sábado, 19 de setembro de 2015

CALÇADAS DO IPU

As calçadas do Ipu eram altas, com vestígio de uma civilização Portuguesa, contrastando com a arquitetura das residências atuais.
Sempre eram ocupadas durante as tardes adentrando a noite, pelos nossos familiares.
Várias famílias sentadas nas calçadas, algumas conversando, falando do que acontecera durante o dia, outra planejando o dia seguinte, outra falava de política, situação precária do País, miséria estonteante até hoje, característica de uma Nação de terceiro mundo. Outras rodas preferiam uma música, um violão, uma voz, uma flauta, um momento mais sentimental e mais agradável para nossa sensibilidade.
Lembro-me bem das “RODAS DAS NOITES” na calçada das minhas tias Valdemira, Auri, Maira Coelho e Urânia, que eram bem animadas, reuniam-se e formavam um verdadeiro sarau. Tomás Soares tocando violão, Auri Coelho cantava os sucessos da época, com sua voz melodiosa meio soprano, Sebastião Soares na flauta, Valderez Soares no acordeom, e outros mais, especialmente os amantes da boa música, era mais ou menos assim nas calçadas da Rua da Goela nos anos 50/60.
A RODA do Joaquim Lima a mais famosa da cidade, um bom grupo de amigos fazia aquela eclética noitada.
Falavam e tratavam dos mais diversos assuntos, até decidiam, mas o assunto principal era mesmo a política local.
Abdoral Timbó comandava aqueles encontros, Joaquim Lima era apenas o anfitrião.
No Quadro da Igrejinha não era diferente, Natália, Conceição, Cleide Lima, Corrinha, também se reuniam nas noites para a boa conversa e uma boa música. Na Rua do “PAPOCO”, hoje Avenida Vereador Francisco das Chagas Farias, o encontro era com as “Cajão”, as filhas do “Cícero Matarrato”, do “Manú Balbino”, e as do “Antonio Gomes”.
Mais ou menos assim eram as noites no Ipu dos anos 50 e 60.
Era pequena à noite, pois às nove horas já não podíamos mais, ficar entre os amigos, era a hora do recolhimento. Hoje os namorados chegam ás 10h. e a saída só Deus sabe. Uma particularidade importante. Conto porque me contaram, mas que não é do meu tempo. Dizem que Janjão Campos como encarregado da Energia Hidráulica do Pé da Serra e como tal comandava todo sistema.
Utilizava-se da chave geral e dava vários sinais revertidos em códigos para suas filhas que eram muitas, indicando que deveriam se encontrar em casa após o último acender e apagar de luzes, esse sinal era conhecido como “Sinal do Janjão”.
Vejam caros leitores como era singular o povo de antigamente. Não alcancei esse tempo do seu Janjão, mas admiro muito este ar de nostalgia e obediência.
Pensei e escrevi que as notas de saudades embarquem os leitores num clima de notas do passado.
É só fechar os olhos e à música e à história lhes remeterão às calçadas antigas de ruas mal iluminadas, tingidas apenas por um argênteo Luar, silencioso dialogando com os reflexos e formas combinantes das noites apaixonadas.


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