Do livro: O BACAMARTE DOS MOURÕES (Nertan Macêdo)
(Um Bacamarte (do francês braquemart) é uma arma de fogo longa (os mais
antigos exemplares eram curtos, pareciam garruchas alongadas), de cano
longo (os exemplares mais modernos) e mais alargado na boca, reforçada
na coronha (século XVI).
Em meados do século XIX, a extensa
família dos Mourões, em luta declarada contra os seus desafetos,
empreendeu um verdadeiro banho de Sangue, na então Freguesia de São
Gonçalo da Serra dos Cocos.
O período de 16 anos, que vai do natal
de 1830 ao ano de 1846, é aquele em que o Bacamarte dos Mourões cuspiu
fogo em toda a freguesia. Segundo Eusébio de Sousa, no pequeno povoado
de Ipu, ninguém se julgava seguro ou garantido pela lei. A lei era a do
bacamarte. Em sete partes, contamos um pouco do episódio. Para quem
tiver interesse, boa leitura.
QUEM ERAM OS MOURÕES?
O
fundador do “clã” dos Mourões foi, segundo Nertan Macedo, Antônio da
Silva Mourão, que, vindo de Pernambuco, habitou na Fazenda Jardim. Esta
ficava próximo da então povoação de Piranhas (5 léguas), mais tarde,
Príncipe Imperial, depois Carateús, hoje, Crateús.
Antonio da Silva Mourão, um pernambucano, emigrou para os sertões da atual cidade de Crateús, em meados do século XVIII.
O século XVIII foi o período em que o Rei de Portugal estimulou a
penetração para o interior, com o objetivo de ocupá-lo. Distribuiu
extensas sesmarias (lotes de terras). Feitosas, Chaves, Melos e Mourões,
todos parentes, adquiriram propriedades nas extensas paragens do
interior do Ceará.
Os descendentes de Antonio da Silva Mourão
adquiriram extensas propriedades de terras na imensa freguesia da Serra
dos Cocos, da qual o povoado de Ipu fazia parte. Dois de seus filhos,
Sebastião e Alexandre Mourão, casaram com as filhas do capitão-mor,
Antônio de Barros Galvão. Este adquiriu, no sopé da Serra da Ibiapaba, o
Sítio Canabrava, além de outros, entre os quais se incluía o sítio Boa
Esperança, localizado no distrito da Matriz da Serra dos Cocos. (O Sítio
Canabrava – “Chama-se hoje Vila de Ararendá", "tendo pertencido,
outrora, ao Ipu e Ipueiras e atualmente a Nova Russas”. O Bacamarte dos
Mourões, p. 14).
Alexandre Mourão passou a explorar as terras de seu
sogro, no Sítio Boa Esperança, enquanto seu irmão, Sebastião, fazia o
mesmo na Canabrava. Este último, adquiriu muitas terras na região. Com
sua morte, seus filhos herdaram suas terras, cabendo maiores pedaços a
Manoel Ribeiro de Melo (Melinho), João Ribeiro de Melo, José de Barros
Melo, o Cascavel, e o coronel Luiz Lopes Teixeira, seu genro.
Melos e Mourões eram também parentes dos feitosas, dos inhamuns, pelo
ramo Araújo. Melos, Mourões, Feitosas, Araújos, eram parentes.
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