A
Chegada do Trem.
Ainda
dá-nos recordação dos horários do trem, que chegavam e partiam pela manhã ou à
tarde, sempre reunindo platéia de Ipuenses. Era uma alegria que rivalizava com
as retretas na “avenidinha”, (de Iracema) – no Coreto, que hoje não existe
mais. Não faltando sequer às meninas enamoradas bem arrumadinhas e cheirosas,
com os galãs da moda fazendo à corte a pompa possível.
As
segundas, quartas, sextas e sábados, às 08h40min horas passava, o trem horário
de Crateús rumo a Sobral e Fortaleza; as terças, quintas (de Camocim), sextas e
domingos, era à volta, às 14 horas.
Quando
o trem partia de Pires-Ferreira ou Abílio Martins, as estações mais próximas
para o norte e sul, respectivamente, o telégrafo avisava e a sineta da estação
tocava para todo Ipu ouvir e saber que houvera a “partida”; era preciso
apressar-se e caminhar, que dentro de uns vinte minutos, ou coisa assim,
chegaria à composição despejando e colhendo passageiros. O trem tomava água
numa grande caixa d’água existente a uns cem metros da famosa Ponte Seca, (ah!
Ponte Seca) dali dirigindo-se para a Estação soltando da descarga de vapor uma
imensa nuvem branca e gelada de fumaça – não se sabe direito porque gelado, e
como diversão mergulhava na vaporização a meninada sempre com grande prazer e
alegria.
Quando
o “trem horário” partia e já lá nas imediações das Pedrinhas ou no corte, isto
é quando já tomava velocidade soltava um longo apito que todos ouviam no Ipu
(apito saudoso). O mesmo acontecia quando chegava exatamente nas proximidades
das Pedrinhas e Corte. Os retardatários que se apresassem. Para avisar da
partida, o sino da Estação tocava três sinais, com ligeiros intervalos entre um
e outro. O chefe-de-trem soprava seu apito autorizando a partida. Era a hora
das despedidas, muitas das quais ficaram na eterna lembrança de namorados,
noivos, mães, maridos e filhos que partiam talvez para sempre.
A
locomotiva soltava então um rápido apito a vapor, dava um puxão nos vagões, e
partia fumaçando, e lá se vai o trem levando saudades e deixando tristezas. Uns
partiam para sempre, outros teriam um breve regresso.
Não
deixando de acontecer nas vindas de Fortaleza, os Jornais da Época: O Correio
do Ceará, Unitário o “Povo” e revista “O Cruzeiro”. A revista O Cruzeiro era
esperada com certa ansiedade pelos intelectuais da cidade para ser lido e
comentado os artigos de David Nasser e Raquel de Queiroz, e também a
interpretação da “charge” do Amigo da Onça, de Péricles (O Pequim) era um
sucesso. Comerciantes aproveitavam para receber e enviar encomendas a outras
cidades, alguns deles até fechavam a Casa Comercial para cumprir parte de suas
obrigações comerciais com o trem – horário, no tocante as correspondências,
especialmente para Sobral.
Na
demora do trem na estação os frequentadores da passagem do horário e os
próprios passageiros aproveitavam para comprar bolachas, pão, cocadinhas, e
“bulins”; tomar o café donzelo da Arlinda, o refresco o “Diassucar”. Na volta
os admiradores e apaixonados pelo trem paravam obrigatoriamente na padaria da
esquina da praça para degustar o pão carioca quentinho saindo naquele momento,
era a Padaria do Antonio Rocha. Mais adiante aproveitávamos para saborear uma
bolacha de fabricação especifica do seu Manoel Assis a “Hoste Luiz”.
Quantas
saudades ficaram sepultadas para todo o sempre no último olhar em direção ao
comboio que partia aos apitos já bem distantes, bem depois do corte.
Quantas
separações! Quantos romances desfeitos!Quantas vidas desencontradas que ficaram
para trás, de quem partiu, e na direção do “horário” de quem ficou.
Velho
Ipu! Velho trem! Nunca mais!
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