Confidencias de Um Tamarineiro
Valdemira Coelho – 26/08/88
Fui um dos símbolos muito querido desta terra.Eu, pequenino e você minha Ipu com poucas casas, poucas ruas calçadas altas.Praças areientas, vento soprando nos canaviais, nas manhas ensolaradas tardes suaves, noites amenas, a Ibiapaba milenar, a decantada Bica e a Igrejinha que despertava na esperança e acordava na fé.
Cresci com você, minha cidadezinha bonita e aconchegante.
A minha sombra abriguei a primeira Feira Livre do Ipu.
Fui ponto de reunião dos coronéis para o tradicional jogo de cartas de baralho.
Assisti a luz dos lampiões de gás as polemidades litúrgicas que se celebravam na Igrejinha, bem como, o repicar intenso dos sinos chamando os fieis para a Novena do Mártir Santo Padroeiro de nossa cidade.
A noite, junto a mim as cafezeiras com suas lamparinas acesas, vendiam o seu cafezinho aos transeuntes que por ali passavam.
Quantas vezes ao clarão das noites de lua escutei confidencias; casais de namorados trocando juras de amor.
Os seresteiros apaixonados por ali passavam cantando a sua casa amada dedilhando o violão, na quietude das noites.
As crianças brincavam a minha sombra construindo “pequenos açudes” logo após uma chuva, com água das enxurradas que ali paravam.
Fui cantado poeticamente pelos jovens – reminiscências, amor saudade...
Assisti a festa quando Ipu passou de Vila à cidade.
Quanto ao meu nascimento há duas versões:
A primeira, que fui plantado por um dos coronéis da terra no ano de 1870. Consta que o Coronel falava que iria fazer no Quadro da Igrejinha uma mata de tamarindeiros. Se esta versão for verdadeira vivi 118 anos.
Segunda versão conta-se que em arquivos com datas muito remotas encontrou um historiador que o PELOURINHO ou FORCA do Ipu foi construído nos idos de 1700 e era fincado ao lado sul de onde fui erguido.
De acordo com esta versão devo ter mais de 200 anos.
Como nasci numa época em que não se dava importância a Certidão de nascimento ignora a minha idade.
A partir do inicio deste ano fui morrendo aos poucos. Tudo consumado só resta a história que acabo de revelar. Fui muito estimado e por isto agradeço.
Que o meu sucessor, plantado agora viva o mundo maravilhoso que eu vivi, porém um tanto diferente do meu pelo avanço do progresso. É uma nova história que se inicia e seja aureolada de glórias para esta terra que foi meu berço.
Eis as minhas dimensões;
Tronco – 05 metros de circunferência
3,30 metros de altura até onde se abre a minha galhada.
Foram 13 galhos grossos que formaram a minha bonita copa.
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