sábado, 14 de março de 2015

Dia da poesia e do poema

Publicação: 2015-03-14 07:59:00 
 
Dácio Galvão
Hoje se celebra oficialmente o dia dela que sabemos pode ser também e o é comemorada todos os outros dias e anos fora do calendário oficial. O mundo, o que seria sem com sua ausência? Ela a poesia ou ele o poema nos acompanha desde ritos imemoriais que em signos de representação ganhou valor estético e, portanto poético atravessando incursões interstícios em eras evoluções revoluções... Na digital então se conectou planetariamente. Fruição aos borbotões. No Brasil de tantos e tantas... do barroco Gregório de Matos Guerra, do inconfidente Tomás Antonio Gonzaga. Do tremor lingüístico do “terremoto clandestino” Souzândrade ao simbolista Pedro Kilkerry. Do repertório cientificista de Augusto dos Anjos ao adorno parnasiano de Olavo Bilac. Dos modernistas Oswald e Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, João Cabral de Mello Neto, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Vinícius de Morais. Dos concretos Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Ferreira Gullar. Do poeta processo Wladimir Dias-Pino até os marginais Waly Salomão, Francisco Alvim, José Carlos Capinam, Chacal, Charles Peixoto... Abriremos janela para visualizar espaço no cânone potiguar. 

     Frestas, fricções. Prosa de poéticas. Crônica-poesia fragmentária de Luís da Câmara Cascudo em momento de efervescência cultural nacional. Fora publicada na Revista de Antropofagia, em São Paulo circulando em 1928/1929. Fizemos o recorte textual para gravar na voz do tradutor, ensaísta e poeta Augusto de Campos. A composição, viola de 10 cordas e tratamento sonoro ficou por conta de Cid Campos. Esse documento sonoro compõe o CD “Poemúsica”, do Projeto Nação Potiguar que ainda registra entre outros os poetas Jorge Fernandes recitado por Tetê Espíndola; José Bezerra Gomes na leitura de Lenora de Barros; Miguel Cirilo e Luís Carlos Guimarães na voz de Jomard Muniz de Britto; Homero Homem vocalizado por Péricles Cavalcanti; João Gualberto Aguiar na intervenção de Madalena Bernardes; Diva Cunha na fala Bianca Maggi; Moacy Cirne por ele mesmo; Anchieta Fernandes na ocupação fônica de Walter Silveira... Projeto gráfico de Afonso Martins sobre fotografias de Candinha Bezerra. Na capa objeto cinético de Abraham Palatnik. Numa das folhas do encarte o toque: “Uma viagem potiguar / do texto linguístico ao poema visual / com vozes nacionais. / Foi a base do repertório. / Moagem da poesia ao poema / fora do estático da página. / No tratamento sonoro / não só a poesia / a música / também poemúsica /em mais um musical para Natal. Vamos de prosa e poesia. Ou melhor de “proesia” na cidade em que de há muito virou mote: “Natal um poeta em cada esquina”! Destila Cascudo:
Cidade do Natal do Rio Grande 
Tem o rio e tem o mar.
Cinema. Autos. Sal de Macau. 
Algodão do Seridó.
Cera de Carnauba. Couros.
Açucar de quatro vales largos e verdes.
O pneu amassa o chão vermelho
Dos comboio lerdos, langues, lindos.
Poetas.
Morros, areias, orós,
Siris e aratus grudados nas pedras. Centros operários.
Cidade pintada de sol
Com uma alegria de domingo.
À noite pesca de aratu no facho,
Nas pedras longes de Areia Preta.
Cajueiros. Coqueiros. Mongubeiras.
Bailes do Natal-Club.
Luar impassivelmente romântico.
Serenatas.
Bó-nito. Grog à frio.
Magestic, Anaximandro, Cova da Onça.
Bonds, auto-ônibus subindo.
Pregões.
Por cima das casas zunzeiam, ronronantes e zonzos, 
Motores roncando sem rastos dos aviões.
PS: No dia em que se festeja Castro Alves, o prato é cheio. Esborrotando de poesia. Cardápio variado. No Mercado de Petrópolis tem café da manhã: Barra Mansa, Nicolas Behr, Caetano da Ingazeira, Chacal, Frederico Barbosa e poetas afins cantam e decantam seus textos performáticos. É só se chegar e levar sua aprontação como diria Cirne. Espaço livre aberto. Tribuna democrática onde se pode ser verbi-voco-visual, condoreiro, épico, vanguarda, marginal, diletante, casual. Nos encontramos. 

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