terça-feira, 1 de março de 2016

As Excelências – (Incelências)...

Cantiga de velório em uníssono sem acompanhamento instrumental, até o dia amanhecer e ainda cantavam benditas e excelências que falavam do Padre Cícero e outras cantigas alusivas a outros Santos e muito especialmente ao defunto. As vozes eram ouvidas a distancias, pois era muito comum nos sertões e nas serranias. Não só catavam, mas, entre alguns cânticos eram rezadas algumas orações em homenagem ao fiel defunto. 
                                           
Certa vez me encontrava na localidade de Ingazeiras, em companhia de um grande amigo do Papai seu Joaquim Camelo, que ia fazer umas “Incelências” localidade pertencente ao Ipu. Era muito menino mas fiquei ligeiramente amedrontado ao ouvir cânticos e mais cânticos na frente de uma pessoa morta. Pensei logo em correr, mas as pessoas que se encontravam comigo já bem amadurecidas me deram confiança e eu fiquei por alguns momentos vendo e ouvindo as músicas sem pé e sem cabeça naquele velório, o que ainda hoje eu não sei quem era.
Eram senhoras, mulheres já de idade com um véu sobre a cabeça quem entoavam cânticos dolorosamente tristes e lúgubres dando realmente uma impressão fortíssima do tétrico cemitério.
Tinha um que dizia assim “Vai simbora desta terra, pradispõs virá pó... santíssima trindade abençoa este irmão que aqui morô. Bendito Louvado Seja – BIS”.
Outras cantigas eram entoadas como: “Bendito louvado seja no céu a divina luz e nós aqui na terra louvemos a Santa Cruz.”.

“No céu, no céu, com minha mãe estarei no céu no céu com minha Mãe estarei.”

No dia seguinte após aquela noite de muita tristeza se processava o enterro, numa rede segurada por pedaço de pau que ia de um punho a outro da rede propriamente falada, segurado nos ombros de fortes homens, quase sempre eram da família do morto. Ao chegar ao Campo Santo mais rezas e cânticos, eram as despedidas o corpo era colocado numa cova de sete palmos limpo e seco sem rede e nem mesmo as urnas mortuárias de hoje; nem pedíamos pensar e nem mesmo admitir que nos dias de hoje fossem assim.
Era a despedida, cada um que estivesse presente teria que jogar uma pazada de terra ou barro para que não viesse acontecer com frequência outras mortes em suas famílias. 

Hoje não existe mais este tipo de velório apesar do sentimento de cada um os rituais fúnebres são bem diferentes. Missa, Músicas apropriadas, água benta orações e mais orações rezadas por algum Sacerdote ou mesmo por algumas pessoas leigas integrantes, de movimentos religiosos, renovações da Igreja Católica e outras mais.

Não podemos esquecer que atualmente existem as Carpideiras, que são contratadas por familiares de defuntos, que não encontrando uma razão para chorar chamam as especialistas para fazer as lamentações do morto recitando em voz alta e em lágrimas o que fez de bom na terra.
E assim caminha a nossa fé. Muitas das vezes disfarçada para mostrar a sociedade uma hipocrisia, e neste razão hipocritamente verdadeira é a função dessas infelizes Carpideiras.



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