C O S T U M E S N A S E M A N A
S A N T A
Numa oficina destinada à adulto na UERJ,
foi pedido que, falássemos das semanas santas de nossos infâncias.
Voltei a insistir com eles em falar de minha região. É dito popular em minha
terra que, “todo terra tem seu uso, toda roda tem seu fuso”.Por isso, muitas
coisas que falo de minha infância vocês não entendem. Não é minha infância que
está muito longe, e sim, minha terra que está distante. E como, ela foi vivida
lá, é dos costumes de lá que devo falar.
A semana tem sete dias, cada um com suas particularidades, mesmo em
semanas comum. Segunda-feira é o dia da preguiça, sexta-feira, é o dia do chope,
e dia de fechar a semana com chave de ouro, domingo dia da missa. Isso, em
semana comum, imaginem na semana santa. Nesta cada dia tem um valor conforme o
que acontecera nele conforme a história.
A semana santa, na minha
terra era coisa extraordinária. Parecia até que ela não fazia parte do
calendário comum. Era tudo muito diferente.
No sábado que a antecedia, todas as imagens ou esculturas dos santos,
quer nas Igrejas ou nas casas de famílias católicas, eram cobertas. Segundo os
costumes, eram para que, os santos, não vissem o sofrimento de Jesus. Ainda no
sábado, o padre mandava colher folhas do olho das palmeiras babaçu, e que,
tinham as cores nacionais, (verde e amarelo,) eram por ele bentas e, ante da
missa distribuídas com a multidão que depois saía em procissão e depois
voltavam à Igreja entrando triunfalmente na mesma, simbolizando há entrada
triunfal de Jesus em
Jerusalém. Era domingo de ramos.
Segunda-feira e terça-feira havia pregações sobre a vida de Jesus
Cristo, quarta-feira, era quarta-feira de trevas, apartir deste dia as estradas
se enchiam de crianças pedindo esmolas, não eram flagelados, era cultura do
lugar como aqui, Cosme e Damião, crianças até de classes abastada se
infiltravam com os demais, colocavam um ou mais sacos nas costas e tome a pedir
esmolas. Eles batiam as portas e diziam: “uma esmolinha para minha mãe
jejuar”.Davam-lhe à uns e outros não,
era muita gente, não dava para atender a todos.
Eu mesmo fui uma vez. Meus pais eram conhecidos de toda aquela gente e
muitos queridos por todos. Quando cheguei em uma certa casa, pedi, e
alguém sem olhar quem era, disse: perdoe, hoje não tem. Saí, só que,
alguém olhou e me reconheceu e disse: é o filho da comadre Emília!
Tentei fugir
sem ser reconhecido, afinal o que eu estava fazendo era apenas farra;
não deu.
Encheram o saco que eu portava de farinha, beiju, milho verde, maxixe,
jerimum
e até um pedaço de queijo que era artigo de luxo me deram. Tive que
voltar
estava muito pesado.
Quinta-feira Maior e
sexta-feira da Paixão eram dias de
jejum e abstinência. O jejum eu sabia, pois meus pais nesses dias não tomavam
sequer o café matinal e, só iam jantar as 12:00 horas, e a ceia era as 18:00
horas. Essa abstinência é que eu não
entendia. Ah! Deixa isso p`ralá.
Nesses dois dias não se ouvia música, não se fazia serviço algum que
dependesse de tração animal e sexta-feira não se ordenhava as vacas, e quando o
faziam não se vendia o leite, era doado. Nem mesmo banho se tomava na
sexta-feira da Paixão.
Na quinta e sexta-feira, o respeito era total, uma criança que
aprontasse naqueles dias nada lhe acontecia, não se podia bater ou castigar
ninguém. Quem fizera aquilo naqueles dias foram os judeus, ou os romanos, e ninguém queria ser judeu. Entendiam eles
que, judeu era quem judiava dos outros, quer dizer, maltratavam como fizeram
com Jesus.
Muitas coisas eu não as entendia: porque não havia almoço naqueles dois
dias, já começávamos com a ceia? Também era o único dia que era usado toalha na
mesa. Isso somente para os que estavam jejuando.
Também era praxe, ir-se visitar os padrinhos e pedir-lhe a benção, e
que quase sempre vinha acompanhada de um presente. Também se visitava os pais
quando não morava com eles.
Todo esse silêncio, todo esse respeito, todas essas proibições
terminavam a meia noite de sexta-feira para sábado. Aí era só festa, começava a
malhação do Judas, depois banho de rio em plena madrugada, águas geladíssima,
porém acreditava-se que até as seis horas da manhã a água era benta. Era
Aleluia e, Aleluia é alegria, por fim o Domingo de Páscoa. Missa para agradecer
a Deus por Jesus ter Ressuscitado.
Do livro: “Histórias nos Morrinhos” de Amadeu Lucinda.
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