UMA FESTA DE
NOIVADO
Engraçado! A festa de noivado lá nos Morrinhos e
adjacências não eram um noivado, mas sim, um casamento.
É, isso mesmo. O noivado naquelas paragens resumia-se
em o futuro noivo pedir ao pai de sua consorte sua mão em casamento e
oferecer-lhe aliança de noivado. Esse pedido podia ser pessoalmente ou por
carta, o que era mais comum.
A festa de noivado conhecida era uma grande solenidade
que acontecia no dia do casamento.
Havia uma prévia para esse grande acontecimento, para
essa grande festa. A preparação para esse evento começava alguns meses antes:
prendiam em chiqueiros porcos para engordar e que eram abatidos de véspera ou
alguns dias de antecedência. Esses porcos eram chamados de capados ou cevados. Os
que eram abatidos dias antes, era para ser-lhe colhido o sangue para fazer
chouriço, uma iguaria esquisita, mista de doce e salgado, mistura de doce com
gordura, também com temperos picantes: gengibre, safrôa entre outros. Confesso que
experimentei e não gostei, mas era chique. Também eram engordados patos, perus
e capãos (frangos castrados).
Aos perus, eram lhes dado uma dieta forçada, com milho
cozido e lhe enfiado pelo bico para uma engorda rápida. A essas aves ao serem
abatidas era lhe colhido o sangue, para fazer a cabidela: essa, sim, era uma
iguaria saborosa e que era posta sobre os pratos. Também era feito doce do
mamão verde para sobremesa; era feito também alguns potes de aluá. É uma bebida
fermentada feita de milho ou croatá. É muito gostoso, herança indígena, cultura
muito presente naquela gente.
Chegava enfim o grande dia, o casamento e,
consequentemente, a festa. O casamento era em Campo Grande. Iam
todos a cavalos, cavaleiros e amazonas. Os cavaleiros montavam normalmente,
porém as damas iam montadas de bandas em selas especiais chamadas ginetes.
Na manhã e antes de saírem, havia separação: duas
pequenas festas eram formadas, e servidos dois almoços, uma na casa dos pais da
noiva para seus convidados e outro na casa dos pais do noivo, também para seus
convidados. Somente depois de realizado a cerimônia, quer dizer, depois de
casados, a chegada era na casa do pai da noiva e a grande festa.
Logo que terminava a cerimônia religiosa na Igreja lá
na cidade, saíam aqueles abestados em seus cavalos na maior disparada e
apostando pegas para ver quem chegava primeiro para dar “viva aos noivos”.
Depois que chegavam os últimos era servido o jantar,
primeiro aos que acompanharam os noivos depois os familiares mais próximos e
convidados depois ao povão. Tinha alguns fatos hilariantes, por exemplo, ver
alguém que nunca usou um talher ter que trinchar. Mas tudo era festa.
À noite, havia um grande baile, geralmente com grandes
orquestras. Após o baile, acontecia uma coisa inusitada: a noiva ia para a casa
de seus pais! E sem o noivo! É mole?
Somente dias depois havia outra cerimônia: a entrega
da noiva, que poderia ser dois, três, quatro dias depois, ou às vezes até mais
de uma semana. Essa cerimônia tinha um sentido. Era para terem certeza que a
noiva estava em condições física para receber o noivo. Poderia acontecer de
haver uma coincidência daquela festa com a menstruação da noiva e seria
constrangedor para ela.
Do livro: “Histórias nos Morrinhos”
De Amadeu
Lucinda.
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