quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Ipu Antigo V

Correio do Norte. Do meu acervo.
A ferrovia passa a ter papel de destaque para o crescimento econômico da então pequena Ipu. O final do século XIX e as primeiras décadas do século XX representam, para esta cidade, um momento de crescimento sem precedentes. Embora já se verifique que ele tenha sido contínuo, embora com avanços e recuos, desde pelo menos meados do século XIX, quando a região teria passado por um primeiro surto de produção de algodão e dinamizado outros setores, como o açucareiro, é somente após a chegada da ferrovia, em 1894, que se pode verificar um crescimento econômico mais acentuado.
A ferrovia teria contribuído para dinamizar ainda mais a produção de algodão. Em 1921, segundo dados dos “assentamentos da Estrada de Ferro”, apresentados pelo Jornal Correio do Norte, em 1921, Ipu e Serra da Mata eram os dois maiores exportadores de algodão no norte do Ceará. A primeira cidade teria exportado 298 toneladas de algodão beneficiado “não se falando na grande porção de algodão em rama, que a casa J. Lourenço, d’esta cidade enviou para Ipueiras onde possui uma fábrica de descaroçar e que d’áli foi remettida para Camocim”[1].
O Cel. José Lourenço de Araújo[2] possuía duas fábricas de beneficiamento de algodão, uma em Ipu (sede do município), outra na localidade de Ipueiras e pelo menos três estabelecimentos comerciais (armazéns), um em Ipu, outro em Ipueiras, e um terceiro em Crateús, que negociavam produtos locais e efetuava transações de importação e exportação. Os seus armazéns vendiam ainda miudezas, ferragens e materiais de construção. Segundo matéria do Jornal Correio do Norte, citada acima, o Cel. José Lourenço de Araújo era o maior exportador de algodão da região.
É preciso esclarecer que o algodão exportado pela cidade de Ipu, e que aparece nas estatísticas, não era produzido unicamente no município. Os comerciantes locais compravam o algodão bruto dos produtores desta cidade e das regiões circunvizinhas. Em seguida, o produto era beneficiado, descaroçado e ensacado. Só depois era exportado para os mercados consumidores. Data do início do século o surgimento de inúmeros armazéns que comerciavam com artigos de exportação. Além daqueles pertencentes ao Cel. José Lourenço de Araújo, citados acima, outros importantes estabelecimentos foram o Armazém Dias, pertencente aos sócios José Aragão e Manuel Dias, e a Mercearia e Bilhar, de propriedade de Osório Martins e José de Farias, que além do algodão, exportavam couro, peles, mamona e café[3], este último produzido na Serra da Ibiapaba, antes da ferrovia, consumido localmente e vendido para o Piauí[4].



[1] Algodão. Correio do Norte. Ipu, p. 1-2, 3 Ago. 1922.
[2] O cel. José Lourenço de Araújo era natural da Ribeira do Acaraú, da velha cidade de Santana. Veio para o Ipu no início do século XX. Como comerciante, abriu na cidade várias firmas e adquiriu muitas propriedades.
[3] Revista dos Municípios. Op. cit.
[4] BEZERRA, Antônio. Notas de Viagem. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará (UFC), 1965.

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