A APARIÇÃO DE NOSSA SENHORA
EM
FÁTIMA - Portugal – 1917.
> As Aparições do
Anjo.
> As Aparições de Nossa Senhora.
> Sobre o Segredo de Fátima.
> O Milagre de 13 de Outubro de 1917
> Sobre os sinais.
> 7ª Aparição – 15 de Junho de 1921.
> As Aparições de Nossa Senhora.
> Sobre o Segredo de Fátima.
> O Milagre de 13 de Outubro de 1917
> Sobre os sinais.
> 7ª Aparição – 15 de Junho de 1921.
>
Os muros de Jericó caíram
ao som das trombetas da oração.
> 8ª Aparição – 10 de Dezembro de 1925 – á Irmã Lucia na Espanha.
> Aparição à Irmã Lúcia em 13 de Junho de 1929 – A Visão da Santíssima Trindade.
> A Revelação do dia 29 de Maio de 1930 - A reparação ao Imaculado Coração.
> 8ª Aparição – 10 de Dezembro de 1925 – á Irmã Lucia na Espanha.
> Aparição à Irmã Lúcia em 13 de Junho de 1929 – A Visão da Santíssima Trindade.
> A Revelação do dia 29 de Maio de 1930 - A reparação ao Imaculado Coração.
> A Aprovação da
Igreja.
> Sobre os Três videntes de Fátima.
> De Fátima - Portugal à Pontevedra - Espanha.
> Sobre os Três videntes de Fátima.
> De Fátima - Portugal à Pontevedra - Espanha.
Onde aconteceu: Em Portugal.
Quando: Em 1917.
A quem: A Irmã Lúcia, Jacinta e Francisco Marto.
HISTÓRIA DAS
APARIÇÕES.
JESUS CRISTO
veio trazer à
terra a Mensagem, única e suficiente, que está contida no seu Evangelho e nos
ensinamentos oficiais da Igreja.
Mas os homens são muito
esquecidos e distraídos e, pelo tempo fora, vão querendo pôr de lado alguns
aspectos da Mensagem divina. Então Deus digna-se relembrar tais aspectos
menosprezados, mas em perigo de se adulterarem com os costumes e a mentalidade
de cada época, ou até mais, contrariados pelo inimigo fundamental que é o
demônio.
Umas vezes intervém Nosso
Senhor em pessoa para dar a conhecer aos homens estas Mensagens a que podemos
chamar de parciais, ou de repetição. É o caso das revelações do Sagrado Coração
de Jesus a Santa Margarida Maria.
Outras vezes, mais
freqüentes, o Senhor deixa vir sua Mãe.
Mais raro e até talvez
único na história da Igreja é ter Nossa Senhora mandado um Anjo à sua frente,
para iniciar uma preparação que Ela depois quis continuar, e para dar aos
acontecimentos de Fátima um preâmbulo, logo colocou os protagonistas num clima
saturado de sobrenatural, e de onde se depreendem já as coordenadas daquilo que
viria a constituir o âmago da Mensagem:
Deus ofendido; necessidade
de reparação; mudança de vida.
AS APARIÇÕES
DO ANJO.
Na primavera de 1916, três
pastorzinhos tinham levado o seu rebanho de ovelhas para o pasto perto da aldeia
de Fátima. Foi como qualquer dia, como os outros na vida de Lúcia com 09 anos,
seu primo Francisco com 08 anos e sua irmãzinha Jacinta de 06 anos.
Transcrevemos em seguida
as palavras exatas de Lúcia sobre as três aparições do Anjo, estando presentes
apenas ela e os seus dois priminhos, Francisco e Jacinta.
1ª Aparição
do Anjo.
Conta a Irmã Lucia.
“As datas não posso
precisá-las com certeza, porque, nesse tempo, eu não sabia ainda contar os anos,
nem os meses, nem mesmo os dias da semana. Parece-me, no entanto, que deveu ser
na Primavera de 1916 que o Anjo nos apareceu a primeira vez na nossa Loca do
Cabeço... subimos a encosta em procura dum abrigo e como foi, depois de aí
merendar e rezar, que começamos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que
se estendiam em direção ao Nascente, uma luz mais branca que a neve, com a forma
dum jovem, transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios
do Sol. À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições. Estávamos
surpreendidos e meios absortos. Não dizíamos palavra.
Ao chegar junto de nós,
disse:
– Não temais. Sou o Anjo
da Paz. Orai comigo.
E ajoelhando em terra,
curvou a fronte até ao chão. Levados por um movimento sobrenatural imitamo-lo e
repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:
– Meu Deus, eu
creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não
adoram, não esperam e não Vos amam.
Depois de repetir isto
três vezes, ergueu-se e disse:
– Orai assim. Os Corações
de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.
E desapareceu.
A atmosfera do
sobrenatural que nos envolveu era tão intensa, que quase não nos dávamos conta
da própria existência, por um grande espaço de tempo, permanecendo na posição em
que nos tinha deixado,
repetindo sempre a mesma oração.
A presença de Deus
sentia-se tão intensa e íntima que nem mesmo entre nós nos atrevíamos a falar.”
Cada uma das palavras do
Anjo e até das da narrativa de Lúcia, mereceriam longo e apropriado comentário e
dariam lugar para proveitosa meditação. Será feito em ocasião mais oportuna.
2ª Aparição
do anjo.
“A segunda deveu ser no
pino do Verão, (junho) nesses dias de maior calor, em que íamos com (os)
rebanhos para casa, no meio da manhã, para os tornar a abrir só à tardinha.
Fomos, pois passar as horas da sesta à sombra das árvores que cercavam o poço já
várias vezes mencionado.
De repente, vimos o mesmo
Anjo junto de nós.
– Que fazeis? Orai! Orai
muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia.
Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.
– Como nos havemos de
sacrificar? – perguntei.
– De tudo que puderdes,
oferecei um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido
e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria, a
paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal.
Sobretudo, aceitai e
suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.
Estas palavras do Anjo
gravaram-se em nosso espírito, como uma luz que nos fazia compreender quem era
Deus, como nos amava e queria ser amado; o valor do sacrifício, e como o
sacrifício Lhe era agradável, como por atenção ao sacrifício oferecido,
convertia os pecadores.
Por isso, desde esse
momento, começamos a oferecer ao Senhor tudo que nos mortificava, mas sem
discorrermos a procurar outras mortificações ou penitências, exceto a de
passarmos horas seguidas prostrados por terra, repetindo a oração que o Anjo nos
tinha ensinado.
3ª Aparição
do anjo.
A terceira aparição
parece-me que deveu ser em Outubro ou fins de Setembro, porque já não íamos
passar as horas da sesta a casa. Passamos da Prégueira (é um pequeno olival
pertencente à meus pais) para a Lapa, dando a volta à encosta do monte pelo lado
de Aljustrel e Casa Velha.
Rezamos aí o terço e a
oração que na primeira aparição o Anjo nos tinha ensinado. Estando, pois, aí,
apareceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão um cálice e sobre ele uma
Hóstia, da qual caíam, dentro do cálice, algumas gotas de sangue. Deixando o
cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a
oração:
– Santíssima Trindade,
Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o
preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos
os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com
que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e
do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.
Depois, levantando-se,
tomou de novo na mão o cálice e a Hóstia e deu-me a Hóstia a mim e o que
continha o cálice deu-o a beber à Jacinta e ao Francisco, dizendo, ao mesmo
tempo:
– Tomai e bebei o Corpo e
o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai
os seus crimes e consolai o vosso Deus.
De novo se prostrou em
terra e repetiu conosco mais três vezes a mesma oração:
– Santíssima Trindade...
etc.
E desapareceu.
Levados pela força do
sobrenatural que nos envolvia, imitávamos o Anjo em tudo, isto é, prostrando-nos
como Ele e repetindo as orações que Ele dizia. A força da presença de Deus era
tão intensa que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia privar-nos
até do uso dos sentidos corporais por um grande espaço de tempo.
Nesses dias, fazíamos as
ações materiais como que levados por esse mesmo ser sobrenatural que a isso nos
impelia. A paz e felicidade que sentíamos era grande, mas só íntima,
completamente concentrada a alma em Deus. O abatimento físico, que nos
prostrava, também era grande.»
E aqui temos, na
simplicidade fiel da narradora e protagonista, contada uma das cenas mais
portentosas de toda a história humana nas suas relações com o sobrenatural.
Tanto as palavras proferidas como o cenário e todos os gestos, são densos de
doutrina e de profundo significado que deixamos ao estudo dos entendidos, com
vista a conclusões e aplicações práticas.
Citamos apenas umas
palavras de Lúcia:
Na terceira aparição, a
presença do sobrenatural foi ainda muitíssimo mais intensa. Por vários dias, nem
mesmo o Francisco se atrevia a falar. Dizia depois:
– Gosto muito de ver o
Anjo; mas o pior é que, depois, não somos capazes de nada. Eu nem andar podia,
não sei o que tinha! Apesar de tudo, foi ele quem se deu conta, depois da
terceira aparição do Anjo, das proximidades da noite. Foi quem disso nos
advertiu e quem pensou em conduzir o rebanho para casa.
Passados os primeiros dias
e recuperado o estado normal, perguntou o Francisco:
– O Anjo, a ti, deu-te a
Sagrada Comunhão; mas a mim e à Jacinta, que foi o que Ele nos deu?
– Foi também a Sagrada
Comunhão? – respondeu a Jacinta, numa felicidade indizível. – Não vês que era o
Sangue que caía da Hóstia?
– Eu sentia que Deus
estava em mim, mas não sabia como era! E prostrando-se por terra, permaneceu por
largo tempo, com a sua Irmã, repetindo a oração do Anjo:
Santíssima
Trindade..., etc.
AS APARIÇÕES
DE NOSSA SENHORA.
Os povos envolvidos em
guerra (1ª guerra mundial 1914-1918) espalhavam a morte, medo e a dor. Portugal
atravessava uma grave crise, almas desorientadas envolviam-se na descrença,
corações com fé suplicavam paz e a salvação para o mundo. Foi nesta atmosfera
humana que brilhou o belo e risonho dia 13 de Maio
de 1917.
Neste dia as
três crianças apascentavam um pequeno rebanho na Cova da Iria, freguesia de
Fátima, conselho de Vila Nova de Ourém, hoje diocese de Leiria-Fátima.
Chamavam-se Lúcia de Jesus, já com 10 anos, e Francisco e Jacinta Marto, seus
primos, de 09 e 07 anos.
Por volta do
meio dia, depois de rezarem o terço, como habitualmente faziam, entretinham-se a
construir uma pequena casa de pedras soltas, no local onde hoje se encontra a
Basílica. De repente, viram uma luz brilhante; julgando ser um relâmpago,
decidiram ir-se embora, mas, logo abaixo, outro clarão iluminou o espaço, e
viram em cima de uma pequena azinheira (onde agora se encontra a Capelinha das
Aparições), uma "Senhora mais brilhante que o sol", de cujas mãos pendia um
terço branco.
A Senhora
disse aos três pastorinhos que era necessário rezar muito e convidou-os a
voltarem à Cova da Iria durante mais cinco meses consecutivos,
no dia 13 e
àquela hora.
As crianças assim fizeram, e nos
dias 13 de
Junho, Julho, Setembro e Outubro,
a Senhora voltou a aparecer-lhes e a falar-lhes, na Cova da Iria. A
19 de Agosto,
a aparição deu-se no sítio dos Valinhos, a uns 500 metros do lugar de Aljustrel,
porque, no dia 13, as crianças tinham sido levadas pelo Administrador do
Conselho, para Vila Nova de Ourém.
Na última
aparição, a
13 de Outubro, estando presentes cerca de
70.000 pessoas, a Senhora disse-lhes que era a
"Senhora do Rosário"
e que fizessem ali uma capela em Sua honra.
Depois da
aparição, todos os presentes observaram o milagre prometido às três crianças em
Julho e Setembro: o sol, assemelhando-se a um disco de prata, podia fitar-se sem
dificuldade e girava sobre si mesmo como uma roda de fogo, parecendo
precipitar-se na terra.
Posteriormente, Nossa Senhora apareceu só a Lúcia uma
7ª vez em
15 de Junho de 1921
na cova da Iria como ela mesma conta em seu diário, indicando o caminho que
Lúcia deveria seguir.
Após sendo
Lúcia já religiosa de Santa Doroteia, Nossa Senhora apareceu-lhe novamente em
Espanha (10
de Dezembro de 1925 e 15 de Fevereiro de 1926,
no Convento de Pontevedra, e na noite de
13/14 de
Junho de 1929,
no Convento de Tuy), pedindo a devoção dos cinco primeiros sábados (rezar o
terço, meditar nos mistérios do Rosário, confessar-se e receber a Sagrada
Comunhão, em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de
Maria) e a Consagração da Rússia ao mesmo Imaculado Coração. Este pedido já
Nossa Senhora o anunciara em 13 de Julho de 1917, na parte já revelada do
chamado "Segredo de Fátima".
Deus olhou para o mundo
com bondade e misericórdia no silêncio da Cova da Iria.
1ª APARIÇÃO
– 13 de Maio de 1917.
Lúcia descreve com
exatidão o primeiro encontro com a Virgem da carrasqueira:
Andando a brincar com a
Jacinta e o Francisco, no cimo da encosta da Cova da Iria a fazer uma paredezita
em volta de uma moita, vimos de repente como que um relâmpago.
– É melhor irmos embora
para casa. Disse a meus primos:
– Estão a fazer relâmpagos
e pode vir trovoada.
E começamos a descer a
encosta, tocando as ovelhas em direção à estrada. Ao chegar mais ou menos a meio
da encosta quase junto de uma azinheira grande que aí havia, vimos outro
relâmpago e dado alguns passos mais adiante vimos sobre uma carrasqueira uma
Senhora vestida toda de branco mais brilhante que o Sol, espargindo luz mais
clara e intensa que um copo de água cristalina atravessado pelos raios do sol
mais ardente.
Paramos surpreendidos pela
aparição. Estávamos tão perto que ficávamos dentro da luz que a cercava ou que
Ela espargia, talvez a metro e meio, mais ou menos.
Então Nossa Senhora
disse-nos:
– Não tenhais medo, hei
não vos faço mal.
– De onde é Vossemecê? Lhe
perguntei.
– Sou do Céu!
– E que é que Vossemecê me
quer?
– Vim para vos pedir que
venhais aqui seis meses seguidos, no dia e a esta mesma hora, depois vos direi
quem sou e o que quero. Depois voltarei aqui ainda uma sétima vez.
– E eu também vou para o
Céu?
– Sim, vais!
– E a Jacinta?
– Também.
– E o Francisco?
– Também, mas tem que
rezar muitos terços...
Quereis oferecer-vos a
Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de
reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos
pecadores?
– Sim queremos!
– Ides, pois, ter muito
que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.
Foi ao pronunciar estas
palavras (a graça de Deus, etc...) que abriu pela primeira vez as mãos,
comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que
penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazia-nos ver a nós mesmos em
Deus, que era essa luz; mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos.
Então por um impulso
íntimo, também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente: "Ó
Santíssima Trindade, eu Vos adoro, Meu Deus, Meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo
Sacramento."
Passados os primeiros
momentos, Nossa Senhora acrescentou:
– Rezem o terço todos os
dias, para alcançarem a paz do mundo e o fim da guerra.
Em seguida começou a
elevar-se serenamente subindo em direção ao nascente até desaparecer na
imensidade da distância. A luz que A circundava ia como que abrindo um caminho
no cerrado dos astros, motivo porque algumas vezes dissemos que vimos abrir-se o
Céu.
2ª APARIÇÃO
– 13 de Junho de 1917.
Aí pelas 11 horas saí de
casa, passei por casa de meus tios onde a Jacinta e o Francisco me esperavam e
lá vamos para a Cova da Iria à espera do momento desejado... Depois de rezar o
terço com a Jacinta e Francisco e mais pessoas que estavam presentes (Conforme
contou o Sr. Inácio António Marques, assistiram 40 pessoas!), vimos de novo o
reflexo da luz que se aproximava (a que chamávamos relâmpago) e em seguida Nossa
Senhora sobre a carrasqueira, em tudo igual a Maio.
– Vossemecê que me quer?
Perguntei.
– Quero que venhais aqui
no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler.
Depois direi o que quero.
– Pedi a cura de um
doente.
– Se, se converter,
curar-se-á durante o ano.
– Queria Pedir-lhe para
nos levar para o Céu.
– Sim, a Jacinta e o
Francisco levo-os em breve, mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer
servir-Se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a
devoção ao Meu Imaculado Coração. A quem a aceita, prometer-lhe-ei a salvação e
estas almas serão amadas de Deus, como flores colocadas por Mim para enfeitar o
Seu Trono.
– Fico cá sozinha?
Perguntei com pena.
– Não, filha! E tu sofres
muito! Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O Meu Imaculado Coração será o teu
refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.
Foi no momento em que
disse estes palavras, que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o
reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus.
A Jacinta e o Francisco
parecia estarem na parte dessa luz que se elevava para o Céu, e eu, na que se
espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora estava
um Coração cercado de espinhos que parecia estarem-Lhe cravados. Compreendemos
que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade que
queria reparação.
Eis ao que nos referíamos
quando dizíamos que Nossa Senhora nos tinha revelado um segredo em Junho. Nossa
Senhora não nos mandou ainda desta vez guardar segredo, mas sentíamos que Deus a
isso nos movia.
3ª APARIÇÃO
– 13 de Julho de 1917.
Escreve a Irmã Lúcia
Momentos depois de termos
chegado à Cova da Iria, junto da carrasqueira, entre numerosa multidão de povo,
estando a rezar o terço, vimos o reflexo da costumada luz e em seguida Nossa
Senhora sobre a carrasqueira.
– Vossemecê que me quer?
Perguntei.
– Quero que venham aqui no
dia 13 do mês que vem, que continuem o rezar o terço todos os dias, em honra de
Nossa Senhora do Rosário para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só
ela Lhes poderá valer.
– Queria pedir-Lhe para
nos dizer quem é, para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê
nos aparece.
– Continuem a vir aqui
todos os meses, em Outubro direi quem sou, o que quero, e farei um milagre que
todos hão de ver para acreditar.
Aqui fiz alguns pedidos,
que não recordo bem quais foram.
O que me lembro é que
Nossa Senhora disse que era preciso rezar o terço para alcançar as graças
durante o ano. E continuou:
– Sacrificai-vos pelos
pecadores, e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum
sacrifício: "O Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em
reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria."
SOBRE O SEGREDO DE FÁTIMA.
1ª e 2ª Parte do segredo
1ª. Consta da visão do
inferno.
2ª. A Devoção ao Meu
Imaculado Coração com a comunhão reparadora nos primeiros sábados e a
Consagração da Rússia.
O texto que segue, nesta
narração, fazia já parte do segredo que, em 1917, Nossa Senhora pediu aos
Pastorinhos não contassem a ninguém e que eles não revelaram nem mesmo quando o
Administrador os prendeu e ameaçou mandar fritar em azeite a ferver. Só em 31 de
Agosto de 1941, na carta escrita em Tuy ao Bispo D. José Alves Correia da Silva,
Lúcia diz ser "chegado o momento" de falar do segredo, acrescentando: Bem; o
segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar.
1ª Parte:
A primeira foi, pois, a
vista do inferno! Nossa Senhora .... Ao dizer estas palavras, abriu de novo as
mãos como nos dois meses passados. O reflexo pareceu penetrar a terra e vimos
como que um mar de fogo, mergulhados nesse fogo os demônios e as almas, como se
fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas com forma humana, que
flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que deles mesmas saíam juntamente com
nuvens de fumo, caindo de todos os lados semelhante ao cair das fagulhas nos
grandes incêndios, sem peso, nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e
desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Devia ser ao deparar-me
com esta visão que dei esse Ai, que dizem ter-me ouvido.
(No jornal O Século,
de 23 de Julho de 1917, lia-se: "ouviu-se um ruído semelhante ao ribombar do
trovão, pro rompendo as crianças num choro aflitivo, fazendo gestos epiléticos e
caindo depois em êxtase.")
Os demônios distinguiam-se
por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas
transparentes como negros carvões em brasa. Esta visão foi um momento, e graças
à Nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos
levar para o Céu. Se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e
pavor. Assustados e como que a pedir socorro, levantamos a vista para Nossa
Senhora que nos disse com bondade e tristeza:
2ª parte:
- Vistes o inferno para
onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no
mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser,
salvar-se-ão muitas almas e terão paz: a guerra vai acabar. Mas se não deixarem
de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma
noite iluminada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus
vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e
de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a
consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a
comunhão reparadora nos
primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão
paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições
à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer,
várias nações serão aniquiladas: por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O
Santo Padre consagrar-me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao mundo
algum tempo de paz. Em Portugal conservar-se-á sempre o dogma da fé, etc...
3ª Parte do segredo.
Quanto à terceira parte do
segredo, encontrando-se Lúcia doente, em Tuy, descreveu-a em 3 de Janeiro de
1944, também por ordem do Bispo de Leiria, entregando-a num envelope fechado.
Lúcia diz nessa carta:
Escrevo em ato de
obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Ex.cia. Rev.ma o
Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe.
Depois das duas partes
que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo
com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que
parecia iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da
mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão
direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E
vimos numa luz imensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas num
espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o
pressentimento de que era o Santo Padre”. Vários outros Bispos, Sacerdotes,
religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma
grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo
Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio
trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas
dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado
de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe
dispararam varias tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os
Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares,
cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz
estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o
sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus.
Continuando a carta de 31
de Agosto de 1941:
– Isto não o digais a
ninguém. Ao Francisco sim, podeis dizê-lo. Quando rezardes o terço, dizei depois
de cada mistério:
Ó meu Jesus, perdoai-nos
livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o céu,
principalmente aquelas que mais precisarem.
Seguiu-se um instante de
silêncio e perguntei:
– Vossemecê não me quer
mais nada?
– Não, hoje não te quero
mais nada.
E como de costume começou
a elevar-se em direção ao nascente até desaparecer na imensa distância do
firmamento.»
4ª APARIÇÃO
– 19 de Agosto de 1917.
A Aparição foi no
domingo, em 19 de Agosto de 1917 ao cair da tarde..
Andando com as
ovelhas na companhia de Francisco e seu irmão João, num lugar chamado Valinhos e
sentido que alguma coisa de sobrenatural se aproximava e nos envolvia,
suspeitando que Nossa Senhora nos viesse a aparecer e tendo pena que a Jacinta
ficasse sem A ver, pedimos a seu irmão João que a fosse chamar. Como ele não
queria ir, ofereci-lhe para isso dois vinténs e lá foi a correr.
Entretanto, vi
com o Francisco, o reflexo da luz a que chamávamos relâmpago; e chegada a
Jacinta, vimos Nossa Senhora sobre uma carrasqueira.
- Que é que Vossemecê me
quer?
- Quero que continueis a
ir à Cova da Iria no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os dias. No
último mês farei o milagre para que todos acreditem.
- Que é que Vossemecê quer
que se faça ao dinheiro que o povo deixa na Cova da Iria?
- Façam dois andores: um,
leva-lo tu com a Jacinta e mais duas meninas vestidas de branco; o outro que o
leve o Francisco com mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de
Nossa Senhora do Rosário e o que sobrar é para a ajuda duma capela que hão de
mandar fazer.
- Queria pedir-lhe a cura
de alguns doentes.
- Sim, alguns curarei
durante o ano.
E tomando um aspecto mais
triste:
- Rezai, rezai muito e
fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno, por não
haver quem se sacrifique e peça por elas.
E como de costume, começou
a elevar-se em direção ao nascente.
A Aparição nos
Valinhos foi para o Francisco de dobrada alegria. Sentia-se torturado pelo
receio de que Ela não voltasse. Depois dizia:
- De certo não nos
apareceu no dia 13 para não ir a casa do Sr. Administrador, talvez por ele ser
tão mau.
Em seguida, como
a irmã disse que queria ficar ali o resto da tarde:
- Não! Tu tens que ir
embora, porque a mãe hoje não te deixou vir com as ovelhas.
E para animar, foi
acompanhá-la à casa.
O tempo todo as três
crianças dedicavam à oração e a imaginar que mortificações poderiam praticar
pela conversão dos pecadores. No mês de agosto, de maior seca, chegaram a ficar
nove dias sem beber água. Em lugar de comer as frutas doces que os pais lhes
davam, comiam ervas do campo e pinhas verdes. Tendo encontrado uma corda
áspera no caminho para Aljustrel, os três a repartiram para usar na cintura
como um silício, dia e noite.
Eram claros os sinais de
que essas penitências agradavam a Deus. Particularmente, Jacinta agora era mais
paciente, carinhosa, e aberta aos sofrimentos. Teve muitas visões sobre coisas
futuras. Certo dia rezou três Ave-Marias por uma mulher muito doente, e todos os
sintomas da doença desapareceram. Por outra mulher, que os injuriava chamando-as
de impostoras e mentirosas, Jacinta pediu que os três fizessem muitas
penitências para que se convertesse; e de fato, nunca mais a ouviram dizer uma
palavra menos bondosa.
5ª APARIÇÃO
– 13 de Setembro de 1917.
Dia 13 de
Setembro de 1917. Ao aproximar-se a hora, lá fui com a Jacinta e o Francisco,
entre numerosas pessoas que a muito custo nos deixavam andar...
Chegamos por fim à Cova da
Iria, junto da carrasqueira, e começamos a rezar o terço com o povo. Pouco
depois vimos o reflexo da luz e a seguir Nossa Senhora sobre azinheira.
- Continuem a rezar o
terço, para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro virá também Nosso Senhor,
Nossa Senhora das Dores e do Carmo, São José com o Menino Jesus para abençoarem
o mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais
com a corda. Trazei-a só durante o dia.
- Têm-me pedido para Lhe
pedir muitas coisas, a cura de alguns doentes, dum surdo-mudo.
- Sim, alguns curarei;
outros não. Em Outubro farei o milagre para que todos acreditem.
E começando a elevar-se,
desapareceu como de costume.
6ª APARIÇÃO
– 13 de Outubro de 1917.
Conta Irmã Lúcia:
Tinha-se espalhado o boato
que as autoridades haviam decidido fazer explodir uma bomba junto de nós, no
momento da aparição. Não concebi, com isso, medo algum, e falando a meus primos,
dissemos:
- Mas que bom, se nos for
concebida a graça de subir dali com Nossa Senhora para o Céu!
No entanto meus
pais assustaram-se e pela primeira vez quiseram acompanhar-me, dizendo:
- Se a minha filha vai
morrer, eu quero morrer a seu lado.
Meu pai levou-me
então pela mão até o local das aparições, mas desde o momento da aparição não o
voltei mais a ver até que me encontrei à noite no seio da família.
Pelo caminho as
cenas do mês passado, porém mais numerosas e comovedoras. Nem a lamaceira dos
caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais humilde e suplicante.
Chegados à Cova
da Iria junto da carrasqueira, levada por um movimento interior, pedi ao povo
que fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o terço. Pouco depois vimos o
reflexo da luz e em seguida Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
- Que é que Vossemecê
quer?
- Quero dizer-te que façam
aqui uma capela em minha honra.
"Sou a Senhora do
Rosário". Que continuem sempre a rezar o terço todos os dias. A guerra vai acabar
e os militares voltarão em breve para suas casas.
- Eu tinha muitas coisas
para lhe pedir. Se curava uns doentes e se convertia uns pecadores, etc.
Respondeu-me
dizendo:
- Uns sim, outros não. É
preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados.
E tomando um aspecto
triste:
- Não ofendam mais a Deus
Nosso Senhor, que já está muito ofendido.
O SOL
DANÇOU EM FÁTIMA.
Despedindo-se, a Senhora
abriu as mãos, como das outras vezes, e o brilho que delas saía subia até onde
devia estar o sol. A multidão viu as nuvens se abrirem e o sol aparecer entre
elas, no azul do céu, como um disco luminoso. Muitos ouviram Lúcia gritar:
- Olhem para o sol!
Porém, ela estava em
êxtase e não se recorda de ter dito isso, pois estava totalmente absorta em
outras visões que se sucederam...
Na cova da Iria 70.000
pessoas esperavam durante 4 horas, à chuva, molhadas até aos ossos, em poças de
água com cerca de 10cm de profundidade, agüentando até o frio.
Conta Lúcia:
"Desaparecida Nossa
Senhora na imensidade do firmamento, vimos ao lado do sol São José com o Menino
e Nossa Senhora vestida de branco com um manto azul. São José com o Menino
pareciam abençoar o mundo, pois faziam com as mãos uns gestos em forma de cruz."
E somente Lúcia teve a
visão seguinte:
"Pouco depois, desvanecida
essa aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora que me dava a idéia de ser Nossa
Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar o mundo da mesma forma que São
José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda Nossa Senhora em forma
semelhante a Nossa Senhora do Carmo".
Enquanto isso, a multidão
presenciava o milagre prometido por Nossa Senhora:
O sol rompia as nuvens e,
bem no zênite, na posição de meio-dia, brilhava como um disco de prata. Era
possível realmente olhar para ele, sem que sua luz ofuscasse. Isso foi por um
instante.
Todos ainda olhavam para o
sol, assombrados, quando ele começou a "dançar", segundo a descrição das
pessoas: ele começou a girar sobre si mesmo, como uma bola de fogo, e então
parou. Logo voltou a girar, mas velozmente. Ainda girando, suas bordas ficaram
escarlates e começaram a lançar chamas por todo o céu, e com isso sua luz se
refletia em tudo e em todos, com as diferentes cores do espectro solar. Ainda
girando rapidamente, e espargindo chamas coloridas, por três vezes o sol pareceu
desprender-se do céu e precipitar-se em zigue-zague sobre a multidão.
Muitos julgavam ser o fim
do mundo, e as pessoas se ajoelhavam na lama pedindo perdão de seus pecados.
Houve quem fizesse confissão pública em altos brados, e alguns dos que haviam
ido até a Cova para fazer troça dos crédulos prostraram-se em terra entre
soluços e orações desajeitadas. O fenômeno durou por uns dez minutos, e depois,
elevando-se em zigue-zague, o sol voltou a sua posição normal e brilhante,
ofuscando como o sol comum.
As pessoas se entreolhavam
e diziam:
"Milagre! Milagre! As
crianças tinham razão! Nossa Senhora fez o milagre! Bendito seja Deus! Bendita
seja Nossa Senhora!" Muitos riam, outros choravam de alegria, e houve quem
notasse que suas roupas se haviam secado subitamente.
Durante mais de quatro
horas chovera torrencialmente e fizera muito frio. E então, exatamente como fora
profetizado 92 dias antes, exatamente à hora indicada, parou a chuva e ficou
imediatamente bom tempo. Apareceu um maravilhoso arco-íris, promissor de
felicidade. A natureza utilizou aqui este jogo de luz, embora contra as regras,
pois um arco-íris normalmente pode ser visto de manhã ou à tardinha, não ao
meio-dia. Mas o arco-íris apareceu sobre Fátima ao meio-dia, as suas cores
brilharam com uma intensidade cem vezes superior à normal, formando em vez de um
arco abobado, uma grande faixa com 12 metros de altura que cobriu homens, muros
e árvores.
Depois deste jogo de
cores, o poderoso calor crescente empurrou o tempo chuvoso para o céu. A água
evaporou-se rapidamente, e surgiu um grande calor. Mas isso não incomodou
ninguém.
Os nossos físicos não
conhecem processos tão rápidos de secagem, pois a quantidade da água evaporada
não pode subir em poucos minutos para a atmosfera. Quando terminou o triplo jogo
de luz, tudo estava completamente seco. Vários milhares de toneladas de água
deviam ter-se evaporado em menos de 3 minutos. Certamente o ar, o quarto
elemento, causaria os maiores problemas para os operadores de televisão.
Enquanto eles poderiam mais ou menos filmar os efeitos dos elementos acima
descritos, não teriam capacidade de captar a coluna do ar.
As muitas nuvens
e altitudes que diferiam de algumas centena a vários milhares de metros, foram
movidas, e de tal maneira sobrepostas que o sol verdadeiro perdeu o brilho e
nenhuma das 70.000 pessoas sofreu danos na retina ocular. Desse modo as
diferentes aberturas entre nuvens foram dirigidas com precisão sensacional.
No meio da multidão
estiveram os três Pastorinhos que, durante o bailar do sol, se encontraram com a
Senhora de dignidade real.
Se tivéssemos estado
naquele dia em Fátima, mesmo só como observadores, teríamos regressado a nossas
casas com um entusiasmo de inexplicável felicidade. O nosso pensamento teria
sido: Que maravilha é o nosso planeta!
A água pantanosa
e a lama fria transformaram-se em suave beleza estival!
O disco, que se
confundiu com o sol, bailou nas alturas e desceu em frente da multidão, numa
proximidade palpável, sem contudo ameaçar!
Graças a Deus e graças
aquela que do céu nos trouxe à terra este presente, certamente não com a
intenção de assustar, mas para provar a sua vinda!
Sobre os
Sinais.
Só um milagre – obra
divida – põe nos acontecimentos o sinete de Deus. Assim aconteceu com o próprio
Salvador.
Jesus, no início
da sua vida pública, encontrou vendedores e cambistas no templo e expulsou-os a
todos. Então os judeus perguntaram-lhe: Que sinal nos dás de poderes fazer isto?
Jesus
respondeu-lhes: Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei.
Replicaram então
os judeus: Quarenta e seis anos levou este templo a construir, e Tu vais
levantá-lo em três dias?
Ele, porém,
falava do templo que é o seu corpo. Por isso, quando Jesus ressuscitou dos
mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito... (Jô
2,17-22).
Outra altura,
quando Ele ensinou o povo e anunciou o Evangelho, também os sumos sacerdotes, os
escribas e os anciãos se aproximaram dele e lhe perguntaram: com que autoridade
fazes estas coisas? Quem te deu autoridade para as fazeres? (Mt 11,27-28)
Jesus disse-lhes:
Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu
sou o que sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo destas coisas tal como o
Pai me ensinou. E aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou só, porque
faço sempre aquilo que lhe agrada. (Jô 8,28-29)
Noutro dia
disseram-lhe alguns doutores da lei e fariseus: Mestre, queremos ver um sinal
feito por ti.
Ele
respondeu-lhes: Geração má e adúltera! Reclama um sinal, mas não lhe será dado
outro sinal, a não ser o do profeta Jonas. Assim com Jonas esteve no ventre do
monstro marinho, três dias e três noites, assim o Filho do Homem estará no seio
da terra, três dias e três noites. (Mt 12,38-40; Lc 11,29-32)
Quando vedes uma
nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: Vem lá a chuva; e assim sucede. E
quando sopra o vento sul, dizeis: Vai haver muito calor; e assim acontece.
Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não
sabeis reconhecer o tempo presente? (Lc 12,54-56) As obras que o Pai me confiou
para levar a cabo, estas mesmas obras que eu faço, dão testemunho de que o Pai
me enviou. E o pai me enviou mantém o seu testemunho a meu favor. Nunca ouvistes
a sua voz, nem vistes o seu rosto, nem a sua palavra permanece em vós, visto não
credes neste que ele enviou. (Jo 5,36-38) Na festa da Dedicação do templo, Jesus
afirmou de novo: Se não faço as obras do meu Pai, não creias em mim; mas se as
faço, embora não queirais crer em mim, crede nas obras, e assim vireis a saber e
ficareis a compreender que o Pai está em mim e eu no Pai. (Jo 10,37-38)
Embora Jesus
tivesse realizado diante deles tantos sinais portentosos, não criam nele. (Jô
12,37) Jesus levantou a voz e disse: Quem crê em mim não é em mim que crê, mas
sim naquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em
mim não fique nas trevas. (Jo 12,44-46) Jesus, ressuscitou no terceiro dia, como
tinha anunciado.
A missão de Nossa Senhora
foi também confirmada pelo milagre do sol, em 13 de Outubro de 1917. Se mais
nada tivesse acontecido, houve pelo menos uma profecia claramente anunciada três
meses antes e completamente cumprida!
No dia e à hora anunciada,
deu-se um fenômeno nunca antes visto, que dezenas de milhares de pessoas
presenciaram e testemunharam.
Testemunhou-o também o
jornalista Avelino de Almeida, que fora enviado pelo diário “O Século”, para
relatar o acontecimento desse dia 13 de Outubro de 1917, na Cova da Iria. Com os
seus próprios olhos viu as coisas espantosas e nesse jornal diário, em 15 de
Outubro, Sob o título: “Como o sol bailou ao meio dia em Fátima”, descreveu:
E, quando já não imaginava
que via alguma coisa mais impressionante do que essa rumorosa, mas pacífica
multidão animada pela mesma obsessiva idéia e movida pelo mesmo poderoso anseio,
que vi eu ainda de verdadeiramente estranho na charneca de Fátima? A chuva, à
hora pronunciada, deixar de cair; a densa massa de nuvens romper-se e o astro
rei – disco de prata fosca – em pleno zênite aparecer e começar dançando num
bailado violento e convulso, que grande número de pessoas imaginava ser uma
dança serpentina, tão belas e rutilantes cores revestiu sucessivamente a
superfície solar...
Milagre, como gritava o
povo; fenômeno natural, como dizem sábios?
Não curo agora de sabê-lo,
mas apenas de afirmar o que vi... O resto é com a ciência e com a Igreja.
7ª Aparição –
15 de Junho de 1921.
Na 1ª aparição de Nossa
Senhora em 13 de Maio de 1917, ELA disse:
- Vim para vos pedir que
venhais aqui seis meses seguidos, no dia e a esta mesma hora, depois vos direi
quem Sou e o que quero.
Depois voltarei aqui ainda
uma sétima vez.
Em 1920 a Diocese de
Leiria foi restaurada, e sagrado Bispo diocesano D. José Alves Correia da Silva,
que logo quis informar-se dos acontecimentos de Fátima e do paradeiro da Lúcia,
única sobrevivente dos pastorinhos.
Ao saber que,
nessa ocasião, ela se encontrava em Fátima, pediu a uma senhora da sua confiança
o favor de ir ver se, com a licença da mãe, a levava a Leiria.
Assim, Lúcia
encontrou-se pela primeira vez com D. José que a interrogou sobre as aparições,
ao que ela respondeu o melhor que pode e soube. Depois, propôs-lhe deixar Fátima
para ir para o Porto, porque por lá ainda não era conhecida. Não falaria a
ninguém das aparições de Fátima, nem de seus pais, nem da sua família, nem
revelaria o seu verdadeiro nome, nem a sua terra natal; não receberia visitas, a
não ser das senhoras a quem a ai entregar, para cuidarem dela; não devia
escrever a ninguém, a não ser a sua mãe, devia mandar as suas cartas ao Vigário
do Olival, que se encarregaria de entregá-las à mãe, e que esta, as cartas que
lhe escrevesse devia, igualmente, enviá-las ao Vigário do Olival para, por meio
de Sua Reverendíssima, lhe serem enviadas; que não voltaria a Fátima para passar
férias nem para qualquer outra coisa, sem a sua licença.
Sabemos hoje, do diário da
Irmã Lúcia:
De novo em
Fátima, guardei inviolável o meu segredo, mas a alegria que senti, ao me
despedir do Senhor Bispo, durou pouco tempo, Lembrava-me dos meus familiares, da
casa paterna, da Cova da Iria, Cabeço, Valinhos, do poço... e agora deixar tudo,
assim, de uma vez para sempre? Para ir não sei bem para onde...? Disse ao Sr.
Bispo que sim, mas agora vou dizer-lhe que me arrependi e que para aí não quero
ir.
E como que em oração
dirigida à Mãe do Céu, continua:
Assim foste Tu, a
que me tomaste pela mão e me conduziste os passos. Sim, mais de uma vez, vieste
à terra para indicar-me o caminho, sem Ti, teria perdido o norte e desviado o
caminho estreito.
Foi o dia 15
de Junho de 1921, viste a minha luta, a
indecisão e o arrependimento do sim que antes tinha dado, a incerteza do que
iria encontrar, a resolução de voltar atrás. O conhecimento do que deixava, e a
saudade a desgarrar-me o coração!
Esse Adeus a
tudo, no desabrochar da juventude onde um belo futuro me sorria na casa da minha
querida Senhora D. Assunção Avelar e outras que me ofereciam, o carinho maternal
com igual afeto, deixar tudo e a casa paterna, por uma incerteza do que iria
encontrar, oprimia-me o coração e fazia-me pressentir o que nem queria
pensar!...
Podia lá ser? Perguntava a
mim mesma. - Não, - digo a minha Mãe que não quero ir e com não aparecer amanhã
em Leiria tudo está resolvido, volto depois para Lisboa, para Santarém para casa
da minha querida Sr. D. Adelaide, ou para Leiria para as Senhoras Patrício, em
qualquer dos sítios estou muito melhor, posso estudar e conseguir um bom futuro.
Para onde o Sr. Bispo me
quer levar, não sei como será, é com a condição de não voltar mais a casa, por
isso não voltarei mais a ver a família, nem estes lugares benditos! Cova de
Iria, Loca do Cabeço, Valinhos, Poço do Arneiro, a Igreja onde fica o meu Jesus
escondido e onde tantas graças tenho recebido! O sorriso da minha primeira
Comunhão! Vila Nova de Ourém onde fica a Jacinta, o cemitério onde ficam os
restos mortais de meu querido Pai e Francisco! Nunca mais voltar a pisar esta
terra abençoada, para ir sabe Deus para onde! Sem nem sequer poder escrever
diretamente à minha mãe! Impossível, não vou!
E foi entre esta multidão
de pensamentos sombrios que percorri o caminho desde a Igreja de Fátima, onde de
manhãzinha cedo foi para assistir à Santa Missa e comungar por despedida, até à
Cova de Iria.
Aí ajoelhada e debruçada
sobre a pequena grade que resguardava a terra que tinha alimentado a feliz
carrasqueira onde Nossa Senhora pousou os Seus Imaculados pés, deixei as
lágrimas correrem em abundância enquanto que pedia a Nossa Senhora perdão de não
ser capaz de oferecer-Lhe desta vez, este sacrifício que me parecia superior as
minhas forças. Recordava sim, esse mais belo dia 13
de Maio de 1917, em que tinha dado o meu “Sim” prometendo aceitar
todos os sacrifícios que Deus quisesse enviar-me. E esta recordação era como que
uma luz no fundo da alma, um escrúpulo que me não dava paz, e me fazia verter
uma torrente de lágrimas.
Nesse momento, bem longe
estava eu de pensar num novo encontro, nem no cumprimento da promessa:
“Voltarei aqui, uma sétima vez”. Tinha tantos mais dignos do que eu a quem
podias manifestar-Te! Mas não é aos filhos mais pequeninos e necessitados que
as mães socorrem em primeiro lugar? Por certo que, desde o Céu, o Teu maternal
olhar me seguia os passos e no espelho Imenso da Luz que é Deus, viste a luta
daquela a quem prometeste especial proteção. “Eu nunca te deixarei. O meu
Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.”
Assim solícita, mais uma
vez desceste à terra, e foi então que senti a tua mão amiga e maternal tocar-me
no ombro; levantei o olhar e vi-Te, eras Tu, a Mãe Bendita a dar-me a Mão e a
indicar-me o caminho; os Teus lábios descerraram-se e o doce timbre da tua voz
restituiu a luz e a paz à minha alma.
Disse Nossa Senhora:
-
“Aqui estou pela
sétima vez, vai, segue o caminho por onde o Senhor Bispo te quiser levar, essa é
a vontade de Deus.”
Repeti então o meu “Sim”,
agora bem mais consciente do que, o dia 13 de Maio
de 1917 e enquanto que de novo Te elevavas ao Céu, como num relance,
passou-me pelo espírito toda a série de maravilhas que naquele mesmo lugar,
havia apenas 4 anos, ali me tinha sido dado contemplar. Recordei a minha querida
Nossa Senhora do Carmo e nesse momento senti a graça da vocação à vida religiosa
e o atrativo pelo Claustro do Carmelo.
Tomei por protetora a
minha querida Sóror Teresinha do Menino Jesus. Dias depois, por conselho do Sr.
Bispo, tomei por norma a “Obediência” e por lema as palavras de Nossa Senhora
narradas no Evangelho – “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
8ª Aparição –
10 de Dezembro de 1925 – á Irmã Lucia na Espanha.
Dia 10/12/1925,
apareceu-lhes a SS. Virgem e ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino.
A SS. Virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao mesmo tempo, um coração
que tinha na outra mão, cercado de espinhos.
Ao mesmo tempo, disse o
Menino:
- Tem pena do Coração
de tua SS. Mãe que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os
momentos lhe cravam sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar.
E em seguida disse a SS.
Virgem:
- Olha, minha filha, o
Meu coração cercado de espinhos que os homens ingratos me cravam, com blasfêmias
e ingratidões. Tu, ao menos, vê de me consolar e diz que todos aqueles que
durante cinco meses, ao 1º sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão,
rezarem um Terço e me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15
mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, eu prometo assistir-lhes, na
hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.
FÁTIMA E A
MODERNIDADE – PROFECIA E ESCATOLOGIA.
Apresentamos aqui um estudo do Sr. D. Antônio dos Santos Marto, bispo de Fátima - Portugal.
“O raio e o trovão
precisam de tempo, a luz dos astros precisa de tempo, as ações precisam de tempo
para poderem ser vistas e ouvidas” (Nietzsche) Esta frase de Nietzsche, apesar
de se referir a um contexto diferente, pode bem aplicar-se à mensagem das
aparições de Nossa Senhora em Fátima em 1917. Só distanciando-nos no tempo, no
início de um novo século, somos capazes de captar toda a sua grandeza,
profundidade e relevância.
Um historiador inglês, G.
J. Hobsbawn, define o século XX como “século breve”: O faz começar em 1914 com a
primeira guerra mundial e acabar em 1989 com a queda do muro de Berlim.
Precisamente este período
de tempo é abrangido de modo especial na mensagem de Fátima. As aparições tiram
o seu significado particular do momento histórico, social, político, cultural e
religioso ao qual dirigem a sua interpelação e que procuram iluminar com a sua
mensagem.
Segundo a doutrina de S.
João da Cruz as aparições são o invólucro da mensagem. A primazia cabe à
mensagem de amor. A Igreja considera-as “revelações privadas” que não podem ser
comparadas à Revelação consignada na Sagrada Escritura. O seu objetivo não é
fundamentar a fé mas servi-la.
Não acrescentam nada à
única revelação, mas podem ser um humilde apelo. Constituem sinais sensíveis nos
quais Deus se comunica segundo a capacidade daquele que o recebe. O seu papel
pode aproximar-se ao dos ícones que, segundo a teologia oriental, são uma
“verdadeira objetivação, inspirada pelo Espírito Santo [...] geradora e
portadora de presença”. Elas pertencem à ordem do carisma, isto é, são um dom de
Deus a um membro do corpo de Cristo para bem de todo o corpo. Como todos os
carismas de caráter excepcional, não devem ser procuradas mas acolhidas, em ação
de graças, com discernimento e prudência.
Na expressão de K. Rahner,
uma revelação privada não representa uma inovação, isto é, uma nova
interpretação das realidades da fé; é antes a revelação de um imperativo
evangélico numa determinada situação histórica da Igreja e do mundo, a realizar
com urgência num preciso momento requerido pela própria situação histórica e de
acordo com os princípios gerais da revelação oficial e da fé eclesial. Por isso
a revelação privada é uma atualização de uma determinada época, uma aplicação
histórica da revelação fundadora num determinado tempo, de modo a inseri-la nas
consciências e na cultura como graça, promessa, existência e juízo, de modo a
que os ouvintes e os destinatários se confrontem com um chamamento direto de
Deus que convida à obediência da fé.
As aparições são um sinal
de Deus para a nossa geração. E Maria aparece como a serva do Senhor, disponível
ao serviço da Igreja no mundo. As aparições querem ainda preparar a Igreja para
o futuro, por vezes com tons apocalípticos. Penso ser necessário fazer este
preâmbulo à maneira de introdução porque, relativamente às aparições,
constata-se com freqüência uma curiosidade por vezes doentia que corre o risco
de se fixar sobre detalhes periféricos sem captar o fundamental.
As aparições e a
conseqüente revelação não podem fazer esquecer a dramática situação histórica na
qual a comunidade cristã está inserida. Por isso só na medida em que as
aparições se colocam numa relação com a história quotidiana e com as grandes
provocações que partem da humanidade, se pode pensar estarmos perante uma
mensagem que é dada para provocar a fé, que se tornou tépida e indiferente.
Uma reflexão teológica a
este propósito não poderá dispensar uma análise atenta ao contexto sócio
cultural em que as aparições acontecem, por exemplo, as condições peculiares que
a Igreja vive num determinado momento.
1. No horizonte da
Modernidade.
É bem evidente como a
mensagem de Fátima se refere à nova era dos tempos modernos com particular
incidência na época dos dois grandes conflitos que marcam a história do século
XX, com todo o contexto em que estes se inserem e com tudo aquilo de que são
expressão. A primeira e a segunda guerra mundiais constituem como que um prisma
do mal neste século, onde de vários ângulos se refletem e se podem observar as
principais facetas do mal e os seus efeitos perversos:
– A novidade trágica da
forma política totalitária, nas versões do estalinismo e do nazismo, típica do
século XX;
– O recurso à mentira
sistemática para fabricar uma verdade e reescrever a história;
– Um programa de negação
de Deus e da Sua expulsão da vida pública e das próprias consciências através um
ateísmo e um laicismo militantes;
– A aniquilação e a morte
do ser humano e o desprezo total da dignidade da pessoa, na expressividade
numérica de dezenas de milhões de vítimas, em nome da pureza radical da
ideologia, da revolução ou da raça, elevadas à categoria de novas divindades;
– A novidade daquela que
viria a ser chamada a “guerra total” que, infringindo os códigos
tradicionalmente aceites, dava via livre à liquidação dos civis e inocentes,
usando todos os instrumentos científico-técnicos mais modernos. Isto representa
o levar até ao extremo o poder arbitrário que não conhece limites, qualquer
limite.
– O fenômeno coletivo de
ódio e de violência que se apoderou de pessoas e povos.
Numa leitura teológica dos
sinais dos tempos, a guerra mundial e a guerra total representam isto é, tornam
presente, um concentrado do mal, um símbolo real da mundialização do
pecado experimentada pela primeira vez na sua monstruosidade, no seu horror
e terror a nível planetário.
Põem em evidência tanto as
formas do mal organizado do qual está tragicamente cheio o nosso século,
como a aceitação da normalidade e da banalidade do mal, agora
racionalmente justificado e legitimado, cientifica e tecnicamente programado e
executado. À distância de tempo aparecem-nos hoje com mais clareza a
metamorfose, a ruptura e a degeneração da modernidade e dos seus êxitos
potencialmente destruidores.
A novidade dos tempos
modernos não consiste propriamente no fato de o homem ter decidido usar livre e
publicamente a razão, segundo o lema de Kant. Este lema lança as suas raízes no
cristianismo, na convicção de que o homem é criado à imagem de Deus, capaz de
conhecimento criador.
O que marca a ruptura de
uma época é o fato de a modernidade se apresentar como um projeto ambicioso de
salvação do homem pelo homem, que teve a sua expressão teórica extrema no século
XIX com “os mestres da suspeita” e a sua mensagem, de que foi herdeiro maior o
marxismo: é preciso que Deus morra para que o homem viva.
O século XIX deixou na
consciência geral, como herança, esta chaga aberta que entrou pelo século XX: o
rancor contra Deus como inimigo do homem, que veio a redundar na própria morte
do homem. Sintetizando com palavras de João Paulo II: “Esta mensagem, isto é a
mensagem de Fátima, destina-se de modo particular aos homens do nosso século,
marcado pelas guerras, pelo ódio, pela violação dos direitos fundamentais do
homem, pelo enorme sofrimento de homens e nações e por fim, pela luta contra
Deus até à negação da sua existência.”
A mensagem de Fátima
contempla com lucidez e amargura esta tumultuosa e dramática vicissitude
histórica. Depois das Escrituras é talvez a denúncia mais forte e impressionante
do pecado do mundo que convida toda a Igreja e o mundo a um exame de consciência
sério. Só quem tem o sentido forte da dignidade do homem perante Deus, do seu
destino eterno, pode compreender quão grande é a tragédia do pecado e como a
perda do sentido do pecado é, no mais profundo, a perda do sentido de tudo
aquilo que é verdadeiramente humano.
“Com a eliminação de Deus
das consciências, é o próprio homem que entra em perigo. No final do século está
em jogo e risco não só a existência de Deus, mas também a dignidade do homem.”
Perante esta situação da
humanidade ferida, a mensagem de Fátima é porta-voz do clamor das vítimas e
torna-se um convite a ler a história a partir das vítimas, a deter-se perante o
mistério do homem diante do mistério de Deus. Repropõe de modo veemente a antiga
e sempre atual interpelação do Gênesis: “Adão, onde estás?” (3,9); isto é: onde
está o homem? Onde está o homem no universo concentracionário de Auschwitz ou do
gulag soviético? “Como se pode acreditar no homem ou inclusive como se pode crer
na humanidade, que palavra sonora a este respeito! Se em Auschwitz se teve de
experimentar aquilo de que o homem é terrivelmente capaz?”
O cinismo dos opressores
modernos não é porventura expressão da impiedade do mundo moderno e do
seu horripilante desprezo e abandono de Deus? Quem salvará o homem do próprio
homem?
2. Nuvem de Misericórdia
A singular coincidência
temporal destas aparições com horas históricas de extrema gravidade, a guerra, o
novo credo do Bolchevismo e, por referência posterior, no novo paganismo nazi,
permite-nos compreendê-las tanto em chave psicanalítica de pré-admoestação
fatídica como em chave histórico salvífica de profecia, ou seja, de irrupção da
Palavra do Alto, Palavra da Graça por vias não institucionais, isto é por via
carismática.
A sugestiva expressão de
S. Tiago de Sarug, falecido em 521, referida a Maria como “Nuvem de Misericórdia
que carrega as angústias e esperanças de todo o mundo”, traduz bem o sentido das
aparições de Fátima e o cerne da sua mensagem. Em primeiro lugar, a aparição da
Virgem Mãe com a sua mensagem é percebida como uma intervenção do Altíssimo para
manifestar e assegurar aos fiéis a não impassibilidade do coração de Deus, a sua
vulnerabilidade, a sua dor e o seu grito de amor perante a devastação do pecado
destruidor e o sofrimento do mundo e da Igreja: O Deus compassivo, o Deus para
nós.
As arquiteturas da
teologia clássica distanciavam demasiado Deus, metafisicamente, do humano;
levavam os crentes a pensar num Deus não muito diferente do Destino dos pagãos,
soberano, surdo, mudo e distante. Uma falsa idéia de Deus que não ia muito para
além dos limites de um certo deismo: Deus motor imóvel, causa primeira, “monarca
celeste e patriarca do Universo” (Moltmann), apático, impassível – “um Deus
reduzido a um postulado abstrato da razão teórica ou prática, revestido
eventualmente de um manto cristão”. Assim se ocultava o rosto genuíno do Deus de
Jesus Cristo.
Na mensagem de Fátima, a
desgraça e o pecado não deixam Deus indiferente, e Raquel continua a chorar os
seus filhos (cf. Mt 2, 18). Por isso, do princípio ao fim, o cerne da mensagem
está no convite premente a reconduzir para o centro da vida cristã e do mundo a
adoração de Deus, Senhor da História, o reconhecimento da sua primazia, a adesão
à sua vontade salvífica, o convite a acender o desejo de amor a Deus e estimular
à prática do amor reparador. Tudo o resto tem aqui o seu centro de unidade e de
irradiação.
Em segundo lugar, e numa
certa ligação com o aspecto anterior, reflete-se na mensagem um paradoxo que é
uma constante da História da salvação: a saber, o extremo e misterioso contraste
entre a “grande” história das nações e dos seus conflitos, a história dos
grandes e dos poderosos com a sua própria cronologia e geografia do poder, e a
“pequena” história ignorada dos humildes e dos pequenos, dos pobres, privados do
saber e do poder, na periferia do mundo.
E daqui, da periferia, são
chamados a intervir na história a favor da paz, com outra força, outro poder,
outros meios, aparentemente inúteis e ineficazes aos olhos humanos: o poder da
oração do justo, dita com fervor, a perseverança na oração para obter o dom da
paz através da adoração, da devoção reparadora, da conversão e do próprio
sacrifício segundo os costumes piedosos da época, estão em consonância perfeita
com o dado revelado na Escritura.
“Os muros de Jericó caíram
ao som das trombetas da oração”, afirmava La Pira em 1959, no regresso da
primeira viagem que um político ocidental efetuava à Rússia, depois da guerra.
Nesta perceptiva, a
mensagem de Nossa Senhora é um apelo para nos abrirmos a uma outra dimensão da
história, alimentada por outra Presença, sustentada por outra Força, conduzida
por outra Luz, orientada para outra Meta, já agora misteriosa e silenciosamente
presentes e operantes na cadeia das gerações que guardam a Promessa, “as
Promessas” do Senhor e a transmitem, “as transmitem” de geração em geração.
O próprio filão de
espiritualidade mariana que integra a mensagem de Nossa Senhora encontra em
Maria, um pólo luminoso na contemplação do mistério da benevolência divina e da
sua condescendência.
A devoção ao Coração
Imaculado de Maria introduz-nos na “humanidade e benignidade do Nosso Deus e
Senhor Jesus Cristo”. Chama-nos à fé simples e pronta “Daquela que acreditou no
cumprimento das palavras do Senhor” (Lc 1,45). Ela acompanha não só o drama do
“mistério da iniqüidade” no mundo, mas também o mistério da gestação dos crentes
e do risco de incredulidade e de apostasia.
Nestes dois aspectos
centrais acabados de referir, a não impassibilidade de Deus e a intervenção dos
humildes na história por meio da adoração e intercessão, julgamos poder
encontrar o eixo que permite coordenar organicamente os vários elementos típicos
da mensagem de Fátima:
– O elemento sacrificial,
centrado no sacrifício eucarístico e na oferta de si mesmo com Cristo.
– O elemento escatológico
(visão do inferno e conversão dos pecadores) de uma urgência impressionante, à
primeira vista quase desumana, a sublinhar o forte relevo que assumem as
desgraças que pendem sobre a humanidade e sobre a Igreja, por causa do pecado.
Traduz, à sua maneira, a advertência evangélica: “se não vos converterdes,
perecereis todos do mesmo modo” (Lc 13,3).
– O elemento mariano da
devoção e da consagração ao Coração Imaculado, como caminho para a adoração
profunda do mistério de Deus, expresso no sim imaculado de Maria ao Seu desígnio
de Amor, e assim também para alcançar o Dom da paz.
– O elemento eclesial,
como comunhão solidária de toda a Igreja na intercessão pela paz no mundo e pela
própria Igreja perseguida.
– O elemento
pedagógico-religioso, concretizado em exercícios de piedade como orações,
devoções, sacrifícios de matriz popular, como caminho espiritual simples e
acessível a todo o povo, segundo os costumes do tempo e num registro de
linguagem psicológica e afetiva: reparar, consolar, desagravar...
3. Num horizonte de fé
Cristológica e Trinitária.
Por fim, toda a mensagem
de Fátima é nos apresentada num horizonte de fé Cristológica e Trinitária. Aqui
encontramos o contexto próximo em que está inserida a dimensão eucarística. A
mensagem de Fátima na sua totalidade consta de três ciclos:
O ciclo angélico
(aparições do anjo - 1916), o ciclo mariano (aparições de Nossa Senhora de 13 de
Maio a 13 de Outubro de 1917) e o ciclo do Coração de Maria (aparições de
Pontevedra em 1925-1926 e de Tuy – 1929 à Irmã Lúcia).
A meu ver, as aparições do
Anjo e a última aparição em Tuy constituem, respectivamente, o pórtico de
entrada e a chave de abóbada, à luz dos quais deve ser enquadrada e
perspectivada toda a mensagem. É nelas que aparece marcadamente o mistério
eucarístico em relação íntima com o mistério Trinitário.
Na primeira aparição, o
Anjo comunica e suscita nos videntes o espírito de adoração reparadora na fé,
esperança e caridade através de uma oração simples e bela:
“Meu Deus, eu creio,
adoro, espero e amo-Vos; peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não
esperam e não Vos amam”.
Na segunda aparição
suscita o espírito de sacrifício através do sacrifício quotidiano.
E na última, explícita e
concretiza o espírito de adoração sacrificial numa dimensão Trinitária e
eucarística, através da oração e da comunhão, conferindo-lhe uma finalidade
reparadora.
A oração do Anjo é
extremamente iluminante:
“Santíssima Trindade, Pai,
Filho e Espírito Santo, eu Vos adoro profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo
Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, presente em todos
os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrifícios e indiferenças com
que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e
do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.
Já na primeira aparição de
Nossa Senhora, a 13 de Maio, quando a graça de Deus lhes é revelada e comunicada
sob a forma de “Luz tão intensa..., que penetrando-nos no peito e no mais íntimo
da alma fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus que era essa luz”, os videntes
rezaram intimamente:
“Santíssima Trindade, eu
Vos adoro. Meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento”.
Aparição à
Irmã Lúcia em 13 de Junho de 1929 – Tuy - Espanha
A Visão da
Santíssima Trindade
Por fim, temos a última
aparição em Tuy.
A Qual abóbada remata e
sintetiza toda a mensagem nessa visão deslumbrante que compendia num só e único
olhar o mistério da Trindade, o sacrifício redentor da Cruz, o sacrifício
eucarístico e a presença e participação singular de Maria sob a cruz, com o Seu
Coração Imaculado em todo este mistério da salvação do mundo.
Conta Ir. Lúcia:
- Eu tinha pedido e obtido
licença das minhas Superioras e Confessor para fazer a Hora-Santa das 11 à
meia-noite, de quintas para sextas-feiras. Estando uma noite só, ajoelhei-me
entre a balaustrada, no meio da capela, a rezar, prostrada,
as Orações do Anjo
(...).
Sentindo-me cansada, ergui-me e continuei a rezá-las com os braços em cruz. A
única luz era a da lâmpada.
De repente iluminou-se
toda a Capela com uma luz sobrenatural e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz
que chegava até ao teto. Em uma luz mais clara via-se, na parte superior da
cruz, uma face de homem com corpo até a cinta, sobre o peito uma pomba também de
luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem. Um pouco abaixo da cinta,
suspenso no ar, via-se um cálice e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas
gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e duma ferida do peito.
Escorregando pela Hóstia, essas gotas caíam dentro do Cálice. Sob o braço
direito da cruz estava Nossa Senhora, “era Nossa Senhora de Fátima com o Seu
Imaculado Coração... na mão esquerda... sem espada, nem rosas, mas com uma Coroa
de espinhos e chamas...”, com o Seu Imaculado Coração na mão... Sob o braço
esquerdo da cruz, umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que
corresse para cima do Altar, formavam estas palavras: “Graça e Misericórdia”.
Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima Trindade e recebi luzes
sobre este mistério que não me é permitido revelar.
É interessante notar como
esta representação da Trindade na Cruz é chamada na iconografia cristã “Trono da
Graça”, pela evocação da passagem de Heb 4, 14-16:
“Tendo portanto um
Sacerdote eminente que penetrou nos céus, Jesus, o Filho de Deus, conservemos
firme a confissão de fé. De fato, não temos um Sumo Sacerdote incapaz de
compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós,
exceto no pecado. Vamos pois confiantes ao trono da graça, a fim de alcançar
misericórdia e encontrar graça para ser ajudados em tempo oportuno”.
E como não evocar ainda,
por associação, o prólogo de São João onde nos apresenta o Verbo Encarnado como
“O Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”, isto é, de amor
misericordioso e fiel, de “cuja plenitude todos nós recebemos graças sobre
graças” (Jo 1, 14-16)?
Além disso, a arte
iconográfica exprimiu por vezes este mistério com mais profundidade e finura do
que certas teologias acadêmicas. Tal acontece na tradição iconográfica do
Ocidente, quando apresenta e representa como que numa estética teológica o
mistério Trinitário no madeiro da Cruz. É como uma síntese plástica desta
teologia: o Pai que entrega o Filho para ser solidário com os homens, e sofre na
dor do seu amor; o Filho que se entrega a si próprio totalmente pela multidão
dos irmãos; a pomba do Espírito de Amor que sustenta o Filho na sua entrega e
que, por sua vez, é entregue pelo Filho à humanidade como dom do seu amor
sofredor. É este mistério de amor que celebramos na Eucaristia.
4. Conclusão.
Graça e Misericórdia,
Graça do Amor misericordioso, é esta, portanto a síntese da mensagem de Fátima e
da revelação do Deus compassivo que, no Seu Amor Trinitário, se inclina sobre
todos os sofrimentos humanos, sobre a humanidade para fazer-lhe sentir toda a
Sua ternura, para Se manifestar como Pai amoroso de toda a criatura.
Compreendemos então como o
Papa João Paulo II, recordando o octogésimo aniversário das aparições de Fátima,
escrevia, numa mensagem ao bispo local:
“Às portas do Terceiro
Milênio, observando os sinais dos tempos neste século XX, Fátima conta-se
certamente entre os maiores, até porque anuncia na sua Mensagem muitos dos
sinais sucessivos e convida a viver os seus apelos; sinais como as duas guerras
mundiais, mas também grandes assembléias de Nações e Povos sob o signo do
diálogo e da paz; a opressão e as convulsões vividas por diversos países e
povos, mas também a voz e a vez dadas a populações e gentes que entretanto se
levantaram na arena internacional; as crises, as deserções e tantos sofrimentos
dos membros da Igreja mas também um renovado e intenso sentido de solidariedade
e de recíproca dependência no Corpo Místico de Cristo, que se vai consolidando
em todos os batizados...; o afastamento e abandono de Deus da parte de
indivíduos e sociedades, mas também uma irrupção do Espírito de Verdade nos
corações e nas comunidades tendo-se chegado à imolação e ao martírio para salvar
a “imagem e semelhança de Deus no homem” (Gn 1,27), para salvar o homem do
homem. De entre estes e outros sinais dos tempos, como dizia, sobressai Fátima,
que nos ajuda a ver a mão de Deus, guia providente e Pai paciente e compassivo
também deste século XX”.
À luz destas chaves
hermenêuticas, Fátima apresenta-se como um sinal de Deus para a nossa geração,
uma palavra profética para o nosso tempo, uma intervenção divina na história
humana mediante o rosto materno de Maria. Quando Maria se move para uma missão
recebida de Deus, nunca é por algo de pouca importância ou por questões
marginais, já que se trata sempre do grave problema do destino do mundo e da
salvação dos homens.
Pensando bem, portanto, as
coordenadas da mensagem de Fátima são amplas e contêm teologicamente uma
profecia à luz da escatologia. “A profecia, no sentido bíblico do termo, não
significa predizer o futuro, mas sim aplicar a vontade de Deus ao tempo
presente, e por conseguinte, indicar o caminho reto do futuro”.
Por outro lado, as
vicissitudes da humanidade e da Igreja devem ser submetidas ao critério
escatológico ou do fim último. Somente abrindo os horizontes sobre a eternidade
e proclamando a esperança teologal é possível iluminar o sentido da história
aberta ao futuro de Deus e opor-se ao mal que ameaça a humanidade.
Neste sentido, na mensagem
de Fátima a premonição do “juízo” que impende sobre o mundo como possibilidade
de autodestruição infernal, isto é de acabar reduzido a cinzas, é anunciada
juntamente com a esperança de vencer o mal a partir da nossa conversão a Deus. A
mensagem de Fátima é, portanto advertência e, ao mesmo tempo consolação da
esperança teologal: o mal é vencido pelo amor Trinitário revelado na cruz e
ressurreição de Jesus, e pelo amor de Maria por nós.
A APROVAÇÃO
DA IGREJA.
D. José Alves Correia da
Silva, bispo de Leiria, a cujo território pertencia o lugar dos acontecimentos,
estudou e mandou estudar as aparições da Santíssima Virgem. Dando especial
relevo aos documentos das testemunhas do milagre do sol do dia 13 de Outubro de
1917, declarou, em 13 de Outubro de 1930, dignas de crédito as visões das
crianças nos dias 13, de Maio a Outubro de 1917, na Cova da Iria e permitiu
oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima.
Assim, a voz do povo
coincidiu com a voz de Deus e com a voz da Igreja.
O Francisco
dizia depois do dia 13 de Outubro:
- Gostei muito de ver
Nosso Senhor, mas gostei mais de O ver naquela luz onde nós estávamos também.
Daqui a pouco já Nosso Senhor me leva lá para ao pé Dele e então vejo-o sempre.
EM COIMBRA...
COM A IRMÃ LÚCIA.
No primeiro dia do
conclave, 26 de Agosto de 1978, os cento e onze cardeais da Igreja Católica,
reunidos na Capela Sistina do Vaticano, elegeram o Cardeal Albino Luciani,
Patriarca de Veneza, 263º sucessor de S. Pedro, Vigário de Cristo na terra. Foi
um dos mais rápidos conclaves da história da Igreja.
O Cardeal Luciani tomou o
nome de João Paulo I. A 29 de Setembro de 1978, os 1.300 sinos da Cidade Santa
transmitiam aos habitantes de Roma uma notícia triste: Deus levara para si a
alma do Santo Padre João Paulo I. Tal como o Cardeal Roncalli, também o Cardeal
Luciani estivera em Fátima antes de ser eleito Papa.
A 10 de Julho de 1977
presidira à concelebração no altar do Recinto. Numa breve alocução aos
peregrinos recordara que um dos seus antecessores, o Cardeal Roncalli, havia
sido peregrino de Fátima, e que, ali mesmo proferira uma homilia aos peregrinos
sobre as aparições do Anjo e de Nossa Senhora. De igual modo, ele, Patriarca de
Veneza, apelava ao cumprimento da Mensagem de Fátima: penitência e oração,
principalmente a reza do terço.
No dia 11 de Julho de
1977, o Cardeal Albino Luciani celebrou missa no Carmelo de Coimbra, onde
conversou com a comunidade e em especial com a Irmã Lúcia. As suas impressões
escreveu-as na revista intitulada « Il Cuore della Madre », no número de Janeiro
de 1978.
“Segunda-feira, 11 de
Julho concelebrei com alguns sacerdotes de Veneza e de Veneto, na igreja das
carmelitas de Coimbra, cidade portuguesa com cerca de cem mil habitantes.
Imediatamente depois, sozinho, os cardeais podem entrar na clausura,
encontrei-me com toda a comunidade das irmãs (22 entre professas e noviças);
em seguida falei longamente com a Irmã Lúcia dos Santos, a única sobrevivente
dos três videntes de Fátima. A Irmã Lúcia tem 70 anos, mas suporta-os bem,
assegurou-me ela própria sorrindo.
Não acrescentou como Pio
IX “suporto-os tão bem que não me cai nenhum de cima”, mas a jovialidade, o
falar expedito, o interesse apaixonado que revela, ao falar, por tudo aquilo que
diz respeito à Igreja de hoje com os seus graves problemas, mostram a sua
juventude espiritual. O português compreendo-o mais ou menos bem, por ter estado
algumas semanas no Brasil; mas mesmo que ignorasse completamente a língua, eu
teria compreendido, do mesmo modo que ela insistia comigo a necessidade de
termos hoje cristãos e sobretudo seminaristas, noviços e noviças decididos a
entregar-se a Deus sem reservas.
Falava-me com muita
energia e convicção de “freiras, padres e cristãos de cabeça firme”; radical
como os santos: “ou tudo ou nada”, se se quer ser de Deus a sério. A Irmã Lúcia
não me falou das aparições. Perguntei-lhe alguma coisa sobre a famosa ‘dança do
sol’. Não a viu. Setenta mil pessoas durante dez minutos seguidos, em 13 de
Outubro de 1917, viram o sol tomar várias cores, girar sobre si mesmo três vezes
e depois precipitar- se velozmente para a terra. Lúcia com os dois companheiros,
via ao mesmo tempo, junto ao sol imóvel a Sagrada Família e em quadros
sucessivos a Virgem como Nossa Senhora das Dores e como Nossa Senhora do Carmo.
Chegados a este ponto
alguém perguntará: então o Cardeal interessa-se por revelações privadas? Não
saberá ele que o Evangelho contém tudo? Que as revelações mesmo aprovadas não
são artigos de fé? Sei isso muito bem. Mas artigo de fé contido no Evangelho é
também este outro: Sinais acompanharão aqueles que crêem (Marcos 16, 17).
Se hoje se tornou moda
perscrutar os sinais dos tempos e assistimos a uma inflação e praga de ‘sinais’
creio seja lícito referir-me ao sinal de 13 de Outubro de 1917 atestado por
anti-clericais e incrédulos. E por detrás do sinal é oportuno atender às coisas
contidas naquele sinal. Quais?
Primeiro:
Arrepender-se dos próprios pecados e evitar ofender mais o Senhor.
Segundo:
Rezar. A oração é o meio de comunicação com Deus, mas os meios de comunicação
entre os homens (tv, rádio, cinema, imprensa) hoje prevalecem descaradamente e
parecem querer pôr de lado totalmente a oração: “ceci tuera cela” assim se diz;
parece que isto se está a verificar.
Não sou eu mas Karl Rahner
que escreve: “Está em ato, mesmo no interior da Igreja, um empenho exclusivo do
homem pelas realidades temporais, o que não é uma escolha legítima mas uma
apostasia e perda total da fé”.
Terceiro:
Recitar o Rosário. O sírio
Naaman, grande general, desdenhava o simples banho no Jordão. Alguns fazem como
Naaman: “Sou um grande teólogo, um cristão amadurecido que respira a Bíblia a
plenos pulmões e a sua liturgia por todos os poros e falam-me do Terço?! Contudo
também os quinze mistérios do Rosário são Bíblia e também o Pai Nosso, a
Ave-Maria e o Glória, são Bíblia unida à oração que faz bem à alma. Uma Bíblia
estudada por mero esforço de investigação poderia encher o espírito de soberba,
e esvaziá-lo de todo o resto; não é raro o caso de especialistas da Bíblia
perderem a fé.
Quarto:
O inferno existe e podemos cair nele. Em Fátima, Nossa Senhora ensinou esta
oração: “Ó meu Jesus perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno, levai as
almas todas para o Céu.”
Neste mundo há coisas
importantes, mas nenhuma é mais importante do que merecer o paraíso com uma vida
boa. Não é Fátima a dizê-lo, mas sim o Evangelho: “Que vale ao homem ganhar o
mundo inteiro se vier a perder a própria alma?” (Mateus 16.26)
SOBRE OS TRÊS
VIDENTES DE FÁTIMA
LÚCIA DE
JESUS
A principal protagonista
das Aparições nasceu em 22 de Março de 1907, em Aljustrel,
paróquia de Fátima, e faleceu no dia 13 de Fevereiro de 2005.
Em 17 de Junho de 1921,
ingressou no Asilo de Vilar (Porto), dirigido pelas religiosas de Santa Doroteia.
Depois foi para Tuy, onde
tomou o hábito, com o nome de Maria Lúcia das Dores. Fez a profissão religiosa
de votos temporários em 3 de Outubro de 1928 e, em 3 de Outubro de 1934, a de
votos perpétuos. No dia 25 de Março de 1948, transferiu-se para Coimbra, onde
ingressou no Carmelo de Santa Teresa, tomando o nome de Irmã Maria Lúcia de
Jesus e do Coração Imaculado. No dia 31 de Maio de 1949, fez a sua profissão de
votos solenes.
A Irmã Lúcia veio a Fátima
várias vezes: em 22 de Maio de 1946; em 13 de Maio de 1967; em 1981, para
dirigir, no Carmelo, um trabalho pictórico sobre as Aparições; em 13 de Maio de
1982, 13 de Maio de 1991 e 13 de Maio de 2000.
Faleceu no Convento de
Santa Teresa, em Coimbra, a 13 de Fevereiro de 2005. A 19 de Fevereiro de 2006 o
seu corpo foi trasladado para a Basílica do Santuário de Fátima, onde foi
tumulado ao lado da sua prima, a vidente Beata Jacinta Marto.
FRANCISCO
MARTO
Nasceu em 11 de Junho de
1908, em Aljustrel. Faleceu santamente no dia 4 de Abril de 1919, na casa de
seus pais. Muito sensível e contemplativo, orientou toda a sua oração e
penitência para "consolar a Nosso Senhor".
Os seus restos mortais
ficaram sepultados no cemitério paroquial até ao dia 13 de Março de 1952, data
em que foram trasladados para a Basílica da Cova da Iria, lado nascente.
JACINTA MARTO
Nasceu em Aljustrel, no
dia 11 de Março de 1910. Morreu santamente em 20 de Fevereiro de 1920, no
Hospital de D. Estefânia, em Lisboa, depois de uma longa e dolorosa doença,
oferecendo todos os seus sofrimentos pela conversão dos pecadores, pela paz no
mundo e pelo Santo Padre.
Em 12 de Setembro de 1935
foi solenemente trasladado o seu cadáver do jazigo da família do Barão de
Alvaiázere, em Vila Nova de Ourém, para o cemitério de Fátima, e colocado junto
dos restos mortais do seu irmãozinho Francisco.
No dia 1 de Maio de 1951,
efectuou-se, com a maior simplicidade, a trasladação dos restos mortais de
Jacinta para o novo sepulcro preparado na Basílica da Cova da Iria, lado poente.
O processo de beatificação dos Videntes de Fátima, Francisco e Jacinta Marto, depois das primeiras diligências feitas em 1945, foi iniciado em 1952 e concluído em 1979.
O processo de beatificação dos Videntes de Fátima, Francisco e Jacinta Marto, depois das primeiras diligências feitas em 1945, foi iniciado em 1952 e concluído em 1979.
Em 15 de Fevereiro de
1988, foi entregue ao Santo Padre João Paulo II e à Congregação para a Causa dos
Santos a documentação final levou o Santo Padre a proclamar "beatos" os dois
videntes de Fátima, a 13 de Maio de 2000. O último passo será, como esperamos, a
canonizacão, pela qual serão declarados "santos".
HISTÓRIA DOS
PROCESSOS DE BEATIFICAÇÃO DE FRANCISCO E JACINTA MARTO
Os processos de
beatificação dos Servos de Deus Francisco e Jacinta Marto, tiveram início em 30
de Abril de 1952, mas, pela sucessão dos bispos da diocese de Leiria-Fátima,
impedimento e morte de vários membros do Tribunal, e ainda devido às
modificações introduzidas após a realização do Concílio Vaticano II, os
processos só foram entregues à Sagrada Congregação para a Causa dos Santos, em
Roma, em 3 de Agosto de 1979 (o do Francisco) e a 2 de Julho do mesmo ano (o da
Jacinta). A mesma congregação aceitou como Postulador das causas dos videntes de
Fátima, em Roma, o Rev. P.Molinari, SJ, que se dedicou ao desenvolvimento
jurídico das causas. Como postulador "extra urbem", foi nomeado, em 14 de
Dezembro de 1979, o Rev.P.Luis Kondor, SVD..
Os processos foram
abertos, em Roma, em 20 de Dezembro de 1979. Os trabalhos de tradução do
português para italiano terminaram em Fevereiro de 1982.
Porém, em Abril de 1981, a
Sagrada Congregação para a Causa dos Santos estudou num plano de princípios, a
possibilidade da beatificação e canonização de crianças não-mártires, abrindo,
assim, perspectivas favoráveis à beatificação dos videntes de Fátima, Francisco
e Jacinta Marto.
Passo importante no processo de beatificação foi a publicação dos decretos de heroicidade de virtudes dos dois videntes, feita em 13 de Maio de 1989.
Passo importante no processo de beatificação foi a publicação dos decretos de heroicidade de virtudes dos dois videntes, feita em 13 de Maio de 1989.
Segundo nova norma
introduzida para as beatificações e canonizações, torna-se necessário o
reconhecimento científico de um milagre, no caso, obtido por intercessão dos
Servos de Deus Francisco e Jacinta Marto
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