sábado, 23 de março de 2013


Hábeas Pinho
Do Poeta
Ronaldo Cunha Lima
Certa noite, de lua cheia os seresteiros da cidade de Campina Grande, estavam saudando a lua, fazendo uma romântica serenata... lá pras duas da madrugada, surge uma roda policial a época chefiada pelo então Cap. Luiz de Barros, que, alegando perturbação do sossego público, proíbe a serenata... não adiantaram os apelos, alegações, etc... O violão foi para a delegacia...
No dia seguinte, foram os boêmios procurar o Dr. Ronaldo Cunha Lima. Advogado militante, pedindo sua interferência para liberar o violão. O Dr. Ronaldo procurou o Juiz, Arhur Moura, então titular da 2ª Comarca de Campina Grande, pedindo que autorizasse a soltura do pinho... o Dr. Juiz sabendo que o brilhante advogado era Poeta, pediu que fizesse a petição em versos.... O Dr. Ronaldo Cunha Lima não se fez de arrogado... foi a maquina, e requereu o HÁBEAS- CORPUS DO VIOLÃO...

O instrumento do crime que se arrola
Neste processo de contravenção,
Não é faca, revolver, nem pistola,
É, simplesmente, doutor, um violão...

Um violão, Doutor, que em verdade.
Não matou, nem feriu um cidadão,
Feriu sim, a sensibilidade.
De quem o ouviu vibrar na solidão!

O vilão é sempre uma ternura,
Um instrumento de amor e de saudade,
O crime a ele nunca se mistura,
De quem ouviu vibrar na solidão!

O violão é próprio dos cantores,
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam as mágoas, que povoam a vida,
E sufocam as suas próprias dores!

O violão é música é canção,
É sentimento, é vida, é alegria,
É pureza é néctar que extasia,
É a dor espiritual do coração!

Seu viver, como o nosso, é transitório,
Mas seu destino não se perpetua,
Ele nasceu para cantar na rua
E não para ser arquivo de Cartório!

Mande soltá-lo pelo amor da noite,
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o temo açoite
De suas cordas leves e sonoras!

Libere o violão, Doutor Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito,
É crime, porventura, o infeliz,
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

 Será crime, afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores
Perambular na rua o desgraçado
Derramando na praça suas dores?

É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza do seu acolhimento,
Juntada desta aos autos nós pedimos,
E pedimos, também, DEFERIMENTO...

O Juiz, para não ficar por baixo, deu no verso o seguinte despacho:
Para que eu não carregue
Remorso no coração
Determino que entregue
A seu dono o VIOLÃO!









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o    "Recebo a petição escrita em verso,
E despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no cartório, um violão.

Emudecer a prima e o bordão
Nos confins de um arquivo, em sobra imerso,,
É desumana e vil destruição,
De tudo que há de belo no universo.

Que seja solto, ainda que a desoras,
E volte à rua, em vida transviada,
Num esbanjar de lágrimas sonoras.

Se grato for, acaso, qo que lhe fiz,
Noite de lua; plena madrugada,
Venha tocar `porta do juiz.!
·          

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