IDEAL
O ideal é que diferencia o homem de idéias dos homens
comuns. O ideal é que move o homem aos grandes empreendimentos. O homem sem
idéias é um homem morto. São as idéias quem movem o homem para um universo que
somente os idealistas o alcançam.
Em todos os segmentos da vida, as idéias são
importantes, mas é na política onde elas se destacam com mais clareza. Nela,
tivemos grandes homens que se destacaram por suas idéias. Quer dizer, por seus
ideais.
Vou citar alguns: Abraham
Lincoln, que era um simples lenhador e se transformou em presidente da
maior potência do Mundo - Estados Unidos da América. Foi ele não apenas um
grande estadista, mas também um excelente filósofo, deixando frases que
transcenderam os tempos. Exemplo: “Enganam-se a todos por algum tempo.
Enganam-se alguns por todo tempo, porém não se engana a todos por todo o
tempo”. Outra dele: “não se faz independência financeira permanente com
dinheiro emprestado”. E tantas outras.
Aqui mesmo no Brasil, tivemos políticos de grandes
ideais. Vou citar alguns e peço desculpas por tantos outros que por alguns
motivos não citarei. O Presidente Washington
Luís, que teve a idéia de construir estradas e as construiu. Ele não
poderia ter sido mais feliz, quando pronunciou a seguinte frase: “as estradas
chegam primeiro, o progresso vem depois: é através delas que ele chega”.
Um outro, o nosso JK, o Presidente Bossa Nova, boêmio, inteligente, mas
acima de tudo um grande idealista. Juscelino
Kubitschek de Oliveira idealizou para o Brasil fazer cinqüenta anos em
cinco e o fez! Construiu Brasília e, em conseqüência, mudou a capital para o
Planalto Central do Brasil. Trouxe para cá as fábricas de automóveis, pois,
naquela época, até mesmo os táxis eram importados. Essa foi apenas uma das
muitas peripécias de JK! Ele era tido por muitos como doido! Mas todos os
grandes idealistas são lunáticos.
O Rio de Janeiro, no começo do século XX, tinha uma
grande falta d'água e, com isso, trazendo grande sofrimento ao seu povo. Era um
problema crônico, passara por muitos governantes e ninguém o solucionava. Foi
então no governo do prefeito Francisco Pereira
Passos (tendo seu mandato de 1902 a 1906) que embelezou ainda mais o Rio de
Janeiro com suas obras faraônicas, como: abertura da Avenida Central, (hoje)
Rio Branco e tantas outras. Mas uma coisa merece destaque em sua gestão: ele
idealizou que acabaria com a falta d'água na cidade. E para isso, ele contratou
dois jovens engenheiros que lhes garantiram que, se houvesse recursos, em um
mês sanariam o problema. Eram eles Dr.André Gustavo Paulo de Frontin e Dr. Raimundo Belford
Roxo. Esses jovens captaram água de Tinguá e Rio D'ouro na Baixada
Fluminense e em poucos dias o Rio tinha água. Muitos logradouros hoje
existentes nessa cidade homenageiam esses heróis: Av. Passos, no Centro do Rio,
Av. Paulo de Frontin, no Rio Comprido, Rua Belford Roxo, em Copacabana. Até
mesmo duas cidades do Estado receberam os nomes desses heróis, Paulo de Frontin
e Belford Roxo, como prova de gratidão dos benefícios que os esforços desses
jovens trouxeram a essa cidade.
O jovem médico e sanitarista, Osvaldo Cruz, nascido em São Luís do Paraitinga em São Paulo, pagou
um preço alto pelo seu ideal, mas livrou o Rio de Janeiro da febre amarela e
outros males endêmicos existentes na época.
Essa gama é infinita, vou citar um por quem tenho a
maior admiração e respeito: Delmiro
Gouveia. Muito mais que um idealista, foi um visionário; ele via o mundo
muito além de seu tempo, de sua época (Aliás me perdoem; todos os idealistas
são, antes de tudo, uns visionários.).
Delmiro Gouveia, nasceu em Ipú, uma pequena cidade da micro região de Sobral no estado do
Ceará em 1863. E para não fugir a vocação do cearense: migrou. Só que ele não
deixou o seu nordeste. Tornou-se empresário em Recife, capital do Estado de
Pernambuco. O Recife era uma cidade cosmopolita, e ele, apesar de empresário e
bem sucedido, era, em seu âmago, apenas um menino do sertão. Pensando assim,
Delmiro voltou para o sertão. Só que, não mais para o Ceará; subiu pelo Rio São
Francisco, e em Alagoas se instalou na cidade de Pedra, distante trezentos
quilômetros de Maceió. Essa cidade se chama hoje, orgulhosamente, “Delmiro
Gouveia”, onde ele morreu vítima de uma emboscada, em 1917, que fora organizada
por pessoas invejosas e que, seus pequenos pensamentos não alcançavam a
grandeza de seus ideais.
Enumerar os fatos, resultantes das idéias de Delmiro
Gouveia, um livro seria pouco. E os frutos de suas idéias, que estão por aí,
frutificando até hoje. Mas, uma de suas idéias tem destaque - pela
suntuosidade, pela magnitude e relevância dos serviços que vem prestando até
hoje ao povo brasileiro, principalmente ao povo do nordeste. Ele, olhando a
Cachoeira de Paulo Afonso, idealizou e construiu a primeira hidroelétrica da
América do Sul; era ali ele implantando o embrião da C.H.E.S.F., hoje com suas
poderosas turbinas, produzindo energia e criando riqueza, iluminando o nordeste
e, como dissera o Gurdurinha em sua
música, logo após sua inauguração: “Paulo Afonso, se ligarem mais um fio, você
ilumina o Rio, São Paulo e toda a Nação”
Algumas histórias de Delmiro me foram passadas pelo
Seu João: um velho ourives alagoano e meu amigo, que nos anos sessenta morava
em Austin, um distrito de Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro. E que
conhecera pessoalmente Delmiro. Contava suas histórias com grande entusiasmo.
Seu João, morava aqui no Rio, porém era procedente da cidade de Pedra, (hoje
Delmiro Gouveia, em Alagoas). Seus olhos brilhavam quando ele falava de Delmiro
Gouveia, falava de sua coragem, sabedoria, mas acima de tudo de seu altruísmo.
Ainda segundo ele, naqueles tempos remotos das últimas décadas do século XIX e
a primeira do século XX, ele já dava para seus operários jornadas de oito
horas, também mandou construir casas para seus funcionários e creches para os
filhos dos mesmos. Ah! Desculpem-me… esqueci de dizer que ele havia montado uma
grande indústria têxtil naquele lugar, onde entre outros produtos ele fabricava
a melhor linha de coser do Mundo na época, e foi justamente esse produto que
despertou inveja da concorrência, terminando na tragédia que já mencionei.
Também tinha ele um grande atacado de peles e espichados, exportando seus
produtos para vários países da Europa e das Américas. Os ingleses, que na época
era o povo dominante, não apenas por ser a Inglaterra o país mais rico, mas
também o mais desenvolvido, deles dependiam todos os recém-independentes países
das Américas de seus manufaturados, inclusive máquinas, locomotivas e etc. Com
a morte precoce de Delmiro, eles adquiriram suas máquinas, destruíram-nas e
mandaram lançá-las nas águas do Rio São Francisco, onde permanecem até hoje.
Ainda segundo seu João, em 1911/12, ele vendera grande
partida de couro para o México e recebeu o pagamento em prata bruta, a
quantidade era tanta que, ele procurou o presidente da República, Hermes da
Fonseca, e se ofereceu para fornecer toda prata que o governo precisava para
cunhar as moedas que circulariam em 1913. O presidente achou um absurdo, pois
na época circulava muitas moedas em prata. Mas, topou, pagou p'ra ver. E foi
cumprido o acordado. Seu João me deu uma moedinha de quinhentos réis cunhada em
1913 e me disse: Amadeu, essa e todas as moedas de prata de 1913 foram cunhadas
com prata fornecida pelo seu conterrâneo, Delmiro Gouveia.
Obrigado Seu João, onde quer que você esteja, saiba
que a guardo com muito carinho.
Do livro: “O Anjo da Noite e Outros Contos” de Amadeu
Lucinda.
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