Repensando Reflexões
João Martins de Souza Torres
O ser humano, em sua longa evolução,
chegou, a duras penas, ao estágio de HOMO SAPIENS (SAPIENS, do latim, quer
dizer: que sabe, sábio, prudente, sensato). É, então, dotado de inteligência,
pensa e tem a capacidade de evoluir.
Abstraindo-se de concepções
religiosas, por não ser o escopo desta exposição, ele, o ser humano, dispõe de
vários recursos para expressar seus sentimentos, pensamentos e desejos. Um dos
mais importantes é a fala, daí a criação da palavra, evoluindo para a escrita
da mesma.
Palavra, em latim VERBUM (verbo), vem
do grego PARABOLÉ: faculdade de se expressar por meio de sons articulados;
fala.
Verbo (palavra) é um conceito tão
forte que é usado na Bíblia para significar o Filho, a segunda pessoa da
Santíssima Trindade. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.
Sabe-se que grande parte das palavras
tem um ciclo de vida: nascem, modificam-se e podem desaparecer. Umas são
longevas, como amor, felicidade, tristeza, dor, alegria. Outras, contudo, são
fugazes ou adormecem no desuso. Algumas assumem modifica- ções em seu
significado original. Por exemplo: Mundo, do latim MUNDUS (limpo, oriundo do
verbo MUNDARE=limpar), há muito tempo quer dizer Universo. Atualmente, o mundo
não está limpo, está imundo em virtude dos maus-tratos. Outra palavra 56 para
Universo vem do grego KÓSMOS (cosmo), cuja tradução é limpo, adornado. Daí o
termo cosmético.
Voltando ao título REPENSANDO
REFLEXÕES, pensar, etimologicamente, signifi ca pesar, considerar, ponderar.
‘Repetido’, é repensar. Já ‘reflexões’ vem de refletir (do latim REFLECTERE),
fazer retroceder, desviando da direção inicial, meditar.
Busquei rever assertivas, provérbios
e dizeres, todos consagrados pelo austero tempo, e passo a refletir sobre
alguns.
Inicio pelo termo ESTUDO (STUDIUM, em
latim). Hoje, como nunca, se fala em todo o Brasil e para todo o país sobre a
inquestionável importância e necessidade do estudo, da escolaridade e, mais
abrangentemente, da educação. É uma bandeira tratada, prometida e garantida com
muito ardor e pouco pudor por todos os candidatos a cargos eletivos.
A palavra ESTUDAR deriva do latim
STUDERE que, primeirissimamente, quer dizer: aplicar-se, ter cuidado, pretender
alguma coisa com empenho, esforçar-se e, só por último, tem o significado de
estudar, aplicar-se às letras. Atualmente, só permanece este último conceito.
Então, não nos esqueçamos, estudar significa esforçar-se, ter determinação e
persistência, motivação, garra. Assim agindo, o resultado é muito promissor na
grande maioria dos casos.
É muito edificante e comovente o
antigo dizer: “CADA UM POR SI E DEUS POR TODOS”. Não sou contra, mas acharia
bem mais apropriada uma decisiva modificação: “Cada um por todos e Deus por
cada um”. Isto livra a primeira assertiva de um profundo individualismo. É bem
mais recomendável e ético que cada um lute por todos. Em assim fazendo, pouparíamos
a intervenção divina e atenderíamos a sábia observação bem antiga e
consistente: “O que não é bom para o enxame não é bom para a abelha”. É provado
pela História que o individualismo exagera- 57 do e desrespeitoso prejudica o
coletivo, que acaba inviabilizando com o tempo a pretensão individualista.
Passou o tempo da “Independência ou Morte”, hoje vale “Interdependência ou
Morte”. Com a modernidade e o estonteante progresso tecnológico cada vez mais
dependemos uns dos outros. Que o solitário ceda lugar ao solidário!
O que dizer do HOMO SAPIENS? Tem sido
sábio, prudente o animal humano ter se autocognominado SAPIENS, o único ser
inteligente da escala biológica? Ele reina como o maior predador da Mãe
Natureza (Gaia). Produziu armamentos capazes de destruir o planeta Terra e a si
mesmo acima de cinquenta vezes. Diz-se que, por ser o maior predador, Deus o
castigou severamente dando-lhe um terrível predador: o próprio homem. Daí o
dito da antiga Grécia: “O homem é lobo do homem”. Vide as guerras, os genocídios,
a miséria e a fome dos desfavorecidos em consequência de perversas políticas
econômicas. Este é o HOMO SAPIENS ou o HOMO BURRIENS?
Sabe-se que os dois maiores
orçamentos do mundo atual são, em primeiro lugar, o bélico, e, em segundo
lugar, o do narcotráfico, este oficioso. Ambos destrutivos em essência e
desnecessários se o homem fosse, de fato, SAPIENS, ético. Sobrariam recursos
financeiros para a humanidade, com justiça e respeito, refazer o paraíso
perdido na Terra. O mundo seria limpo (Mundus) e ornado (Kósmos) numa
verdadeira e ampla visão ecológica.
Jesus Cristo, solicitado por seus
discípulos, lhes ensinou a mais bela, concisa e consistente oração: O PAI
NOSSO. A refletir, merece consideração o seguinte trecho: “Perdoai as nossas
ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Então, nós homens
estamos pedindo a Deus que nos perdoe da maneira com que nós perdoamos nossos
semelhantes. Isto é muito comprometedor, pois é reconhecida a nossa pouca
capacidade 58 em perdoar. Atentemos para o nosso crescimento na prática do
perdão! Lembremo-nos que perdoar vem diretamente do latim PERDONARE (donare -
dar; per – demais, antes). Busquemos pelo amor a Deus e ao próximo a virtude do
perdão que é uma atribuição divina, exigida na Nova Lei introduzida por Cristo:
o amor ao próximo, mas também até aos inimigos.
Se a fala (palavra) pode ser
poderosa, o que dizer do silêncio? Ousaria propor que o silêncio é uma fala
muda, em princípio prudente. Apesar de recomendável, nem sempre o silêncio é
bom. Pode significar omissão. Em ambas as situações não deve haver prejuízo da
verdade. “Um tolo que não diz palavra não se distingue de um sábio que se cala”
(Molière, 1622-1673).
A favor do silêncio vale a assertiva
de Carlos Afonso Schmitt: “Quando a palavra superar o poder do silêncio, use-a.
E só então”.
Por conveniência de espaço, concluo
estas poucas reflexões citando um pequeno grande texto do poeta chileno Juan
Guzmán Cruchaga. Trata-se da arte de sentir e do saber. Chamarei de “Hino a
Jó”:
“Dou por ganho tudo o que perdi.
E por recebido tudo o que esperei.
E por sonhado tudo o que vivi.
E por vivido tudo o que sonhei”.
Paz e Bem!
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