APRESENTAÇÃO
Ao
ler “Nos Respingos da Madrugada”, do
professor Francisco Melo, busquei inspiração para escrever esta apresentação
sem me influenciar pela nostalgia e pela inspiração natural de minha terra.
Confesso que foi difícil e não garanto que consegui, mas tentei. Procurei
abordar em duas frentes: na forma e no conteúdo.
Na
forma, vi poemas e poesias na estrutura clássica, como o soneto. Forma que não
é contemplada por todos escritores. São poucos os que se aventuram em expor
seus sentimentos, através de uma forma rígida de dois quartetos, estrofes com
quatro versos, e dois tercetos, estrofes com três versos. Isto não pode mudar,
embora rimar ou não fique a critério e a gosto de cada poeta.
Independentemente
da rigidez da forma, o autor Francisco Melo não se fez de rogado ao versar
sobre nossa terra cheia de encantamento, como se pode deleitar no soneto Ipu:
Distende-se imponente no horizonte
A Ibiapaba. Da falda pedregosa,
Além, despenha a bica rumorosa.
Valados e alcantis férteis defronte.
Largos, ruas e praças. Sobre o monte
A elegante matriz. Alta, e nodosa,
A antiga prefeitura. Remansosa,
A várzea – o regato, a tosca ponte.
Em ridentes belezas adornadas,
- berço agreste – cidade sossegada,
Que recordo com puro afeto e amor.
Banhada ao claro sol, terra singela,
- pitoresco jardim – linda aquarela,
IPU é toda graça, luz, primor.
Também
ele expressa vários sentimentos como sonhos e saudade, em versos livres, estilo
do modernismo, veja:
Sonhos, saudade, alvorada:
Sombras surgindo de alvoradas frias
Numa eclosão de dúbias silhuetas
Surgem da luz estrelas e cometas,
Flutuantes, exóticas, vazias.
Noutros
momentos, esbanja em fragmentos de poemas como que ensinando aos alunos em “O
aluno é a causa eficiente, o professor, a causa instrumental.” E numa frase de
Lauro de Oliveira Lima, cita: “O Professor não ensina, ajuda o aluno aprender.”
No
campo do conteúdo, reside a maior inspiração do poeta e professor dos ipuenses,
Francisco Melo. Ele nos brinda com ideias de paixão intensa pela nossa terra;
de noites estreladas de carinhos e gestos apaixonados; de canto de poetas, de
pássaros, além de encantos pela alegria, pela jovialidade, pela maturidade,
pelos sons das alvoradas; faz-nos rever a melodia das serenatas de poesias; os
encantos dos campos do sertão verdejante cheio de milho verde e arrulhos dos
passarinhos... Veja o trecho a seguir, seguindo o reboliço dos seus pensamentos
também verdes de esperança ao reviver o canto dos pássaros, mesmo que presos:
O passarinho canta, canta! ...
E sem tristeza, quando canta preso,
Parece altivo e da cadeia o peso
Não lhe enfraquece o timbre na garganta.
Como
amante da vida, canta o presente, o passado e o futuro neste belo soneto:
A vida é bela e nos impele a frente,
Deixando altos de saudade atrás...
Cada um domina apenas o presente,
Nestas lutas de adulto de paz.
A poeira dos caminhos não consente.
Visão perfeita, em meio aos temporais:
Ao sol ou aos crepúsculos do poente,
Seremos sempre crianças, nada mais.
Correm os tempos e os cabelos brancos,
Contra a vaidade, desmoronam frontes,
De cavalheiros abatendo arrancos.
Ao final desse itinerário louco,
Da morte o crepe encobre os horizontes,
E o homem lamenta haver vivido pouco.
Sem mais delongas, encerramos a apresentação de “Nos Respingos da Madrugada” com um dos
mais belos momentos poéticos do livro, expressando uma esplendorosa filosofia
de vida no poema moderno
“Momentum”.
Ei-lo:
Nenhum instante tão profundo
Como um segundo.
Nenhum lugar tão perfeito
Quanto o leito.
Sebastião
Valdemir Mourão
Presidente
da Academia Cearense da Língua Portuguesa
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