Reminiscências e Saudades.
A recordação é um relicário do passado,
onde guardamos com requinte e zelo as preciosidades do nosso afeto, a qual
conservou com grande estima e veneração, merecendo por seu valor inestimável o
nosso enternecido amor.
Ao revisarmos o arquivo do passado
descobrimos reminiscências tão vivas, que decantam a nossa saudade,
embriagando, a nossa voz, embevecendo a nossa imaginação, num revolver de
suprema felicidade.
Saudade é a vontade de ver e reviver de
novo as páginas de ouro que ilustram a nossa vida.
É embevecida por esta magia de
sentimentos afetivos, que quero sentir o prazer de focalizar os tempos idos e
vividos nesta Ipu tão querida, cantada e decantada pelos seus filhos.
Meu Ipu, nesta noite bonita em que a
música enche os corações de reminiscências e saudades. Eu lembro com emoção o
catecismo na residência do senhor Plácido Passos, com toda a dedicação nos
ensinava amar a Deus...
Nas tardes de maio, que na misticidade de
seu encanto, convidava-nos a prece; na nave principal da Igrejinha estávamos
nós crianças a espera do ensaio da coroação que encerrava o mês de Maria. Todas
as crianças felizes cantavam “saudemos Maria, cantemos louvores”...
Quantas saudades!... Lá na Igrejinha
símbolo principal de nossa terra, nos consagrávamos como soldados de Cristo,
onde diariamente íamos rezar ao Cristo sacramentado a visitinha...” Meu
amiguinho Jesus aqui presente no sacramento do Vosso amor,eu vos adoro”.
Na Casa D’Aula realizávamos os nossos
festivais com cançonetas e peças teatrais e logo após os ensaios Valderez,
Urânia, Glaura Soares, Assunção Martins, Zulene Paiva e Auri cantavam “Tenho no
morro um barracão de zinco, muito velhinho e de minha estimação”... A Lua
passeava no céu e derramava sobre nós a sua luz argêntea.
Reminiscências e saudades dos desfiles da
Cruzadinha pelas ruas da cidade, as fotos batidas no patamar da Igrejinha, em
que a criançada buliçosa se preparava para tirar os retratos.
Saudades dos piqueniques que realizávamos
no Gangão criançada alegre e feliz se dirigiam para aquele recanto acolhedor e
bonito. Cruzadinha, marcaste nossa vida com o sinete da fe e d amor a Deus.
Saudades doces recordações do colégio do
Dr. Targino que nas datas cívicas apresentava ao som da Banda local, belas
ginasticas na Praça Abílio Martins, avivando em nós o amor cívico.
Saudades do Damiao Pezão, que nas caladas
da noites passava na rua da Goela
conduzindo sua cadelinha a latir e um violão. Cantava a doce Lua, voz bonita a
bela voz: “Meu amor por que pensas ainda em mi, não choremos a vida passada,
por que todo romance tem fim”.
Saudades e doces recordações do grande
seresteiro Alberto Aragão que dedilhava com perfeição o velho pinho e percorria
as ruas da cidade com os amigos nas noites serenas e claras de lua, cantando “A
Deusa da minha Rua” “Velho Realejo”, Amarguras”,” Deusa da minha Rua”., e etc.
e sua voz enchia o silencio das noites acordando o Ipuense.
Alberto Aragão, com sua energia moça e vibrante,
robustecido pelo entusiasmo, ora apaixonado pelo bem e pelo belo.
Ipu!...Pequenina, bonita... Hoje venho
extravasar os meus sentimentos de afeto, perfumados como o aroma da saudade.
Valdemira Coelho
Ipu: 29/10/89
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