terça-feira, 22 de novembro de 2011

Professor Orlando Leite


Professor Orlando Leite

Partiu o semeador musical. Foram de suas firmes mãos de regente que brotou toda a formação recente em Música no Estado do Ceará. O maestro Orlando Leite foi professor de tantos atuais professores e professores de professores de Música. Faleceu na noite de domingo (20), de falência múltipla dos órgãos. Orlando Leite tinha 85 anos e morava há quase 40 anos em Brasília (DF). O enterro acontece hoje à tarde.

Foi já em Russas, sua cidade natal, que a música foi ganhando vida. Do rapaz que se esforçava em reunir pessoas em torno da música, cresceu o maestro. Seus filhos na música são de duas ordens. Primeiro os institucionais, que se reproduzem pelo mundo. Daí vem a criação do madrigal da Universidade Federal do Ceará, protótipo mais tímido que culminou no coral da UFC e que foi regido no seu início por Orlando Leite. Outro filho é o Conservatório Alberto Nepomuceno, que sob sua tutela nos anos 60 viu crescer em animados saraus, promovendo a formação de professores. Nos anos 70, a Universidade de Brasília (UnB) convocou o homem com a missão de estruturar o curso daquela universidade.

Entre outros filhos na música estão grandes histórias como a de Isaltina dos Santos, que de doméstica e cantora de igreja aos domingos, se tornou cantora lírica e foi junto com ele para a Brasília ampliar seus conhecimentos. Toda sorte de gente que era acolhida por ele em suas instituições e se transformavam em músicos ou musicistas, para poder tocar outras pessoas e manter o espírito da música vivo. Uma frustração, talvez, foi aquela que em duas oportunidades não se concretizou. Há 50 anos, Orlando já batalhava pela criação da Orquestra Sinfônica do Estado do Ceará. Já entre 1991 e 1993, voltou à Fortaleza para tentar realizar seu sonho. Novamente frustrado, voltou a Brasília onde seguiu dando aulas até onde a saúde deixou.

Na história do Estado ficam seus alunos e colaboradores. Atuou na primeira montagem de A Valsa Proibida, de Paurílio Barroso, ao lado de Ayla Maria, sob direção de Haroldo Serra. Atuou, regeu e tocou no Theatro José de Alencar, de onde foi diretor.

Quem quiser se despedir desse marco musical com o melhor da música, o professor Poty Fontenelle, atual coordenador do curso de Música da Uece, convida para o Fórum dos Trombonistas do Ceará – que acontece entre hoje e o dia 26 no curso de Música da Universidade Estadual –, onde fará uma homenagem hoje ao maestro pioneiro. O professor também promete outras homenagens em forma sonora para dezembro, em honra à memória do mestre.

Cearense de Russas, o maestro Orlando Leite estudou no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, no Rio de Janeiro, onde foi aluno de Villa Lobos. Participou ativamente da fundação de cursos de música em Fortaleza e Brasília.

Repercussão

“A vida musical em Russas era muito ativa com ele lá. Eu o considero meu pai musical, já que sempre que eu estava com ele, desde muito cedo, eu estava em meio à música. Ele tinha uma generosidade extraordinária – tinha uma capacidade impressionante de juntar as pessoas. No Conservatório, havia uma qualidade de ensino extraordinária, já que não havia uma separação entre aluno e professor, nos reuníamos nos sábados e com muito prazer”

Elba Braga Ramalho, professora de música da Uece e sobrinha de Orlando Leite.

“Eu era criança e estava tocando bandolim na casa de Juvenal Galeno. Quando parei de tocar, ele chegou para mim e disse que eu era uma musicista nata e precisava estudar. Como minha família era grande e não tínhamos condição, ele me ofereceu uma bolsa no Conservatório. O meu estudo de música, a minha formação sistemática eu devo a ele. Ele tinha essa qualidade de descobrir a qualidade musical das pessoas e dar uma oportunidade.”

Izaíra Silvino, regente e professora de Educação Musical.

“Ele era um patrimônio vivo da gente. O nosso curso de música existe por causa dele. Parece que ele esperou se aproximar do Dia da Música, houve essa ligação com o eterno da data. Ele abriu os caminhos, criou as estruturas, deu uma grande importância ao fazer música no Ceará e foi célula-mestre desse processo todo da criação de um ensino superior de música. O maestro era uma pessoa muito doce. Ele era muito amável e educado – é até uma contraposição a energia de um maestro frente a uma orquestra, papel que ele desempenhava muito bem.”

Poty Fontenelle, regente, professor e atual coordenador do Curso de Música da Uece.

Fonte: Povo Oline

Nenhum comentário:

Postar um comentário