medeiros, os Arruda, os Jucá, os Sanford, os Brito, os Castro, os Lessa, os Pires Ferreira, os Alves Pequeno, os Linhares, os Figueiredo, os Miranda, os Holanda, os Farias, os Pinhos, os Bessa, os Lopes Freire, os Martins, os Pontes, os Fontenele, os Memórias, os Araújo, os Andrade – todas essas famílias, originárias umas de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, outras da Paraíba e do Piauí, aliando-se, pelo casamento, às matrizes raciais da casa senhorial do português João Pinto de Mesquita, concorreram para ampliar a fronte da sua árvore genealógica.
Mas o velho sobrenome – Pinto de Mesquita – não desapareceu, não se diluiu neste profundo cruzamento com outras casas e linhagens. Ainda hoje ele perdura e se repete no prolongamento de uma parentela imensa que cobre grandes áreas dos municípios cearenses de Santa Quitéria, Sobral, Acaraú, Reriutaba, Uruburetama e outros. [...] . 24.


●Eleições para Juiz ordinário da ribeira do Acaraú:

Rico de terras e rebanhos, João Pinto de Mesquita desfrutaria também do que vinha por acréscimo aos chamados “homens bons” do tempo: [...] os cargos públicos.
Em eleições procedidas no Senado da Câmara da antiga Vila da Fortaleza, foi eleito, sucessivamente, nos anos de 1748, 1752, 1760 e 1764, para o cargo de Juiz Ordinário da ribeira do Acaraú. [...] [e] por Carta Patente, de 2 de outubro de 1755, dom José I, Rei de Portugal, o confirmou no posto de Sargento-Mor de Cavalaria do Regimento de Acaraú. 24.

O Sargento-Mor exerceu, também, as funções de membro e presidente do Senado da Câmara da antiga Vila Distinta e Real de Sobral e de Juiz-Presidente da Irmandade do Santíssimo Sacramento da mesma.
Morrerá, assim, detentor de tanto poder e honrarias, ele que já era senhor de muitos chãos, de muitos escravos, de uma legião de vaqueiros, crias e mucamas. 25.


●Inventario: o valor de um escravo em 1782:


[E na fazenda Jacurutu Velha] ... faleceu o Sargento-Mor, com oitenta aos de idade, no dia 23 de março de 1782, viúvo de Dona Tereza Rodrigues de oliveira [...].
Foram ambos sepultados na capela do Riacho dos Guimarães.
No inventário de João Pinto de Mesquita, [...] [feito em Sobral] além da prataria, moveis e imóveis, foram arrolados: 782 vacas parideiras, avaliadas todas pela quantia de 857$280; 120 novilhas, por 120$000; 100 garrotas, 620$000; 300 bezerras, por 300$000; 50 bois de açougue, por 100$000; 180 novilhas, por 190$000; 152 garrotes, por 40$000; 152 bezerros, por 29$000; 40 éguas, por 800$00; 20 poldras, por 32$000; 25 poldrinhas, por 25$000; 50 cavalos, por 250$000; 10 poldros, por 300$00019poldinhos, por 25$000; 12 burros, por 600$000; 2 cavalos de sela, por 140$000 – num total de 2.012 animais, entre, entre bovinos e cavalares.
Foram igualmente arrolados 28 escravos, avaliados num total de 1.960$000.
Era grande a fortuna do Sargento-Mor João pinto de Mesquita, um dos “homens bons” da época do povoamento. 25.

OBS: Daí montamos esta tabela:

Valor deduzido de um escravo no ano de 1782
28 escravos: ....................................1.960$000 Um escravo: ........................................70$000
50 cavalos: .........................................250$000 Um cavalo: ............................................5$000
Ou seja, um escravo valia o equivalente a 14 cavalos!



A PROLE DO SARGENTO-MOR

Em riqueza e fama cresciam os filhos [...] [do] patriarca do Acaracu.
Antonio Pinto de Mesquita, ainda a exemplo do pai, exercia os postos de Capitão das ordenanças e depois os de Capitão-Mor e presidente do Senado da Câmara da antiga Vila Distinta e Real de Sobral e nesta morreu, no dia 4 de março de 1807, com idade de setenta e um anos. P. 26-27.

Vicente Alves da Fonseca (genro de Antonio Pinto de Mesquita), [...] foi, como o sogro, fazendeiro rico e por demais influente nas ribeiras do acaraú, social e politicamente. [e uma filha de Vicente casa-se com Francisco de Paula Pessoa, de Granja].


●Francisco de Paula Pessoa, o senador dos bois:


De Vicente e [sua esposa] Antonia nasceu também uma única filha, Francisca Maria Carolina, em Santa Quitéria, a 15 de março de 1807, que se casou com Francisco de Paula pessoa, natural de Granja, filho do português Capitão-Mor Tomaz Antônio pessoa de Andrade e de Dona Francisca de Brito Pessoa, nascida na mesma Granja. 27.


Esse Francisco [...] Terminaria Senador do império e mais conhecido por Senador Paula. 27.

Possuía tanto gado que os Conservadores, seus adversários na política, chamavam-no de o “senador dos bois”.

Ninguém o excedeu, naqueles tempos, em poder e riqueza na região, onde ocupou os postos de maior relevo da governança local: Sargento-Mor das Ordenanças, Capitão0Mor, presidente do Senado da Câmara, Coronel-Chefe da legião, Coronel-comandante Superior da Guarda Nacional, Deputado Provincial e Vice-Presidente da província.
Por Carta Imperial de [...] 1848, foi nomeado Senador do Império [...] p. 27-28.


OBS: Era longa a circulação por parceiros; Granja, Sobral, Santa Quitéria, Crateús, Pernambuco etc.!


OBS: Vejamos o que os Anais da Biblioteca Nacional trazem sobre este cara:



Caro Amº e Comp(e) [...]

[...] limitarei-me a [narrar] hum acontecimento em Sobral, que tras todo o cunho de ser Paula Pessoa connivente nelle. Naquella Vª prendeu-se hum valentão, de quem dois sequases de dº Paulo se temião, e estando sentenciado a dois meses de prisão tramarão huma silada pª se descartarem delle: mandarão-no seduzir pª fugir, e lhe indicarão o beco, por onde deveria correr. Chegada a occasião [...] quando entrou no beco, foi-se encontrando com os dois sequases do Paulo hum com huma granadeira, que lhe foi arrumando com o coice della nas cruzes, que o fes beijar o chão, e o outro com huma espada, [...] [que] foi-lhe atirando hum golpe ao pescoço, o desgraçado metteu o braço adiante, e viu saltar-lhe a mão pela munheca; foi gritando, [que] o não matassem, que estava preso; as pessoas [...] o forão acompanhando na sua suplica, mas o desumano foi-lhe correndo duas estocadas, que o deixou por morto, e como de facto poucos dias depois morreu dellas.



Amigo e correligionário do Padre José Martiniano de Alencar, presidente da província, [...].28.

Morto Alencar, Francisco, juntamente com seu primo afim, o Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, tomariam a direção-geral do Partido Liberal do Ceará. 28.

Faleceu o Senador Paula a 16 de julho de 1879, em Sobral [...].

O Senador Paula pessoa teve um filho natural, o Desembargador Leocádio de Andrade Pessoa, que legitimou e de cuja educação cuidou. 29; este sujeito aparece como juiz municipal do Ipu em pesquisa de Oswaldo Araújo (O Povo, 04 de setembro de 1970. p. 9).


...Cruzaram, ainda, os filhos do Capitão Pinto de Mesquita com os Veras, de Crateús, com os Pires Ferreira, do Piauí, com os Andrades, de onde vem o Coronel José Júlio de Andrade, capitalista, dono de imensos seringais na Amazônia e Senador pelo Estado do Pará [...]. Isabel Pinto de Mesquita casou-se, em 1772, com o Capitão José Pestana de Vasconcelos, que foi juiz Ordinário e Presidente do Senado da Câmara de Sobral, natural de Pernambuco e filho do Tenente-Coronel Carlos Manuel César de Ataíde e Dona Luiza Francisca Rosa de Castro, naturais do Minho (Portugal). P. 29-30.


●União de Acioly, Pompeu, Catunda e Souza.


Do seu primeiro matrimonio, teve Dona Isabel [...] Geracina Isabel de Souza, que se casou com o Capitão das Ordenanças Thomaz de Aquino Souza [...] do Rio Grande do Norte.
Do casal [...] descendem os Pompeu e os Catunda [...].

Do Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, pai dos Doutores Thomaz Pompeu e Souza Brasil (Júnior), Antônio Pompeu, Hildebrando Pompeu e Dona Maria Tereza de Souza Acioly, mulher do Comendador Antônio Pinto Nogueira Acioly, que foi Vice-Presidente da Província, Senador da República e três vezes Presidente do Ceará, descendem Thomaz Pompeu Neto, [...] os Senadores Thomaz e José Acioly, o Dr. Thomaz Pompeu Sobrinho, Presidente do Instituto do Ceará, o Embaixador Hildebrando Acioly, [...] e Dona Branca Acioly Sá, que foi casada com o Senador Francisco Sá, o qual por duas vezes, ocupo o cargo de Ministro da Viação (era mineiro) (sic). P. 30.


De Gregório Francisco Tôrres de Vasconcelos descende a família Tôrres, hoje grandemente disseminada pelos municípios de Santa Quitéria, Ipu, Ipueiras e Novas Russas (sic).
Toda essa geração numerosa e ilustre, originaria do senhor da casa do Jucurutu, cruzando com diferentes famílias do Ceará e de outros Estados, multiplicando-se em gerações sucessivas, alongando em outras linhagens a velha estirpe dos Pinto de Mesquita, dando ao clã uma continuidade fecunda e perene. P. 31.


O SENADOR DOS BOIS

Francisco de Paula pessoa disse certa vez:

“Minha madrinha [Nossa Senhora], venho agradecer-vos tudo quanto pedi e me concedestes. Amansei dois mil bezerros, sou Senador do império e completo hoje oitenta anos. Mas, minha madrinha, oitenta anos é tão pouco...”


●Francisco de Paula Pessoa, o “Senador dos Bois”, era irmão de Pessoa Anta:


A vida de Francisco de Paula Pessoa não foi fácil. Foi duríssima, de começo. [...]. Quando já enriquecido pelo trabalho, os bens lhe são confiscados. O irmão, João de Andrade Pessoa Anta, um dos cabeças da revolução de 1824, é fuzilado no Passeio Público, em Fortaleza, juntamente com o Padre Mororó e outros republicanos. 32.

No municipio de Santa Quitéria, sede do clã, situou o Senador Paula o maior número das suas grandes fazendas de gado e isto ainda mais fixou a sua presença no seio dos parentes afins, estreitando os laços de convivência e de solidariedade.

Da probidade de Francisco de Paula Pessoa, conta-se que, ainda quando comerciante em Sobral, numa das viagens que sempre fazia ao Recife, onde se provia de mercadorias para a sua casa de comércio, ajustou [...] a compra, por quarenta e dois contos de réis, de [...] numerosas fazendas de gados [...] espalhadas pelas ribeiras do Groairas, Macacos, Mundaú, Aracatiaçu e Coreaú, numa extensão de muitas léguas. 33.

A compra dessas grandes áreas de terras, nas quais se incluíam centenas de cabeças de gados, escravos e benfeitorias, aumentou consideravelmente os cabedais de Paula Pessoa [...]. 33.

Francisco de Paula Pessoa começou a negociar aos quinze anos de idade, com recursos próprios, depois de sair do teto paterno [...] tendo se estabelecido, aos vinte e quatro anos, em 1819, na cidade de Sobral, onde se fez comerciante em grosso. [...] Sobral lhe daria reputação sólida e os títulos políticos a que já aludimos. 35.

...Prossegue na sua ascensão e presta serviços relevantes à ordem na repressão aos Balaios. Foi mais uma vez, um dos Vice-Presidentes do Ceará e, em 1848 [...] foi escolhido Senador do Império [...]. 33.

Em 1864, com a saúde debilitada, o Senador já não pôde comparecer ao Rio de Janeiro para tomar parte nos trabalhos [...]. 36.


●Francisco de Paula Pessoa era Primo da Mulher de Thomaz Pompeu de Souza Brasil.


Era amigo íntimo do Senador Padre José Martiniano de Alencar e seu correligionário fiel. Ao primo da sua mulher, o Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, passaria o comando do Partido Liberal na Província. A escolha de Pompeu para o Senado do império , em 1864, foi obra de Francisco de Paula pessoa, que tinha pelo parente afim e amigo dedicado a maior afeição. 36.

Um filho do Senador, Vicente Alves de Paula Pessoa, sentaria também numa das cadeiras do Senado da Monarquia.



O SEGUNDO SENADOR PAULA

●O primeiro Senador Paula foi Francisco de Paula Pessoa (o pai), e o segundo foi Vicente Alves de Paula Pessoa (filho daquele).


O segundo Senador Paula, Vicente Alves de Paula Pessoa, não foi um político militante como o pai, [...].

Filho do Senador Francisco de Paula Pessoa e de Dona Francisca Maria Carolina de Paula Pessoa, nasceu o Senador Vicente Alves de Paula Pessoa a 29 de março de 1828, na cidade de Sobral. Formou-se em direito, aos 22 anos de idade, pela Faculdade de Olinda, a 25 de novembro de 1850, voltando de Pernambuco ao Ceará, onde iniciou sua carreira de magistrado, como Juiz Municipal do Ipu, nomeado para essas funções por decreto de 2 de março de 1852. Foi Juiz Municipal de Fortaleza, Juiz de Lagarto em Sergipe, de São José de Mipidu, no Rio grande do Norte, e em Saboeiro, Aracati e Sobral, do Ceará. Juiz de Direito de Sobral, de 1866 a 1876, foi nomeado Desembargador da Relação do Pará, a 18 de dezembro de 1875 [...]. Dom Pedro II fê-lo Conselheiro em 1879, sendo ele aposentado [...] com as honras de Ministro do supremo Tribunal de Justiça, por decreto de 21 de outubro de 1880. p. 38.


Em 1881 [...] foi escolhido Senador pelo Ceará [...].

Morreu [...] na cidade de Sobral [...] [em] 31 de março de 1889: era um monarquista convicto, e não chegou a ver a Proclamação da República. p. 39.

Em 1877, publicou [...] sua obra mais importante, os “Comentários ao Código do Processo Criminal do Império”, [...].


●Livro de Vicente de Paula Pessoa: “Comentários ao Código do Processo Criminal do Império”.



O SENADOR THOMAZ POMPEU, UM PIONEIRO

Thomaz Pompeu.
Pai dele: Thomaz de Aquino Souza.
Aquele era Primo da mulher de F. de Paula Pessoa (36).
Genro de Nogueira Accioly. (49).

Sabe-se que o Senador [Thomaz Pompeu de Souza Brasil] fez o curso primário em Santa Quitéria, o berço natal dos seus antepassados, os Pinto de Mesquita, tendo por mestre seu próprio pai, Capitão Thomaz de Aquino de Souza, que era um homem suficientemente instruído, pois abandonara o Seminário de Olinda quando já cursava o primeiro ano de Teologia.
O Senador Pompeu era Padre e bacharel em Direito, ordenado e formado em Pernambuco. 41.

...Foi o Senador quem fundou o velho Liceu do Ceará... 44.

Jornalista, fundaria “O cearense”, órgão liberal, a 16 de outubro de 1846. .p. 46.

...Desde 1844, fôra (sic) eleito à primeira suplência da deputação geral, tomando parte nos trabalhos dessa legislatura, por falecido o [...] padre Costa Barros [...] . à Câmara Temporária foi chamado [...] até que em 1864 ocupou uma cadeira vitalícia no parlamento como Senador do Império. ...47.


●O Partido Liberal:

Os liberais pugnavam pelo trabalho livre, com a abolição dos escravos. Batiam-se pela temporalidade do Senado, então vitalício; pela autonomia das Províncias, que viviam sob o domínio da centralização do sistema monárquico, não tinham Constituição e cujos presidentes eram nomeados pelo Imperador e, como tais, meros delegados do poder imperial. E queriam ainda a reforma do sistema eleitoral, além de outras. 49.

Talvez se encontre aí a razão que levou seu sobrinho e afilhado, o Senador Joaquim Catunda, a aderir, mais tarde, ao ideal republicano.
O próprio Pompeu era um liberal avançado, da linha do chamado grupo ortodoxo do liberalismo, que tinha fundas raízes nos movimentos republicanos de 1817 e 1824, quando parentes seus, os padres Mororó e Miguelinho, foram imolados aos seus ideais de liberdade e republicanismo.
Era o Senador um legítimo herdeiro político de José Martiniano de Alencar e do Coronel pessoa Anta, irmão do primeiro Senador Paula Pessoa, e fuzilado juntamente com padre Mororó. Não estaria, a essa altura da sua vida pública, desiludido Pompeu do sistema monárquico reinante e já evoluindo para o ideal republicano?


●Thomaz Pompeu de Souza Brasil era genro de Acioly.


Tudo indica que sim: seu genro, o futuro Senador Nogueira Acioly, escolhido (mas não empossado) para a Câmara Alta, nas vésperas da proclamação da República, adaptou-se e sobreviveu bem ao advento do novo regime, do qual foi figura exponencial durante muitos anos. 49.

Era considerado o chefe dos liberais do norte do Império e muitas províncias do Sul lhe delegavam poderes para advogar seus interesses no Parlamento. 50


●Relatório de Thomaz Pompeu falando de educação:


...apresentou relatório ao chefe da província, no qual insiste pelas suas idéias reformistas [...].
“...A nossa educação secundária, modelada pelos liceus de províncias e colégios de cursos jurídicos, parece só ter em vista preparar nossa mocidade para esses cursos e dar-lhes uma educação puramente clássica e teórica, no que certamente não atende às necessidades educacionais do nosso país. Ela deveria compreender parte dos conhecimentos científicos que têm (sic) mais relação com as artes e as indústrias e que tendem a formar homens úteis e de alguns conhecimentos para a vida prática e produtiva, ficando ao gênio e ao talento especial dedicar-se à instrução literária e superior”.
E continua: “Nos países adiantados, como é sabido, aplica-se cada jovem àqueles conhecimentos que tem de utilizar na sua projetada vida futura. Entre nós, porém, depois de um conhecimento imperfeito de instrução primária, passam os educandos para o estudo do Latim, Lógica, Retórica, etc., seja qual for a profissão a que se vão dedicar, e entrados, depois, no terreno da vida prática, aplicados ao comércio, à agricultura, à criação e às artes, nenhum uso podem fazer desses conhecimentos, e são forçados a esquecer princípios que não sendo outra coisa mais do que preparatórios para as ciências superiores, não têm aplicação nenhuma na vida ativa e laboriosa a que se vão entregar no meio em que vivem. 51
E conclui: “Julgo, pois, conveniente que se reforme o nosso plano de educação, no sentido de se dar alguma tendência à nossa mocidade para a indústria e o trabalho, transmitindo-lhe alguns conhecimentos das ciências naturais, principalmente da física e mecânica, tão necessárias para o conhecimento da propriedade dos corpos, ação dos agentes naturais e suas diversas combinações e aplicações nos processos da indústria e do trabalho em geral. È notável que em um país onde a agricultura e a criação de gados formam meios de auxiliar a exploração e o desenvolvimento dos recursos naturais e de evitar os males que paralisam essas indústrias, meios que poderão encontra-se pela escola, no conhecimento das ciências práticas”. P. 51-52.


●Pompeu era Sócio da Estrada de Ferro do Baturité.


E quem defendia tais idéias era um humanista completo, de imensa cultura, bebida nas ciências e nos clássicos da antiguidade, um filósofo e um teólogo, um padre que era também um bacharel, um típico elemento da elite intelectual brasileira do século passado. 52.

Organizou a “Companhia Cearense Via-férrea de Baturité”, em 1870, destinada à construção da estrada de ferro que se estenderia, muitos anos depois, até a cidade do Crato, no sul do Ceará. 53.

Os trabalhos de construção do leito da estrada tiveram início no dia 20 de janeiro de 1872, [...].

Depois da sua morte, em 1877, os negócios da “Companhia Via-Férrea de Baturité”, da qual Pompeu era, desde a sua fundação, o presidente, sofreram sensível declínio, que poderia ter resultado na paralisação dos trabalhos de prolongamento da estrada, se o Governo Imperial não a houvesse encampado, como fez, por decreto de 8 de janeiro de 1878, no qual, também, autorizou o início da construção da Estrada de Ferro de Sobral. 53.


Raro comparecia às palestras nas “rodas nas calçadas”, hábito de feição cearense perfeitamente justificado naquela época em que não havia clubes nem casas de diversão”....(sic).




O SENADOR CATUNDA


●Catunda era inimigo do padre Correa e ambos eram liberais!!!


O Senador Joaquim de Oliveira Catunda, um Pinto de Mesquita que se fez liberal e depois republicano [...]. Era homem de muito talento, poliglota e autodidata, imaginoso e aristocrata.
Foi professor primário no Ipu, no inicio da sua vida pública, quando, então, escreveu a famosa biografia do último vigário colado da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, o padre Francisco Correia de Carvalho e Silva, político sertanejo dos mais astuciosos e petulantes em seu tempo. 56.


OBS: Catunda foi quem escreveu a biografia do padre Correa; se ambos eram liberais, que porra é essa? Nertan Macedo não poderia ter se enganado; o que nos deixa sem uma explicação convincente para um ataque tão virulento ao padre do Ipu. (poderia ser algo pessoal, intimo? Ou nesta época o padre era Conservador?)

Catunda nasceu na então povoação, hoje cidade, de Santa Quitéria, no Ceará, em 2 de dezembro de 1834, filho do Capitão Antônio Pompeu de Souza Catunda. 57.

Estudou [...] no Liceu do Ceará, tendo, nesse intuito, ido, em 1849, para a casa do seu tio e padrinho, o Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil.

Matriculo-se na Escola Militar, em 1857 [...].


Pretendendo, depois, um emprego público, foi nomeado segundo escriturário da Alfândega da Corte, por concurso, em 1862, e primeiro escriturário da Alfândega do Ceará, em 1864.
No ano seguinte, foi nomeado Oficial-Maior da Secretaria do Governo, em 1879, Secretário do Tribunal da Relação.


●Catunda morreu em 1907, como senador na República. Vê-se a facilidade com que estas elites se adaptaram aos novos tempos.

Antes da quedada Monarquia e depois da morte do seu tio, o Senador Pompeu, aderiu às idéias republicanas, fundando com outros companheiros o Centro Republicano do Ceará, do qual era presidente na data da proclamação da Republica, em 15 de Novembro e 1889.
Eleito Senador Federal, em 1890, faleceu no exercício de suas funções legislativas, pois for sempre sucessivamente reeleito, no dia 28 de julho de 1907, vitimado por uma gripe intestinal. P. 57.


● Livro de Catunda: “Estudos de História do Ceará”.


Como historiador – o Joaquim Catunda é autor dos “Estudos de História do Ceará”, reeditado em 1919 [...].
Anticatólico, responsabiliza, na introdução [...] o dogmatismo cristão pela quebra de continuidade no conhecimento da evolução humana.
Através dos séculos, o dogma, diz ele, serviu apenas para afadigar o espírito humano “no acanhado âmbito das concepções semíticas, cerradas pela Igreja e pelas fogueiras do Santo Oficio as avenidas que conduzem ao conhecimento científico das coisas”.

Ele representa o clássico cientificismo do século passado, o que, entretanto, não anula certa originalidade de Joaquim Catunda ao abordar coisas, fatos e homens da sua terra natal.


●Opinião de Catunda sobre a gênese do cearense: “preguiçosos, vagabundos e pederastas”.


Não tinha também muitas ilusões acerca do homem cearense, rebento do português predatório e dos tubinambás afeitos ao roubo, preguiçosos e salteadores, vagabundos e guerreiros, que “cultivavam com tal excesso o vício da pederastia que se pode considerar como uma das causas do pouco desenvolvimento da população” (referia-se à população do tempo do povoamento).
...Os índios cearenses não tinham moral nem senso de propriedade. Eram bebedores inveterados, comedores de piolhos e barro, exibicionistas sinistros, faladores em excesso. P. 58.

...”Se a raça fosse capaz de governo regular teriam (eles, os índios) chegado ao regime parlamentar, não por amor da loquacidade vã que tanto apaixona as raças interiores, e aos espíritos vulgares nas raças superiores”. 59.

Sempre a maltratar os índios, fala o Senador, com simpatia e admiração, dos jesuítas Francisco Pinto e Luiz Figueira, os dois grandes missionários da Ibiapaba, o primeiro dos quais assassinado pelos selvagens da região.

Não faltara a Joaquim Catunda desembaraço e firmeza para criticar as origens do seu povo cearense. Tais origens se revestiam de péssimos antecedentes e predicados.
“Foi a indústria pastoril [...] que povoou os sertões do Ceará. Crioulos portugueses das possessões africanas e das capitanias vizinhas se estabeleceram à margem do Pageú, do Pacoti e pequenos vales do Jaguaribe, do Acaraú e de outros rios. Nobilitou a coroa de Portugal o casamento de seus súditos com mulheres indianas, e a mestiçagem cresceu com rapidez prodigiosa. A mulher cearense é de fecundidade pouco comum”.
Dirá ele [...] da terra, que ela “foi também o refúgio de malfeitores, ladrões e vadios das capitanias vizinhas, onde já os inquietava a polícia. Essa estranha população vivia nos bosques, caçando e furtando gados...” p. 59.


●Catunda criticando a organização política e judiciária do Ceará (na república?):


Ao comentar depois a tentativa de organização política e judiciária do Ceará, não perde Catunda a oportunidade de, maliciosamente, recordar que os primeiros senadores eleitos “representavam o adiantamento intelectual da Capitania – somente um sabia ler e escrever”, mas, apesar disso, “não consta de documentação nem diz a tradição que nos tempos coloniais houvesse falsificação de ata eleitoral ou compra de votos”... p. 60.


●Compra de voto no inicio da república (?):

...“não consta de documentação nem diz a tradição que nos tempos coloniais houvesse falsificação de ata eleitoral ou compra de votos”... p. 60.

OBS: Ora, a necessidade da compra do voto, ou do “falseamento” das eleições, retrata justamente a crescente dificuldade destes grupos em manter o domínio, pois antes simplesmente não havia disputa.




OS CORONÉIS DE SANTA QUITÉRIA


A pequena Santa Quitéria é a cidade dos Pinto de Mesquita, no alto sertão norte do Ceará. 61.
Quem a viu, numa noite, adormecida à luz mortiça dos seus postes, ou sob um claro luar, não a esquecerá mais.

E, dede então, desde aquele recuado tempo, Santa Quitéria foi sempre dominada e governada pelos Pinto de Mesquita, que nela subsistem, que nela se reproduzem, na cidade, nas fazendas, nos povoados do município, ora com sobrenomes diferentes como Catunda, Pompeu e Magalhães, ora, e com maior freqüência, com o velho sobrenome originário do Minho. 61.

Vão assim realizando, através do processo agregativo e ininterrupto da comunidade parental, o sonho dos fundadores da cidade, que a desejavam destinada a perpetuar-lhes o nome e a tradição.


Santa Quitéria sempre foi, como dissemos, um domínio, um feudo dos Pinto de Mesquita. Estes, numerosos e influentes embora, mantiveram-se, pelo tempo a fora, ordeiros e pacíficos. A cidadezinha, familiar e endogâmica, não registra, na sua história, as façanhas e os dramas sangrentos, tão comuns a outras cidades e municípios sertanejos, de crônica avermelhada e bulhenta. 62.

Curioso: essa linha de comportamento social, característica da região, da qual Sobral é a expressão mais legítima, é motivo de pilheria para o resto do Ceará. Quem vai aos Estados Unidos de Sobral – dizem – tem que tirar passaporte e comprar dólares...
Uma única vez tiveram os Pinto de Mesquita de apelar para as armas.


●Assalto à Santa Quitéria (1825):

...quando a então povoação de Santa Quitéria foi assaltada, em abril de 1825, por um grupo de facínoras, chefiado por Benedito Martins Chaves, da célebre família Chaves do Coronel Manoel Martins Chaves [...] e aparentado dos Feitosas dos Inhamuns.

Visavam os salteadores, que, antes, já haviam investido contra Vila Nova D’El Rey (hoje Guaraciaba) e ameaçado a Vila do Sobral, saquear as casas de residência e propriedade do rico Capitão-Mor Antonio Pinto de Mesquita e seu genro, o Coronel Vicente Alves da Fonseca, mas estes, prevenidos em tempo, os repeliram, fazendo-os recuar numa noitada de nutrido e impetuoso tiroteio, no qual foram mortos dois dos do grupo assaltante, saindo outros feridos.



●Governador sugere a eliminação de criminosos:


...José Felix de Azevedo e Sá [governador da província] [...] oficiou, em 27 de abril de 1825, ao chefe de polícia, [...]: p. 62.
‘”Tendo chegado ao meu conhecimento o insulto feito na povoação de Santa Quitéria às autoridades da mesma povoação por Benedito Martins Chaves e outros de seu grupo, a ponto de atacar com armas e fazer fogo contra as pessoas e residências do Capitão-Mor do distrito, Antônio Pinto de Mesquita e Comandante do mesmo distrito, Coronel Vicente Alves da Fonseca, que estavam acompanhados de alguns cidadãos pacíficos que se tinham armado para se defenderam do premeditado insulto de Benedito, não havendo morte alguma [...] da parte dos pacíficos cidadãos, e sendo antes morto dois e feridos outros, dos agressores, e cumprindo-me primeiro dever guardar a ordem e tranqüilidade dos povos desta Província, pó-los ao abrigo de malvados e assassinos de que tanto se acha infestada esta província, já pelo desleixo de alguns Comandantes, ordeno a V. S.ª que preste todo auxilio ao sobredito Capitão-Mor e Comandante para a captura dos bandidos Benedito e seus companheiros, e lhe recomendo haja de empregar toda a diligência possível para prendê-los e remetê-los com toda segurança para as cadeias desta capital, podendo fazer-lhes fogo no caso de que façam a menor resistência, pois a sociedade, bem longe de perder com aniquilação destes e outros semelhantes, lucra consideravelmente com a restituição da sua tranqüilidade, tão atroz e injustamente roubada. [...]”. 63.

OBS: O ataque estendeu-se a Sobral, Santa Quitéria e Campo Grande; haveria nele alguma conotação política? Não sei, mas não podemos descartá-lo.

Passando esse acidente da sua história, retomou Santa Quitéria a sua marcha para o progresso, lento sem dúvida, como o de todas as velhas cidades sertanejas, mas impulsionado, sempre, pelo trabalho pacifico e a solidariedade parental dos seus habitantes.



●Seca de 1877:


[Antonio Bezerra, em 1883, passando por Santa Quitéria diz:]

“Assentada sobre a margem ocidental do rio Jucurutu, numa planície em forma de ângulo que descreve o rio deste lado, conta a Vila de Santa Quitéria umas cento e vinte casas distribuídas na longa praça em cujo centro se acha a igreja matriz, em três ruas das quais a melhor e mais bem edificada corre à esquerda do templo em rumo de Sul e Norte, e ainda em outras com largos intervalos em sentido contrário atravessando estas. Um edifício elegante quase vê ao lado oriental da praça, destinado à servir para a Câmara Municipal e Intendência, está abandonado à falta de um pequeno auxilio dos cofres provinciais. É pena; não há outro melhor em outra parte. Está traçado com todas as regras da arte. [o prédio foi concluído em 1888] O mercado no extremo sul da rua mais extensa, não está inda concluído, mas no que se há feito apresenta quartos de frente elevados que prometem, na conclusão, um excelente edifício. Perto daqui, levantam-se novas casas, pelo que noto que a vila se estende para este lado. É a primeira localidade que se lembrou de construir, depois da seca de 1877. A vila apresenta perspectiva alegre e como sertão o seu território é um dos mais produtivos da província. P. 63-64.


OBS: Vê-se claramente que a seca já havia se transformado numa “oportunidade” aos políticos daquele momento; a conclusão destas obras sempre está ligada às estiagens. O progresso, com a instalação de prédios públicos nesta área, está irremediavelmente ligado às verbas das secas.

OBS: Já havia intendências em 1883? Ou era só uma meta? Isso quer dizer que a maturação institucional não fora abortada com a instalação da república (1889).


●Bailes e festas de elite:


Algumas coisas do passado já não existem em Santa Quitéria. Deixaram, porém, forte memória naquela terra.
Animados bailes do sobrado da Intendência encerrando, com as suas valsas, chotes e quadrilhas, tradicional festa de junho, a mais importante e ruidosa que se celebrava na cidade e que atraía famílias da melhor sociedade de Sobral e de outras cidades vizinhas. P. 64.


●Colégio em Santa Quitéria e região em 1900:


O colégio do padre Tabosa (anos 1900-1904), o primeiro estabelecimento de ensino secundário que se instalou ao norte do Estado, de tanta significação para o tempo e o meio e que, numa pequena vila sertaneja, manteve sessenta e três alunos internos vindos de Sobral, Ipu, Crateús, Ipueiras, Itapipoca, Tamboril e outras localidades.


...o que mais se recorda e se venera em Santa Quitéria são as figuras austeras dos seus coronéis, uma legião de oficiais da Guarda Nacional que ali acampou para comandar, não soldados mas vaqueiros.


●A sede da Guarda Nacional? (pode ser, pois a cidade era muito influente no século XIX).


O pequeno burgo dos Pinto de Mesquita era, na verdade, o Quartel-General da velha e desaparecida Guarda Nacional no Ceará.
Certo, esses coronéis não comandavam corpos de tropas e aguerridos batalhões.


●Manipulação de eleitores:

A patente, ornada com a chancela oficial, dava-lhes, além de tudo – porque se não tinha comando militar, validamente o exerciam através da ascendência sobre a parentela numerosa, os vaqueiros e agregados, e chefiando as massas eleitorais que faziam marchar para as batalhas das urnas, tão acesas e atritantes como os entreveros de campo.


●Festas e fardão da Guarda:

Nos dias e nas festas de gala e nas procissões religiosas, os coronéis quiterenses vestiam o seu solene “croisé” (sic) de lapelas de seda e alguns deles ostentavam a sua farda de oficial da Guarda Nacional, enfeitada de dragonas e alamares.


Só o que não mudou foi o domínio que ali exercem os Pinto de Mesquita.
Nenhum alienígena será capaz de arrebatar-lhes o comando.
O partido do governo e o da oposição constituem grupos organizados e dirigidos pelos homens do clã.
Nem foi para outra coisa que um filho do patriarca do Jucurutu Velho fundou aquela cidadezinha sertaneja. P. 66.

Fortaleza, Ceará.
Março a julho de 1967.




APÊNDICE


NOTAS DE UM CADERNO DE LEMBRANÇAS DO SENADOR THOMAZ POMPEU DE SOUZA BRASIL, INICIADAS QUANDO AINDA ESTUDANTE DO SEMINÁRIO DE OLINDA


●Viagem de Santa Quitéria a Recife: 72 dias de viagem.


“Saí de minha casa [em Santa Quitéria] para Pernambuco, no dia 15 de julho de 1836, de Sobral no dia 23, do Ceará (Fortaleza) no dia 10 de agosto, cheguei no Recife no dia 27 de setembro, entrei no Seminário no dia 10 de outubro. [...]

●Santa Quitéria não ficava “no Ceará” (o Ceará era Fortaleza).


Saí de Pernambuco a 23 de novembro de 1843, cheguei em Santa Quitéria, muito doente de sezões, já ordenado sacerdote, a 12 de dezembro. Fui ao Ipu, a 10 de janeiro de 1844, andei por São Gonçalo [...], e voltei a Santa Quitéria a 8 de fevereiro. Fui para Sobral em princípio de março, onde fui convidado para defender uma causa civil no Ipu, para ali fui em princípio de abril. Saí para Santa Quitéria em junho, e dali para o Ceará, em julho, voltei do Ceará em fim desse, fui para Sobral em 2 de janeiro de 1845, e dali para o Ceará, passando por Santa Quitéria em 8 de janeiro. Cheguei ao Ceará a 18 do mesmo mês, com intenções de embarcar para Pernambuco. Fiquei aqui [...] quando aceitei o cargo de professor de Geografia e Diretor do Liceu”. P. 72.

Nasci a 6 de junho de 1818, em Santa Quitéria da Comarca de Sobral, Província do Ceará, filho legítimo do capitão Thomaz de Aquino Souza e Jeracinaa Isabel de Souza, [...]

Tive a notícia da morte de meu pai (em Recife), no dia 24 de dezembro de 1839 [...] . Morreu em Vila Nova [...] longe de casa, de sua família, longe de mim, seu filho mais caro. [...].


●Endogamia clãnica:


Casou minha mana Maria [Joaquina de Souza Magalhães], no dia 5 de julho de 1838, com o meu primo João Antônio de Mesquita Magalhães. Soube disto em Olinda, no dia 6 de setembro do mesmo ano. Casou-se, no dia 19 de julho de 1838, o meu mano [Antônio Pompeu de Souza Catunda] com a irmã do meu dito primo e cunhado, dona Inocência Pinto de Mesquita, filha legítima do meu tio capitão Ludovico Pinto de Mesquita, e soube em 6 de setembro do mesmo ano. P. 74.

OBS: Questões que podemos tirar daí:
a) Endogamia;
b) A demora na chegada das notícias;



●Pompeu torna-se padre e advogado:


Ordemou-me Diácomo, no dia 19 dede março de 1840 [...] o Exmo. Bispo D. João da Purificação [...] Cantei missa [...] no dia 18 de setembro de 1841. [...].
Tomei o grau de bacharel formado em ciências jurídicas e sociais a 24 de outubro de 1843 [...]. p. 73.

OBS: Estas eram estratégias da família para preservar postos de poder na Igreja, no judiciário e na política.


●Fala dos exames que prestou para ingressar no seminário, e para o curso de direito:

[Latim, aritmética, francês, inglês, Cronologia e História].


●Filhos “bastardos” do padre Pompeu:


Fui provido nas Cadeiras de Geografia e História e Diretor do Liceu do Ceará, em 18 de maio de 1842, com muita pouca vontade de minha parte, e só para anuir aos desejos de minha família que não queria que eu continuasse fora do Ceará. Neste mesmo ano, a 3 de agosto, tendo sido eleito 1º suplente de Deputado Geral, com a morte do Ver. Costa Barros, [...] passei a ocupar o seu lugar no Parlamento, e fui depois eleito deputado provincial. Em 1º de setembro de 1846, nasceu o meu primeiro filho que foi batizado pelo vigário Justino, sendo padrinho o Dr,. Lima; morreu a 6 de dezembro do mesmo ano. Em 11 de novembro de 1842, às 9 horas da noite, nasceram gêmeos dois filhos meus, um do sexo masculino, o outro do feminino, o primeiro [...] faleceu a 14 de junho de 1850. [...]. p. 75.

OBS: Repare que ele encara com a maior naturalidade o fato de ter filhos (só não aparece o nome da esposa; o que evidencia que a profissão de vigário não era levada muito a sério (era só uma questão de poder) e que a mancebia o incomodava, pois nada nos diz do nome de sua esposa, que lhe gerava “filhos naturais” e bastardos e um casamento “ilegítimo”.


● Tereza de Souza Acioly, filha de Pompeu e esposa de Acioly:


Minha filha Maria [Tereza de Souza Acioly] nasceu a 11 de novembro de 1849, foi batizada pelo vigário Carlos augusto Peixoto de Alencar, forma seus padrinhos seus tios, meu cunhado Coronel João Antônio de Mesquita Magalhães e minha irmã Maria Joaquina de Souza Magalhães [...]. O meu filho Hildebrando nasceu a 11 de dezembro de 1853, [...] foi batizado em casa, [...] foram padrinhos o Dr. Vicente Alves de Paula Pessoa e a minha sobrinha Joana de Oliveira Catunda, filha do meu irmão Antônio Pompeu de Souza Catunda, no dia 2 de janeiro de 1854.” P. 76.

THOMAZ POMPEU DE SOUZA BRASIL (DR.)

Filho do Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil, nasceu em Fortaleza a 30 de junho de 1852.

Depois de formado em 1872, assumiu a redação do “Cearense” ao lado do pai, de José Pompeu e João Brígido.

De 1878 a 1886 foi eleito e reeleito deputado à Assembléia Geral Legislativa, [...].

Em 1880 [...] a 8 de julho desse mesmo ano fundou , João Lopes,Julio César e João Câmara , a “Gazeta do Norte”, órgão dos liberais Pompeus.

● O Pompeu - filho - residente da província do Ceará:

Ao deixar a administração da Província, como vice-presidente que sucedeu ao presidente Henrique d’Avila, apresentou importante Relatório sobre a Assistência Pública em 1888 e 1889. p. 79.



● Atuação int