domingo, 14 de julho de 2013




Campo de Concentração de Ipu
É obvio que uma seca vem repleta de problemas para o ambiente natural e consequente para a população, porém os mais humildes são os que mais sofrem, onde as pessoas com poder aquisitivo elevado, principalmente aqueles que têm certo “poder” sobre a classe mais abastarda se aproveitam de algumas maneiras para se livrar da seca sem muitos prejuízos, como é o caso  por exemplo de muitos interventores políticos corruptos.
A seca e interesses políticos levaram a construção do Campo de Concentração de Ipu no período em que ela mais se alastrou que foi de julho de 1932 a fevereiro de 1933, onde ocorreram muitas mudanças na cidade principalmente em termos de desenvolvimento, visto que neste período a cidade cresceu em obras públicas. Vale ressaltar que a seca afetou todo o Estado do Ceará. O governo determinou a construção desses Campos de Concentração no intuito de isolar os mais afetados por ela, e lá eles receberem assistência do governo.  Em todo o Estado foram construídos sete campos em lugares próximos as estações de trem, isso para facilitar o “aprisionamento” dos retirantes. Dentre os sete campos construídos, um foi no município de Ipu que será o foco deste texto.
O Campo de Concentração de Ipu como regra ficou localizado em um lugar bem distante do centro da cidade, precisamente na localidade do Espraiado, para lá foram conduzidos vários retirantes de diferentes lugares. O governo aponta um número de 9.000 mais não se sabe o número exato desses flagelados que ficaram estalados nesse local, visto que houve indícios de fraude na administração do interventor que na época era Joaquim de Oliveira Lima.
Os flagelados que iam se instalando que muitos estudiosos chamavam de “currais do Governo,” tinham que obedecer a diversas regras, uma das quais eram proibidos de saírem do campo, exceto os que iriam trabalhar nas obras públicas da cidade. Isso mostra que os “encurralados” tiveram uma grande contribuição para o desenvolvimento da cidade, apesar disso não ser reconhecido pelo governo que só viam o lado em que eles eram os causadores de transmitirem doenças, por isso o afastamento desses “pobres indefesos” a mercê do poder público para sobreviver a custa de “migalhas”, visto que a necessidade deles eram grandes e não, de certo modo suprimidas, nos levando a pensar se isso seria por falta de verbas ou por causa de desvios? A resposta mais cabível seria pelo fato de desvios contribuindo assim com a morte desses “pobres”, visto que houve relatos de que a melhor parte da comida ia parar nos comércios só chegando a “sobra” para alimentar milhares de flagelados, ação que pode ter apressado a morte de muitos desses indefessos. Vale ressaltar que morriam cerca de cinco pessoas por dia, na sua grande maioria crianças, onde os mesmo eram enterrados ali mesmo no campo no lugar um pouco mais afastado e reservado.
Teria sido possível um programa de assistência aos flagelados da seca, realizado com mais eficiência que pudesse ter diminuído os números de doenças e consequentemente de mortes? Ou será, que os recursos destinados foram usados indevidamente? Ou foram insuficientes para a demanda de flagelados? Sendo que isso não justifica visto que tem estudos que comprovam que a cidade se desenvolveu em termos de infraestruturas, como construção de obras públicas. Isso realizado pelos próprios flagelados sem nenhum direito trabalhista. Contudo se percebe que o governo em vez de amenizar os efeitos ocasionados pela seca, poderia ter sido de certa forma eles os culpados por tamanhas desgraças.
Atualmente no local onde foi construído o Campo de Concentração está todo recoberto por matos, mais ainda pode perceber vestígios daquele ambiente onde a natureza se encarregou de esconder, um lugar que foi repleto de muitas dificuldades, sofrimentos, doenças e mortes, mais a memória de quem viveu esse passado triste jamais será apagada como é o caso de Dona Raimunda Vera Cruz de Oliveira, uma ex - flagelada que vivenciou esses sofrimentos e que hoje contribui bastante para a escrita e o entendimento do que foi o Campo de Concentração de Ipu. Enfim é necessário ainda muitos estudos para entender e esclarecer esse assunto, contudo é de extrema importância não deixar que essa história seja esquecida pelo tempo.

Regiane Barros, Estudante do Curso de História na Universidade Estadual Vale do Acaraú, Bolsista de Iniciação Cientifica do Cnpq- UVA.

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