sábado, 30 de maio de 2015

A Natureza do Mal

Cláudio César Magalhães Martins

            O mistério do mal é algo que acompanha todo ser humano desde seus primórdios. Segundo a concepção cristã, o mal entrou no mundo devido à inveja do diabo (Gn 3, 1-5) e ao pecado de nossos primeiros pais (Gn 2, 17; 3, 17-19). O primeiro assassinato de que se tem notícia foi o de Abel, perpetrado pelo seu irmão Caim. Movido pela ira e pelo ciúme, em virtude de seu sacrifício haver sido rejeitado por Deus, quando o de Abel foi aceito, Caim convidou o irmão para ir ao campo e lá o matou.
            A punição do Senhor foi severa: “De hoje em diante, serás maldito sobre a terra que abriu a sua boca para beber da tua mão o sangue de teu irmão. Quando a cultivares, negar-te-á as suas riquezas. Serás errante e fugitivo sobre a terra (ver Gn 4, 11-12).
            Ao longo da História, mesmo após a vinda de Jesus Cristo com sua mensagem de amor e perdão, o mal parece ter tomado proporções gigantescas.
            Só para citar episódios mais recentes, gostaria de lembrar o extermínio de 6 milhões de judeus pelo regime nazista da Alemanha, o genocídio promovido por Stalin contra os camponeses russos e, no momento atual, a cruenta guerra civil na Síria, onde milhares de pessoas inocentes estão sendo sacrificadas tanto pelo governo ditatorial de Bashar Al-Assad como pelas facções rebeldes que tentam derrubá-lo.
            No Brasil, observamos a violência crescente nos grandes centros urbanos, onde aumentam, a cada dia, os assaltos, os sequestros, os assassinatos de encomenda e o desrespeito generalizado às pessoas, notadamente aos idosos.
No âmbito da política, tem-se notícia da corrupção generalizada que campeia entre governantes e parlamentares, os quais desviam recursos em proveito próprio, em detrimento de milhões de pessoas carentes que amargam, além de seus problemas financeiros, a falta de assistência à saúde e à educação. Acrescente-se a insegurança, que hoje atinge níveis insuportáveis não apenas nas capitais, mas também em pequenas cidades do interior do país.
A tradição teológica e metafísica classifica o mal em 3 segmentos:
1.      Malum physicum – o sofrimento, a dor e a tristeza;
2.      Malum morale – o pecado e a imoralidade; e
3.      Malum metaphysicum – a finitude humana, tanto no que diz respeito à   moralidade quanto no que tange à ignorância, também chamada de mal epistemológico.                  
Para o filósofo Platão, o mal não existe. Como o mal, por definição, é a não existência do bem, trata-se de algo ontologicamente inexistente, pois não se pode admitir a negação de alguma coisa como se ela existisse de fato.
Já o Maniqueísmo, doutrina criada por Mani, da Pérsia, no século II de nossa era, pregava o dualismo entre o bem e o mal, duas forças antagônicas em constante conflito, cabendo a cada homem vencer a força das trevas (o mal), optando pela força do bem.
Santo Agostinho, no século IV, após sua conversão ao Cristianismo, posto que anteriormente havia aderido ao Maniqueísmo, defendia a tese, ainda hoje aceita pela Igreja Católica, de que o mal no mundo resulta da liberdade humana.
O homem, criado por Deus em estado puro e sem pecado, mas com livre arbítrio, pecou por sua livre escolha, caindo na tentação da serpente (o demônio), conforme nos conta a Bíblia (Gn 3, 1-7).
Como castigo, ficou sujeito ao mal moral, ao mal físico e ao mal metafísico.
Em sua Encíclica Dominum et Vivificantem, o Papa João Paulo II faz alusão ao pecado contra o Espírito Santo, referido pelos 3 evangelistas sinóticos (Mt 12, 31-33,       Mc 3, 28-29 e Lc 12, 10), que Jesus afirma não ter perdão. Tal pecado consiste em o homem reivindicar seu pretenso “direito” de perseverar no mal, rejeitando a salvação que Deus lhe oferece mediante o Espírito Santo, que age em virtude do sacrifício da cruz.
É o caso do homicida impenitente, do caluniador consciente do mal que está fazendo sem dele se arrepender, ou do ladrão do dinheiro público, que tem consciência dos malefícios decorrentes de suas atitudes, mas que, apesar disso, persevera em seus atos perniciosos.         
Em síntese, o mal é algo que acompanha o homem desde sua criação. Não obstante todos nós sermos tentados a praticá-lo, cabe-nos resistir a seus múltiplos apelos. Somente assim estaremos contribuindo para um mundo melhor, repleto de paz e fraternidade.

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