Campo de Concentração de Ipu
É obvio que uma seca vem repleta de problemas para o ambiente
natural e consequente para a população, porém os mais humildes são os que mais
sofrem, onde as pessoas com poder aquisitivo elevado, principalmente aqueles
que têm certo “poder” sobre a classe mais abastarda se aproveitam de algumas
maneiras para se livrar da seca sem muitos prejuízos, como é o caso por exemplo de muitos interventores políticos
corruptos.
A seca e interesses políticos levaram a construção do Campo de Concentração
de Ipu no período em que ela mais se alastrou que foi de julho de 1932 a
fevereiro de 1933, onde ocorreram muitas mudanças na cidade principalmente em
termos de desenvolvimento, visto que neste período a cidade cresceu em obras
públicas. Vale ressaltar que a seca afetou todo o Estado do Ceará. O governo
determinou a construção desses Campos de Concentração no intuito de isolar os
mais afetados por ela, e lá eles receberem assistência do governo. Em todo o Estado foram construídos sete campos
em lugares próximos as estações de trem, isso para facilitar o “aprisionamento”
dos retirantes. Dentre os sete campos construídos, um foi no município de Ipu
que será o foco deste texto.
O Campo de Concentração de Ipu como regra ficou localizado em um
lugar bem distante do centro da cidade, precisamente na localidade do Espraiado,
para lá foram conduzidos vários retirantes de diferentes lugares. O governo
aponta um número de 9.000 mais não se sabe o número exato desses flagelados que
ficaram estalados nesse local, visto que houve indícios de fraude na
administração do interventor que na época era Joaquim de Oliveira Lima.
Os flagelados que iam se instalando que muitos estudiosos chamavam
de “currais do Governo,” tinham que obedecer a diversas regras, uma das quais
eram proibidos de saírem do campo, exceto os que iriam trabalhar nas obras
públicas da cidade. Isso mostra que os “encurralados” tiveram uma grande
contribuição para o desenvolvimento da cidade, apesar disso não ser reconhecido
pelo governo que só viam o lado em que eles eram os causadores de transmitirem
doenças, por isso o afastamento desses “pobres indefesos” a mercê do poder público
para sobreviver a custa de “migalhas”, visto que a necessidade deles eram
grandes e não, de certo modo suprimidas, nos levando a pensar se isso seria por
falta de verbas ou por causa de desvios? A resposta mais cabível seria pelo
fato de desvios contribuindo assim com a morte desses “pobres”, visto que houve
relatos de que a melhor parte da comida ia parar nos comércios só chegando a “sobra”
para alimentar milhares de flagelados, ação que pode ter apressado a morte de
muitos desses indefessos. Vale ressaltar que morriam cerca de cinco pessoas por
dia, na sua grande maioria crianças, onde os mesmo eram enterrados ali mesmo no
campo no lugar um pouco mais afastado e reservado.
Teria sido possível um programa de assistência aos flagelados da
seca, realizado com mais eficiência que pudesse ter diminuído os números de
doenças e consequentemente de mortes? Ou será, que os recursos destinados foram
usados indevidamente? Ou foram insuficientes para a demanda de flagelados?
Sendo que isso não justifica visto que tem estudos que comprovam que a cidade
se desenvolveu em termos de infraestruturas, como construção de obras públicas.
Isso realizado pelos próprios flagelados sem nenhum direito trabalhista.
Contudo se percebe que o governo em vez de amenizar os efeitos ocasionados pela
seca, poderia ter sido de certa forma eles os culpados por tamanhas desgraças.
Atualmente no local onde foi construído o Campo de Concentração
está todo recoberto por matos, mais ainda pode perceber vestígios daquele
ambiente onde a natureza se encarregou de esconder, um lugar que foi repleto de
muitas dificuldades, sofrimentos, doenças e mortes, mais a memória de quem
viveu esse passado triste jamais será apagada como é o caso de Dona Raimunda Vera
Cruz de Oliveira, uma ex - flagelada que vivenciou esses sofrimentos e que hoje
contribui bastante para a escrita e o entendimento do que foi o Campo de
Concentração de Ipu. Enfim é necessário ainda muitos estudos para entender e
esclarecer esse assunto, contudo é de extrema importância não deixar que essa
história seja esquecida pelo tempo.
Regiane Barros, Estudante do Curso de História na Universidade
Estadual Vale do Acaraú, Bolsista de Iniciação Cientifica do Cnpq- UVA.
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