HISTÓRIAS DO GERARDO AIRES
Gerardo Aires, velho sacristão da Matriz de Ipu, profissão que herdou do seu Pai Manoel do Céu, conta-nos histórias jocosas do seu dia a dia nas funções que exerce na Igreja.
Na sua simplicidade conta-nos que nos tempos das “SANTAS MISSÕES”, os atos religiosos eram celebrados por Frades Franciscanos vindos da Alemanha e que pouco falavam Português, mas mesmo assim dava para entender algumas pelavas e frases em Português.
Convivia Gerardo com seus auxiliares, coroinhas, Raimundo Lapinha, Vicente Pinto, Quintino e outros.
Durante umas Santas Missões que duraram aproximadamente 15 dias, os Frades se familiarizaram com as pessoas que ajudavam na Igreja e ao Sacristão Gerardo a ponto de cultivarem uma grande amizade.
Um frade Alemão de nome Frei Bruno, nos conta Gerardo, - certa vez indagou, Vicente Pinto:
“JEFRANSCANUM, VICENTE?”.
Vicente responde, meu pai está perguntando se eu sou irmão do NEGRO VELHO ZÉ ANUM?
O Frade sem entender nada pergunta: COLMO? e quase zangado fala, eu estou perguntando se você já é Franciscano!...
Vicente responde: Já sou até “CATIQUISTA”.
O Frade espantosamente indaga: “CAÇADOR DE CATITAS?” E continuam as histórias.Certa vez, após celebrações dos Santos Ofícios das Missões, o mesmo Frade pergunta mais uma vez a Vicente.
Vicente!... você já fechou os “FIROLHOS” das portas e janelas?
Vicente, como? Meu Pai está perguntando se eu estou de Ceroulas?
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Raimundo Lapinha como Vicente Pinto eram pessoas de coração manso e bom, pois com nada se zangavam.
Certa vez a escada do coro, foi descoberta de um velho tabique.Estava havendo uma reforma em todo corpo da Igreja e o velho tabique foi retirado.
Lapinha não suportando mais a demora da colocação de uma nova cobertura para escada pergunta ao vigário Moraes:
quando é que vai ser feito o “Novo Tabica Padre?”.
O padre que era Metido a intelectual diz para o Raimundo que o nome é Tabique e não Tabica.
Raimundo meio zangado retruca dizendo: “É! mas... A Minha Língua Só Dar Pra Chamar Tabica e Não Tabique”.
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Gerardo ainda cognominava alguns outros ajudantes da Igreja com certas alcunhas das mais interessantes.
Vejamos:
O rapaz que tocava Matraca na Semana Santa de “Zé Matraca” ficou assim conhecido até o fim de sua vida.
Um outro irmão do “Matraca”, por ser muito feio e de cabelos raspados de: “Santo Antonio de Barro”. Morreu com o apelido.
Uma certa Carola tia dos acima citados Gerardo alcunhou de “A Cacheada”, que quando assim chamada zangava-se a ponto de não respeitar nem os Santos da Igreja.
Marçal Xavier foi Mestre da Banda de Música de Ipu por muito tempo. Gerardo Aires tomou-lhe para as suas críticas satíricas e passou a mexer com o velho Maestro, comentando sempre com os amigos que o MX, tinha chegado ao Ipu puxando uma cachorrinha e já estava rico e também quando aqui chegado de Tamboril sua Terra Natal vinha calçado com dois sapatos num pé só. Conta ainda Gerardo que o Mestre da Banda, certa vez se apresentava durante uma festa de São Sebastião e ao ser observado marcando o compasso da Banda o dedão do pé estava fora do sapato que tinha um buraco. Esse Gerardo é demais, mas, mesmo assim foi recomendo pelo Vigário Moraes que tivesse cuidado com essas brincadeiras, pois o Mestre Marçal era do Tamboril, terra de gente matadora, Gerardo ficou com medo e atendeu advertência do Padre. Mas mesmo sendo advertido desviou partes das histórias para o Raimundo Lapinha sem que o mesmo tivesse nada com as mesmas.
Outra do Gerardo. O mestre da Banda de Música de Ipu era o Marçal Xavier.Clarinetista, músico de leitura a primeira vista, escrevia uma partitura rapidamente de qualquer música que ouvia. Enfim um grande musicólogo.
Tocava Marçal ou MX (assim chamava Gerardo) com sua bandinha no patamar da Igreja num 19 de janeiro às 5:00h., da manhã dos anos 60, a Valsa Branca. Um certo músico que havia servido na Banda da Policia Militar em Fortaleza ao ouvir naquela madrugada a banda tocar, e como bom músico foi até ao patamar para ouvir segundo Marçal a sua colossal orquestração.
Ao terminar a peça musical o músico da Policia que estava vindo de uma noite de festas e de farras diz para MX. Mestre a banda está muito desafinada, MX no entusiasmo da execução da Valsa responde de imediato, “e ainda não está como eu quero”.Um outro observador chama a atenção do Marçal e diz, Mestre!... Veja o que ele disse e repete baixinho no seu ouvido a colocação do músico ouvinte, e sem pensar muito MX diz: “Isto é um bêbado velho que não sabe de nada de música...”
Deixou saudades nosso bom Gerardo, o conheci ainda criança quando nas festas de Santa Luzia na minha querida Ipueirinha, ainda alcancei o então Pe. Martins, hoje Mons. aposentado la pras bandas de Viçosa, muito querido por todos, são tempos memoraveis que cada dia se distanciam da realidade do hoje e que valeram a pena ter vivido.
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