sexta-feira, 5 de abril de 2013


Na Música Popular Brasileira muitos insultos musicais ocorreram entre determinados compositores. 
Na década de setenta, por exemplo, os excelentes Paulinho da Viola e Benito de Paula trocaram  farpas. O primeiro criticando o samba moderno (paulista) de Benito de Paula. Este, defendia-se com a mesma qualidade do seu opositor.
No final dos anos quarenta, início de cinquenta, a separação de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira foi motivo para inúmeras polêmicas musicais.  O fantástico Herivelto  defendia-se e acusava a ex-companheira compondo lindíssimas letras. Do outro lado, em defesa da cantora, se posicionavam, dentre outros, os monstros sagrados da nossa música - Lupercínio Rodrigues e Ataulfo Alves.   Nesse embate a música popular foi enriquecida com inúmeras e belas canções.
Outro embate muito interessante ocorreu na década de trinta envolvendo o já famoso Noel Rosa e o iniciante Wilson Batista. Ambos boêmios e frequentadores das noites cariocas. Wilson Batista, porém, além de boêmio trazia na veia a malandragem.
Tudo começou com a música “Lenço No Pescoço” de Wilson Batista, na qual o compositor fazia apologia à malandragem carioca.

LENÇO NO PESCOÇO - 1933
Meu chapéu do lado
Tamanco arrastando
Lenço no pescoço
Navalha no bolso
Eu passo gingando
Provoco e desafio
Eu tenho orgulho
Em ser tão vadio
 Meu chapéu do lado...
 Sei que eles falam
Deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha
Andar no miserê
Eu sou vadio
Porque tive inclinação
Eu me lembro, era criança
Tirava samba-canção

Mas aí vem a pergunta: Por que Noel Rosa, já famoso, dar trégua a um sambista desconhecido?
A história afirma que os dois paqueravam a mesma moça e o Wilson Batista, mais malandro e menos feio, ficou com a moça.
Desapontado, Noel Rosa revidou na primeira oportunidade com a arma que melhor sabia manejar: O Samba. Assim,  compôs  “RAPAZ FOLGADO” com endereço certo ao rival:

RAPAZ FOLGADO - 1933
(Noel Rosa)
 Deixa de arrastar o teu tamanco...
Pois tamanco nunca foi sandália
E tira do pescoço o lenço branco,
Compra sapato e gravata,
Joga fora essa navalha
Que te atrapalha.
Com chapéu do lado deste rata...
Da polícia quero que escapes
Fazendo samba-canção,
(Eu) Já te dei papel e lápis
Arranja um amor e um violão.
Malandro é palavra derrotista...
Que só serve pra tirar
Todo o valor do sambista.
Proponho ao povo civilizado
Não te chamar de malandro
E sim de rapaz folgado.
A partir daí inúmeros sambas aconteceram entre os dois rivais. Na ordem: “Mocinho da Vila” (Wilson Batista);   “Feitiço da Vila” (Noel Rosa);  “Conversa Fiada” (Wilson Batista);   “Palpite Infeliz” (Noel Rosa);  “Frankenstein” (Wilson Batista)  e ainda de Wilson Batista “Terra de Cego”.
Para selar a paz, os dois compuseram a música “Deixa de Ser Convencida” , referindo-se a paixão que os dois tiveram no passado pela mesma mulher.
Esses sambas até hoje perduram nas prateleiras da rica história da música popular brasileira.
Abilio, 5 Abr 2013.

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