Cinco de Novembro
A cultura brasileira é tão diversa que não se pode falar dela em
apenas um dia. Apesar disso, hoje foi escolhido para festejarmos as
manifestações culturais de norte a sul e de leste a oeste.
O Brasil, como todos já sabem, é um
país de formação multi-racial e por isso carrega um pouco do costume de cada
povo que aqui veio morar. Dos negros, herdamos o candomblé, a capoeira, parte
do nosso vocabulário e muito do nosso folclore. Dos índios, herdamos o
artesanato, a pintura, comidas exóticas como o peixe na folha da bananeira e a
rede. Do português, ficamos com o costume católico, a língua, as roupas.
Essa mistura toda não se deu de
maneira pacífica, mas sim por meio da dominação cultural e da escravização de
índios e negros. No entanto, características culturais de ambas as etnias
sobreviveram ao tempo e hoje compõe uma enorme riqueza cultural. Alguns
estudiosos, como o escritor Sérgio Buarque de Holanda, acreditam que o fato de
outras culturas permearem a cultura brasileira nos tornou “desterrados em nossa
própria terra”. O movimento modernista da década de 20 mostrou a idéia de
intelectuais que sentiam falta de um caráter estritamente nacional e que
importava modelos sócio-culturais. O escritor Mário de Andrade construiu o
personagem “Macunaíma” para retratar isso.
Independente da existência ou não de
uma identidade nacional, o fato é que temos muito que comemorar hoje. Os
costumes do povo brasileiro, seu folclore, suas comidas e suas músicas são neste
sentido, grandes representantes das peculiaridades da cultura do país.
Folclore
O folclore brasileiro é recheado de
lendas e mitos como o Saci-Pererê, um menino de uma perna só que mora na
floresta, usa um gorro vermelho e fuma cachimbo. Uma de suas travessuras mais
comuns é emaranhar a crina dos cavalos de viajantes que acampam na floresta.
Seu nome vem do tupi-guarani. Outras lendas como a da Mula-sem-cabeça, do
Curupira, Iara Mãe D’Água, Boi Tatá, o Negrinho do Pastoreio e do Boto cor de
rosa também são bastante conhecidas.
Música
A música estava presente no cotidiano
do índio e do negro, relacionada tanto ao simples prazer quanto a rituais
religiosos. As cantigas de roda infantis e as danças de quadrilhas são de
origem francesa. Pela influência de vários povos e com a vinda de instrumentos
estrangeiros (atabaques, violas, violão, reco-reco, cuíca e cavaquinho),
inventamos o samba, o maracatu, o maxixe e o frevo. Inventamos também o axé, a
moda de viola, que é a música do homem do interior, e o chorinho. Alguns
movimentos musicais, como a Bossa Nova e a Tropicália, também foram importantes
na formação musical brasileira.
Comida
Assim como em outras instâncias da
nossa cultura, o índio, o negro e o branco fizeram essa miscelânea que é nossa
tradição culinária. Aprendemos a fazer a farinha de mandioca com os índios e
dela fazemos a tapioca, o beiju e também o mingau. A feijoada é fruto da
adaptação do negro às condições adversas da escravidão, pois era feita com a
sobra das carnes. O azeite de dendê também é uma grande contribuição africana à
nossa culinária, pois com ele fazemos o acarajé e o abará. Os portugueses nos
ensinaram técnicas de agricultura e de criação de animais. Deles, herdamos o
costume de ingerir carne de boi e porco, além de aprendermos a fabricar doces,
conservas, queijos, defumados e bebidas.
Cultura e Diversidade
O Brasil é um país cuja
principal marca cultural é a mistura. Desde o começo de sua história, o país
foi marcado pela presença de diferentes povos e culturas, fazendo com que sua
formação tivesse grande diversidade e mistura. Aqui viviam povos indígenas, em
tribos, com uma cultura guerreira, muito ligada à natureza; em 1500 chegaram os
colonizadores portugueses, que trouxeram para cá a cultura européia, com uma
forte influência moura. O uso do negro africano como escravo na colônia, trouxe
ainda novas crenças, falas e costumes, que as poucas foram se misturando e
integrando a cultura local.
Posteriormente, com o fim da
escravidão, diversos outros povos ainda vieram para o país, como italianos,
japoneses e alemães, cada um acrescentando ao Brasil um novo detalhe cultural.
Com toda essa miscigenação de
povos e culturas, não é de se estranhar que o Brasil tenha na sua língua,
costumes, religião e manifestações culturais traços únicos, que podem se
assemelhar a outras culturas do
mundo, mas que sempre tem seus detalhes particulares.
mundo, mas que sempre tem seus detalhes particulares.
A Língua
Apesar de aqui se falar o
Português, Brasil e Portugal possuem algumas diferenças entre suas línguas. O
português brasileiro traz a essência de Portugal, mas incorporou termos da fala
das tribos indígenas e dos povos africanos.
No início do período colonial,
o número de índios era muito maior que o de portugueses, por isso, a língua Tupinambá,
indígena, era a mais usada e dela derivou a língua geral, que era aqui usado
até o início do século XVII. Quando os portugueses começaram efetivamente a
ocupar o território brasileiro, o português passou a ser língua mais usada, mas
já incorporando algumas palavras indígenas. Com o início do tráfico negreiro,
detalhes das línguas africanas começaram a se misturar ao português.
Hoje em dia, o português
brasileiro é muito diferente do de Portugal e possui diversas alterações
regionais, como o caipira (das regiões interioranas), o carioca (do Rio de
Janeiro), o mineiro (de Minas Gerais), o gaúcho (do Rio Grande do Sul) e
outros.
Entre as palavras herdadas do
tupi, destacam-se os nomes de pessoas, como Araci, Iara, nome de estados e
formações naturais, como Ceará e Ipanema, algumas doenças como catapora, e
substantivos ligados à natureza, como mandioca e urupema.
Religião
O Brasil é marcado por uma
grande diversidade de religiões, assim como pela liberdade de escolha e pela
tolerância. A maior parte da população, 60%, é católica, uma das maiores
heranças de Portugal. Mas muitas outras religiões se manifestam por aqui. Mais
recentemente, começou a se manifestar no país o espiritismo, e hoje o Brasil
concentra o maior número de espíritas do Mundo. O protestantismo também possui
muito espaço aqui, sendo a segunda religião em adeptos; caracteriza-se pela
livre interpretação da bíblia e pela grande variedade de denominações e grupos.
Também estão muito presentes as
religiões afro-brasileiras, formadas por religiões trazidas da África pelos
escravos e também pelo sincretismo de religiões. O candomblé é um exemplo, com
cultos, cantos e danças sobreviventes da África Ocidental. Há também a Umbanda,
um misto de candomblé, com catolicismo e espiritismo.
Existem ainda manifestações de
muitas outras religiões, vindas dos mais diversos lugares do mundo, como o
islamismo, o judaísmo, o neopaganismo ou o mormonismo.
Arte
Durante os primeiros séculos de
colônia, a arte no Brasil estava intimamente ligada à portuguesa, com os
movimentos artísticos europeus, como o renascimento, maneirismo, barroco,
rococó e neoclassicismo.
Mas mesmo neste período uns
toques típicos da cultura que aqui se formavam já se manifestavam, um exemplo
são as esculturas de Aleijadinho nas igrejas de Minas Gerais ou os anjos negros
nas pinturas de Manuel da Costa Ataíde.
No início do século XIX, as
artes começam a ser ensinadas academicamente, e cada vez mais características
nacionais, e nacionalistas, foram incorporadas, tendo como principal
manifestação o romantismo, que exaltava as terras e o povo brasileiro.
Até o século XX, as artes
brasileiras acompanharam as correntes européias, colocando um pouco do Brasil
nelas, passando assim pelo realismo, naturalismo, simbolismo e parnasianismo, e
criando grandes nomes na literatura, na pintura, na música, na escultura.
No século XX a arte no país
renovou-se completamente, com o movimento Modernista, que quis criar uma arte
genuinamente brasileira, buscando sua fonte na cultura popular. Esse movimento
foi marcado pela Semana de Arte Moderna de 1922, quando seus principais
trabalhos foram exibidos. Os artistas desta fase, como Villa Lobos, Tarsila do
Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcante, são ainda grandes nomes da cultura
brasileira.
É claro que não se pode
esquecer-se da cultura popular do país e de toda a arte que produz, seja na
literatura, com histórias e contos folclóricos de origem indígenas; seja nas
artes plásticas, com trabalhos em cerâmica; ou seja na música e na dança, onde
deixa seus principais traços, criando ritmos e festivais únicos, como a bossa
nova, o samba e o carnaval.
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