sexta-feira, 19 de abril de 2013


ASPECTO MÍTICO EM IRACEMA
O propósito deste trabalho é a tentativa de caracterizar o aspecto mítico dentro de um contexto histórico factual, utilizando a obra Iracema, de José de Alencar, considerada um dos melhores exemplares da prosa poética na ficção do Romantismo brasileiro. Segundo Moacir Cavalcanti Proença “Iracema será lido com enlevo pelo povo, que nele encontrará o lirismo, o amor e o sofrimento que as almas simples procuram na literatura. Esse é o destino das obras intrinsecamente ligadas ao sentimento dos povos.” (ALENCAR: [197-], p.26)
Pelo enredo podemos observar que Iracema é um romance no qual há argumentos históricos - a colonização do Brasil - presentes na personagem Martim Soares Moreno, o colonizador português, que se aliou aos índios Pitiguaras, através de Poti (Antônio Felipe Camarão). Nota-se, também, pela forma como o enredo se desenvolve que José de Alencar, através do amor entre Iracema e Martim, romantizou o processo de colonização do Ceará, simbolicamente representativo do processo de colonização do Brasil; decorre de tal romantizarão a suposta conciliação entre o branco e o índio, que de um lado escamoteia a violência, a dominação, e do outro inaugura o mito heróico da pátria, de natureza indianista.

Retomando os Mitos nascidos na Literatura Informativa – Mito Edênico, Mito do Eldorado, Mito Ufanista e Mito Nativista – o artista abusa do descritivismo, da espontânea beleza narrativa, gerando imagens poéticas de beleza prictória  Para José de Nicola (Língua, literatura e redação) a fase primitiva, chamada de aborígene, são lendas e mitos da terra selvagem e conquistada.
Iracema pertence a essa literatura primitiva, cheia de santidade e enlevo. Para isso Alencar adota nesse romance duas técnicas que se confundem: a descrição e a narração: sua descrição é cromática e hiperbólica, explorando um nativismo ufanista. Escravocrata – “consta que em 1871, o Parlamento discutia a Lei do Ventre Livre; o deputado José de Alencar subiu a tribuna e disse: ‘Não vou me dar ao trabalho nem de discutir essa lei. Ela é comunista. ’” (NICOLA: 1998 p. 86) –, José de Alencar, contrariamente, exalta os índios e a liberdade da vida natural. Sua narração é bastante cinematográfica. 
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos negros como a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso, nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão pelas matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçado, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeira águas. Um dia, ao pino sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo da sobra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássaros ameigavam o canto. Iracema saíra do banho; o aljôfar da água ainda a roreja, como à doce mangada que corou em manhã de chuva. Enquanto repousava, empluma das penas do guará as flechas do seu arco e concerta com o sabiá da mata, pousando no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela [...] (ALENCAR: 1994, p. 10) 

O Romantismo, com sua ideologia burguesa, mascarava os reais problemas existentes na época, valorizando o índio e esquecendo o negro. O espírito romântico é atraído pelo mistério da existência, que lhe aparece envolvida de sobrenatural. 

Os mitos, efetivamente, narram não apenas a origem do Mundo, dos animais, das plantas e do homem, mas também de todos os acontecimentos primordiais em conseqüência dos quais o homem se converteu hoje – um ser mortal, sexuado, organizado em sociedade, obrigado a trabalhar para viver, e trabalhando de acordo com determinadas regras. Se o mundo existe, se o homem existe, é porque os Entes Sobrenaturais desenvolvem uma atitude criadora no “princípio” [...] (ELIADE: 1972, p. 16)


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