A vida intelectual do Ipú começou a movimentar-se, teve os seus primeiros passos, na exploração da arte dramatica, talvez reconhecidos os seus pontificadores o ensinamento do grande Alencar dando o theatro como uma escola, meio pelo qual melhor seria diffundida a instrucção, as luzes surgiriam.
Explorar a arte dramatica, conhecer os seus segredos, estudar as suas multiplas ramificações é o primeiro emprehendimento do moço sertanejo, que desapegando-se do convencionalismo natural ao meio de sua convivencia, empregando a sua actividade na occupação de trabalhos ronceiros proprios desse habitat, aspira, com a sua alma ingenua, um ambiente mais saturado, deseja galgar outras posições elevando o seu espirito a regiões desconhecidas.
Foi o theatro que primeiro concorreu para a formação litteraria desse povo na enscenação de peças de escriptores nacionaes, figurando entre ellas as obras de Alencar e Macêdo, introductores do theatro do romantismo - o que ha de melhor no theatro brazileiro - como affirma José Verissimo. (O Theatro Brazileiro - Conferencia feita no “Conservatorio Dramatico de S. Paulo”, em 12 de Outubro de 1910).
A primeira aggremiação dramatica installada no Ipú denominou-se - Sociedade Dramatica Ipuense e teve como fundadores os jovens de então Thomaz de Aquino Correia e Sá, Felix Candido de Sousa Carvalho e Mello Andrade. Sua existencia foi ephemera - um meteóro que passou - e seus contemporaneos cercam a sua vida de episodios os mais divertidos, dando, todavia, a sociedade ao publico um attestado de sua curta duração e do seu evoluir. Algumas peças foram representadas com geral agrado.
Seu desapparecimento, pouco tempo depois da installação, foi glosado em toda a cidade, constituindo, por alguns mezes, a nota do dia obrigada ás palestras de calçadas, habito peculiar ao povo sertanejo.
Teve um desfecho comico a morte do primeiro nucle de arte ipuense, sendo victima - permitta-se-nos o paradoxo - de improvisado incendio, abrangendo os haveres particulares do thesoureiro e os da sociedade, salvando-se unicamente duas moedas de dobrões - oitenta réis - aliás refractarias ao fogo!...
E entre as desconfianças dos associados e galhofas do populacho desapparecia, para sempre, a promettedora associação, a primeira que nascera exclusivamente para marcar a era do inicio da vida intellectual do Ipú.
O espirito persistente e comprovado de Thomaz Correia e a tenacidade reconhecida de Felix Candido não sentiram desfallecimentos, pelo contrario, mais animaram-se. Poucos annos depois - 1886 - apparecia uma segunda aggremiação - esta exclusivamente de lettras - o Gabinete Ipuense de Leitura, figurando mais além d'aquelles dois fundadores, o padre João José de Castro, vigario da parochia e seu primeiro presidente, o major Antonio Francisco de Paula Quixadá, o então academico Francisco Ximenes de Aragão e José Candido de Souza Carvalho.
Este nucleo, melhor apparelhado, floresceu, teve uma vida mais demorada e no periodo de três annos, sem a menor solução de continuidade, constituio o ponto para onde convergia o escól litterario daquella época.
O cultivo das lettras foi então uma realidade. O gosto pelo estudo predominou entre seus associados, cuja matricula subio a 114.
O Gabinete manteve regular bibliotheca, chegando a catalogar para mais de 700 volumes dos escriptores em voga, mais lidos e mais procurados naquellas eras.
De suas memorias destaca-se a conferencia que em seus soffriveis salões proferio o erudito dr. Raymundo de Farias Britto, já nesse anno, com o justo renome de que é hoje possuidor, e mais a commemoração civica levada a effeito no dia em que chegou a noticia da erecção da villa á cidade.
Foi um acontecimento notavel para o Ipú - dis[1] um contemporaneo - o desenvolvimento dessa imponente festa, tocando ás raias do delirio.
Quiz o destino, entretanto, que o Gabinete de Leitura passasse pelo mesmo cadinho de suas congeneres, desapparecendo do numero das associações cheias de vida e trabalho.
Por motivos de ordem social, sob proposta de um consocio de genio mais alegre e folgasão, o Gabinete mudava de categoria, isto é, passaria a explorar terreno diametralmente opposto ao primitivo de sua congregação. Dos dominios das massudas palestras litterarias em que somente predominava o exquesito gosto pela leitura dos classicos, muito em vóga naquella época e aliás productivos, em todos os tempos, passaria para os de Terpsychore, em demasia improductivos.
Desfructando este campo antagonico, improprio, deixando o Gabinete de ser litterario para tornar-se dançante, foi o bastante para em breve desapparecer, abandonando de vez a sua bibliotheca, já reputada como uma das melhores dos sertões cearenses.
Morreu o Gabinete Ipuense de Leitura, e o meio intellectual muito perdeu com o seu desapparecimento.
Outras associações, no genero, posteriormente á morte do Gabinete, foram installadas. Temos conhecimento de mais quatro - Cassino Ipuense, Club das Camelias - associação formada por senhoras, - Recreio Ipuense e Recreio Dramatico, figurando nellas os nomes dos srs. drs. Paulino Cruz, José Austregesilo Rodrigues Lima, pharmaceutico Thomaz Correia, Abilio Martins, Julio Cicero Monteiro, Joaquim Medeiros, o então seminarista Maximiano Pinto da Rocha e Francisco das Chagas Alves.
Todas, porém, tiveram a sorte das rosas de Malherbes: deram um signal de vida para morrerem no proprio nascedouro.
[1]Preservei a grafia original.
Explorar a arte dramatica, conhecer os seus segredos, estudar as suas multiplas ramificações é o primeiro emprehendimento do moço sertanejo, que desapegando-se do convencionalismo natural ao meio de sua convivencia, empregando a sua actividade na occupação de trabalhos ronceiros proprios desse habitat, aspira, com a sua alma ingenua, um ambiente mais saturado, deseja galgar outras posições elevando o seu espirito a regiões desconhecidas.
Foi o theatro que primeiro concorreu para a formação litteraria desse povo na enscenação de peças de escriptores nacionaes, figurando entre ellas as obras de Alencar e Macêdo, introductores do theatro do romantismo - o que ha de melhor no theatro brazileiro - como affirma José Verissimo. (O Theatro Brazileiro - Conferencia feita no “Conservatorio Dramatico de S. Paulo”, em 12 de Outubro de 1910).
A primeira aggremiação dramatica installada no Ipú denominou-se - Sociedade Dramatica Ipuense e teve como fundadores os jovens de então Thomaz de Aquino Correia e Sá, Felix Candido de Sousa Carvalho e Mello Andrade. Sua existencia foi ephemera - um meteóro que passou - e seus contemporaneos cercam a sua vida de episodios os mais divertidos, dando, todavia, a sociedade ao publico um attestado de sua curta duração e do seu evoluir. Algumas peças foram representadas com geral agrado.
Seu desapparecimento, pouco tempo depois da installação, foi glosado em toda a cidade, constituindo, por alguns mezes, a nota do dia obrigada ás palestras de calçadas, habito peculiar ao povo sertanejo.
Teve um desfecho comico a morte do primeiro nucle de arte ipuense, sendo victima - permitta-se-nos o paradoxo - de improvisado incendio, abrangendo os haveres particulares do thesoureiro e os da sociedade, salvando-se unicamente duas moedas de dobrões - oitenta réis - aliás refractarias ao fogo!...
E entre as desconfianças dos associados e galhofas do populacho desapparecia, para sempre, a promettedora associação, a primeira que nascera exclusivamente para marcar a era do inicio da vida intellectual do Ipú.
O espirito persistente e comprovado de Thomaz Correia e a tenacidade reconhecida de Felix Candido não sentiram desfallecimentos, pelo contrario, mais animaram-se. Poucos annos depois - 1886 - apparecia uma segunda aggremiação - esta exclusivamente de lettras - o Gabinete Ipuense de Leitura, figurando mais além d'aquelles dois fundadores, o padre João José de Castro, vigario da parochia e seu primeiro presidente, o major Antonio Francisco de Paula Quixadá, o então academico Francisco Ximenes de Aragão e José Candido de Souza Carvalho.
Este nucleo, melhor apparelhado, floresceu, teve uma vida mais demorada e no periodo de três annos, sem a menor solução de continuidade, constituio o ponto para onde convergia o escól litterario daquella época.
O cultivo das lettras foi então uma realidade. O gosto pelo estudo predominou entre seus associados, cuja matricula subio a 114.
O Gabinete manteve regular bibliotheca, chegando a catalogar para mais de 700 volumes dos escriptores em voga, mais lidos e mais procurados naquellas eras.
De suas memorias destaca-se a conferencia que em seus soffriveis salões proferio o erudito dr. Raymundo de Farias Britto, já nesse anno, com o justo renome de que é hoje possuidor, e mais a commemoração civica levada a effeito no dia em que chegou a noticia da erecção da villa á cidade.
Foi um acontecimento notavel para o Ipú - dis[1] um contemporaneo - o desenvolvimento dessa imponente festa, tocando ás raias do delirio.
Quiz o destino, entretanto, que o Gabinete de Leitura passasse pelo mesmo cadinho de suas congeneres, desapparecendo do numero das associações cheias de vida e trabalho.
Por motivos de ordem social, sob proposta de um consocio de genio mais alegre e folgasão, o Gabinete mudava de categoria, isto é, passaria a explorar terreno diametralmente opposto ao primitivo de sua congregação. Dos dominios das massudas palestras litterarias em que somente predominava o exquesito gosto pela leitura dos classicos, muito em vóga naquella época e aliás productivos, em todos os tempos, passaria para os de Terpsychore, em demasia improductivos.
Desfructando este campo antagonico, improprio, deixando o Gabinete de ser litterario para tornar-se dançante, foi o bastante para em breve desapparecer, abandonando de vez a sua bibliotheca, já reputada como uma das melhores dos sertões cearenses.
Morreu o Gabinete Ipuense de Leitura, e o meio intellectual muito perdeu com o seu desapparecimento.
Outras associações, no genero, posteriormente á morte do Gabinete, foram installadas. Temos conhecimento de mais quatro - Cassino Ipuense, Club das Camelias - associação formada por senhoras, - Recreio Ipuense e Recreio Dramatico, figurando nellas os nomes dos srs. drs. Paulino Cruz, José Austregesilo Rodrigues Lima, pharmaceutico Thomaz Correia, Abilio Martins, Julio Cicero Monteiro, Joaquim Medeiros, o então seminarista Maximiano Pinto da Rocha e Francisco das Chagas Alves.
Todas, porém, tiveram a sorte das rosas de Malherbes: deram um signal de vida para morrerem no proprio nascedouro.
[1]Preservei a grafia original.
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