A Coluna Prestes em Ipu - Parte V
Membros e simpatizantes da Coluna. Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br
O Medo
A
população local havia recebido a notícia, em fins de dezembro de 1925, de que a
Coluna Prestes havia atacado com 12 mil soldados, as forças do exército e das
milícias estaduais aquartelada em Teresina, Piauí. Em janeiro, a população se
sobressaltara ao saber que forças da Coluna, estacionadas no Piauí, rumariam
para o Ceará e que a cidade de Ipu seria alvo certo. As notícias chegavam e
davam conta de que 100 homens da Coluna tinham invadido a cidade de Pedro II e
se dirigiam para o interior do Ceará.
O Governo
Federal procedia a uma propaganda negativa, apresentando os “revolucionários”
como assassinos, ladrões, sanguinários, estupradores e impetuosos. Dizia o
governo tratar-se de bandidos perigosos e fortemente armados que não poupavam
nem mesmo mulheres, velhos e crianças.
Muitos
mentirosos, outros metidos a valente, espalhavam boatos de que, em viagem,
tinham topado com a Coluna e que os homens que faziam parte dela eram como
“bichos”, “fedem como animais” andam sujos, descalços, não fazem a barba, usam
cabelos compridos e atacam como animais ferozes, sem sentimentos, remorsos ou
vergonha. Cometem violências por puro prazer e por onde passavam, saqueavam
tudo, nem animais, nem criações ficavam vivas. Todas as riquezas eram
saqueadas, levavam até mesmo as roupas do corpo das mulheres, deixando-as
apenas com as ceroulas.
Outros
contribuíam para que os boatos tomassem um tom profético, apresentando a Coluna
como a encarnação de espíritos malignos, composta de homens invencíveis. Lutar
seria um erro, pois os “homens têm corpo fechado”.
A cultura
popular se encarregava de difundir os boatos e lhes dar ar profético e
sobrenatural. Os mais medrosos, logo, ficavam doentes e se enfurnavam em casa.
Há relatos de que nunca se vendeu tanta porção (manipulação) contra a
disenteria ministrada pelo Farmacêutico prático, Thomaz de Aquino Correia,
na Pharmacia Iracema.
Logo a
população local se alvoroçou. Muitos se aprontaram para a fuga, caso, de fato,
a cidade viesse a ser alvo dos “revoltosos”. Outros nem mesmo esperaram pelas
notícias, se mandaram para outros municípios.
Aqueles
que possuíam bens levavam consigo. Quem possuía gado, cabras, bodes porcos ou
qualquer tipo de criação, levavam-nas para fazendas distantes, como fez
Monsenhor Gonçalo Lima, que mandou para sua fazenda de nome “Viração”, as cinco
vacas leiteiras que possuía e mantinha na cidade. Lojistas fecharam suas casas
comerciais, fazendas centrais foram esvaziadas.
Cerca de dois terços da
população deixou a cidade ou pelo menos a área mais central. Muitos sem ter
para onde irem, embrenharam-se no meio da mata, buscando um esconderijo no sopé
da serra.
O tenente
do destacamento local, que aguardava forças do Governo que não apareceram, ao
saber da chegada dos “Revoltosos” à cidade, não esperou o “sol nascer”, se
embrenhou no matagal em direção da Bica e só saiu dali quando as forças do 2º
Destacamento deixaram a Terra de
Iracema. No dia anterior, os quatro praças que compunham a força
policial local, deslocaram-se para Crateús e não mais voltaram até que João Alberto
com seu destacamento deixasse a cidade.
Continua...
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