A Ceia do Senhor – por Luciano Subirá
O que é a Ceia do Senhor? Como e quando
deve ser celebrada? Quem pode participar dela? Quero esclarecer um pouco
desta ordenança de Jesus praticada em nossas igrejas…
UMA INSTITUIÇÃO DE CRISTO
“…o
Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão, e, tendo dado
graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei
isto em memória de mim. Por
semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo:
Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes
em que o beberdes, em memória de mim. Porque
todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a
morte do Senhor até que ele venha.” (1 Coríntios 11.23-6)
Observando a expressão “fazei isto”,
percebemos que se trata de uma ordem de Jesus. É um imperativo, e fica
ainda mais evidente ser uma ordenança para a Igreja, quando Jesus repete
a expressão “todas as vezes que”… mostrando que este ato deveria ser
parte da nossa prática cristã.
UM MEMORIAL
Lugar algum das Escrituras mencionam o pão
e o vinho se tornando literalmente o corpo e o sangue do Senhor na hora
em que o partilhamos. Pelo contrário, Jesus deixa claro o caráter
simbólico do ato ao dizer: “fazei isto em memória de mim”.
A ceia do Senhor é um momento de
recordação do que ele fez por nós ao morrer na cruz para a remissão dos
nossos pecados. Quando a celebramos, estamos anunciando a morte do
Senhor Jesus até que Ele volte! Os elementos são, portanto, figurativos,
e não literais.
UM RITUAL DE ALIANÇA
Os orientais davam muito valor à alianças,
e as respeitavam. Quando Jesus institui exatamente o pão e o vinho como
os elementos da ceia, ele sabia exatamente o quê estava fazendo. Para
os judeus, o pão e vinho faziam parte de um ritual de aliança de sangue,
o mais alto nível de aliança a que alguém poderia se submeter.
Ao contrair uma aliança deste nível, as
duas partes estavam declarando que misturavam suas vidas e tudo o que
era de um passava a ser de outro e vice-versa; por isso Jesus declarou
na ceia que o cálice era a aliança NO SEU SANGUE, estabelecendo com
isso, na ceia, um ritual de aliança.
No Velho Testamento vemos Abraão indo ao
encontro de Melquisedeque, sacerdote do Deus altíssimo, e levando pão e
vinho. O que era isto? Um ritual de aliança. Quando ceamos, estamos
reconhecendo que realmente estamos aliançados com Cristo, e que nossas
vidas estão misturadas, fundidas uma na outra (1 Co.6.17).
Jesus deixou bem claro aos que o seguiam
que não bastava apenas simpatizar-se com ele ou seguí-lo pelos milagres
que operava, mas que era necessário aliança, e aliança no mais elevado e
sagrado nível que os judeus conheciam: a aliança de sangue.
Muitos não compreendem isto por não
conhecer os costumes da época, mas era a este tipo de aliança que Jesus
se referia ao proferir estas palavras:
“Em
verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem,
e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a
minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o
ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e
meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu
sangue, permanece em mim e eu nele.” (João 6.53-56)
É óbvio que Jesus não falava sobre comer a
carne literalmente, mas sim sobre aliança, sobre mistura de vida; isto
fica claro quando o Mestre conclui dizendo que tal pessoa permaneceria
nele e ele nesta pessoa. Este texto também não fala diretamente da ceia,
mas sim da nossa aliança com Cristo; embora deixe claro qual é figura
da ceia: um ritual de aliança onde testemunhamos comunhão entre nós e o
Senhor Jesus Cristo.
UM TEMPO DE COMUNHÃO
No tempo apostólico as ceias eram também
chamadas de “ágapes” (ou “festas de amor” – Jd.12), o que reflete parte
de seu propósito. As ênfases na expressão “corpo” que encontramos no
ensino bíblico da ceia, reflete esta visão de unidade e comunhão. A mesa
é um lugar de comunhão em praticamente quase todas as culturas e
épocas, e a mesa do Senhor não deixa de ter também esta característica.
UM ATO DE CONSEQUÊNCIAS ESPIRITUAIS
Na epístola de Paulo aos coríntios, fica
claro que a Ceia do Senhor tem consequências espirituais; ela será
sempre um momento de benção ou de maldição para os que dela participam.
BENÇÃO
“Porventura
o cálice da benção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo?
O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?” (1 Coríntios
10.16)
Observe o termo “cálice da benção”. Isto
não é figurado, é real. A Ceia do Senhor traz bênçãos espirituais sobre
aqueles que dela participam.
Um outro termo empregado neste versículo,
que nos revela algo importante, é “comunhão”; quando ceamos, estamos
pela fé acionando um poderoso princípio, temos comunhão com o sangue e
com o corpo de Cristo! O que isto significa? Quando derramou seu sangue,
Jesus o fez para a remissão de nossos pecados, logo, ao comungarmos o
sangue, estamos provando que tipo de bênçãos? A purificação, e também a
proteção, pois o diabo não pode transpor o poder do sangue para nos
tocar (Ex 12.23, Ap 12.12).
E o que significa ter comunhão com o
corpo? O corpo de Jesus foi moído porque ele tomou sobre si nossas
enfermidades, e as nossas dores carregou sobre si, e pelas suas feridas
fomos sarados (Is 53.4,5). A obra redentora de Cristo nos proporciona
cura física, e na Ceia do Senhor é um momento onde podemos provar a
benção da saúde a da cura. Muitos estavam fracos e doentes na igreja de
Corinto por não discernirem o corpo do Senhor na Ceia.
Ao falar sobre comungarem com o corpo do
Senhor, Paulo se referia não apenas ao corpo do Cristo crucificado por
meio do qual somos sarados, mas também ao corpo ressurreto, no qual
habita toda a plenitude da divindade e é fonte de vida aos que com ele
comungam.
A Ceia do Senhor deve ser um momento
especial de comunhão, reflexão, devoção, fé, e adoração. Tudo deve ser
feito de coração e com reverência, pois é um ato de conseqüências
espirituais.
MALDIÇÃO
A Bíblia não usa especificamente esta
palavra, mas mostra que a maldição pode vir como um juízo de Deus para
quem desonra a Ceia do Senhor. Depois de ter dito que ao participar da
mesa do Senhor a pessoa está anunciando a morte de Jesus até que ele
venha, Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, traz a seguinte
advertência:
“Por
isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente,
será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si
mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice, pois quem come e bebe sem
discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão porque há
entre vós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem. Porque, se
nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando
julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados
com o mundo.” (1 Coríntios 11.27-32)
Para muitas pessoas, a Ceia é algo que as
amedronta; preferem não participar dela quando não se sentem dignas,
para não serem julgadas. Mas veja que a Bíblia não nos manda deixar de
tomar, e sim fazer um auto-exame antes, pois se houver necessidade de
acerto devemos fazê-lo o mais depressa possível (1 Jo 1.9).
Deixar de participar da mesa do Senhor é
desonrá-la também! Devemos ansiar pelo momento em que dela
partilharemos, e não evitá-la. Mas há aqueles que querem fingir que
estão bem, e participam sem escrúpulo algum do que é sagrado; para
estes, não tardará o juízo.
Participar da mesa do Senhor tem
conseqüências espirituais; ou o cristão é abençoado ou é amaldiçoado.
Não há meio termo; a refeição não é apenas um simbolismo; não se
participa da Ceia do Senhor como se participa de uma cerimônia qualquer,
pois é um momento santificado por Deus e de implicações no reino
espiritual.
QUEM PARTICIPA
A Ceia, como ritual de aliança que é,
destina-se, portanto, aos que já se encontram em aliança com Cristo; ou
seja, aos que já nasceram de novo e estão em plena comunhão com Deus. Há
igrejas que só servem a Ceia para quem pertence ao seu rol de membros;
consideramos isto um grande erro, pois a Ceia do Senhor é para quem o
serve de todo coração, independentemente de tal pessoa congregar em
nossa igreja local ou não; se a pessoa faz parte do Corpo de Cristo na
terra, então deve participar da mesa.
Há ainda, aqueles que afirmam só poder
participar da Ceia do Senhor quem já se batizou nas águas, mas não há
sustentação bíblica para isto; desde o momento em que a pessoa se
comprometeu com Cristo em sua decisão ela já está dentro da aliança
firmada por Jesus na cruz. Entendemos que o novo convertido deva ser
encaminhado para o batismo tão logo seja possível.
Os critérios básicos são: estar aliançado
com Cristo, e com vida espiritual em ordem. Contudo, não proibimos
ninguém de participar, apenas ensinamos o que a Bíblia diz, para que
cada pessoa julgue-se a si mesma. Nem Judas Iscariotes, em pecado e
endemoninhado foi proibido por Jesus de participar da Ceia (Lc 22.3,21).
A instrução bíblica é que a pessoa se
examine a si mesma, e não que seja examinada pelos outros. Portanto não
examinamos ninguém, nem as proibimos, só instruímos. Se a pessoa
insistir em participar de forma indigna colherá o juízo divino.
ONDE ACONTECE
Não há um lugar determinado para se realizar a Ceia, onde quer que estejam reunidos os cristãos ela poderá ser feita.
No livro de Atos, lemos que o pão era
partido de casa em casa (Atos 2.46), o que nos deixa totalmente à
vontade em relação a celebrá-la nas células; mas Paulo ao usar as
seguintes palavras: “…quando vos reunis na igreja…” e “Se alguém tem
fome coma em casa…” (1 Coríntios 11.18 e 34); revela que na cidade de
Corinto a Ceia era praticada também num local maior de reunião para toda
a igreja.
Portanto, como nos reunimos no templo e
nas casas, à semelhança dos dias do Novo Testamento, também praticamos a
Ceia do Senhor nos dois locais de reunião, sendo que a maior incidência
se dá no templo quando reunimos todo o corpo local.
QUANDO ACONTECE
Entendemos que não há uma periodicidade definida pela Bíblia quanto à celebração da Ceia; Jesus apenas disse:
“…fazei isto, TODAS AS VEZES QUE o beberdes, em memória de mim” (1 Co 11.25b).
Esta expressão “todas as vezes que” nos dá liberdade de fazermos quando quisermos, mas sempre em memória do Senhor Jesus Cristo.
Em nossa igreja, celebramos a Ceia do Senhor mensalmente no templo, e não temos periodicidade definida nas casas.
COMO É CELEBRADA
No templo ela é celebrada pelo
presbitério, que normalmente se serve dos diáconos para que ajudem na
distribuição; já nas células (em nossa igreja), ela é celebrada pelos
líderes e auxiliares.
Encorajamos os líderes de célula a
utilizarem um só pão que deve ser partido na hora da Ceia, e um cálice a
ser dividido entre o grupo, como sinal de comunhão. Já no templo,
devido à quantidade de pessoas e ao tempo de reunião, não procedemos
assim; o normal é já servimos o pão cortado em pequenos pedaços e o suco
de uva em pequenos cálices individuais.
Na igreja primitiva, quando celebrada nas
casas, a Ceia do Senhor era também chamada de ágape ou festa de amor. Os
irmãos se reuniam para ter comunhão ao redor da mesa, onde tomavam suas
refeições juntos; e juntamente com as refeições celebravam a Santa
Ceia. Nas casas é possível cearmos de maneira informal e festiva, e é o
que procuramos fazer.
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