• B O M L A D R Ã O

      Um dia fomos
      convidados á contarmos uma história de um fato relevante que tivesse acontecido conosco.

      Imaginei que fatos que
      merecessem uma história acontecida comigo havia muitos. Vou citar alguns.

      A pessoa pode ser do
      bem ou do mau. O homem pode ser bom ou ruim. Isso, independente de sua profissão ou classe social.

      A índole do homem,
      nada tem haver com sua posição na sociedade. A pessoa com formação acadêmica tem mais chance de ser do bem. Isso porque ele estudou e aprendeu a diferença entre o bem e o mau, também, sendo assim ele sabe das conseqüências depois da escolha; no entanto se sua índole é do mau e, se ela é forte, mesmo ele sendo: deputado, senador, médico ou advogado, continuará sendo mal.

      Há pessoas simples,
      humildes e de uma candura que encanta. Mesmo no mundo do crime, existem pessoas do bem; são pessoas que foram parar naquele inferno por motivos alheio a sua vontade e, inteiramente diverso de seus princípios.

      Quando você tem
      qualidades que sobrepõem ás dos outros, eles se assustam. Se você tiver qualidades superiores aos demais não deixe que elas aflorem bruscamente aos olhos deles, não deixe que eles as percebam. Eles se assustam e, uma vez assustados, você está em perigo. É próprio do ser humano não aceitar ninguém superior a ele. E quando isso acontece, em vez de procurar crescer para se igualar ao outro e quem sabe, até superá-lo, não, ele procura derrubar o outro, procura ele o caminho mais fácil, visto por ele, eliminar o pseudo concorrente. Aliás, dizia um compadre meu, e que era de Piripiri, PI. Casado com minha prima e, que sou padrinho de seu filho caçula: (Gente ruim, tanto cai como derruba os outros.)

      Segunda a Bíblia, no
      tempo do Rei Herodes, informaram-lhe que havia nascido em Belém, na Judéia. O Rei dos Judeus. Como Herodes era Rei, não admitia outro. Então não pensou duas vezes, mandou matar todas as crianças com menos de dois anos, assim, - imaginou ele – com certeza mataria esse tal Rei dos Judeus e acabaria com aquela ameaça.
      Quando você trabalha
      em uma empresa e começa a se destacar junto a diretoria, seu chefe imediato sente-se ameaçado e em vês de tentar crescer, arruma a maneira mais fácil e, as vezes até sórdida para lhe demitir e livrar-se da ameaça vista por ele.

      Quando falei do Bom
      Ladrão, falei de forma figurada, de forma simbólica, é uma conotação que é dada aos dois ladrões que foram crucificados aos lados de Jesus: Dimas e Gestas. Como Dimas teve um gesto de humildade, reconhecendo seus erros e humildemente
      na hora extrema pedindo a proteção de Jesus e, no que fora atendido. E foi apartir dali que passou a ser chamado de Bom Ladrão.

      Os motivos que levam um ser humano á cometer
      um crime, não o isenta de culpas e nem o absolve, não redime e nem o torna menos criminoso. O que eu tentei dizer foi que, ao visitar uma detenção e ao nos depararmos com dez criminosos, devemos imaginar que estamos diante de dez seres humanos e que por serem humanos, são todos eles diferente entre - si, existe detentos que podem passar dez, vinte, trinta anos preso que quando sai Dalí não melhorou nada, enquanto existem outros que nem precisariam ser preso para se arrependerem do que fez e nunca mais o fazer. É que, sendo humanos são diferentes.

      Uma noite fui com
      minha mulher á casa de meu filho – O Junior – que morava no bairro: Nova América, próximo a Miguel Couto, em Nova Iguaçu. Ficamos
      por lá até as 22,00 ou 23,00 horas. Quando voltávamos, e depois de atravessar o viaduto da Posse, que fica sobre a rodovia Presidente Dutra e que liga o Rio a São Paulo, e já na minha Rua: Av. Governador Roberto Silveira. Depois de bater em um buraco quebrei a balança de meu carro. Sorte que isso aconteceu já próximo minha casa. Estava acontecendo naquele momento uma blitz da polícia militar; pedi ao comandante que olhasse meu carro enquanto eu ia a minha casa deixar minha mulher e pedir socorro. O comandante apenas me advertiu que a blitz
      estava terminando, portanto que eu fosse rápido.

      Deixei minha mulher em
      casa e, logo que cheguei de volta ao local á blitz terminou e a polícia foi embora. Agora era somente eu, um carro quebrado e uma rua deserta naquela madrugada escura, é porque naquelas alturas já passava da meia noite. De repente, me apareceu um rapaz magro, usando bermuda, sem camisa e dentro de um velho fusca, dizendo que queria me ajudar.

      - Como você pode me
      ajudar? Perguntei.

      - Reboco seu carro! Respondeu-me
      ele.

      Imaginei que era
      impossível. Meu carro era grande e pesado, seria impraticável ser rebocado por um fusquinha.

      - Você quer mesmo me
      ajudar? Então vamos até o posto 13, que acredito lá ter um reboque, o contratarei para rebocar meu carro. Posto 13 é um posto de serviço e encontro de caminhoneiros que fica no quilômetro 13 da rodovia Presidente Dutra.

      Deixamos o carro
      quebrado na rua e fomos no velho fusca até o posto 13, quando chegamos fomos informados que não tinha reboque, porém, nos informaram que no posto Tio Luís, no quilômetro 21 tinha um reboque de plantão. Chamei meu bem-feitor para irmos até o lugar referido, ele não fez objeção, saímos pela Dutra e ao chegar ao quilômetro 17, na Posse, vimos em um dos muitos ferros-velho existente por ali, um reboque. Saímos da estrada e entramos no terreno do ferro-velho rumo ao reboque, o reboque ali existente era inativo, era também ferro-velho, acontece que já tínhamos saído da estrada não dava mais para recuar. Era um terreno pantanoso e nosso herói, o velho fusquinha atolou, caiu num buraco e como quem entra em greve: daqui não saio daqui ninguém me tira. Ficamos inertes por alguns minutos matutando o que fazer.

      Foi nesse momento que
      aconteceu o inusitado: apareceram dois assaltantes de armas em punho e nos rederam; um deles colocou a arma no motorista sem camisa e o outro, com arma em punho veio para meu lado mandando que abrisse a porta, acontece que, a porta só abria por fora e os vidros não abriam, pois não tinham maçanetas.

      Enquanto o ladrão que
      me rendia ficava nervoso por eu não o obedecer abrindo a porta, o outro já mandava o sem camisa sair comas mãos na cabeça; foi nesse momento que, o que estava comigo, olhando para o sem camisa o reconheceu, era seu colega, era também um ladrão.

      - O que você está
      fazendo aí? Perguntou-lhe.

      - Estou ajudando o
      moço! Não está vendo?

      - Ta dando uma de bom
      samaritano? O mundo está perdido, disse ele, vamos embora.

      Baixaram as armas e
      foram saindo. Então falei para o sem camisa. Qual é, ô meu, vai deixar teus amigos irem embora e nos deixar aqui atolados? Chama-os para nos ajudar, ele os chamou, empurraram o carro saímos do atoleiro e fomos buscar o socorro.

      Agradeço mais uma vez
      á Deus, por saber que naquela hora Ele estava ali á me proteger e me protegeu, assim como todas as vezes que estive em aflição. Obrigado.
      Meu Senhor e Meu Deus.

      Do livro: “Fragmentos
      de Uma Oficina Acadêmica”

      De Amadeu Lucinda.