quinta-feira, 21 de maio de 2015

Meu canto ao Ipu
Autora: Maria da Conceição Viana Mourão


Todos cantam tua Bica,
Tua serra, a Iracema...
todos cantam tua lenda,
Todos te louvam em poemas,
Eu cantarei nos meus versos
De amor, de fé, de carinhos,
Teu passado, tuas ruas,
teus luares, teus caminhos.
Eu cantarei hoje e sempre
Teu velho tamarineiro,
Que me abrigou a brincar,
Que viu meu amor primeiro.
Não canto teu véu de noiva
Nem tua serra bela e altiva;
Canto ao canavial verdejante
E à grata escura e esquiva ...
Eu canto à lua de prata
A escutar na calçada,
A valsa do seresteiro,
À porta de sua amada.
Vou cantar taperas tristes,
Escuras, sem ar nem sol...
Eu canto tuas pracinhas,
Sob a luz do arrebol.
Cantarei também tua alma,
Num sorriso de criança
Que, franzina e maltrapilha,
Se sacia de esperança.
Canto ao caboclo tostado
Que olha o céu sob a mão,
Se espalmando ante seus olhos,
Cansados na sequidão.
Canto a sombra da oiticica
Que abriga a lavadeira
A lavar alvos lençóis,
Do rio na ribanceira.
Canto ao tranquilo regato
Serpenteando matreiro,
Beijando quintais floridos,
Espelhando alto coqueiro.
Eu canto o céu estrelado,
Tua audácia, tua raça.
Eu canto à brisa leve
Que se esconde lá na praça.
Meu canto é aos teus idos ...
É ao coreto, à avenida,
à retreta, que saudade!...
E à juventude perdida!
Canto à mocinha faceira,
De trança e vestido rosa,
Na rede a se embalar
De sonhos, doce e amorosa.
Canto à Bica, finalmente,
Como canta tua gente.
Quem faz poema e não canta
Tua linfa transparente?
Cantarei também à serra,
Que se recorta azulada,
No horizonte sem fim ...
Canto à lenda e a balada?
 Canto ao poeta lpuense,
Canto ao torrão terno e amado;
Canto à gleba abençoada,
Canto ao fruto sazonado.
Canto um hino à tua história,
De paz, minha Ipu querida,.
Canto augúrios de progresso,
A ti que me deste a vida.


O velho jangadeiro cearense
Autora: Maria da Conceição Viana Mourão


Estive olhando o mar, justamente no instante,
Em que o horizonte abrigava o sol,
Numa voluta acobreada entre o mor e o céu!...
Recostada em um rochedo, pés mergulhados na areia
Ainda morna e alvacenta, eu prescrutava no poente,
A face bonançosa da lua surgindo prateada a jusante,
Do outro lado lá distante, entre a terra, o mar e o céu!...
Estive silente a perlustrar a fimbria da imensidão,
Buscando algo indefinido, algum ser vivo, talvez,
Que me roubasse à solidão ...
De repente eu vislumbrei sobre as vagas encrespadas,
Um branco, trêmulo triângulo, longínquo a me acenar!
_ Seria um ente amoroso, no convés de um navio,
Mergulhado no convexo horizonte, a despedir-se em lágrimas
De um alguém que ficava tristemente a soluçar,
Num a praia do Ceará?
Não! Não seria!
Seria branca gaivota perdida no céu, o acaso,
Envolvida em névoa e vagas, agitando as alvas asas, 
Sem socorro, sem destino, no ermo, entre o mar e o céu? 
_ Não! Não seria!
No lusco fusco brumoso da noite que já chegava,
A vela branca enfunada da jangada que tardara,
Deslizando sobre as ondas, voltava então para a praia 
Com o velho jangadeiro...
Perlonguei mais uma vez, o horizonte escurecente
E quedei-me a cismar! Minha vista ou a penumbra
Confundiam as cãs alvadias do velho rijo jangadeiro 
Com a espuma esfiapada das ondas brancas, revoltas ·Que separam o céu do mar!
O vento fez tremer-me o corpo, e anuviar-se-me a vista! 
Não percebi nem distingui se era o tronco enrijecido
Pelo tempo e as intempéries, do velho jangadeiro encarnecido, 
Ou se via as toras nodosas do estrado escuro da jangada,
Ambos com o mesmo destino.
Enfim regressavam ilesos; 
 _ Ele à cabana e ao abraço da cabocla envelhecida, Sempre, sempre à sua espera!
_ Ela, a jangada silente, à placidez tépida da areia, Entre a terra, o mar e o céu! 
Estive mas uma vez olhando o verde oceano...
A jangada, a praia e a cabocla, a tosca choupana, o coqueiral. 
Senti Inveja do velho jangadeiro, tão feliz com o amor de sua vida,
Tão senhor do seu tempo, da sua lida, tão servo do vento, do céu, do mar!

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