Francisco de Assis Martins
Muitos não entenderam, ou sequer compreenderam as razões rígidas
e abstrusas porque foram desativados os trens de passageiros da antiga RVC,
atual RFFSA. O povo, massa sensível e indefensável, foi o grande
prejudicado. Os tecnocratas de plantão, pouco se lixaram em subtrair das massas
mais uma prerrogativa das já tenras e precárias da sua cidadania: o transporte
coletivo ferroviário. Esta medida estúpida e impenitente foi uma falha terrível
e hedionda da administração pública. Comparar as ferrovias a dinossauros
inúteis e deficitárias em relação às rodovias é realmente uma chalaça de muito
mau gosto, só arquitetada por burocratas sevadijas e de má índole. Querem uma
prova: no primeiro mundo das ferrovias é prioridade nacional, pois tanto servem
para o transporte dos mais humildes, como dos mais abastados. O que falta aos
nossos administradores estatais é tão somente esta simples e chã trilogia:
ética, técnica e competência gerencial. Estas férulas políticas não nos vão
desviar do assunto pautado. De logo, podemos afirmar que somos um aficionado
pelas estradas-de-ferro. Essa querência tem muito a ver com a nossa cidade
natal, que cresceu e se desenvolveu sob a influência do trem. Uma viagem
ferroviária do Ipu a Fortaleza, ou vice-versa, durava 8 horas. Apesar das
sacudidelas do comboio, podíamos nos movimentar livremente de um para os outros
vagões e encontrarmos tempo para papear, ler e até dormir. Frequentemente
incursionávamos até o vagão-restaurante, não apenas para matar a sede e a fome,
mas para conversar com amigos. Os tempos passam, mas as lembranças ficam. E não
há como esquecermos aquele panorama vivo e exuberante, que desfilava pelas
janelas amplas e arejadas dos vagões. Até parecia cena cinematográfica, numa
pantomima dos elementos em festa. Afinal, bica à vista e a locomotiva numa
rápida e declinante tangente, emitia repetidos apitos, e com a sinfonia
metálica dos breques em desaceleração, anunciava a sua próxima parada: a bela e
arquitetônica gare Ipuenses.
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