sábado, 21 de dezembro de 2013


Caros conterrâneos e amigos de Ipu,
Transcrevo, abaixo, discurso que proferi por ocasião do lançamento do selo da Bica do Ipu no dia 12/12/2013,
O lançamento se deu na própria Bica, às 16:00 h, e contou com a presença de muitas pessoas.
Como o discurso não foi lido, quero crer que alguma coisa tenha sido omitida.
Abraços do
Olívio Martins



Senhoras e Senhores,
Pretendo ser breve atendendo a duas recomendações: a primeira, da filosofia escolástica: “Esto brevis et placebis”, ou seja, “Sê breve e agradarás”. E a segunda vem do livro da Bíblia – Eclesiástico: ”Sê conciso em teu discurso, dize muito em poucas palavras”. Isto não é fácil, mas vou tentar.
Quando nos distantes anos de 1967 e 1968 fazia eu Curso de Pós-Graduação na Universidade de Würzburg , no estado da Baviera (Bayern),Alemanha, interessei-me pelos belos selos alemães das cartas que mandava para parentes e amigos no Brasil e resolvi ser filatelista. Dentro do universo variado de selos, decidi-me por duas temáticas: cachoeiras e locomotivas a vapor.
Locomotivas a vapor porque desde pequeno ia à Estação de Ipu ver o trem e me encantava com a máquina Maria Fumaça. E, como dizia nossa escritora Raquel de Queiroz, “menino criado em beira de linha tem o trem no sangue”. E a Estação de Ipu, única no Ceará onde o trem passa debaixo da gare, é um monumento arquitetônico de rara beleza. Ela presenciou, sem dúvida, grandes momentos e episódios marcantes. Eram partidas e chegadas de entes queridos, encontros e desencontros, alegrias e tristezas, boas-vindas e despedidas, sorrisos e lágrimas, beijos e tapas, juras de amor e chiliques de ciúme, inícios e términos de flertes e namoros. Enfim, as alegrias e as vicissitudes que povoam os fundos arcanos da misteriosa e insondável alma humana.
Cachoeiras porque, também criança, ficava contemplando a Bica do Ipu, despencando do paredão granítico de 130 m de altura. Encantado ficava ao ver o fenômeno chamado “Véu de Noiva”, quando as águas que caíam ficavam pairando, por alguns instantes, no ar e eram impulsionadas para cima em seguida devido à força maior do vento que soprava de baixo para cima. Era a luta do vento contra as águas. Um espetáculo deslumbrante.
Decidindo-me por estes dois temas – que eram as belezas de minha infância -, comecei as minhas coleções lá, na Alemanha, adquirindo selos nos mais de vinte países que visitei nesses dois anos.
Voltando ao Brasil, enriqueci minha coleção de cachoeiras com os selos emitidos até então no Brasil, quais sejam: as Cataratas do Iguaçu e o Salto das Sete Quedas, este desaparecido criminosamente nas águas ditatoriais da represa de Itaipu.
Em 2003, os Correios fizeram a emissão de dois selos da série CACHOEIRAS BRASILEIRAS: o Salto do Itiquira e o Salto do Rio Preto, ambos no estado de Goiás. Convém frisar que Salto (fall, em inglês) é a denominação internacional para cachoeiras, quedas d’água e cascatas.
Foi aí que vislumbrei a possibilidade de pleitear um selo para a Bica do Ipu dentro do programa dos Correios SUA IDEIA PODE VIRAR SELO. A batalha começou, pois, em 2003. E continuou pelos anos seguintes com o mesmo pedido, mas a Comissão Filatélica Nacional não o houvera escolhido. Neste interregno, recorri também a um ou outro parlamentar cearense em Brasília. Pensei até em desistir, mas quando me lembrava da frase do grande estadista sul-africano e Nobel da Paz, Nelson Mandela, recentemente falecido, recobrava o ânimo. Dizia Mandela: “Tudo parece impossível até que seja feito”.
Em 2012, após longa espera, mas sem perder a esperança, resolvi mudar de estratégia. Através da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes (AILCA) e da Associação dos Filhos e Amigos de Ipu (AFAI) mobilizamos parte do povo de Ipu e de amigos da cidade no sentido de que solicitassem aos Correios a emissão do selo da Bica do Ipu (Fall of Ipu). Foram cerca de 1.300 pedidos àquela instituição. 
Além disso, contatamos os senadores cearenses José Pimentel, Inácio Arruda e Eunício Oliveira, e também os deputados federais José Airton, José Guimarães e Gorete Pereira, além do então prefeito de Ipu Sávio Pontes e do governador do estado Cid Gomes, os quais enviaram correspondências ao Ministério das Comunicações ou aos Correios, pleiteando a emissão do selo da Bica do Ipu. E, por último, mas não menos importante, recorri à Presidente Dilma Rousseff quando em carta a ela dirigida, através do também ex-seminarista Gilberto Carvalho - Ministro Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República -, evoquei que, em sua juventude estudantil, houvera ela lido, sem dúvida, o poema em prosa Iracema, de José de Alencar, como livro paradidático, e tivera conhecimento da famosa cascata onde houve o encontro da bela guerreira tabajara Iracema com o guerreiro branco Martim.
Contei, na etapa final deste processo, com a valiosa ajuda do atual prefeito de Ipu Sérgio Rufino e de seu vice Carlos Eduardo. E também dos amigos Ricardo Martins Aragão, Eliezer Soares Martins e Afonsino Albuquerque Filho que cederam suas fotos da Bica do Ipu para os Correios, todas de excelente qualidade. Os Correios elegeram a foto feita por Ricardo Martins Aragão.
O selo da Bica do Ipu integra um selo duplo, consagrando as relações diplomáticas do Ministério das Relações Exteriores que, em 2013, homenageia o Quênia. A beleza natural do Quênia é a Zebra de Grévy, conhecida como zebra imperial, e a do Brasil a nossa Bica do Ipu, aqui à nossa frente.
Quero, neste momento histórico, ao sopé da Serra de Ibiapaba, frisar a importância deste selo para Ipu, para o Ceará, para o Brasil e para o mundo. A partir de hoje, a Bica do Ipu vai figurar nas coleções dos filatelistas do mundo inteiro que adotam a temática de cachoeiras. Ipu vai ficar conhecido nacional e internacionalmente, pois o selo é um viajante que não precisa de passaporte, atravessa fronteiras e adentra os países do globo terrestre, independentemente de religião, cor, raça, língua, e sistema político e econômico vigorantes. A Bica do Ipu (Fall of Ipu) vai figurar ao lado de nossas cachoeiras brasileiras e das célebres quedas d’água do mundo, como Niagara Falls, na fronteira dos EUA com o Canadá, Victoria Falls na fronteira de Zâmbia com Zimbabwe, e do Salto Angel, na Venezuela, o mais alto do planeta, com quase 1.000 de altura.
Além disso, vai o turismo em Ipu ser incrementado, haja vista a aproximação dos jogos da Copa do Mundo e das Olimpíadas, quando turistas estrangeiros e brasileiros vão procurar pontos e paisagens interessantes para visita, gerando emprego e renda para o município.
Estamos a mostrar que o turismo no Ceará não se restringe apenas às nossas belas praias. O interior do Estado tem muito a oferecer. Desejamos fazer ver ao Brasil e ao mundo que se deve preservar o meio ambiente e proteger a natureza para aqueles que não podem se defender e falar por si mesmos como as aves, os animais, os peixes e as árvores.
O selo da Bica do Ipu é uma homenagem não somente a Ipu, mas a toda a Serra da Ibiapaba, pois o riacho Ipuçaba, que forma a cachoeira, nasce no Sítio São Paulo, na Serra Grande.
Quero, neste momento histórico, parabenizar o prefeito de Ipu Sérgio Rufino, sua secretária de turismo prof.ª Sônia Pontes, sua secretária de educação prof.ª Terezinha Rufino, e a assessora Netinha pelo excelente trabalho que realizaram, num exíguo espaço de tempo, visando ao abrilhantamento desta festa.
Reitero meus agradecimentos a todos os que contribuíram para que o selo da Bica do Ipu se tornasse realidade.
Agradeço ao Diretor Geral dos Correios no Ceará, Sr. Haroldo Aragão, e ao seu “staff” que vieram prestigiar o lançamento deste selo em terras ipuenses. 
Minha gratidão a todos os que compareceram a este evento que será um marco indelével na história de Ipu.
Muito obrigado!

Ipu, 12 de dezembro de 2013
Olívio Martins de Souza Torres
Filatelista e Ecologista

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