O S A D J U N T O S
A nossa
região, os municípios formados sobre o planalto da Ibiapaba, são todos
agrícolas. Não havia grandes agricultores, eram muito poucos. O que predominava
mesmo, era a agricultura de
subsistência. Hoje já existe na região grupos: espanhóis, franceses e outros,
explorando a agricultura com a tecnologia do momento. No entanto estou falando
das décadas de quarenta e cinqüênta do século XX.
Havia naquele
universo alguns tipos de trabalhadores. Os proprietários de terras, seus filhos
e genros que cultivavam as terras livremente. Tinham os colonos ou moradores,
como eram chamados os seus agregados, e que
também cultivavam a terra com algumas condições: uns pagavam uma
percentagem sobre a colheita, 1/3, outros 1/4, a primeira era a mais usada.
Havia também outra classe de trabalhadores,
essa bem mais numerosa, e que já mensionei, eram os agregados ou
trabalhadores de aluguel. (Trabalhavam e no fim do dia recebiam por essa
tarefa)
Os filhos e
genros de uma família, acordavam entre-si, (faziam acordo) e convidavam os
também filhos e genros de outra família, e sempre em números iguais, para:
terça-feira irem todos trabalhar no raçado do Zé Vicente. Esse por sua vez contratava mais alguns
trabalhadores alugados e somava assim: doze, quatorze, dezesseis, dezoito e até
vinte homens, todos trabalhando na roça do Zé Vicente. Na quinta-feira todos
iam trabalhar na roça do Aristeu, que era da outra família. Essa forma
chamava-se troca.
Cabia ao Zé
Vicente e ao Aristeu, cada um em seu dia, proporcionar um belo almoço, lanches e jantar. Há essa festa
dava-se o nome de: Adjunto. Hoje, o adjunto é no roçado de fulano,
amanhã será no roçado de beltrano.
Era deveras produtivo e, acima de tudo muito animado.
-Uma festa, como mencionei -. Como
aquela região era realmente pobre, predominava a deficiência alimentar, (a
fome) portanto o maior motivo daquelas festas era abundância de comida. Além
dos lanches intermediários, como café com tapioca pela manhã e no intervalo
entre esse e o almoço, rapadura com farinha de mandióca, no almoço era servido:
pirão, bastante carne, caldo e como sobre-mesa, rapadura.
Por tudo isso, muitos iam
atraídos por essa gulodice. Vou ilustrar, contando um fato acontecido no começo dos anos sessentas. Realizou-se
um adjunto na casa do Nicom; e entre os
trabalhadores estava o Ramundica, homem forte, educado e muito trabalhador,
Ramundica também era um bom garfo, comia bem. Também no conjunto estava o Chico
Dilema, o Dilema, ao contrário do Ramundica, era raquítico, ele era da
Sussuanha e estava nos Morrinhos ha pouco tempo não conhecia bem os costumes do
lugar. No almoço foi servido muita
comida, principalmente carne, (artigo de luxo) comeram a fartar, depois da
jornada serviram o jantar, esse era mais pobre: feijão, arroz e sardinhas
assadas. O Chico Dilema que ainda estava empanturrado do almoço, pegou seu
prato de feijão e tentou despejar no prato do Ramundica. Só que esse percebeu e
puxou o prato antes e dizendo: no almoço, na hora do 21, (touro no jogo do
bicho) ninguém jogou no meu prato a carne, agora se eu quiser mais eu peço a
comadre Delzuíta.
Do livro: “Histórias nos
Morrinhos” de:
Amadeu Lucinda
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