sábado, 12 de dezembro de 2015


BICA DE IPU

Cláudio César Magalhães Martins
Presidente da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes
(Art. publicado em O POVO, ed. de 05.12.2015)

Na qualidade de filho de Ipu, foi com imensa tristeza que li, em O POVO, edição de 16.11, a matéria que descreve a situação em que se encontra a Bica de Ipu, principal cartão postal da cidade e um dos mais destacados pontos turísticos do Ceará. 

O problema é antigo. Desde minha infância, nos idos da década dos anos 50, comentava-se, na cidade, que agricultores proprietários de terras na região da Serra da Ibiapaba represavam as águas do riacho Ipuçaba para irrigar suas plantações. Nunca, no entanto, a Bica havia secado. O problema se agravou ultimamente, uma vez que, além destes, donos de carros-pipa se apropriam da água para vender, auferindo lucro. Eis aí uma nova versão da abominável indústria da seca, que prosperou no Nordeste em tempos que já pareciam pertencer ao passado. É doloroso chegar ao Ipu e visualizar o paredão rochoso de onde corria a Bica sem a belíssima queda d'água que lhe dava vida e encanto. Tal fato se deve não apenas à longa estiagem que afeta o Ceará, mas à ganância dos agricultores e dos donos de carros-pipa, supracitados, que demonstram total desprezo para com o Município e, sobretudo, para com as leis ambientais que visam coibir tais abusos. A consequência desses desmandos foi o desaparecimento total da famosa queda d'água onde, segundo a lenda, a índia Iracema costumava banhar-se.

De acordo com a reportagem acima mencionada, a legislação que coíbe tal prática se fundamenta no decreto que criou a APA em que está a Bica de Ipu, abrangendo uma área de 3.484,66 hectares. Entre as ações proibidas pelo referido decreto, está a implantação de ações potencialmente degradadoras e a intervenção em nascentes e encostas.

E aqui vai um apelo às nossas autoridades, principalmente á Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) e à Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE): apliquem a lei ambiental ! Salvem a Bica de Ipu !

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