sábado, 14 de fevereiro de 2015

IGREJA DA MINHA INFÂNCIA


            O “Quadro” era o nosso mundo em tempos em tempos que já vão longe e a Igrejinha era o centro daquele mundo povoado de sonhos de uma infância feliz. Lugar do meu nascimento e de doces recordações. A casa de meus pais era linda situada à sombra do secular tamarineiro. Do lado direito da Igreja ficava a casa do Mons. Gonçalo de Oliveira Lima, sacerdote virtuoso, amigo das crianças e considerado a “Flor do Clero”. Um pouco adiante a casa dos filhos do farmacêutico Thomás de Aquino Corrêa, músico talentoso, poeta, regente da Banda de Música e médico dos pobres. O Quadro tinha de tudo: Escolas Reunidas, Escola Normal Rural, o Engenho do Sr. Plácido, o dentista Antônio Solon, o Bar do Povo, a vivenda do Dr. Justo Ribeiro, a sede dos Correios, a casa das Magalhães onde realizávamos dramas e bailados sob a direção de dona Ernestina. Pela casa de D. Maria Ivone alcançávamos o riacho cujos banhos eram momentos de intensas alegrias. Que saudades da amplificadora São Sebastião e das músicas românticas de um tempo em que tudo  respirava poesia. E bem no meio da praça erguia-se a Igrejinha, monumento cultural de muitas gerações, patrimônio histórico de um povo que se dizia guerreiro, porém assistia passivamente a destruição das memórias do passado. E a Igrejinha começou a perder a sua beleza primitiva. Ela envelhecia pela degradação das matas do Ipu; pela represa das águas da BICA, lá na serra; pela morte do tamarineiro e pela partida de seus filhos queridos. A Igrejinha começou a inclinar-se quando percebeu que os jovens deixaram de valorizar as relíquias de seus antepassados… Muitas crianças nasceram ali, mas poucas guardam na alma a lembrança das noites de Natal, das festas, das quermesses e dos leilões animados pela banda de música no Patamar. Saudades da coroação de Maria no mês de maio; das corridas para olhar o Bom Jesus na sacristia; das vias-sacras na Semana Santa e do repicar do sino de manhã e à tardinha… Igreja de minha terra que mora na minha saudade. Mais tarde, quando os primeiros sonhos da juventude brotaram no coração, como eram emocionantes aqueles pequenos momentos de encontro com o namorado… Era tudo muito rápido, quase às escondidas, pois monsenhor Gonçalo não queria namoro no Patamar. Sonhos ingênuos da cor de uma saudade…
            Igreja de minha terra, até que um dia fecharam as tuas portas. O perigo era iminente. Poderia haver catástrofe. E hoje eu fico a olhar a Igrejinha testemunha de nossa história, esperando que alguém venha socorrê-la. Cada inverno é uma ameaça. E no silêncio do tempo ela espera pacientemente pela restauração que tanto nos faz sofrer. O teto pode desabar a qualquer instante e nós nada podemos fazer. Ela já foi tombada pelo Patrimônio Histórico, ela será salva, temos esperanças, porém a demora é um verdadeiro tormento. Que os senhores responsáveis pela sua restauração sejam sensíveis aos nossos apelos. Venham logo socorrer a nossa Igrejinha antes que seja tarde demais. Não quero morrer levando esta saudade. Quero viver para assistir a festa da reinauguração da bela Igrejinha da minha infância!
Ipu 18 de setembro fr 2007.
Observação_ A Igrejinha foi restaurada para alegria de todos nós.

             

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