sábado, 1 de outubro de 2011

DISCURSO

DISCURSO DE POSSE DO PROFESSOR FRANCISCO DE ASSIS MARTINS (PROF. FRANCISCO MELO), NA ACADEMIA MAÇÔNICA LETRAS DO ESTADO DO CEARÁ.

Fortaleza (Ceará), 18 de agosto de 2000.

Senhores e Senhoras,

O homem nasceu de um ato espontâneo e natural da vida.

O seu crescer evolui de acordo com as suas potencialidades, numa dimensão em que todos os seres desejam melhores dias. Neste contexto, somos essencialmente inteligência e vontade.

O fundamento real, autêntico da solidariedade, está na natureza social do próprio homem; se ele aperfeiçoar essas qualidades, se aperfeiçoará no seu ato específico de conhecer, de compreender outro ser igual ou mais perfeito que ele – Deus, o Grande Arquiteto do Universo. Contudo, o desenvolvimento do homem também não é somente biológico, como o animal irracional.

O homem é pluridimensional, capaz de desenvolver-se com todas as suas dimensões: cultural, econômica, social, psicológica, política, moral e religiosa.

A integração harmônica dessas dimensões numa escola de valores constituirá o crescimento ou desenvolvimento autenticamente humano, pois somos seres em crescimento e estamos em situações de “vir a ser”, somos seres em continua transformação.

Estou neste momento realizando uma aspiração; uma esperança; um sonho que idealizei.

O filósofo Ortega, quando sabidamente disse que “da pedra não se pode despedrar, o tigre não se pode destrigar, o homem se não for o que ele deve ser pode-se desumanizar”.

Entende-se, portanto que o homem está feito para crescer: “o homem, como o mundo, é inacabado”. E eu quero crescer quero me completar neste sodalício, para que me propus, a minha auto-realização não é imposta de fora, brota do mais íntimo do meu ser, como uma exigência intrínseca e natural.

O orgulho de ocupar a cadeira desta Academia de número 31, cujo patrono foi João Cordeiro, é-me paralelamente motivo de honra e respeito, visto que aquele médico escravagista dá nome a uma das mais importantes ruas de um dos bairros mais nobres da nossa Capital, a Aldeota.

Eu sou do Ipu, cidade alcandorada, encravada no sopé da Ibiapaba, que ainda respira o ar puro aos respingos da queda d’água que se desprende de 110 metros de altura, formando o murmurante Riacho Ipuçaba: é a Bica do Ipu.

Ipu, terra de Iracema, berço de Martim e Araquém, onde escutamos ainda o trinar da graúna nas palmas das palmeiras; o grito da jandaia e o canto noturno do urutau.

Sou da terra de Delmiro Gouveia, pioneiro na eletrificação de Paulo Afonso; de Milton Dias, o cronista mais renomado deste país; de Milton de Sousa Carvalho, o criador do crediário no Brasil, através de suas lojas “Cliper” em São Paulo; de Arquimedes Memória, arquiteto, diretor da Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro; de Eusébio de Sousa, incentivador da cultura ipuense, criador do primeiro jornal impresso em Ipu, no ano de 1886, com o nome “A Brisa”; de Abílio Martins, Osvaldo Araújo, Francisco Araújo, Francisco Magalhães, poetas e escritores que deixaram um legado dos mais preciosos para a história do Ipu e da Região.

Eu sou do Ipu, do Quadro da Igrejinha, onde nasceu a Cidade, no centro está erigida a secular Igreja de Nossa Senhora do Desterro, construída em 1765, na frente o oblongo “Cruzeiro”, simbolizando a fé de todos nós.

Ipu do seu Gabinete de Leitura. Biblioteca fundada em 1886, onde a sociedade ipuense freqüentava assiduamente para exercitar o seu intelecto com a boa leitura.

Ipu do maestro Raimundo do Vale, um destaque da nossa música em todo o Brasil.

Ipu de Zezé do Vale, poeta popular, homem do povo que cantou o Ipu em verso e prosa, deixando externar profundamente o seu amor ilimitado à sua terra; onde nos seus versos e canções, ao se dirigir à Bica, disse: “Tens o véu de noiva do Ipuçaba”, realmente quando a Bica esvoaça soprada pelo vento, deixa a imagem de um verdadeiro “véu de noiva”. Em coisas outras ele canta e conta nos seus versos que

Ipu é uma cidade

Como a gente nunca viu

É um pedacinho do céu

Que se desprendeu e caiu

II

O doce de lá é mais doce

A fruta é a mais saborosa

A mulher é a mais bonita

E a flor é a mais cheirosa

III

Tudo lá é diferente

Das cidades que eu conheço

Eu indo morar no céu

Do Ipu eu não esqueço

Muito obrigado.


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