LENDAS
Recém-chegado
ao Ceará em 1859, o pintor francês, F. Biard, não ficou nem um pouco
surpreso quando se deparou com alguns camelos nas praias de Fortaleza.
Para ele isso era muito natural. Mas não para a população que quando viu
aqueles ruminantes chegar ficou extasiada.
A
ideia, na verdade, partiu da Comissão Científica, formada no Rio de
Janeiro em meados do século XIX e que tinha o objetivo de viajar por
todo o Brasil coletando amostras da fauna e da flora do País. Achando
que o clima cearense era propício para se criar camelos e dromedários, a
Comissão, também chamada “das Borboletas”, por causa de sua aparente
inutilidade, aconselhou dom Pedro II a praticar esta experiência
científica. E dom Pedro aceitou o conselho. Assim, no dia 14 de setembro
de 1859, Fortaleza recebia, estupefata, a chegada de 14 animais
estranhos totalmente ao seu meio ambiente. Impressionado com aquilo, o
povo de Fortaleza foi para o cais ver a chegada dos animais e dos quatro
árabes que os acompanhava. Alguns dias depois, a experiência continuou.
Como a Comissão Científica queria saber se os animais se adaptariam, de
fato, ao clima seco do Ceará, promoveu uma pequena caravana, dirigida
por um dos árabes, que tinha, como finalidade, partir de Fortaleza e
chegar a Baturité.
Não
se sabe se a caravana foi ou não bem sucedida. O certo é que, com o
tempo, os camelos deixaram de ser meios de transporte, no Ceará, e
tornaram-se atração turística. Eram levados para Pernambuco, por
exemplo, onde os jornais locais anunciavam a chegada deles da seguinte
forma: “No botequim do Buessard, camelos aclimatados no Ceará. Entrada:
500 reis”.
Outras Lendas e Extravagâncias
Fortaleza
concentra, nela, boa parte da história do Ceará. Há outros municípios
cearenses, no entanto, que também têm suas lendas e curiosidades e um
deles é Ipueiras. Segundo a lenda, Ipueiras surgiu a partir da prisão de
Manoel Martins Chaves, potentado do lugar. Acusado de ter mandado matar
o Juiz Ordinário de Vila Nova d’El-Rei, contam os historiadores de
Ipueiras que o governador da província do Ceará, nesta época, João
Carlos Augusto Oeynhausen e Grwembourg resolveu prender o coronel e,
para isso, decidiu viajar para a Ibiapaba. A intenção do governador,
aparentemente, era a de passar revista no Regimento da Capitania. Assim,
foi recebido por Manoel Martins Chaves que, para ser útil ao
governador, o acompanhou por algum tempo até que Oeynhausen resolveu
revelar a sua verdadeira intenção. Estava com o coronel em Ibiapina
quando mostrou uma réplica da coroa portuguesa para ele e perguntou se
sabia de quem era. O coronel disse que era da rainha, Sua Senhora.
Oeynhausen, diante disso, acrescentou: “pois, diante desta coroa, o
senhor está preso” e disse lá o motivo. Levado para Fortaleza, Manoel
Martins foi transferido, em seguida, para Lisboa onde foi recolhido na
prisão de Limoeiro.
Morto
em 1808, justamente no ano em que a Família Real partia de Portugal
para o Brasil, as terras do coronel foram vendidas em Vila Nova
d’El-Rei. Dentre elas a Fazenda Ipueiras que, com o tempo, foi doada à
freguesia de Nossa Senhora de Assunção e hoje dá nome à cidade que dista
298 quilômetros de Fortaleza.
PEDRA LASCADA
A
lenda de Itapipoca é indígena. Denominada “pedra lascada” em
tupi-guarani, há quem diga que esta lenda data do tempo do dilúvio.
Neste tempo, enquanto Noé singrava os mares por cima da Mesopotâmia, as
águas da praia da Baleia invadiam a região de Uruburetama e tomavam
conta do lugar. Noé, quando o dilúvio acabou, se deparou com o
arco-íris. Em Itapipoca, o que surgiu foi uma pedra, justamente aquela
que dá nome à cidade e que ainda hoje pode ser vista em Vila Velha do
Arapari, com o nome de Itaquatiara, em tupi-guarani, ou “pedra-d’água”
em português.
TESOUROS, GRUTAS E DRAGÕES DO IPU
Ipu,
a região para onde a índia tabajara Iracema do romance de José de
Alencar se dirigia para tomar banho em uma bica, também tem suas lendas.
A Grécia fala de um velocino de ouro, guardado por um dragão, a
Alemanha de um anel, o de Nibelungo, guardado por outro dragão. No Ipu
também havia um dragão que guardava um tesouro, mas que foi vencido por
um holandês. Descobrindo uma forma de fazer o monstro dormir, este
holandês, que não tem nome conhecido, conseguiu roubar um pouco do
tesouro que o monstro guardava em sua gruta. Feito isso, levou-o para a
frente da Igreja de São Sebastião, que estava sendo construída em Ipu, e
o enterrou para que toda a sua riqueza fosse protegida pelo santo. Em
seguida, partiu para a gruta novamente. A intenção, desta vez, era a de
levar todo o ouro que existia no local. Mas como não conseguiu adormecer
o dragão, suficientemente, foi morto por ele.
A
lenda, no entanto, pegou e, em pouco tempo, apareceu muita gente
disposta a explorar a gruta do holandês. A pessoa que se deu bem, no
entanto, não precisou ir até lá. Trata-se de um homem chamado João da
Costa Alecrim que, sem precisar enfrentar nenhum monstro nem entrar em
nenhuma gruta, deu com o tesouro do holandês diante da Igreja de São
Sebastião. Assim, ficou rico da noite para o dia. Toda vez que saía de
casa, porém, era recebido com indiferença pela população do Ipu. Como
ela considerava que aquele ouro todo estava sob a guarda de um santo
(São Sebastião) não admitia que ninguém se servisse dele tal como fez
Alecrim. Assim, toda vez que passava pelas ruas do povoado, a população
dava-lhe as costas.
A CRUZ MILAGROSA
Solonópoles
é tida e havida como terra de muita fé. Foi ali, por exemplo, que se
deu um caso até hoje contado como intrigante. Pastoreando os rebanhos do
tenente general Manuel Pinheiro do Lago, um de seus escravos viu
reluzir, por entre o matagal rarefeito, um objeto de metal. Percebendo
que era um crucifixo que media mais ou menos um palmo de comprido e
largura, pegou-o e o levou, imediatamente, para a casa grande sem se
importar mais com as ovelhas do general. Na casa grande, entregou a cruz
para a mulher do general, dona Rita das Dores Pinheiro, que levou a
cruz para a capela da fazenda. No dia seguinte, porém, a cruz havia
sumido. Procurada por todo canto, ninguém dava com ela até que o mesmo
negro a descobriu no mesmo local. Colocando a cruz em um baú, desta vez,
dona Rita esperou para ver o que haveria de acontecer e, para sua
surpresa, a cruz sumiu outra vez sem ninguém forçar o baú para o abrir.
Diante disso, dona Rita resolveu reunir a família na fazenda e discutir a
situação. Terminada a reunião, foi tomada a seguinte decisão: dona Rita
haveria de construir uma capela para aquela cruz no mesmo local onde
ela apareceu a primeira vez. Tomada essa decisão, algo quase
inacreditável aconteceu: a cruz reapareceu novamente. Desta vez dentro
do baú sem que, como antes, fosse forçado. Diante disso, a capela foi
construída, rapidamente, e o primeiro milagre da cruz aconteceu. A filha
do coronel Simeão Correia Lima Landim era muda e, por algum motivo,
transportava a cruz de metal de um lugar para outro. Durante este
percurso, abriu a boca e falou. Toda população de Solonópoles
testemunhou o ocorrido e, desde então, a capela de Bom Jesus Aparecido
da Cachoeira, atual Solonópoles, nunca mais deixou de ser frequentada
pelos fieis.
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