CALÇADAS DO IPU
As
calçadas do Ipu eram altas, com vestígio de uma civilização Portuguesa,
contrastando com a arquitetura das residências atuais.
Sempre eram ocupadas durante as tardes adentrando a noite, pelos
nossos familiares.
Várias famílias sentadas nas calçadas, algumas conversando,
falando do que acontecera durante o dia, outra planejando o dia seguinte, outra
falava de política, situação precária do País, miséria estonteante até hoje,
característica de uma Nação de terceiro mundo. Outras rodas preferiam uma
música, um violão, uma voz, uma flauta, um momento mais sentimental e mais
agradável para nossa sensibilidade.
Lembro-me
bem das “RODAS DAS NOITES” na
calçada das minhas tias Valdemira, Auri, Maria Coelho e Urânia, que eram bem
animadas, reuniam-se e formavam um verdadeiro sarau. Tomás Soares tocando
violão, Auri Coelho cantava os sucessos da época, com sua voz melodiosa meio
soprano, Sebastião Soares na flauta, Valderez Soares no acordeom, e outros
mais, especialmente os amantes da boa música, era mais ou menos assim nas
calçadas da Rua da Goela nos anos 50/60.
A RODA do Joaquim
Lima a mais famosa da cidade, um bom grupo de amigos fazia aquela eclética
noitada.
Falavam e tratavam dos
mais diversos assuntos, até decidiam, mas o assunto principal era mesmo a
política local.
Abdoral Timbó comandava
aqueles encontros, Joaquim Lima era apenas o anfitrião.
No Quadro da Igrejinha não era diferente, Natália, Conceição,
Cleide Lima, Corrinha, também se reuniam nas noites para a boa conversa e uma
boa música. Lembro-me bem, Natália cantava o famoso tango “A MÉDIA LUZ”. Na Rua do “PAPOCO”,
hoje Avenida Vereador Francisco das Chagas Farias, o encontro era com as
“Cajão”, as filhas do “Cícero Matarrato”, do “Manú Balbino”, e as do “Antonio
Gomes”.
Mais ou menos assim eram
as noites no Ipu dos anos 50 e 60.
Era pequena à noite, pois ás nove horas já não podíamos mais,
ficar entre os amigos, era a hora do recolhimento. Hoje os namorados chegam ás
10:h, e a saída só Deus sabe. Uma particularidade importante. Conto porque me
contaram, mas que não é do meu tempo. Dizem que Janjão Campos como encarregado
da Energia Hidráulica do Pé da Serra e como tal comandava todo sistema.
Utilizava-se
da chave geral e dava vários sinais revertidos em códigos para suas filhas que
eram muitas, indicando que deveriam se encontrar em casa após o último acender
e apagar de luzes, esse sinal era conhecido como “Sinal do Janjão”.
Vejam
caros leitores como era singular o povo de antigamente. Não alcancei esse tempo
do seu Janjão, mas admiro muito este ar de nostalgia e obediência.
Pensei e escrevi que as notas de saudades embarquem os leitores
num clima de notas do passado.
É
só fechar os olhos e à música e à história lhe remeterão às calçadas antigas de
ruas mal iluminadas, tingidas apenas por um argênteo Luar, silencioso
dialogando com os reflexos e formas combinantes das noites apaixonadas.
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