O A Ç U
C A R
Todas as semanas nos
era dado um tema e que teríamos de escrever sobre, e o que ele influenciou em
nossa infância. Principalmente aquelas lembranças boas que permearam os
melhores anos de nossa vida.
Na primeira semana que
participei, a coordenadora mandou que escrevêssemos sobre o açúcar: sua origem,
suas propriedades, seus valores, seus riscos e que falássemos das guloseimas
das festas de aniversários nas quais ele estava presente, também dos doces tão
preferidos pelas crianças até hoje. Eu escrevi o texto que vou reproduzi-lo e
que gosto muito por ter sido o primeiro que fiz naquele grupo.
“” Falar de açúcar –
que coisa doce! – O açúcar e as gorduras são os principais combustíveis dos
seres humanos. Sem eles não vivemos. No entanto são eles também os maiores
vilões na maioria das doenças que contraímos e quase sempre letais, o açúcar esta
presente, principalmente o refinado.
As gorduras são
reservas de nutrientes que acumulamos na barriga, nos culotes, nas nádegas e em
quase todo o corpo. São reservas de nutrientes para serem usados nos dias em
que não nos alimentamos.
Esse legado herdamos dos homens das cavernas, quando eles não
tinham o supermercado para ir buscar os alimentos e nem a geladeira para guardá-los.
Então ele tinha que guardar energia em forma de gorduras. Hoje, o homem não
precisa mais desses recursos; porém, continua acumulando. Acontece que, agora
ele come todos os dias. Assim sendo, essa gordura vai aumentando e se
distribuindo por todos os lugares e, aí é um desastre, entra pela corrente sangüínea
e, se encontrar algumas artérias com problemas o estrago é feio.
O açúcar é encontrado
em quase todos os alimentos, principalmente nos carboidratos, nas frutas e nas
leguminosas. Mas, a principal fonte de açúcar e que supre as necessidades de
nosso organismo é a sacarose e que é extraída em sua maior parte da cana de
açúcar e que ingerimos em formas de açúcar refinado, mascavo, rapadura e etc.
Como mencionei que o
açúcar e as gorduras são fontes de vida! Aí me questiono porque eles são os principais
vilões na maioria das doenças que contraímos e não raro muitas letais? –
Explica-se: o açúcar refinado recebe uma transformação química para sua aparência
e para a conservação e isso é altamente prejudicial á saúde.
As gorduras também. Se
toda as que ingerimos consumíssemos, não haveria problema, não haveria mal
algum nisso, acontece que, ingerimos e não gastamos e vamos acumulando um
pouquinho hoje, outro amanhã e essa gordura vai obstruindo as artérias que
levam oxigeno ao celebro e ao coração e quando menos esperamos somos
surpreendido com um AVC ou um infarto. Nossos pais não tinham essas
preocupações, comiam açúcar e gorduras sem culpas nem pecado. Quero informar
que, a média de vida deles era de trinta e cinco anos, hoje, graças a essas
informações já chegamos aos oitenta.
Desculpem-me,
empolguei-me. O que nos foi pedido mesmo: quais as lembranças e as saudades do
açúcar em nossas infâncias, as festas as guloseimas e tudo em que ele estava
presente.
A alimentação do
caboclo nordestino e do colono em geral no primeiro meado do século XX, era
muito pobre. Eu nem consigo imaginar como seria a vida deles sem o suprimento
de açúcar que eles recebiam em forma de rapadura. Como um alimento
complementar. Na Serra da Ibiapaba no Estado do Ceará, região inteiramente
agrícola, os proprietários rurais como meu pai, contratavam trabalhadores
braçais como diaristas, e a alimentação era por conta do contratante. Ás sete horas
reunia-se na casa do contratante onde era servido um café sem leite, porém, com
tapioca ou beiju e, na falta desses, era café com farinha. Seguiam para a roça e, ás nove horas, lá
mesmo no local do trabalho era estendido no chão uma esteira de palha de
carnaúba e sobre ela abria-se uma toalha e em cima dela quebrava-se algumas
rapaduras que eles comiam com farinha. Ao meio dia, eles vinham para a casa
onde era servido o almoço: carne cozida e pirão. Não tinha sobremesa, apenas
café. Ás dezesseis horas terminava a jornada e era servido o jantar: feijão com
arroz e como sobremesa rapadura.
Aliás, por falar em
rapaduras, a região onde eu nasci, produz as melhores rapaduras do Mundo. Isso
ficou constatado numa exposição internacional sobre o assunto feita no final do
século XIX ou começo do século XX, em Chicago nos U.S.A. e a rapadura da
Sussuanha, um distrito de Guaraciaba do Norte (minha cidade) foi premiada e
ficou entre as melhores do Mundo.
Diz, Pedro Nava, o
grande escritor mineiro que “batida é uma rapadura metida a besta que tem lá no
Ceará.” A batida é uma rapadura feita de forma ertesanal e com a finalidade
exclusiva de ser degludida, é composta de muitos temperos: cravo, canela,
erva-doce entre outros.
O açúcar na minha
região, e em minha infância era artigo de luxo. O açúcar refinado chegava ás
bodegas em sacos de sessenta quilos e por ser uma região muito úmida e fria ele
entorruava, como agente o chamava, os torrões de açúcar – pequenas bolas – e esses torrões nós os colocava na
boca, foi o doce mais puro que já experimentei. Tinha também pedras grandes
formando assim uns pães. Talvez esteja ai a explicação para o nosso “Pão de
Açúcar.” E como eu disse que lá ele era artigo de luxo, tudo que precisava dele
era feito com rapadura, inclusive o café.
Os privilegiados mesmo
eram os recém-nascidos, para esses era açúcar mesmo. Aquelas mulheres desnutridas e também sem
informações, acreditavam que o leite materno não era alimento suficiente para
seus filhos. Também havia entre elas uma crendice que – isso de ordem religiosa
– criança pagã, (antes de ser batizada) não poderia comer sal. Ainda segundo elas o sal é sagrado, portanto
somente os cristãos poderiam ingeri-lo.
Essas
crianças
começavam a receber alimentos complementar apartir do segundo dia de
vida. A dieta que lhe era servido, compunha-se de: uma papa feita com
leite polvilho (goma) e
açúcar, na falta do leite e, o que não era raro, substituiam o mesmo por
água,
o polvilho também ás vezes era substituída pela farinha de mandioca
peneirada.
Esse alimento era servido sem colher, era introduzido na boca com o dedo
polegar. Essa dieta era muito pobre em
nutrientes; portanto em sua maioria essas crianças ficavam: barrigudos,
bochechudos e anêmicos. Mas, nem todos morriam.
A prova disso é que estou hoje aqui escrevendo isso. E estou vivo.
Porém, aqueles torrões
de açúcar que punham em nossas mãos quando iam fazer a papa do recém-nascido,
eram divino. Somente em falar do açúcar
de nossa infância, nos enche a boca d’água.
É muito doce! Tão doce como a nossa própria infância. Aliás, doce é sinônimo de bom. Quando se fala de alguém bom, meigo
carinhoso, dizemos que é uma pessoa doce.
E quando é o contrário, dizem que é uma pessoa amarga ou na melhor das hipóteses,
é uma pessoa azeda. Açúcar é zen, açúcar
é dez.
AVC – Acidente
Vascular Cerebral.
USA – Estados Unidos
da América.
Do livro: “Fragmentos
de Uma Oficina Acadêmica”
De Amadeu Lucinda.
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