21
de abril de 1985 – o dia em que morreu Tancredo Neves
21
de abril de 2009
21
de abril de 1985, domingo. O porta-voz Antônio Brito já havia falado a senha
bem antes de a Fafá de Belém aparecer no Fantástico, da Rede Globo, cantando o
Hino Nacional numa versão inimaginável nos tempos da ditadura militar. Muitos
“gorilas” tiveram arrepios quando a viram com uma versão “popular” do canto do
nosso Hino, mas o Brasil estava em pé.
A
senha combinada com Brito, por todos os jornalistas que cobriam a agonia do
Presidente Tancredo Neves, era: “A saúde do Presidente Tancredo Neves apresenta
um quadro irreversível”. Quando ele dissesse isso, significava que o Presidente
já havia morrido e as redações poderiam se mobilizar para o momento da notícia
oficial.
É
bom ter em conta que isso foi há 24 anos. Eu trabalhava na Redação de O Globo,
na Editoria de Esportes, mas, devido às minhas características de jornalista
eclético, sempre era chamado para reforçar outras editorias. Ainda trabalhávamos
com máquinas de escrever. A Redação de O Globo somente seria informatizada no
início do ano seguinte: 1986. E estamos falando da maior empresa de comunicação
do País.
Portanto,
não havia toda essa tecnologia de nossos dias, com informações em tempo real.
Lembro-me que as notícias internacionais chegavam por telex, por inúmeras
agências. Recebíamos aquele amontoado de telegramas na Editoria de Esportes e o
Renato (Renato Maurício Prado) determinava: “Pastor, 20 linhas com essa
matéria”. Tínhamos que ler todo aquele material em espanhol e traduzir em 20
linhas. Que escola!
Quando
o Brito deu a senha, toda a redação foi mobilizada. Eu fui reforçar a Editoria
de Política porque sairia uma edição especial com a morte de Tancredo Neves, o
primeiro presidente civil do Brasil, depois de 20 anos de ditadura. E não
governou. As versões sobre a morte dele são as mais diversas. Falou-se até em
envenenamento quando foi internado com uma crise de diverticulite, que levou a um
quadro de infecção generalizada.
Por
força das articulações políticas da época, Tancredo tinha como vice-presidente
um político muito próximo dos militares: José Sarney. E acabou sendo Sarney,
este mesmo que hoje preside o Senado, que governou (governou?) o Brasil nos
cinco anos seguintes. Eles haviam derrotado Paulo Maluf no colégio eleitoral.
As
eleições para Presidente da República eram indiretas, feitas pelo Congresso
Nacional. Somente na sucessão, então, de Sarney é que o povo pôde ir às urnas
para escolher seu dirigente máximo, em 1989, quando elegeu-se Fernando Collor
de Mello, que hoje também é senador, depois de ser cassado como Presidente, há
pouco menos de 20 anos.
Quando
Tancredo morreu, o tempo parou. Lembro-me que fiquei até de madrugada na
Redação e não tinha como me comunicar com minha mulher. Não havia essa
facilidade de hoje para se possuir telefones. O estresse causado por essa
demora na minha chegada (minha mulher já estava querendo visitar o Departamento
Médico Legal à minha procura…) levou-me a decidir que voltaria para o Espírito
Santo, decisão consumada no ano seguinte.
Nos
dias seguintes, o velório de Tancredo parou o Brasil. Era como se cada um de
nós tivesse perdido o irmão mais querido. Eu mesmo fiquei em frente à televisão
por dois dias inteiros, pois tive folga no jornal nos dias seguintes, para
compensar o final de semana trabalhado.
Muito
mais poderia ser contado do que vimos naqueles dias e horas de agonia cívica
nacional, mas estas são minhas lembranças mais imediatas do 21 de abril que,
como cidadãos, preferíamos que não tivesse existido. O de 1985.
José
Caldas da Costa é jornalista, escritor, licenciado em Geografia.
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