segunda-feira, 7 de setembro de 2015

João Tavares é Enforcado no IPU> 10 de maio de 1845.
O réu foi conduzido para o Oratório levantado no edifício que servia de cadeia, pequena casa situada no largo da igreja-matriz, tendo como confessor ... o padre Francisco Correia de Carvalho e Silva, que desempenhou, posteriormente, papel saliente nos destinos do Ipu e de quem nos ocuparemos mais adiante.

No dia da execução, pelas 8 horas da manhã, o réo sahio acompanhado do juiz, escrivão e tropa, em passeio pelas ruas da Vila, dirigindo-se em seguida para o local onde fôra levantada a forca, precisamente em meio da praça da matriz, mas collocada de maneira que podesse ser divisada pelos demais angulos.
Esta fôrca - diz o informante - foi preparada pelo carpina Antonio Pereira de Souza.
O réo, ao chegar ao patibulo, mostrando-se corajoso, proferio algumas palavras protestando sua innocencia, dizendo mais ou menos o seguinte:
- Ahi fica quem fez a morte... Morro mas não declaro o nome do seu autor... Um cão... todos a elle...
João Tavares - o condemnado - ... baixo, cheio do corpo e typo mal encarado.
Assistio aos seus ultimos momentos o padre Correia proferindo as palavras do Credo - Vida Eterna.

O nosso informante não sabe quem foi o carrasco executor da sentença de morte do réo João Tavares, afirmando, entretanto, ter o mesmo vindo com a tropa de linha que o conduzia da capital, parecendo tratar-se do celebre Francisco Correia Pareça, o mesmo de que nos fala o Dr. Paulino Nogueira em seu importante trabalho citado, e que se tornou respeitado no seu desgraçado oficio, indo morrer depois no presidio de Fernando de Noronha. Isto é mera suposição do narrador pois o próprio Dr Paulino Nogueira, autoridade para nós venerada na historia do Ceará, diz que Pareça, embora emulo de Cavaco, outro carrasco celebre, fez onze execuções de pena de morte, sendo dez na capital e uma no Aracaty, não incluindo-o nas duas do Ipu.

Era de praxe nas execuções de pena de morte requisitar-se um cirurgião para assistir ao acto e fazer no cadaver do executado o exame do costume. Nas duas execuções do Ipú não se sabe pela deficiencia de dados em quem recaio esse encargo, parecendo-o na pessoa do cidadão Antonio Bezerra de Hollanda, professor aposentado residente na villa. Segundo testemunho daquelles tempos esse senhor exercia o officio de curandeiro e era homem affeito a rabulice, tanto que no processo do escravo Estevão - o primeiro executado - figurou como curador ad litem.
A execução de João Francisco Tavares, como era natural, impressionou, sobremodo, a população local. Os vexames foram maiores porque o réo negava peremptoriamente a sua co-autoria no crime pelo qual fôra condemnado a pena ultima, máo grado as provas do processo.
Contam que no dia da execução a respeitavel senhora do juiz de direito da comarca prolator da sentença, dr. João Quirino Rodrigues da Silva, e que assistira o acto, após a sua consummação, como que allucinada, corrêra a casa do vigário Correia, indagando:
- Padre, diga-me, padre, o homem, - referia-se ao réo - na sua confissão affirmou a sua autoria no crime?...
O padre Correia, num silencio immutavel, apenas abrio os labios, pallidamente, sem articular, entretanto, uma só palavra.
Esse gesto era muito significativo...

Eusébio de Sousa.
Pena de Morte no Ipu. No dia 23 de setembro de 1845 na pessoa do escravo Estevão condenado à pena de morte por haver assassinado Manoel Carvalho Guedes Mourão; a segunda foi em 27 de fevereiro de 1855 na pessoa de João Francisco Tavares, condenado igualmente à pena última pelo mesmo crime homicida a Francisco Antunes de França.
Um quadro triste e lúgubre se realizava. Sempre antes da execução, o condenado à morte, amortalhado, escoltado pela força pública e acompanhado pela multidão, que assistia semelhante espetáculo, legal e muito natural para época percorria as ruas da cidade pedindo perdão e despedindo-se do mundo e o regressar ao local onde se encontrava armada a “FORCA” fatídica na parte de trás da antiga Matriz, ali, depois de absolvido e encomendado por um sacerdote, subia ao “cadafalso” por uma escada, acompanhado do “carrasco”, que era um criminoso e chegando ao último degrau da escada metia a cabeça no laço de uma corda preparado para este fim, e assim preso pelo pescoço, o seu carrasco sacudia-a ao espaço e ao mesmo tempo seguro a dita corda ficava de pé sobre os ombros da vítima até esta acabar de morrer.
Cenas das mais cruéis, ridículas e miseráveis fugindo aos princípios do povo que Ipu representa. Oxalá que jamais vejamos tais cenas, mesmo porque a civilização é bem diferente no meio de hoje, não perdurando jamais o mal reinante nessas épocas que já se foram.





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