Violoncelista e compositor consagrado, Francisco Manuel da Silva
(1795/1865) compôs em 1823 um hino em comemoração à Proclamação da
Independência do Brasil. Admirador da “Marselhesa”, ele achava que um
hino vibrante e triunfal, como o seu, era mais adequado à celebração do
acontecimento do que o composto por Dom Pedro I, belo também, mas,
incapaz de motivar o entusiasmo do povo.
Pouco divulgada, a composição só seria relembrada em abril de 1831,
ao ser cantada pela multidão que festejava a abdicação de Pedro I,
passando a ser conhecida, com letra de Ovídio Saraiva, como “Hino 7 de
Abril”.
Dez anos depois, bem orquestrado, o hino seria executado nos festejos
da Coroação de Dom Pedro II, ganhando a denominação de “Hino da
Coroação”. Então, embora não oficializado, mas já consagrado pela
tradição como nosso Hino Nacional, foi em 1869 tema de uma peça
magistral, a “Fantasia Sobre o Hino Brasileiro”, composta e tocada num
sarau no Paço pelo célebre pianista-compositor norte-americano Louis
Moreau Gottschalck.
Proclamada a República, logo os mais radicais desejaram a feitura de
um novo hino pátrio, considerando o antigo herança do Império. Daí a
realização em janeiro de 1890 de um concurso para a sua escolha que teve
a participação de 29 concorrentes. Só que o chefe do governo, marechal
Deodoro da Fonseca, decidiu em boa hora que ao vencedor caberia apenas o
título de “Hino da Proclamação da República”. Isso em razão dos apelos
de vários políticos que pediam em nome do povo a manutenção do velho
hino.
Assim, realizado o concurso, foi assinado o Decreto n° 171, de
20.01.1890, que conservava o “Hino Nacional” e adotava o “Hino da
Proclamação da República”, ou seja, respectivamente, o de Francisco
Manuel da Silva e o de Leopoldo Miguez e José Joaquim Medeiros e
Albuquerque.
O Brasil passava então a ter o seu hino oficializado, porém, de forma
incompleta pois faltava-lhe a letra. Tal situação permaneceria ignorada
até julho de 1909, quando o governo instituiu um novo concurso “para
escolha de uma composição poética a se adaptar com todo o rigor à
melodia do Hino Nacional”. Ganhadora, uma poesia de Joaquim Osório Duque
Estrada (1870/1927) ainda esperaria vários anos para afinal ser
declarada oficialmente a letra do “Hino Nacional Brasileiro”, pelo
Decreto n°15.671, de 06.09.1922, véspera do Centenário da Independência e
99 anos depois da criação da composição. E, por falar em datas,
Francisco Manuel morreu cinco anos antes do nascimento de seu parceiro
Osório Duque Estrada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário